Discurso durante a 30ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Queda dos indicadores sociais. Falta de crescimento econômico.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Queda dos indicadores sociais. Falta de crescimento econômico.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2004 - Página 9198
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, SERYS SLHESSARENKO, SENADOR.
  • CRITICA, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUGESTÃO, TROCA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), MOTIVO, INSUCESSO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PARALISAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, AUMENTO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, DESEMPREGO, EXCESSO, TRIBUTAÇÃO, PESSOA FISICA, FAVORECIMENTO, BANCOS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, Srªs e Srs. Senadores, quero saudar todas as Senadoras do Brasil na pessoa da extraordinária aniversariante, Senadora Serys. Senadora Ideli, a Senadora Serys é tão extraordinária que o aniversário não é só de S. Exª, de sua família, de Mato Grosso, mas do meu Piauí, do Brasil, de todas as mulheres e de todos os homens que entendem ser a mulher a maior obra de Deus.

Brasileiras e brasileiros, quis Deus que eu viesse a esta tribuna quando está presente uma estrela do PT, Senador Paulo Paim, que poderá levar esta nossa reflexão ao Presidente Lula, em quem votamos e acreditamos.

Presidente Lula, fui Prefeitinho e Governador do Estado do Piauí. Isso me trouxe sofrimento e glória, e fez com que eu estivesse hoje aqui.

Senador Mozarildo, votamos no Presidente Lula. Acreditamos em suas virtudes de homem bom, generoso, mas ocorre que Sua Excelência assumiu um poder pela primeira vez, e eu entendo o que é o poder. Aliás, o livro mais estudado na política é, sem dúvida nenhuma, O Príncipe, de Maquiavel. Senadora Ideli, sei que V. Exª gosta mais do O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry: “És eternamente responsável pelo que cativas”. O Príncipe é lido porque ensina como chegar ao poder e como lá se manter. O Presidente Lula chegou ao poder como a esperança de todos nós, com o meu voto, o meu trabalho e do nosso Piauí. Mas sei que Sua Excelência está encantado, com todo respeito, pelo Dr. Antonio Palocci.

Senadores Augusto Botelho e Mozarildo Cavalcanti, somos filhos do mesmo pai de ideal, Hipócrates, por isso o considero como um irmão. Penso que a Medicina é a mais humana das ciências, e o médico, o grande benfeitor da humanidade. Todo respeito ao cidadão, ao ex-Prefeito e ao médico, nosso colega Antonio Palocci.

Mas quero dizer-lhe, Presidente Lula, que Sua Excelência está sendo enganado. Vou lhe ensinar, Presidente Lula. Resta essa esperança, essa crença que o povo tem no Partido. Senador Paulo Paim, leve esta história. Gosto do Lula. O País o elegeu. Mas Sua Excelência está sendo enganado.

Senador Heráclito Fortes, o Sr. Antonio Palocci vem aqui e todos os jornais dizem que Palocci agradou a todo o Senado, ao Presidente Sarney, ao Presidente da Câmara, às Senadoras, aos Senadores e ao Governo. Nada disso! É preciso saber as causas, a etiologia, Palocci.

A política, Senador Mozarildo Cavalcanti, tem Kautila, que foi o Maquiavel das Índias. Maquiavel viveu em 1500 e Kautila, 400 anos antes de Cristo, já pregava que governante nunca pode ceder a chave do cofre e os canhões. Está certo, ele colocou com uma pessoa amiga a chave do cofre, ninguém nega. Mas acontece que não é a pessoa talhada, o Palocci. Eu vou ensinar, Senador Paulo Paim. Conheço esse filme. Senador Heráclito Fortes, V. Exª irá identificar. Fui Deputado Estadual e Vice-Líder de um Governo do Piauí, e o Secretário de Fazenda da época era extraordinário, maravilhoso e competente. Isso é natural. Todo seminarista quer ser papa. Todos que entram na política querem ser Presidente. Esse sonho é natural. Compreendo-o. O Secretário de Fazenda pensou em ser o próximo Governador do Piauí. Sei como é isso, Senador Paulo Paim. A chave do cofre estava com ele - ainda era na época em que o governador era indicado - e todos os Deputados - a maioria total - diziam que ele ia ser o próximo Governador, que estavam com um eficiente e competente Secretário de Fazenda. E os jornais, nem se fala. Quem paga? Quem libera a mídia? Quem libera as emendas do Deputado? Quem está com a chave do cofre. O Kautila, 400 anos antes de Cristo, sabia disso, Lula. O poder, a mídia, essa hosana ao meu colega Palocci só é por isso. Sempre foi assim e sempre vai ser. Palocci, no dia em que você sair, você verá. Pois bem, quando aquele extraordinário Secretário de Fazenda, Senador Paulo Paim, saiu para se candidatar, nem o seu substituto o cumprimentou. Eu o vi em um restaurante. Ele teve uma grande emoção, quase caiu em prantos. Nenhum daqueles Deputados - o Senador Heráclito Fortes os conhece - o indicou e o apoiou; só o apoiaram quando ele estava com a chave. A realidade é essa.

