Discurso durante a 61ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos gastos do Palácio do Planalto e à viagem do Presidente Lula à China.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas aos gastos do Palácio do Planalto e à viagem do Presidente Lula à China.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2004 - Página 15707
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATRASO, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, SUPERIORIDADE, JUROS, ABUSO, GASTOS PUBLICOS, EDIFICIO SEDE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores que estão na Casa, cumprimento as brasileiras e os brasileiros aqui presentes e que acompanham esta sessão do Senado, neste 21 de maio, sexta-feira, pela manhã, por meio do sistema de comunicação, da rádio, da televisão e do bem apresentado Jornal do Senado.

Senador Paulo Paim, nem tudo está perdido. A democracia necessita de partidos políticos, os quais são feitos por homens.

Senador Valdir Raupp, faço aqui uma homenagem ao PT puro, ao PT bom, ao melhor do PT, que era a esperança, que está aqui, nesta sexta-feira. Refiro-me ao Presidente Paulo Paim, na Presidência da Casa, e ao extraordinário Líder Tião Viana, que tem perspectivas invejáveis na política, não mais só no Acre, mas em todo o Brasil.

Esta é a realidade: votei e acreditei no Presidente da República. No Piauí, cantamos: “Lula lá, e Mão Santa cá”. Mas, Senador Tião Viana, de repente, aquele PMDB estava no Governo, continuou no Governo e gosta do Governo, e vejo que estão lá e que estamos onde estávamos: com o povo, ao lado do povo, sofrendo com o povo, com as esperanças do povo.

Mas uma das figuras mais interessantes deste Senado, pela sua simpatia, pela sua inteligência, pela sua alegria, que é uma virtude - e São Francisco disse “onde houver tristeza, que eu leve a alegria” -, sem dúvida nenhuma, é o Senador Ney Suassuna. Sei que o Senador Ney Suassuna gosta muito da Paraíba, do Rio, do mundo, da humanidade, das mulheres do mundo. S. Exª é uma figura alegre, que gosta de viver bem. Mas digo aqui, com todo o respeito e simpatia, Senador Tião Viana, que S. Exª gosta mais, acima de tudo isso, do Governo. Penso que S. Exª gosta mais do Governo do que até de Marisa. Tenho conversado muito, mas é preocupante. Desta tribuna, S. Exª disse - está aqui a manchete no Jornal do Senado - que “viagem à China pode render pouco”. Esta é a verdade, Senador Tião Viana.

Senador Paulo Paim, olhe para este luminoso 21 de maio. Quis Deus, abaixo de Cristo, abaixo de Rui Barbosa, que V. Exª, Senador Paulo Paim, aqui estivesse. Maio é o mês do trabalhador, mês de Maria, mês do amor, mas, agora, no Brasil, é o mês da indiferença, da enganação, da desconsideração, do desprezo, do descaso.

Senador Paulo Paim, não tenho certeza da idade de V. Exª, mas tenho certeza de que o Senador Tião Viana não viu o que eu vi. Nasci com o mundo em guerra, em 1942. Getúlio Vargas era Presidente da República. Cresci vendo o gaúcho Getúlio Vargas como o pai do trabalhador brasileiro. Senador Valdir Raupp, desde a minha infância até 1954, o Brasil ouvia, não por meio da televisão, porque esta não existia, mas por intermédio do rádio, a “Hora do Brasil”. Portanto, em todos os 1º de maio, Getúlio Vargas, pai do salário mínimo, dizia: “Trabalhadores do Brasil...”. E anunciava o valor do salário mínimo. Esse é o exemplo que Lula tinha de seguir.

Senador Paulo Paim, conheço a história da China, porque Deus me permitiu estudar a filosofia de Confúcio, a luta do General Sun Tzu, a China do “crescei e multiplicai”, já que a China tem 1,3 bilhão de habitantes. Mas o Presidente Lula poderia aprender aqui mesmo, com Getúlio Vargas, a ter respeito pelo trabalhador. De lá para cá, nunca na história deste País - Senador Paulo Paim, atente bem, V. Exª que levantou essa bandeira -, o trabalhador foi tão enganado. O Presidente da República viaja, porque seus aliados fracassaram em acordos políticos, e quem paga é o trabalhador. Sua Excelência vai e não envia para o Congresso a medida provisória do salário mínimo.

