Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19052
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, INTEGRIDADE, VIDA PUBLICA, EMPENHO, DEFESA, LEGALIDADE, NACIONALISMO, TRANSFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO, PAIS.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conheci pessoalmente o Sr. Leonel Brizola outro dia, quando eu presidia uma reunião do Conselho de Ética do Senado, em que o seu PDT e ele próprio eram os principais denunciantes de um procedimento instaurado na Casa.

Ele dispunha de 20 minutos, mas, como o que tinha para dizer não cabia naquele período, acabei prorrogando o seu tempo, e ele falou por mais de uma hora. Fiz isso porque confesso que Leonel Brizola foi uma das pessoas que mais admirei na adolescência e na juventude.

Quando tinha 15 ou 16 anos, eu participava, em Goiás, do Comitê Goiano pela Anistia, juntamente com outras figuras como o hoje Prefeito de Goiânia, Pedro Wilson, o ex-Vereador e Deputado João Silva Neto e o ex-Deputado Federal João Divino Dorneles. Falava-se muito em Leonel Brizola, e todos o tinham como o inimigo número um do regime militar e da ditadura.

S. Exª foi um homem que, como Governador, teve a iniciativa de estatizar algumas empresas internacionais. Não que isso hoje seja considerado correto, mas na época era revolucionário. E Brizola era isso: um homem revolucionário.

Depois, Brizola, como todos mencionaram aqui, lutou até o fim para que no Brasil não se antecipasse ou não findasse um ciclo, como acabou acontecendo: ele defendendo a legalidade, e, pouco depois, o golpe militar, que fez com que o Brasil tivesse, durante muitos anos, apenas uma ala opinando a respeito do que se deveria fazer no Brasil. Foi o golpe e a ditadura militar.

Como jovem promotor de Justiça no interior, votei, por duas vezes, em Leonel Brizola para a Presidência, ambas no primeiro turno. No segundo turno, votei em Fernando Collor; na segunda vez, em Fernando Henrique. Até me arrependo de ter votado em Fernando Collor, não só pelas bobagens que fez, mas porque acredito que poderíamos ter antecipado o ciclo petista de Governo. Se tivéssemos passado por isso naquela época, talvez não estivéssemos passando agora por tudo o que está ocorrendo.

Admirei Leonel Brizola por sua postura coerente, firme, correta, e que foi demonstrada, com muita firmeza, no episódio em que o PDT era contra a reeleição, quando o Governador do Estado de Mato Grosso, Dante de Oliveira, se insurgiu e apoiou a reeleição, oportunidade em que Brizola o expulsou do Partido. Desfazer-se de um Governador de Partido infiel era uma tarefa que somente um homem com muita firmeza poderia realizar.

Um outro episódio recente foi o apoio de Brizola ao candidato Lula. Logo em seguida, não porque Brizola tivesse mudado sua coerência, mas porque o Governo Lula mudou, Brizola se postou na Oposição.

Era uma figura forte, que merecia respeito e, conseqüentemente, tinha muito a dizer, muito a lecionar. Com certeza, deixou aqui muitos filhos políticos como o Senador Jefferson Péres e tantos outros que seguem o modelo Leonel Brizola.

Outro fato que chama atenção para Leonel Brizola são as chamadas escolas em tempo integral. Tive, inclusive, a oportunidade de apresentar no Senado uma proposta de emenda à Constituição que, se aprovada, fará com que todas as escolas de 1º Grau no Brasil funcionem em tempo integral. Portanto, os Cieps foram uma evolução e uma referência. No entanto, não deram certo porque eram poucos. Os cerca de 200 Cieps que Leonel Brizala construiu não foram suficientes para fazer com que aquelas crianças ficassem em tempo integral na escola, como acontece nos países mais desenvolvidos do mundo.

Leonel Brizola se foi, mas, ao contrário do que dizem, a sua história permanecerá viva, vibrante e coerente, porque, acima de tudo, ele era um homem que podia inspirar aos outros, que era respeitado quando falava e que tinha um exemplo de vida muito digno, bonito, combativo, que certamente não se quedará esquecido durante muito tempo.

Parabéns, Leonel Brizola, se assim pudermos dizer, por ter-se mostrado um espelho em toda a sua vida, alguém que pudéssemos seguir, ainda que não pragmaticamente, ainda que não em todas as ações, mas demonstrou principalmente exemplo de caráter firme, honesto e coerente.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19052