Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas à excessiva propaganda do Governo Federal, em detrimento da ação.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à excessiva propaganda do Governo Federal, em detrimento da ação.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2004 - Página 11364
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, CONTRIBUIÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, CRITICA, DESCUMPRIMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MISSÃO, COMBATE, DESEMPREGO, EXCESSO, PROPAGANDA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, EXPECTATIVA, PROVIDENCIA, PARALISAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Eduardo Siqueira Campos, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, as primeiras palavras são de gratidão à Líder Ideli pela gentileza constante e por nos ter cedido a vez para o pronunciamento.

Senador Efraim Morais, vamos nos ligar. V. Exª está telefonando para a Paraíba, mas eu queria chamar a atenção de V. Exª, porque o meu raciocínio me leva ao seu Estado.

Há pouco eu conversava com o Presidente Eduardo Siqueira Campos. E embora haja dois pastores nesta Casa, representantes de Deus - Senadores Marcelo Crivella e Magno Malta -, o Senador Eduardo Siqueira Campos é profundo conhecedor do livro de Deus, a Bíblia, a Sagrada Escritura. Comecei a falar de algo que está escrito no Livro de Deus, e S. Exª lembrou Eclesiastes capítulo 3.

Sob os céus, Senadora Heloísa Helena, há um propósito determinado para cada coisa. É esse o entendimento que quero fazer chegar, Senadora Ideli, ao PT, ao Presidente da República, em quem votei.

Sob os Céus, há um propósito determinado para cada coisa, e somos apenas filhos de Deus. Não somos Deus. Cada governante tem o seu propósito e a sua conquista definida. Não vamos ficar no mundo, mas no nosso Brasil. Veio aqui até D. João VI e trouxe muito progresso. Senador Romeu Tuma, D. João VI começou temendo o Napoleão verdadeiro, que quis invadir Portugal. Em 1908, aqui implantou a universidade, a burocracia, e deixou o seu filho, Pedro II, que garantiu a independência deste País e a sua unidade.

Aí, vieram os militares, que proclamaram a República, o governo do povo, pelo povo, para o povo. Vargas achou por bem - o mundo, conturbado, tinha os seus regimes absolutistas - nos deixar, Senadora Heloísa Helena, as leis trabalhistas. Getúlio Vargas era tido como o Pai do Trabalhador.

Atente bem, ó, Presidente Lula, para o exemplo de Vargas! Ele trabalhava muito. Ele deixou publicado em seu diário. A Carteira de Trabalho foi iniciativa sua, e a Carteira de Trabalho nº 1 foi dele, para dar exemplo.

A Senadora Heloísa Helena estava há pouco lendo Padre Antônio Vieira, que deixou escrito que o exemplo arrasta, mas que palavra sem exemplo é como tiro sem bala. Getúlio exigiu para si a Carteira de Trabalho nº 1, Presidente Lula, querendo dar o exemplo de que ele tinha que trabalhar mais que todos.

Depois, veio Juscelino, com sua missão de otimismo, construir Brasília, com suas metas, com a industrialização. Que seria o Brasil hoje sem a capital implantada em seu coração? Sucederam-se Presidentes, cada um com suas missões. O próprio Presidente Goulart deu uma mensagem de paz, de pacificação em sua época, estabelecendo um salário mínimo de US$125.00, e sonhava - nesse sonho o PT se perdeu e é um pesadelo para os trabalhadores - com um salário mínimo de US$250.00. Vieram os militares, que sonharam afastar o comunismo; depois, veio a redemocratização. O Presidente Collor abriu os portos para a comercialização. Quem desconhece que ele chamou os nossos carros de carroças? Cada um deles fez o seu trabalho. O Presidente Sarney, o mais generoso de todos, consolidou a democracia e deu exemplo de generosidade.

A ele seguiram-se os Presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Senador Efraim Morais, eles resolveram o grande problema, que era a inflação, o maior monstro, aquele que devorava os salários. Se foi um ou outro, é preciso fazer um teste de DNA para saber, mas Itamar fez ou Fernando Henrique fez.

E o Presidente Lula só tinha uma meta: diminuir o desemprego. Senadora Heloísa Helena, qualquer pesquisa mostra como está o desemprego.

Senador Efraim Morais, quero o testemunho de V. Exª, da Paraíba, para mostrar que Lula está tomando o rumo errado, pois propaganda não leva a nada. Existe opinião publicada paga e opinião pública. A opinião pública, Senador João Batista, é aquela sobre a qual Ulysses nos orientou, quando nos disse para ouvir a voz rouca das ruas. O povo é inteligente e está sintonizando. A comunicação vale pela verdade que diz, e, se o povo quer assuntos políticos, ele está ligado aqui na televisão do Senado, na Rádio Senado, na AM, na FM; se ele quer lazer, novela, sabe onde buscar. Mas a verdade política está aqui. Então não adianta aquela propaganda.