Senador Valdir Raupp, nunca dantes este Congresso passou por uma vergonha como essa! Já havia um acordo na Câmara e no Senado. V. Exª, Senador Paulo Paim, que sempre lutou, sabe que esse aumento do salário mínimo era assinado de abril para maio, para que o trabalhador já ganhasse o resultado de seu trabalho, que é o salário. Senadora Serys Slhessarenko, o salário é o valor do trabalho. Essa questão já havia avançado neste Congresso. Hoje, o Governo, além de levar o País ao paradão, atropela o Congresso, que já tinha esse ritual, essa rotina de assinar o salário mínimo em abril, para em maio já estar no bolso do trabalhador brasileiro. O Presidente da República viaja, Senadora Lúcia Vânia, e o trabalhador fica esperando pela boa vontade do Governo. E o salário mínimo, pela primeira vez na história, na gestão do Partido dos Trabalhadores, não chega no mês de maio - o mês do amor, o mês de Maria e o mês do trabalhador.

O Presidente Lula tem muito a aprender aqui no Brasil mesmo. Se pouco sabe da história e do exemplo de Getúlio, o exemplo está bem aqui. Ninguém do núcleo duro vem para cá, e nunca virá. O caminho é longo e sinuoso, Senador Valdir Raupp. E o exemplo está aqui: Rui Barbosa. Ele pregou e está aí, ficou nesta Casa para constituir o Estado Democrático de Direito. Ninguém mais do que ele fez leis boas e justas.

Senadora Serys, atentai, gravai e ensinai ao núcleo duro uma das belas afirmativas: “Só tem uma salvação: a justiça e a lei”.

Segundo Juscelino Kubitschek, o homem governa de acordo com as circunstâncias, o momento, a realidade. Quem disse isso foi o Presidente José Sarney, em seu livro Crônicas do Brasil Contemporâneo.

Hoje, o Presidente Lula tem que se inspirar em Juscelino Kubitscheck. Rui Barbosa disse que só há um caminho e salvação: a lei e a justiça.

Eu digo que eu posso ensinar o núcleo duro. Fui Prefeitinho, fui Governador. Eles não foram nada. O Palocci foi Prefeitinho e está botando banca, porque “em terra de cego quem tem um olho é rei”. Eu digo, plagiando Rui Barbosa, que só tem um caminho : é o trabalho, o crescimento e o desenvolvimento. Não tem outro.

O Senador Ney Suassuna - sou muito jocoso, mas não conheço ninguém mais “placa branca” do que S. Exª: gosta da vida, gosta da Paraíba, gosta do Rio de janeiro, gosta de mulheres, gosta de viver bem, é uma figura agradável, mas gosta mais de governo do que de tudo isso - é um homem inteligente, é uma das maiores inteligências do PMDB, e diz a manchete do jornal: “Suassuna diz que a viagem à China pode render pouco”.

Getúlio Vargas praticamente não viajou. Pedro II, Senador Paulo Paim, em 49 anos, só fez uma viagem para a Europa! Sei que era de navio, mas havia meios, desde o Renascimento, da bússola, da navegação, do navio, da comunicação... Hoje, com essa globalização... Não é aí, não. Vai ter muito é farra. Estão no bem e no bom. É muita gente.

E temos o Presidente Alencar. A esperança do Brasil é aquele anúncio: “Experimenta!”. Vamos experimentar esse Alencar, que é trabalhador, que fez riquezas, que tem competência, que ele faça leis boas. Mas isso não vai em frente, porque o empresário... Olha, Senador Paulo Paim, conheço empresário. Meu avô foi empresário, foi o homem mais rico do Piauí, teve navio. Eu não, fiquei médico de Santa Casa, dedicando-me à pobreza.

