Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio a artigo do ex-governador Leonel Brizola em que compara o Presidente Nestor Kirchner, da Argentina, com o Presidente Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SALARIAL.:
  • Apoio a artigo do ex-governador Leonel Brizola em que compara o Presidente Nestor Kirchner, da Argentina, com o Presidente Lula.
Aparteantes
Heloísa Helena, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2004 - Página 16380
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), COMENTARIO, COMPARAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL.
  • CRITICA, INSUFICIENCIA, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, GARANTIA, SEGURANÇA, LIBERDADE, SUBSISTENCIA, TRABALHADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Ramez Tebet, o Piauí ansiosamente o aguarda. V. Exª é uma das personalidades mais caras da política. Recentemente, o Piauí se encantou com a coragem e com a sabedoria de Heloísa Helena, essa bela e brilhante Senadora. Hoje a Faculdade Professor Camilo Filho e a OAB receberão V. Exª que fará importantes palestras. Isso, sem dúvida nenhuma, é um fator de alegria no Piauí democrático porque V. Exª é uma as maiores lideranças do nosso PMDB, o partido mais querido do Piauí, que, com toda certeza, vencerá as eleições na capital e na maioria das cidades piauienses, graças à liderança ímpar de nosso Presidente, o Senador Alberto Silva.

Senador Paulo Paim, eu esperava até do Rio Grande do Sul porque era um caso de empatia, de horóscopo, meu com os gaúchos e, quis Deus estar aí a seu lado o Sérgio Zambiasi. Tenho devoção a Getúlio Vargas, a Alberto Pasqualini, a João Goulart e a esses brilhantes Senadores.

Interessante que ontem, Senador Zambiasi - V. Exª que é da comunicação - recebi um Prêmio Integração, de Santa Catarina. Fiquei perplexo. Esse prêmio é do jornalista Hélio Henrique, da TV Araraguara. Eles deram essa comenda a mim, como sou Senador, a Deputados Federais, a Estaduais e a políticos. Senador Romeu Tuma, fiquei atentando: Santa Catarina. O Governador talvez tenha influenciado, porque, quando entrei no PMDB, ele era Presidente Nacional. Foi ele que abonou a nossa ficha e, daí, foram boas bênçãos, pois venci duas vezes eleições de Governador por esse PMDB. Pensei no Bornhausen, no Leonel Pavan, mas acredito mesmo que a maior influência, Senador, deve ter sido da nossa Senadora, porque é da região, Ideli, reconhecendo que tento querer colocar o PT nos trilhos; que o PMDB seja a luz do PT.

Tanto é verdade que quero trazer aqui em homenagem à minha ligação com os gaúchos, meus maiores amigos são gaúchos, Léo Gomes, de Dom Pedrito, Jaime Pieta, médicos, e, em homenagem a outro gaúcho extraordinário - ninguém o excedeu em bravura - Leonel Brizola.

Muitos não haviam nascido quando os militares queriam anteceder o golpe e impedir o gaúcho João Goulart, que estava na China, de tomar posse. E a cadeia de Brizola, a cadeia da liberdade, da legalidade... Eu escutava, nas madrugadas no Piauí.

Trago uma análise deste bravo Leonel Brizola: é uma vida, é um símbolo, é uma fonte de inspiração e de luta. Esse, sim, combateu a ditadura, evitou um tempo, foi punido por ela e aclamado pelo povo do Brasil.

Sem dúvida nenhuma, hoje, ninguém mais conhece os problemas do País do que Leonel Brizola, e feliz do homem - está na Bíblia, Paulo Paim - que envelhece nas suas atividades, no seu ideal e na sua profissão. E ele continua combatendo o bom combate, como disse o apóstolo Paulo, percorrendo o seu caminho e pregando a sua fé.

E ele faz um paralelo aqui entre Lula e Kirchner. Senador Ramez Tebet, entendo que o Presidente Lula goste de viajar, e viajar é bom; ele gosta de ter momentos alegres, de beber, e beber é bom - também tomo as minhas. Se encontrar com Sua Excelência vou perguntar o que achou do saquê. Agora, deve tomar umas tequilas. Então, passe ali pela Argentina, bem aí. Lá tem um vinho bom... O vinho argentino está melhorando, está competitivo com o chileno.

