Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito do Governo Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações a respeito do Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2004 - Página 18013
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, INEFICACIA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, DIRETRIZ, PROGRAMA DE GOVERNO, EXCESSO, PROPAGANDA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, INSUCESSO, POLITICA SOCIO ECONOMICA.
  • DENUNCIA, DESCUMPRIMENTO, GOVERNO, PROMESSA, AQUISIÇÃO, SAFRA, AGRICULTURA, ECONOMIA FAMILIAR.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) -

            Até Aqui, O Governo Lula Tem Muito De

            Quarta-Feira Depois do Carnaval

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, só agora, quando nos encaminhamos para o segundo ano do mandato do Presidente Lula, o Planalto se mostra preocupado em captar os pensamentos e sentimentos da população quanto às ações de Governo. Isso é bom e é ruim. Confirma-se, por um lado, que o PT chegou ao poder sem programa de ação. E que agora há todo esse tresvario, quase um frenesi, para se saber a toque de caixa o que o povo quer.

Em resposta a pedido de informações que solicitei oficialmente à Mesa do Senado da República, o Ministro Gushisken diz que é pensamento de sua Secretaria realizar pesquisas de opinião pública, terceirizadas, “como ferramenta capaz de auxiliar o Governo na tomada de decisões.” Por que esperaram tanto tempo? Esperando o quê?

O Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo confirma o empenho do Planalto em contratar mais serviços especializados para ajudar o setor de comunicação e propaganda do Governo. Ainda bem que tudo será feito com licitações. Seria a salvação da lavoura?

O que se lamenta é que o Governo coloque a propaganda como primazia, criando frases e chulices, espalhadas a mil por hora e a custos nem sempre baixos. Tenta-se salvar a embarcação a qualquer custo, sem que os marujos instalados a bombordo saibam o que, a estibordo, fazem os outros marinheiros.

Na proa, já meio afadigado, o comandante permanece sem rumo, sem saber o que fazem os auxiliares. E, quando fica a par, o desalentado dirigente limita-se a soprar faúlas inconseqüentes, apenas para efeito externo.

Isso tudo pode parecer que falo em sentido figurado ou metafórico. É, porém, a imagem que o Governo Lula transmite aos brasileiros, já sem quase nenhuma fé no que vem sendo feito ou, na verdade, no que não vem sendo feito, que deveria ser feito e que tem tudo para que possa ser feito.

Como não há programas e como os existentes no comecinho se revelaram inviáveis, fica o dito pelo não dito, como aconteceu com o chamado Fome Zero. Estrépito foi o que não faltou. Muito badalejar, com frases mil e cartazes coloridos à Bangu, aquela coisa feita à valentona, na bruta, porém sem interesse de fazer bem feito; se der jeito, vai grosseiramente.

De verdade verdadeira, na prática faltou mesmo foi estopim e tudo não passou de traque sem chio. Antes, era só festa, do tipo quanto canto, quanta alegria, para tudo se acabar igual a manhã de quarta-feira depois do carnaval.

O Carnaval, diga-se logo, é até melhor. Salve o Carnaval, que, pelo menos, tem, no Rio, a Escola de Samba da Mangueira! A Vai-Vai em São Paulo e a bem ritmada Vitória Régia, em Manaus.

O povo sabe que são poucos dias, tudo à base da brincadeira, abrindo o riso pr’á valer, a velha história da alegria necessária, o quanto baste! Replay, só no ano que vem!

Replay de Governo é diferente. Precisa esperar o quatriênio passar e, ainda por cima, mostrar que tem cadência, compasso e harmonia no conteúdo como na execução. O Governo Fernando Henrique mostrou tudo isso. E houve replay.

A escola de samba precisa de regularidade de movimentos ou de sons; e ritmo.

Já o Governo pressupõe sensibilidade no estilo dos programas, e que sua execução corresponda às necessidades do País. Para executar planos, porém, que se jogue fora o fraseado da propaganda e se mostre vocação, muito trabalho e talento. A hora de começar, se passar, passou. Lembrando Vandré, quem faz a hora, não espera acontecer.

No caso do atual Governo, acabou que o povo ficou a olhar, a distância. E acabou por perder de vista a crença no que esperava que viesse a acontecer.

Nada aconteceu e não é difícil saber por que não?

Todas as iniciativas, todos os projetos, todos os estudos e a sua execução dependem, numa democracia, de diretrizes políticas adequadas.

No Brasil do Governo Lula não há diretrizes nem políticas adequadas. Não há qualquer linha reguladora bem definida nem, muito menos, instruções ou indicações para se tratar e levar a termo um plano, uma ação ou, de preferência, várias ações.

O Brasil do Governo Lula segue sem diretiva. E esta é uma triste mas verdadeira realidade, que nem festa nem propaganda conseguem encobrir.

O Brasil do Governo Lula vive, convencemo-nos, uma espécie de paradoxo do não-Estado. Prevalece no País exatamente o que é contrário ao comum. Prevalece o contra-senso, o absurdo, o disparate.

O normal, num sistema presidencialista, como o nosso, é que esse conjunto, que há de resultar de análises aprofundadas, sensatas, previamente debatidas, passasse a constituir um programa de Governo.

O natural, em todo o mundo e aqui também, é que, em torno de ações governamentais concretas convirjam todas as parcelas da população, destinatárias dos resultados projetados e esperados. Espera inútil. O povo desistiu dessa convergência.

É essencial que o Presidente não restrinja sua condução ao mandato, outorgado em eleições democráticas, a um mero esquema de poder.

E mais: era essencial supor, acreditar, que o Presidente, ao assumir, já tivesse um projeto de Governo e passasse a aplicar ações com o jeito dos anseios da população e, naturalmente, também encerrassem, com rigor e ordenação sistemática, as promessas da campanha eleitoral.

Nada disso ocorreu. Nem ocorre. As promessas eram muitas, foram todas esquecidas e já pertencem ao passado. Vão virar elementos de aferição para o historiador do amanhã.

Nem mesmo são cumpridas as promessas mais recentes. Aquelas já de Lula-presidente, como informa o jornal Folha de S.Paulo. Em matéria publicada na edição do último dia 31 de maio, mostra a jornalista Gabriela Athias num título que já diz tudo: Lula promete, mas não compra safra familiar.

A reportagem, de Gabriela Athias é ilustrada com um cartaz fartamente distribuído pelo interior do País, com fotografias de gente sorridente e bem vestida, sem muita semelhança com agricultores. E os dizeres: Agricultura Familiar. Venda sua produção para o Governo Federal.O preço é justo e a renda é garantida. Compra direta. A garantia para o agricultor familiar da venda de sua produção através do Fome Zero.

Essas são palavras de uma cartilha veiculada pelo Governo Lula. Palavras que infelizmente o vento levou. Bem para longe, pelo visto. Seu enredo não funcionou, como diz a jornalista da Folha:

O Governo federal não está cumprindo uma promessa que fez, no ano passado, a pequenos agricultores beneficiados pelo programa Fome Zero. Comprometeu-se a comprar a produção desses agricultores, que seria usada programas sociais, mas agora não há dinheiro suficiente para honrar o compromisso na sua totalidade.

 

Encerro, dizendo: o Governo, porém, não é Carnaval.

Salve o Carnaval!

E o País não é passarela nem sambódromo.

Salve o País!

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2004 - Página 18013