Encontrei um empresário muito importante do Piauí, que foi Secretário de Indústria e Comércio, Presidente da Federação: Joaquim Costa, um homem de dignidade. Senador Tião Viana, esse empresário me disse: “Senador, como a vida fora está difícil!”. Atentai bem: Fora é fora do Governo. A vida está boa é para nós, aqui, está uma maravilha. Aqui, toda hora, o Zezinho nos traz café, pergunta-nos se queremos leite, sanduíche, se o ar-condicionado está bom. É o pessoal nos servindo. Mas fora está difícil.

Senadora Serys, V. Exª é professora e trabalhou... O Lula tem pouca experiência de trabalho, aposentou-se cedo. Eu tenho mais. Em 1970, eu já trabalhava e bem, era cirurgião. Dois médicos, Dr. Mário Lage, um grande cardiologista, e o Dr. Joaquim Narciso, anestesista - aliás, os dois já morreram -, faziam o seu Imposto de Renda - Senador Eurípedes Camargo, eu nunca fui afeito a isso, preferia contratar alguém; aliás, o meu contador é irmão do Renato Aragão -- e viraram para mim, no começo dos anos 70, quando ganhava bem um cirurgião: “Ô, Mão Santa, a gente trabalha doze meses e paga um para o Governo!”, e se lamentavam porque se sentiam explorados.

Esse tio de história o Lula não pode contar. Foi de pouco trabalho. Mas eu posso. Isso foi nos anos 70. Eu trabalhava muito, era um cirurgião realizado. De doze meses trabalhados, um ia para o governo, e os médicos se lamentavam, Senador Paulo Paim. Hoje, de doze meses trabalhados pelos brasileiros, cinco vão para o Governo. Isso é descaramento, é roubo, é assalto, é falta de vergonha! São 37% para o imposto, para dez; mas não são dez, são doze, então são cinco. Isso é que tem que ser calculado. Isso é que está angustiando os empresários. Ninguém quer mais trabalhar, porque é louco mesmo quem for colocar um negócio. Para quê? Para ser assaltado, para o desperdício, para a farra, para nomeações, para corrupção.

Juscelino Kubitscheck de Oliveira fez este Brasil crescer 7,8%.

Senador Eurípides, V. Exª que é um homem trabalhador, conciliador. Aliás, o melhor do PT está aqui hoje: Paim, Tião Viana - ele é bom mesmo -, Eurípedes e Serys. Eu sou franco: esse é o PT puro, é o PT bom, é o PT do povo. Mas, atentai bem para essa carga de impostos e para as taxas de juros. Isso de dizer que é 16% é mentira, porque as taxas de juros aqui são de 200%. Tem o spread, têm os ganhos, têm os riscos, têm as taxas bancárias, tem não-sei-o-quê. Todo mundo sabe que as taxas são mais altas. Não adianta nada, Lula. Venha até aqui, assista à televisão, porque é uma oportunidade de aprendizado.

Eu governei e V. Exª, Senador Valdir Raupp, também foi Governador. Não adianta nada. Qual é o empresário, por exemplo, que quer investir na pecuária? Ele vai a um banco para comprar sua vaquinha e as taxas de juros são astronômicas. Aí, vem o leite internacional, que foi produzido com uma taxa de juros de 1% ao ano. Como é que ele vai concorrer com isso? Assim, há esse desestímulo, essa falta de ânimo. Eu conheço isso. Os pobres, que são generosos, e os ricos também - eu não tenho inveja deles e convivo com eles -, ninguém está querendo trabalhar, porque o trabalho não resulta em nada mais. E mais ainda: não há postos de emprego, e o salário mínimo é ridículo. No Chile, são US$250; nos Estados Unidos, US$890; na França, US$1 mil. Paulo Paim, nós o acompanhamos, seguimos, acreditamos. Será que vamos ser enganados? V. Exª bradava US$100, e eu estou aqui atrás, acreditando, com aquela fé que remove montanhas, porque isso é reviver Getúlio Vargas, João Goulart. Quando João Goulart saiu, eram US$125, e ele ia assinar US$250.