Vamos e venhamos: Lula foi eleito com mais de 60%. Kirchner, com pouco mais de 20% porque não houve segundo turno, já que o Menem desistiu. É aquilo que digo: Senador Ramez Tebet, a experiência é a mãe de todas as ciências. Mas o Kirchner tinha sido alcaide, que é o mesmo que prefeitinho, e governador do seu Estado. De repente, a Argentina que estava no caos, está numa boa. Eles podem tomar vinho. E aqui o operário do Brasil, Senadora Heloísa Helena, não pode tomar aquela cervejinha. O Lula dizia que o operário tinha direito de ter um salário digno e, no fim da semana, tomar, com sua Adalgisinha, com sua mulherzinha, sua cervejinha, porque o dinheiro não está dando nem para cachaça e água.

Olhai o painel, Senador Reginaldo Duarte. Lembre-se do Padre Cícero que faz milagres. Vamos nos apegar a Padre Cícero para encaminhar o PT e o Lula. Olhai a data: 27 de maio. Eis a maior vergonha. Senador José Jorge, lembra-se de Getúlio? Paim, talvez V. Exª ainda não tivesse nascido. Eu era menino e todo 1º de maio Getúlio Dorneles Vargas, o pai do trabalhador, o pai dos pobres, todo o Brasil parava e o ouvia, Senadora Heloísa Helena. Talvez V. Exa não houvesse nascido nessa época. Eu nasci na época da guerra, em 1942. E ainda pequenininho, lá no meu Piauí, ouvia Getulio dizer: “Trabalhadores do Brasil” e anunciar o salário mínimo que ele criou.

Jovens, sabem de quanto era o salário mínimo no valor de hoje? Nós nos atualizamos. Busquei essa informação na Fundação Getúlio Vargas, eles calcularam - tudo se calcula; quem sabe calcula. O núcleo duro não sabe isso e custa a aprender. Temos ensinado. O salário mínimo equivalia a R$600,00. Que vergonha, ó Boris Casoy! Que vergonha dizer isso no dia 27 de maio!

O Partido dos Trabalhadores, aliás, aquele que o representa trabalhou muito pouco. Aposentou-se cedo. Sei que foi uma infelicidade, mas pegou essa toga.

Vinte e sete de maio! Há sessenta anos o trabalhador tinha um salário melhor.

Senador Paulo Paim, que preside esta sessão em nome de Deus e de Getúlio - o Presidente Sarney foi ali em um tratamento -, V. Exa está aí. Deus coloca o homem certo: um gaúcho. Olha o compromisso com Getúlio! V. Exa é a cara do Congresso. Foi Deputado Federal e hoje é Senador.

Avançou o Congresso em abril, mas o trabalhador já está no mês de maio. Então, andamos para trás. Além do paradão do Executivo, Senador Ramez Tebet, deu uma marcha a ré o Legislativo. Deveria votar em abril este Congresso, mas perderam ali uma votação e ficaram com medo. Enquanto isso Lula viaja.

Como diz Brizola sobre a Argentina, Kirchner não contratou Duda “Goebbels” Mendonça nem prometeu qualquer espetáculo do crescimento. No entanto, depois de um ano de governo, segundo pesquisas recém-divulgadas pelo jornal Clarin, ele tem o apoio de 80% dos argentinos. Quem planta colhe. Lula, pelos dados do Datafolha, beira 20% de aprovação.

Senador Paulo Paim, Senador Romeu Tuma, a Argentina cresce 10% ao ano e consegue reduzir o desemprego gigante que enfrenta, enquanto aqui o nível do emprego cai e o PIB patina próximo a zero. Esta é a diferença: o Governo Kirchner endureceu com o FMI. Isso não é privilégio de argentino, não. Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas endureceram, e o Lula amoleceu e se entregou, como diz a Senadora Heloísa Helena, aos banqueiros internacionais, os gigolôs do dinheiro.