Esta economia não vai bem, não. Vai mal, Lula. E pode-se mudar quem está com a chave do cofre quando a economia vai mal. Sempre será assim. Quantos Ministros Juscelino teve? Quantos teve Getúlio Vargas? No Governo Sarney, havia inflação, mas havia emprego, leite, crescimento. O País chegou a crescer 8%. Essa é a verdade. Aquilo tudo é hipocrisia dos que precisam daquele que está com a chave do cofre para pagar as contas. Este País vai mal.

Presidente Lula, li nos jornais de hoje que o PMDB quer 22 cargos. Não quero nenhum cargo. Já fui testado e os recusei. E respondi, como Rui: não troco a trouxa de minhas convicções por um ministério. Não estou entre os 22, mas estou a cobrar o meu voto; a cobrar por aqueles piauienses que liderei a votar no Lula. Estou a cobrar o dever do PMDB de Ulysses Guimarães, que é comprometido com o povo, que nos mandou ouvir a voz rouca das ruas. E eu ouço a voz rouca das ruas.

Então, a realidade é que a economia vai mal. O Palocci é um grande médico, foi um bom prefeito. A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que ele cursou, nos anos 60 era o sonho de todos nós, Senador Paulo Paim, porque para lá foram muitos professores dos Estados Unidos. Era a melhor faculdade, Senador Augusto Botelho.

Mas é preciso saber, Senador Mozarildo, um ensinamento. Existe um filósofo, Duclos, com quem aprendi e guiou a minha vida. Senador Paulo Paim, leve ao Presidente Lula os ensinamentos de Duclos, que disse que há três maneiras de sermos ignorantes. Primeira, não saber nada. Aí estamos livres. Tem muita gente do PT nessa situação, não sabe nada. Segunda, saber mal aquilo que se deve saber. Era eu saber mal Anatomia e ser cirurgião. É eu saber, hoje, representar mal o povo do Piauí, porque sou Senador do povo do Piauí e do Brasil. Terceira, dedicar-se àquilo que você não tem que saber. Seria o caso, por exemplo, de eu saber o funcionamento de um satélite, o funcionamento interno da tecnologia de um computador.

Senador Heráclito Fortes, uma vez eu fui primeiro suplente de Deputado Federal e o Governador mandou me oferecer a Emater, que é um órgão de desenvolvimento. Ainda está aí o Gerson Mourão, o portador. Aí eu disse: “Emater? Mas eu não conheço nem um pé de feijão!” “Não, mas não deixe de pegar não. A Emater tem uns carros grandes, com duas cabines, e tem verba.” Eu não aceitei, Senador Paulo Paim. Depois, fui Governador e Senador do Piauí.

Então, terceiro item de Duclos: saber aquilo que você não deve saber. Os conhecimentos do Palocci sobre Economia são superficiais, tanto é que nem ouvi a palestra dele, porque não tinha nada a me ensinar. Eu sei o que ele sabe. E, na escala administrativa, quanto mais você sobe... Eu fui um cirurgião bom, mas, hoje, fui superado pelo tempo, pelos novos. Então, eu tenho obrigação de ser generalista. Ali, deve estar um especialista em Economia.

E nós vamos mal! Não adianta, não, Lula! Você está se enganando porque quer! O que interessa é o povo!