Senadora Serys Slhessarenko, gostaria de ler uma matéria do Jornal Pequeno, do Maranhão. Sou filho de maranhense; passava as férias lá e lia.

Padre Antonio Vieira - aliás, cultivado pelo Presidente Sarney - disse que o exemplo arrasta e que palavra sem exemplo é como um tiro de bala. O que estraga governo é a corrupção, Senador Paulo Paim. Está na Bíblia: “Não roubarás”. Desperdício a compra desse avião. Desperdício é isto que me mandaram lá do Maranhão:

Que ninguém se espante, se, no final dos quatro anos de seu mandato (se é que chega lá), Lula estiver bem mais gordo!!! Sim, porque no Palácio do Planalto o ‘Fome Zero’ funciona. Aliás o Fome Zero e o ‘Sede Zero’.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É uma vergonha o processo de licitação citado na matéria, Senador Paulo Paim. Não adianta, tiraram do site. Mas aprendi, no meu Piauí, com os homens da rua, que é mais fácil tapar o sol com a peneira que esconder a verdade. Tiraram do site. Mas chega, chega. Não faça nada.

Diz assim a matéria:

O processo de licitação de número 00140.000226/2003-67, publicado no Diário Oficial da União, previu a compra de 149 itens para o palácio. Dentre eles constam sete toneladas de açúcar, duas toneladas e meia de arroz [Lula e D. Marisa vão ficar gordinhos], 400 latas de azeitona, 600 quilos de bombons, 800 latas de castanha de caju [se fosse ao menos a castanha do Piauí], 900 latas de leite condensado. Tudo é altamente calórico e exagerado. O pior é que, pelo prazo da licitação, tudo isso deverá ser consumido em 120 dias. Mas tem mais: constam ainda dois mil vidros de pimenta, dois mil e quinhentos rolos de papel de alumínio, quatrocentos vidros de vinagre; quatrocentos e sessenta pacotes de sal grosso e ainda seis mil barras de chocolate [para uma família, Senador Paulo Paim?!]. Uma simples calculadora mostra que a turma está consumindo, por dia, 58 quilos de açúcar (ou dona Marisa faz muito bolo ou Lula toma muita caipirinha...), 22 quilos de arroz, 50 barras de chocolate, 15 vidros de pimenta (...).

Em duas outras licitações para o Gabinete da Presidência há entre os itens:

(...) 129 mil litros de água mineral, duas mil latas de cerveja [agora vou freqüentar o Palácio], 1.344 garrafas de sucos naturais, 610 garrafas de vinho (...) e cinqüenta garrafas de licor (...), 495 litros de suco de uva, 390 litros de suco de acerola, o mesmo tanto de suco de maracujá, laranja, tangerina e manga. É o Sede Zero palaciano. Como cada litro de suco resulta em 35 copos, eles vão se entupir com 99.225 copos de sucos variados. [É muita coisa!]

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, estou recebendo um apelo dos Senadores, porque inúmeros deles terão que viajar e estão pedindo-me que seja rígido com o tempo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Estou achando que a Senadora Serys Slhessarenko está apressada, porque deu vontade de dar uma passada no Palácio da Alvorada: há tanta coisa lá! Aliás, a Senadora Serys Slhessarenko está elegante e magrinha, pode ir tranqüila até lá.

Enfim, está tudo registrado no Jornal Pequeno. Vou dar somente um exemplo final, de meio minuto. Fui ao Chile, a um bairro, e o motorista me disse que naquele local morava o Presidente. Era uma casa simples, um sobrado, e não havia nenhum soldado. Ricardo Lagos, professor, era como o Senador Cristovam Buarque aqui.

Naquele país, houve a ditadura, da mesma forma que aqui, e há três democratas. Ele era Ministro da Educação e estendeu a educação obrigatória de oito para 12 anos.

O motorista me informou: “Olhe, Senador, ele mora com a mulher naquela casa. Quando vem uma autoridade, vê-se a mulher fazendo a comida e ele servindo, atendendo como garçom”. Esse era o Lula que esperávamos - a simplicidade e a humildade, e não a vaidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2004 - Página 15707