Senador Papaléo Paes, o PT contrariou o que ensinou Rui Barbosa, não aprendeu o que ele disse: “A primazia tem que ser do trabalho e do trabalhador, que é quem cria as riquezas”. O trabalho e o trabalhador vêm antes, depois é que vem a riqueza e o dinheiro. O PT inverteu, entregou-se ao dinheiro, ajoelhou-se, humilhou-se, vendeu-se aos banqueiros internacionais, aos que ganham dinheiro. Esta é a verdade.

Cristo dizia: “Em verdade, em verdade, eu vos digo...”. Ó, mineiro Hélio Costa, por que Tiradentes foi enforcado? Porque combateu a derrama, os impostos altos. O PT é o partido dos tributos, porque só se tem visto nesta Casa aumentar impostos: CPMF, Cofins. Não regulamentou o Imposto de Renda e a carga de impostos.

Senador Hélio Costa, posso dizer porque sou trabalhador. Em 1970, V. Exª estava trabalhando nos Estados Unidos, e eu já estava aqui. Não neste plenário, pois meu templo de trabalho era uma sala de cirurgia. Com essas mãos guiadas por Deus, salvava uma vida aqui e outra acolá, ganhava muito dinheiro como cirurgião. Naquele tempo, quem fazia minha declaração de Imposto de Renda era o irmão de Renato Aragão - ele é cearense, mora em minha cidade. Meus colegas que compunham minha equipe de cirurgia já morreram. O anestesista e o cardiologista Dr. Mário Lage diziam: “Mão Santa, a gente trabalha um ano, doze meses; um mês é para o governo”, e se lamentava. Agora, Senador Hélio Costa, atentai à derrama, reviva Tiradentes! Agora, brasileiros e brasileiras, cada um está trabalhando doze meses - doze! - , cinco são do governo, que não dá nada de volta. Na educação, na saúde, na segurança, o governo está reprovado. Não é Fome Zero, não; é governo zero.

Senador Hélio Costa, estude Norberto Bobbio, o maior teórico político, Senador vitalício da Itália - o país do Renascimento -, que disse simplesmente que o minimum minimorum tem que existir. O Senador José Jorge, que foi seminarista, sabe latim.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senadora Heloísa Helena, liberdade é o mínimo. Que garanta o governo segurança à vida, à liberdade e à propriedade. O mínimo que se espera de um governo é a garantia da segurança. Nada disso o nosso governo garante: nem a segurança à vida, nem à liberdade, nem à propriedade.

Concedo um aparte ao grande líder do nosso Nordeste, que venceu o apagão, José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Muito obrigado. Quero apenas esclarecer que nunca fui seminarista, mas teria muito orgulho se tivesse sido.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É que V. Exª fala tanto em Cristo, em Deus, empata com os Senadores Marcelo Crivella e Magno Malta, que pensei nessa formação teológica.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Eu estudei em colégio católico e me orgulho muito disso, mas nunca fui seminarista. Mas quero me congratular com V. Exª pelo pronunciamento, cheio de verdades. Felicito-o mais uma vez, porque sou o próximo orador, e um embaixador me aguarda.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O Governo Kirchner endureceu com o FMI, em lugar de aceitar e ampliar as regras que lhe impunham, como fez Lula.

O Banco Central argentino pratica taxa de juros reais quatro vezes menor que a brasileira. A carga tributária é de 24% contra 37% do Brasil. Aqui, de doze meses trabalhados, cinco são para o governo.

Leonel Brizola faz a seguinte reflexão: no regime presidencialista, o governante é muito mais do que um simples político ou administrador, ele é o grande catalisador do sentido nacional; se ele é fraco, dócil, submisso aos poderosos, incompetente na administração e incapaz de apontar caminhos para o País, então toda a Nação definha e fragiliza-se.

O Presidente Kirchner, sem dúvida, é um progressista, não um extremista ou radical, e o povo argentino percebe nele a determinação de enfrentar os interesses dos poderosos e a vontade de transformar o país. Ele governa com energia, bom-senso e independência.

A Srª Heloísa Helena (Sem Partido - AL) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Enfim, o povo sente que o Presidente Kirchner está com a Argentina e com os argentinos; aqui, sentimos que o Presidente Lula está com os banqueiros internacionais.

Concedo um aparte à brilhante Senadora Heloísa Helena.