O diagnóstico está feito: o Brasil, que era a 12ª - outro dia era a 8ª, disputando a 7ª -, hoje é a 15ª economia mundial. Estamos caindo, mas isso não significa nada. O pior, entenda, Lula, é a má distribuição. Somos o 76º na distribuição de renda. Manchete da Folha de S.Paulo: “2,4% das famílias detêm 33% da riqueza” Isso é uma vergonha! Boris Casoy! O culpado é o Palocci, que não fez nada pra mudar essa situação. Essa é uma vergonha. Correio Braziliense, esse extraordinário jornal Brasília: “Brasil encolhe e desce a ladeira” Não vou cansá-los. Para o bom entendedor meia palavra basta, Paulo Paim. Lula, aprenda. V. Exª quer que o Palocci aprenda economia com a pobreza, e o País crescendo como rabo de cavalo.

Gráficos. Folha de S.Paulo. Segundo o relatório global da Invest: o Brasil caiu da 12ª para a 15ª economia do mundo. Outro dia, quando comecei a governar o Piauí, era a oitava. Pensávamos, Mozarildo, que pelo trabalho do povo do Piauí e do Brasil iríamos avançar para o Primeiro Mundo, para a sétima posição.

É triste constatar que, em 1998, o PIB procurava a oitava posição. Em 2003 baixou, e a queda continua. A Rússia, caso mantenha o crescimento observado nos últimos anos, também ultrapassará o Brasil, já que dificilmente teremos neste ano um crescimento superior a 3%. Houve inflação no período Sarney, mas este Brasil chegou a crescer 8%. O Brasil é o País que tem mais perdido posição no ranking desde 1998. O País foi ultrapassado pelo Canadá, Espanha, México, Holanda, Índia, Austrália e Coréia do Sul. E o pior, num ranking de 171 maiores países, o Brasil ocupa a posição de número 160. Na distribuição de renda, estamos em 76º lugar.

E a doença está aqui. Oh, Palocci, é o desemprego. “Desemprego apavora brasileiro. Medo do desemprego aumenta.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Paim, jornal Zero Hora, do bravo povo gaúcho. “Desemprego fecha mais de 9 mil vagas na região metropolitana”

Quero dar também outro ensinamento, Senador Heráclito Fortes. Nos anos 60, quando fazia as minhas declarações de imposto de renda com os médicos, chegamos à conclusão, Senador Heráclito, de que, em um ano, se trabalhava um mês para o Governo. E os médicos achavam muito. Rapaz, em um ano se trabalha um mês para o Governo. Agora, meus amigos, atentai bem, brasileiras e brasileiros, atentai Paim ao seu amor ao Rio Grande do Sul, é muito pior. Mas nem tudo está perdido, vamos mudar esse time, Lula, e vamos botar o Paim, que tem responsabilidade política e sensibilidade. Nos anos 60, Senador Heráclito, não sei se o Presidente trabalhava, mas eu trabalhava como médico na Santa Casa de Misericórdia em minha cidade. De um ano de trabalho, pagávamos um mês para o Governo. Atentai bem: O Globo: “Carga tributária subiu para 30...” Brasileiras e brasileiros, são todos irmãos assaltados a cada dia pelo Governo: trabalham quatro meses e quinze das para pagar todos os impostos. Antes, repito, era um mês. Trabalha-se hoje, segundo O Globo, quatro meses e quinze dias por ano para este Governo. Então está ruim, e essa é a verdade.

