Discurso durante a 52ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Aumento da incidência do câncer de pele no Brasil, e a importância de sua prevenção.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Aumento da incidência do câncer de pele no Brasil, e a importância de sua prevenção.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2004 - Página 13320
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, AUMENTO, INCIDENCIA, CANCER, PELE, BRASIL, NECESSIDADE, INFORMAÇÃO, POPULAÇÃO, RISCOS, DOENÇA, IMPORTANCIA, PREVENÇÃO.
  • PEDIDO, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA SAUDE (MS), INSTITUTO NACIONAL DO CANCER, MANUTENÇÃO, CAMPANHA, PREVENÇÃO, INCIDENCIA, EVOLUÇÃO, DOENÇA.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é na minha dupla condição de homem público e de médico que venho ocupar, hoje, esta tribuna para falar sobre um fato preocupante, que é o aumento da incidência de câncer de pele no País.

A doença em si mesma já é, naturalmente, fonte de preocupações. Mesmo sendo um dos tipos de câncer menos letais, não deixa de ser uma doença grave. Mas outro aspecto desse aumento dos casos também me preocupa, Sr. Presidente. Se esse tipo de câncer é dos mais facilmente tratáveis, é também um dos mais facilmente evitáveis. Se há um aumento dos casos, é porque as pessoas não têm tomado os cuidados necessários. Há uma certa negligência, uma falta de cuidado com o próprio bem-estar, que pode ser contornada com mais informações e com esclarecimento. Daí sentir-me impelido, como homem público e como médico, a utilizar o espaço privilegiado desta Casa, com sua visibilidade peculiar, para cumprir, de certa forma, o dever que essa dupla condição me impõe e contribuir para o esclarecimento da população.

Há dois tipos de câncer de pele. O menos grave deles, o câncer de pele não-melanoma, especialmente na forma do carcinoma basocelular, já é o tipo de câncer mais freqüente na população brasileira. São mais de 80 mil casos todo ano, e o número vem aumentando. Felizmente, seu diagnóstico não é difícil, o que facilita seu tratamento, sobretudo nas fases iniciais. E a facilidade de tratamento faz com que sua letalidade seja baixa.

O segundo tipo, o melanoma, embora atinja um número menor de pessoas, é bem mais grave, por sua letalidade. Esse é um tipo de câncer com alta possibilidade de metástase. E uma vez ocorrida a metástase, o melanoma é incurável na maioria dos casos.

De todo modo, em um ou outro tipo, mesmo que haja algum fator genético que predisponha à doença, a prevenção não é difícil. Sabe-se que a maior causa do câncer de pele é a exposição inadequada ao sol, ou, mais precisamente, aos raios ultravioletas. Queimaduras de sol, principalmente na infância e na adolescência, são as causas mais comuns desse tipo de câncer.

Portanto, se cuidarmos da forma como nos expomos à luz solar, eliminaremos sem dificuldade, o agente etiológico principal dessa doença. Isso ganha ainda uma importância em um País como o Brasil, que está, geograficamente, em uma situação de alta incidência de radiação ultravioleta.

A regra de ouro da prevenção do câncer de pele, assim, é evitar a exposição ao sol nos horários em que os raios ultravioletas são mais intensos, ou seja, entre 10 e 16 horas. Também se deve evitar a exposição prolongada a processos artificiais de bronzeamento, que, quando usados, devem sê-lo sempre em condições controladas e sob assistência competente.

Senador Mão Santa, temos essa preocupação em relação a determinadas clínicas de bronzeamento, que também podem causar câncer de pele, caso os métodos empregados não sejam utilizados com cuidado e sob orientação médica.

Fora isso, mesmo nos horários menos perigosos, é preciso tomar cuidados. É prudente usar roupas adequadas, que cubram as partes expostas ao sol, além de outras proteções, como chapéus, guarda-sóis, óculos e, sobretudo, filtros solares. Isso vale de forma especial para aqueles que, por causa do tipo de profissão que exercem, estão diariamente expostos ao sol.