Senadora Heloísa Helena, Senador Efraim Morais, a propaganda não resolve. O homem mais forte em comunicação foi Assis Chateaubriand. Senador Efraim Morais, a Paraíba o elegeu Senador e V. Exª não tem nem uma amplificadora lá. Mas está aí, Senador, forte, bonitão, dando esperança, transformando a minoria em maioria do povo brasileiro.

Senador Efraim, lembro-me que o Senador Assis Chateaubriand chegou lá com televisões, com dezenas de rádios, com jornais, e o povo paraibano não lhe deu mandato, porque a comunicação não era verdadeira.

Agora, queria dar um ensinamento ao meu candidato, ao Presidente Lula. Senador Romeu Tuma, a história ensina, a história se repete. Na história romana, doze foram os césares e poucos nomes são lembrados. Foram doze césares, mas só vem à mente Júlio César. Será por que ele conquistou a bela Cleópatra? Não. Vêm também à mente Nero, Calígula.

Atente bem, Presidente Lula, para o que vem à mente. Por que Júlio César? Ele governou a Roma do Renascimento italiano. Senador Romeu Tuma, aí houve necessidade de um triunvirato: Júlio César, Pompeu e Crasso. Senador Siqueira Campos, Pompeu e Crasso ficavam em Brasília, ficavam em Roma, no Senado, e Pompeu, no Executivo. E Júlio César avançava, conquistava o mundo para a Itália, a Gália. O discurso dele: “Les Gaulois croyaient que les sources et les rivières, la montagne d’Alsace étaient des Dieux qui pouvaient faire de bien et de mal.”

Conquistou o mundo Júlio César. E conquistou a simpatia dos italianos, e Pompeu e Crasso, que estavam na Brasília deles, na Roma deles, fizeram uma lei no Senado romano. Jamais o Exército romano poderia atravessar o Rubicão - era um rio de Roma -, só com ordem do Senado. E Júlio César ficou temeroso de ir a Roma, porque ele podia sofrer um golpe, ser preso, Senador Romeu Tuma. Aí, um dia, ele decide, faz manobra, avança e diz: alea jacta est. E avança e chega. O povo, empolgado e adorando o seu conquistador, entrega-lhe o poder.

Atente bem, Senador Efraim Morais, Senador Heráclito Fortes. E aí o povo derruba as estátuas de Pompeu, derruba todas as obras de Pompeu. E Júlio César manda reconstruir todas as estátuas de Pompeu, todas as obras de Pompeu. Senador Jonas Pinheiro, Heródoto, historiador grego, conta que Pompeu, reerguido por César, diz: “César entrou para a História”. E isso é o que o Presidente Lula tem de aprender. E estou aqui para ensinar, porque o Senado é pai da Pátria, está aqui para ensinar o Executivo. Assim foi em toda a história, assim Rui Barbosa nos ensinou a defender a República.

Não adianta ficar no blablablá, enchendo a televisão de dinheiro que falta no meu Nordeste e que falta no meu Piauí, fazendo comparações com Fernando Henrique Cardoso. Queremos ver a obra, a realização. Governar é navegar. Assim diziam os gregos: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. “Preciso” significava precisão, competência para enfrentar os mares e as turbulências.

Assim, o Presidente Lula, Senador Efraim Morais, tem de atravessar o seu Mar Vermelho, o desemprego, que está trazendo violência e fazendo este País ficar naquela situação que chamamos de “paradão”.

São estas as nossas palavras, ou seja, que haja um novo rumo e menos propaganda. Aprendi com os filósofos que quem tem bastante luz não precisa apagar ou diminuir a luz dos outros para brilhar. Digo isso na presença do bravo Senador Heráclito Fortes, do Piauí.

Senador Siqueira Campos, fui Prefeitinho, e o Dr. João Silva me derrotou; depois, consegui ganhar e fui o relator de um projeto para a construção de um aeroporto internacional, durante a administração dele, e nunca falei mal dos prefeitos. Fui Governador do Estado do Piauí e nunca fiz comparações. O que nós queremos é fazer nascer neste País a esperança, e a esperança só se conquista trabalhando. Como disse Padre Antônio Vieira, o exemplo arrasta. E queremos trabalho do Presidente da República para arrastar todos os brasileiros ao trabalho e fazer todos lerem na Bandeira Nacional as palavras Ordem e Progresso.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2004 - Página 11364