Entretanto, o Brasil melhorou porque o nosso maior patrimônio é a democracia, uma conquista nossa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concedo o aparte ao Senador do Piauí, Senador Heráclito Fortes, que também foi prefeito, extraordinário prefeito da nossa capital Teresina do Piauí.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Em primeiro lugar, quero me associar a V. Exª, já não digo com relação a um apoio, mas à torcida de que o Senador Paulo Paim finalmente seja reconhecido e se torne Ministro deste Governo. Pelo menos vamos ver um político, um cidadão, um petista com sensibilidade para o diálogo, e tenho certeza, Senador Mão Santa, se esta sua profecia realmente se concretizar quem vai ganhar é o Brasil. Mas, enquanto V. Exª discursava, recebi da minha assessoria as manchetes de jornais da nossa terra. Vou ler apenas uma que se enquadra bem ao discurso de V. Exª: “Docentes decidiram entrar na justiça contra Governo Federal” São os funcionários da Universidade Federal do Piauí, Senador Mão Santa, que esperaram o cumprimento daquelas promessas feitas em palanque, bem recentes, no ano de 2002, quando se prometiam corrigir todas as injustiças que, segundo se pregava à época, teriam sido cometidas pelo Governo Fernando Henrique. Daí por que tivemos nesta semana, nas galerias, a presença de representantes da Polícia Federal; já tivemos os policiais rodoviários, enfim, toda a classe trabalhadora brasileira que votou no PT exatamente por aquelas promessas de solução imediata para seus problemas. E o que estamos vendo é isso. Quero me solidarizar com os funcionários da nossa universidade - tenho certeza de que é a mesma intenção de V. Exª - e colocar esta tribuna à disposição deles, para que possamos transmitir ao Brasil e ao Senado da República as suas justas reivindicações. Por outro lado, Senador Mão Santa, quero parabenizá-lo por mais este pronunciamento que faz à Nação neste dia de sexta-feira. Eu não podia deixar de registrar, com muita alegria, uma grande novidade nesta sexta-feira: a presença da Líder do PT Senadora Ideli Salvatti. Aquele apelo que fiz na sexta-feira passada, reclamando da presença de membros do Governo para defendê-lo, surtiu efeito. Santa Catarina está perdendo hoje a oportunidade de ter a Senadora percorrendo, com sua popularidade, as ruas de Florianópolis, abraçando os seus correligionários. Mas ela pelo menos está aqui cumprindo o seu dever de Líder do Governo; está aí atenta, para defender o Governo, quando acha que tem razão. Como vi que ela até agora está calada com seu discurso, como ficou calada com o discurso lúcido da Senadora Serys Slhessarenko - que aniversaria hoje, Senador Mão Santa, vamos abraçá-la -, é sinal de que a Líder está concordando. De forma que esse é um bom caminho para o entendimento. Meus parabéns, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço ao Senador pelo Piauí, Heráclito Fortes, pelo seu aparte e o incorporo ao meu discurso, e também a pressão que ele tem com a máquina.

Quis Deus estar presente aqui Pedro Simon, símbolo das virtudes da nossa política não do Rio Grande do Sul, mas do Brasil. Eu fui sacrificado porque defendia que o meu Partido deveria ter como Presidente ou Pedro Simon ou Itamar.

Quero lembrar, brasileiras e brasileiros, quatro meses e quinze dias do seu trabalho é para o Governo ter avião zero, carro zero e nota zero! Quatro meses de salário para o Governo. O povo é o poder, o povo é que paga, o povo é que é patrão. Quatro meses e quinze dias, brasileira e brasileiro que agora está trabalhando, para pagar a mídia, para sustentar Duda Goebbels Mendonça, para não termos a Polícia Federal na sua integridade caso haja necessidade de mantermos o lema positivista Ordem e Progresso, para não termos mais os professores - como denuncia a universidade que me formou e me faz aqui ter essa firmeza e esses conhecimentos - em greve.

Senador Paulo Paim, ainda há tempo. Não estamos contra o Governo, desejamos o melhor, mas somos comprometidos. Nós pedimos voto, votamos e trabalhamos, e quero dizer que o PMDB não está bem representado. O PMDB estaria bem representado no Governo se estivessem lá, melhorando a equipe, homens da estirpe de Pedro Simon.

Senador Paulo Paim, eu quisera que V. Exª estivesse em nossa convenção. Quando um orador lembrava Ulysses Guimarães, todos aplaudiam. Faziam o mesmo quando alguém citava Pedro Simon. É esse time que nós queremos. Lembramos que ainda há tempo, mas só há uma saída: este País ter crescimento e trabalho. Como Rui Barbosa disse, é preciso haver entendimento, porque o trabalho e o trabalhador vêm antes. O trabalhador deve ter primazia, deve ter apoio, é preciso dar-lhe força, porque é ele que faz riqueza. Esse Governo, orientado por Palocci, perdido no labirinto da economia, colocou como deus o capital, o dinheiro. Como a brava mulher e líder deste País, Heloísa Helena, disse, este Governo está servindo “para encher a pança dos banqueiros” com a fome, a pobreza, a desgraça, o desespero e a perda de esperança do povo brasileiro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2004 - Página 9198