Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas aos dois meses de impunidade do caso Waldomiro Diniz. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. :
  • Críticas aos dois meses de impunidade do caso Waldomiro Diniz. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2004 - Página 10081
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, PERMANENCIA, IMPUNIDADE, ASSESSOR, CASA CIVIL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTICIPAÇÃO, CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • COMENTARIO, AUSENCIA, IDONEIDADE, CONDUTA, ASSESSOR, CASA CIVIL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faz dois meses que se registra a impunidade não só de Waldomiro Diniz, mas a impunidade em torno de Waldomiro Diniz. Faz dois meses, Sr. Presidente, que o máximo a que chegou o Governo, como resposta a uma sociedade sedenta de verdade foi um documento. A sociedade pretende a verdade e não a enrolação pela via de um documento palaciano, de um documento chapa-branca. Documento que não ouviu, por exemplo, o Ministro que nomeou o Sr. Waldomiro Diniz, o Ministro José Dirceu. Não ouvir, Senador Jefferson Péres, nem sequer o próprio Sr. Waldomiro Diniz, ou seja, no afã de servir à causa da impunidade, nem sequer deu direito de defesa ao réu confesso que, nem por isso, deve deixar de ter direito de defesa registrado, que é o Sr. Waldomiro Diniz.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, hoje um homem ateou fogo ao próprio corpo em frente ao Palácio do Planalto. O Governo, que veio para melhorar as condições sociais do Brasil, hoje convive com monges não-budistas se imolando como protesto pelo desemprego recorde a que chegou este País. O Governo, que veio para moralizar esta República, que ele dizia perdida em desvãos, este Governo convive de maneira bastante à l’aise, bastante à vontade com a impunidade e suas conseqüências nefastas e seus exemplos nefandos na direção da próxima geração.

É irônico, o Sr. Waldomiro Diniz passeava a sua impunidade na CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro com habeas corpus no bolso. Portava-se como se portam os meliantes. Perguntado se, respondia que não tinha nada a dizer, ou seja, o objetivo principal era não ir para a cadeia. O objetivo de ficar bem com o vizinho, como procedem os homens de bem, não. Não quer ficar bem com vizinho nenhum, não quer dar respostas à sociedade. Quer apenas não ser preso e, para isso, se cerca de advogados competentes e dos cuidados que a lei brasileira, às vezes, frouxa, às vezes, flébil, prodigaliza quem pratica esses malfeitos.

Algumas coisas graves foram ditas pelo Sr. Waldomiro Diniz. Em uma delas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Sr. Waldomiro Diniz confirma que deu dinheiro para um certo Paulinho, que seria um dos chefes da campanha do candidato do PT aqui, no Distrito Federal. Outra, Sr. Presidente, dizendo-se chantageado pelo bicheiro Cachoeira, o Sr. Waldomiro Diniz confirma que pediu providências ao Procurador-Geral da República de então, Dr. Brindeiro, ao ainda, antes era e hoje continua sendo Corregedor-Geral da República, Dr. Valdir Pires, e ao Ministro da Justiça, Dr. Márcio Thomaz Bastos, e as providências não vieram, as providências não foram tomadas. Na verdade, viu-se foi a Nação envolvida em baixo conluio.

Ainda há pouco, eu consultava a Senadora Heloisa Helena sobre determinado mote para o meu discurso. Minha idéia era misturar ironia com indignação. Mas aqui tomei conhecimento deste fato: “Homem ateia fogo ao próprio corpo em frente ao Palácio do Planalto”.

Waldomiro não foi molestado. Waldomiro se porta como uma prima-dona, como se a própria Madona, que, cansada de dar autógrafos, diz a celebridade: “Não quero a imprensa no meu encalço no supermercado”. Após ganhar o Oscar da corrupção no Brasil, a celebridade diz: “Não quero dar autógrafos, não quero ser incomodado pela imprensa. Acha ele que tem direito à paz em um País onde há corrupção endêmica, há gente tocando fogo nas próprias vestes? E não se faz nada para mudar efetivamente esse quadro, que, na verdade, aponta para caminhos de desesperança e de desilusão?

Dois meses, e não é aniversário; precisaria de mais dez. Aniversário, portanto, forço a situação, de dois meses da impunidade; nenhuma resposta.

Cheguei a pensar em fazer algo que não é do meu estilo: cantar parabéns para o Waldomiro. Mas não canto, recito:

Parabéns para Waldomiro, nesta data não feliz. Muitas infelicidades para esta Nação vilipendiada, onde desempregados ateiam fogo às vestes e onde corruptos não vão para a cadeia, apesar de todas as propostas e de todas as promessas de que haveria uma redenção mudando radicalmente procedimentos neste País.

Waldomiro Diniz é a cara de uma ordem que não está sabendo se governar. Waldomiro Diniz é a cara da desordem provocada no campo. Waldomiro Diniz é a cara das providências de fancaria. Waldomiro Diniz é a cara das falsas desculpas. Waldomiro Diniz é a cara da hipocrisia. Waldomiro Diniz é a cara da falsa moralidade. Waldomiro Diniz é a cara do Brasil que precisa ser mudado, sim, e do avesso, se quisermos prestar uma verdadeira homenagem ao homem que ateou fogo às suas vestes em protesto, em desilusão, em desesperança, contra um quadro que começa, objetivamente, sem dúvida alguma, na própria fome, no próprio desemprego, mas termina subjetivamente, pelo menos, num protesto contra uma ordem de coisas que privilegiam quem assalta e, ao mesmo tempo, pune, e com a morte pelo fogo, quem é assaltado neste País infeliz.

Portanto, não canto, recito o que não é parabéns, o que é, na verdade, o brado de indignação de um povo que não tolera mais que se compactue com essa ordem aí posta de que, de desculpa em desculpa, vai-se afundando na falta de crédito. E se não tiver crédito - prestígio se recupera, mas crédito, não, credibilidade, não, se afunda na falta de credibilidade -, essa ordem terá dificuldades para governar um País que anseia por começar, Senador Jefferson Péres, a ser de fato governado, algo que não está acontecendo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2004 - Página 10081