Discurso durante a 67ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do projeto de lei de autoria do Senador Paulo Octávio, que dispõe sobre os recursos da Previdência Social. Comentários às críticas da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB ao governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa do projeto de lei de autoria do Senador Paulo Octávio, que dispõe sobre os recursos da Previdência Social. Comentários às críticas da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB ao governo Lula.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2004 - Página 16782
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATRASO, VOTAÇÃO, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, DEFESA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO OCTAVIO, SENADOR, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, PREVIDENCIA SOCIAL, PREVENÇÃO, DESVIO.
  • APOIO, CRITICA, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, INEFICACIA, PROGRAMA, ERRADICAÇÃO, FOME, BRASIL.
  • ANALISE, INFERIORIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Eduardo Siqueira Campos, que preside esta sessão, Senadores e Senadoras, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que assistem a esta sessão pelo Sistema de Comunicação do Senado Federal, é lamentável olharmos o painel luminoso do Senado, no dia 31 de maio. Senador Heráclito Fortes, V. Exª com certeza não tinha nascido, mas há 60 anos ou mais, Getúlio Vargas já bradava a cada 1º de maio, em cadeia de rádio... E lá no meu Piauí, Senador Tião Viana, ouvia a voz do Presidente Getúlio Vargas, conhecido como o Pai dos Pobres, Pai dos Trabalhadores. E o tom de firmeza era o mesmo: “Trabalhadores do Brasil...” e anunciava o salário mínimo. Era o primeiro a anunciar.

Estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas, Senador Alvaro Dias, revelam-nos que hoje o salário mínimo seria no valor de R$600,00.

É lamentável que hoje, último dia de maio - e este Congresso já havia concedido um avanço: rotineiramente em abril era anunciado o salário mínimo e, em maio, o trabalhador já tinha uma certeza. E logo agora, quando é o Partido dos Trabalhadores que governa, o trabalhador foi esquecido e ameaçado de uma provação. O Poder Executivo tem que pressionar esta Casa de 181 anos, sempre fiel aos momentos históricos do País, tem que se curvar à força do Poder Executivo. Lamentável é o fato de que o Congresso Nacional, em sua história de responsabilidade, Senador Augusto Botelho, Senado Federal e Câmara dos Deputados instituíram uma comissão mista a fim de estudar o assunto. E muito estudaram, sob a Presidência do experimentado Senador Tasso Jereissati! Como se debruçaram e provaram que o núcleo duro não falava a verdade! Mostraram os recursos.

Fui relator do melhor projeto de lei, elaborado pelo Senador Paulo Octávio, no início da nossa legislatura. Projeto que tentou nascer e foi abortado nesta Casa. Nele constava que: se o dinheiro da Previdência Social permanecesse em uma conta da Previdência, e os ganhos de suas aplicações com ela permanecessem, jamais a Previdência Social enfrentaria dificuldades. Teríamos evitado aquela reforma que comprometeu aposentados e pensionistas, viuvinhas e órfãos. E teríamos hoje evitado o dissabor de ouvir o Governo dizer que não aumenta o salário por culpa dos aposentados e da Previdência. Além de o aposentado ter sido roubado em seu direito constitucional adquirido, sua viuvinha, os pensionistas e os órfãos transformaram-se em vilões, são culpados de o trabalhador não ter um salário justo. Por isso, digo que a ignorância é audaciosa.

Já dizia Rui Barbosa que o grande erro é que o trabalho vem antes. A primazia, o respeito, a valorização têm que ser dadas ao trabalhador, ao trabalho, eles é que fazem nascer as riquezas. O atual Governo faz justamente o contrário do que foi pregado pelo baiano Rui Barbosa: prestigia, homenageia, fortalece o dinheiro, o capital, os banqueiros. É como a Senadora Heloísa Helena diz, inspirada e corajosa: “Este Governo serve aos gigolôs do capital”, serve ao FMI, ao BIRD.

Não sou eu, do Piauí, aquele que defendeu e relatou o projeto que seria salvação de Paulo Octávio, sofrendo todas as conseqüências dos poderosos que habitam o Planalto.

E de verdade em verdade vos digo, assim dizia Cristo. Senador Eduardo Siqueira Campos, está aqui a Igreja, que é, Senador Alvaro Dias, a prova da existência de Cristo, da sua permanência, a CNBB - não mais só nós, liderados por Paim - os continuadores de Cristo, de Pedro - “és pedra e sobre cada pedra construirei minha igreja”. A CNBB, Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, por intermédio de seu Presidente, D. Geraldo Magela, teceu duras críticas ao Governo Lula, aos que apóiam o Governo, aos que não cedem ao Governo, aos que não respeitam o povo, aos que não entendem que na democracia o povo é o poder.