A Srª Heloísa Helena (Sem Partido - AL) - Senador Mão Santa, quero saudar o pronunciamento de V. Exª, pois também me sinto extremamente constrangida com esta situação. Quem teve oportunidade de analisar a última pesquisa feita pelo próprio Fundo Monetário Internacional pode perceber que, dos 29 países que tinham relações institucionais com o Fundo Monetário, os únicos que conseguiram viabilizar alternativas de crescimento econômico foram justamente aqueles que fizeram moratória ou aqueles que repactuaram com os credores internacionais em molde completamente distinto do adotado pelo Governo brasileiro. Sinto-me até mal ao dizer isso. Às vezes penso que só não peço desculpas ao povo brasileiro por ter dedicado os melhores anos da minha vida para construir o que se tornou uma farsa política, uma fraude intelectual, porque o fiz não por bravata, não por demagogia eleitoralista, não por vigarice política. Eu acreditava naquilo que estava propondo e nas pessoas que defendia, perante o imaginário popular, diante do povo brasileiro, para legitimá-las como alternativas concretas de mudanças estruturais profundas. Na realidade, o que gera a ineficácia do Governo, Senador Mão Santa, o que gera a subserviência, a fraqueza, a covardia política diante do Fundo Monetário Internacional, do capital financeiro, das instituições de financiamento multilaterais, é a ambivalência política. Creio que é essa ambivalência que marca profundamente, porque, como sabe V. Exª, ela não serve para a formação do caráter pessoal nem para a administração pública. Assim, querer servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo acaba gerando uma fragilidade gigantesca, como a da inserção do Brasil na tal globalização capitalista. Como bem disse V. Exª, vários outros países - não apenas a Argentina e a Malásia - conseguiram, tanto por meio da moratória como pela repactuação com os credores internacionais em moldes que preservavam a soberania nacional, viabilizar alternativas de dinamização econômica, alternativas de desenvolvimento econômico extremamente distintas das que adotamos hoje. Portanto, continuo sempre acreditando - porque se a fé não mover os nossos passos vamos simplesmente para casa, cuidar dos nossos filhos -, esperando que haja mobilização popular, pressão popular, que haja independência dos Parlamentares, e que eles pensem mais no povo brasileiro e menos em se lambuzar no banquete farto do Palácio. Assim, poderíamos criar realmente alternativas de desenvolvimento econômico distintas das que estão viabilizadas hoje e que geram desemprego, desestruturação de parques produtivos, destruição de milhões de postos de trabalho, ausência de investimentos, de uma forma geral. Quero, portanto, parabenizar o pronunciamento de V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, eu queria fazer um apelo a V. Exª. Como o Senador José Jorge tem um compromisso em seguida, S. Exª queria falar antes de se retirar do plenário.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O compromisso maior do Senador José Jorge é com o Nordeste e com o Brasil, que estamos agora defendendo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu pediria permissão para tentar sintetizar a sabedoria da Senadora Heloísa Helena. S. Exª diz que o Presidente da República está colhendo os frutos amargos da sua infidelidade: a traição, o espetáculo do crescimento, o emprego que viria, a renda média, a valorização do servidor público, etc.

Senadora Ideli Salvatti, comecei enaltecendo Santa Catarina e agradecendo o diploma.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E passarei agora às mãos de V. Exª, confiando na sua inteligência e na sua bravura, todos os indicadores e dados aqui contidos sobre o desenvolvimento da Argentina no governo do grande Presidente Néstor Kirchner.

Pediria ainda permissão para ler algo, Sr. Presidente. V. Exª não pode negá-la, porque tem que ser respeitada a ausência do estadista Presidente Sarney. Todos têm que ler, e para o núcleo duro essa é uma boa oportunidade de aprendizado. Crônicas do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS. Fazendo soar a campainha.) - Senador Mão Santa, já se passaram cinco minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não. Quero apenas ler estas palavras do Presidente José Sarney: “Ninguém escolhe o tempo que governa. E cada governante vive sua circunstância”.

O Presidente Sarney, com sua experiência, que deve ser a luz, diz o seguinte: “Vai ser impossível crescer em crise, e fora do crescimento não há salvação”.

Essas são as palavras do estadista Sarney, aconselhando o PT.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2004 - Página 16380