Além dessa prevenção primária, que visa a evitar o aparecimento da doença, é prudente também, sobretudo para aqueles que não podem fugir à exposição solar, acostumar-se à prática da prevenção secundária, que consiste no exame regular da pele. O auto-exame é simples e, se feito de forma rotineira e atenta, é também eficiente. Deve-se buscar identificar manchas que coçam, que descamam ou que sangram, sinais ou pintas que mudam de tamanho, forma ou cor e feridas que demoram mais de quatro semanas para cicatrizar. Qualquer alteração deve ser imediatamente levada à atenção de um médico. O diagnóstico precoce é a chave da cura, mesmo no caso da forma mais agressiva do câncer de pele, que é o melanoma.

Para concluir, Sr. Presidente, quero dizer que o Ministério da Saúde, por intermédio do Instituto Nacional de Câncer, o Inca, e entidades como a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a SBD, têm manifestado sua preocupação com a evolução da doença entre a população brasileira, patrocinando regularmente campanhas de prevenção e esclarecimento. Especialmente na proximidade do verão, quando, ao aumento da insolação, se junta a maior disposição das pessoas de ficarem expostas ao sol, sobretudo nas praias, em que a incidência do sol poderá ser fatal, essas entidades realizam campanhas preventivas e educativas. Em novembro do ano passado, por exemplo, a SBD realizou sua campanha, atendendo a quase 38 mil pessoas no Brasil inteiro, das quais 8,2% tiveram diagnóstico de câncer de pele. No último verão, o Inca realizou ampla campanha educativa nas praias do Rio de Janeiro. Dado que educar e informar o que conduz à prevenção são os melhores instrumentos para combater a doença, e essas campanhas são sempre bem-vindas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é importante que campanhas como as realizadas pelo Inca, no verão, sejam ampliadas e estendidas. Como disse, o Brasil, por ser um País tropical, está localizado em área de grande incidência de raios ultravioletas. São inúmeras as pessoas que, por seu trabalho, têm que enfrentar longas horas de exposição ao sol, durante todo o ano. Penso, por exemplo, nos trabalhadores rurais que, dia após dia, realizam seu trabalho ao ar livre. Dirigir-se regularmente a essas pessoas, esclarecendo-as, informando-as e prestando atendimento tempestivo, quando necessário, é cada vez mais importante, dado o aumento do número de casos de câncer de pele a que me referi no início deste pronunciamento.

Sr. Presidente, entendo ser pertinente este pronunciamento porque, durante a minha vida de médico, apesar de minha especialidade ser Cardiologia, deparei-me com inúmeras lesões suspeitas de peles, encaminhando-as à Dermatologia, tendo sido diagnosticado um grande percentual como câncer de pele.

Sr. Presidente, refiro-me a este tema para que o Governo insista nas campanhas preventivas, principalmente no verão, quando o acesso aos balneários é mais intenso. Esse período deve ser aproveitado para conscientizar as pessoas a protegerem a pele, usando o protetor solar. Anos atrás usava-se o bronzeador - as moças principalmente -, que tinha a finalidade única e exclusiva de tornar a cor da pele mais bonita. Hoje há produtos que protegem a pele dos raios ultravioleta, que são os protetores solares, que deveremos, sim, recomendar sejam usados.

Sr. Presidente, gostaria de lembrar também - aliás, Senador Mão Santa, V. Exª que é médico - que esses raios ultravioletas ficam armazenados na pele. Não acontece como alguns pensam, ou seja, de a pessoa sofrer uma queimadura solar e, depois de desaparecer a lesão, sumir também a concentração desses raios. Não, absolutamente; eles ali permanecem. E o acúmulo desses raios, no futuro, pode vir a causar um câncer de pele.

Como já dissemos, a maioria das lesões de pele é benigna, mas há o melanoma, um tipo de câncer que provoca metástase, principalmente cerebral. Ou seja, a pessoa pode ter uma mancha, ou um sinal em determinada parte do corpo e, de repente, apresentar uma lesão cerebral, especialmente grave, causada pelo melanoma e, por conseguinte, vir a óbito.

Sr. Presidente, mais uma vez, a minha intenção é que o Ministério da Saúde continue fazendo seus investimentos nas ações preventivas para que a população brasileira, realmente, venha a se proteger do câncer de pele.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2004 - Página 13320