Magela critica primeiro a taxação dos inativos, aquela PEC, malfadada PEC nº 67, que eu dizia ser perversa, estelionatária e criminosa 67 vezes. Agora, a Igreja, Deus - aqui está o atestado -, por meio do seu Ministro e do seu representante, o Líder maior da CNBB, critica a taxação dos inativos e o baixo valor do salário mínimo. Já não somos apenas eu, o Senador Paulo Paim e a maioria do Senado que não vamos nos curvar diante da pressão e da ignorância do núcleo duro que dirige o País. O representante de Deus no Brasil, D. Geraldo Magela, diz que ficaríamos felizes se o Congresso aprovasse um aumento maior para o mínimo.

Senador Ramez Tebet, no Chile, são US$250.00, assim como na Argentina, com todos aqueles tumultos e dificuldades recentes, que teve a felicidade de eleger um Presidente competente e experiente, que a transforma. Nos Estados Unidos, são US$890.00, Senador Alvaro Dias; na França, são US$1 mil. Aqui, o Senador Paulo Paim pede, ajoelha-se, implora por US$100.00.

Senador Papaléo Paes, eu gostaria de fazer uma pergunta a V. Exª, que é médico: na França, o salário mínimo é de US$100.00. Aqui, sonhamos com US$100.00. Será que o trabalhador francês tem dez estômagos, e o trabalhador brasileiro, um? Isso não tem razão de ser. Então, essa é a luta.

E diz mais o representante de Deus, D. Geraldo Magela: as promessas de campanha não se realizaram. O Programa Fome Zero ainda não cumpriu os seus objetivos. Dr. Marcos Guerra, aquilo tudo era publicidade. A opinião pública é aquela sobre a qual Ulysses nos advertia: “Ouça a voz rouca das ruas”. Existe a opinião publicada, a paga, a comprada, a que sustenta o “Goebbels”, Duda Mendonça. Como Cristo, Dom Geraldo Majella diz: “Em verdade, em verdade vos digo, o programa Fome Zero ainda não cumpriu seus objetivos”. Sobre os impostos, diz que é injusto cobrar o mesmo percentual de quem ganha R$ 1,5 mil ou R$ 15 mil.

Prometeram uma reforma do Imposto de Renda, mas, Senador Papaléo, o PT é o partido dos tributos, só veio para aumentar a CPMF, a Cide, a Cofins; tudo está aumentando. E a desgraça, como disse Padre Antonio Vieira, nunca vem só. O desemprego, a falta de segurança, a falta de felicidade do povo brasileiro.

Dom Geraldo Majella compara Brasil e Argentina, como eu fiz da última vez que vim à tribuna. Ele diz: “A Argentina está saindo do poço. Talvez lá o Governo tenha mais diálogo com a sociedade”.

Ouço o Senador Alvaro Dias, que ilustra o meu pronunciamento.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Mão Santa, faz V. Exª muito bem em trazer a esta tribuna depoimento de Dom Geraldo Majella, que foi Arcebispo da minha cidade, Londrina, no Paraná. Eu o conheço muito bem. Com profunda sensibilidade social, com um preparo cultural inegável, com uma grande experiência, certamente representa muito bem a igreja neste momento difícil que vive o Brasil, não recusando - e não poderia ser de outra forma - manifestar-se a respeito da situação nacional. Um pouco antes, abordou V. Exª a questão da cobrança dos inativos. Durante os debates da reforma da Previdência no Senado Federal, alertamos sobre a enxurrada de ações judiciais que ocorreriam. Ainda neste último final de semana, a imprensa noticia mais uma decisão da Justiça, desta feita referente aos funcionários do Ministério da Fazenda dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, que não serão obrigados a recolher o percentual. Os inativos não serão obrigados a recolher 11% como determinou a reforma da Previdência aprovada nesta Casa. Certamente, todos os servidores públicos do País que recorrerem à Justiça terão os seus direitos preservados, porque é uma decisão inconstitucional. Esta Casa, o Congresso Nacional, somou-se ao Poder Executivo no desrespeito à Constituição do País. E é hora de começarmos a respeitar a Constituição. Estamos oferecendo péssimo exemplo da afronta à Constituição do País, na medida em que estamos aprovando aqui medidas provisórias e projetos de lei inconstitucionais para atender o Poder Executivo. Quando me refiro a “nós estamos aprovando”, refiro-me à Maioria, porque tanto V. Exª quanto eu estamos constantemente, quase diariamente, protestando contra a afronta que se comete à Constituição do País. Felicito mais uma vez V. Exª por abordar temas de tanta importância para o povo brasileiro.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Alvaro Dias, tenho a satisfação de determinar que sejam incorporadas as suas palavras ao meu pronunciamento. O Brasil todo tem acompanhado aqui a inteligência e a coragem de V. Exª. Ninguém mais do que V. Exª advertiu os Senadores e este Parlamento do respeito à Constituição. Vem-me à mente o quadro do Brasil em que Ulysses Guimarães beijava a Constituição e dizia: “Desrespeitar a Constituição é desrespeitar a Pátria”. V. Exª nos advertiu muitas vezes. Em seus pronunciamentos, V. Exª reviveu a sábia orientação de Rui Barbosa que dizia: “Fora da lei não há salvação”.

E eu queria dizer agora, inspirado em Juscelino Kubitschek: feliz do Lula, que não precisaria ir a outros mundos buscar inspiração. A inspiração está no nosso Brasil, Senador Heráclito Fortes, em Getúlio Vargas, pelo carinho, respeito e amor que teve pelo trabalhador.

Rui Barbosa disse que a salvação estava na lei e na justiça. Eu, que fui prefeitinho no Piauí e Governador do meu Estado, quero dar esse ensinamento e essa contribuição dos peemedebistas de Ulysses, que está encantado; dos peemedebistas de virtudes e de vergonha. Dou uma contribuição ao Lula para a governabilidade, por amor ao Brasil, inspirada não em outros mundos ou em outra história, mas na nossa.

Juscelino Kubitschek de Oliveira foi médico-cirurgião como nós. Ex-prefeitinho, governou o Brasil e deixou o ensinamento do desenvolvimento e do crescimento. Senador Eduardo Siqueira Campos, diria a inspiração de Juscelino Kubitschek que só há salvação para o Brasil por meio do desenvolvimento e do crescimento. Fora disso, não há.

Dizer na mídia que o Brasil está salvo, só na televisão. Cresceu 2,7%, mas estudos não demonstram isso. O crescimento aconteceu no último trimestre, mas, se fizerem o cálculo anual, verão que ele está zerado. Este trimestre simplesmente compensou a queda dos três trimestres anteriores.

Em comparação com outros países emergentes, o nosso desempenho é pífio. A China cresceu 9,8% em relação ao primeiro trimestre de 2003. Também a Malásia cresceu 7,6% no mesmo período.

Aqui, na América Latina, os nossos vizinhos também estão bem melhores. No Chile, o crescimento foi de 4,8%; no México, 4,6%; na Venezuela, de Hugo Chávez, o PIB saltou 29%, embora saibamos que o aumento do petróleo ajudou muito; na Argentina, citada por Dom Geraldo Majella, o crescimento foi de 10,5%.

Por que não conseguimos crescer no mesmo ritmo dos demais países? Há pelo menos três gargalos:

a) os setores público e privado brasileiros estão com falta de capacidade de investimento. A poupança pública vai toda para os banqueiros. Logo, o que sobra para investimentos é altamente insuficiente.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concluirei, Sr. Presidente.

b) a renda é demasiadamente concentrada. Logo, grande parte da população está excluída dos mercados, e sem eles é difícil crescer.

Presidente Lula, o aumento do salário desconcentra a renda. Seja humilde, venha aprender, venha nos escutar. Foi longo e sinuoso o caminho para chegarmos até aqui, e nenhum do núcleo duro chegou e talvez chegará até aqui.

Entre os emergentes, o Brasil é o país que mais arrecada impostos; atualmente, a arrecadação é 38% do PIB. Nos outros países em desenvolvimento, o índice é em média de 21%, ou seja 17% a menos que o Brasil.

Encerro as minhas palavras buscando a sabedoria do povo de Minas, de todo o povo das Minas Gerais ao longo de sua história, de todos os líderes de Minas, sintetizados na gloriosa vida de Juscelino Kubitschek, que disse -- e sua vida demonstrou -- que a salvação do Brasil está no desenvolvimento e no crescimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2004 - Página 16782