Discurso durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância de evento que ocorrerá no próximo dia 23 do corrente, em Salvador, que culminará com a doação do Teatro Miguel Santana à Companhia de Balé Folclórico da Bahia, pelo governo do Estado.

Autor
Rodolpho Tourinho (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Rodolpho Tourinho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Importância de evento que ocorrerá no próximo dia 23 do corrente, em Salvador, que culminará com a doação do Teatro Miguel Santana à Companhia de Balé Folclórico da Bahia, pelo governo do Estado.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2004 - Página 27272
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ELOGIO, POLITICA CULTURAL, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DA BAHIA (BA), DEFESA, CULTURA AFRO-BRASILEIRA, DOAÇÃO, SEDE, TEATRO, ENTIDADE, DANÇA, FOLCLORE, IMPORTANCIA, CONTINUAÇÃO, PATRIMONIO CULTURAL, ATIVIDADE, FORMAÇÃO, ARTISTA, DIVULGAÇÃO, VALORIZAÇÃO, NEGRO, REGISTRO, PREMIO, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL.

O SR. RODOLPHO TOURINHO (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Lúcia Vânia, ontem ocupei esta tribuna para tratar de questões ligadas à cultura, em virtude da proposta do Governo de criação da Ancinav. Levantei vários aspectos culturais do meu Estado, a Bahia, que achava importante considerar antes que avançássemos na aprovação desse projeto.

Volto hoje para tratar outra vez de cultura, da cultura do meu Estado, das questões ligadas ao meu Estado, para registrar um grande evento em defesa da cultura afro-baiana que ocorrerá em Salvador na próxima segunda-feira.

Na verdade, é mais uma demonstração de sensibilidade do Governo do Estado e do seu Governador Paulo Souto no incentivo à arte local e que deve servir de exemplo para o País.

Naquela data será feita a doação, em definitivo, pelo Governador Paulo Souto, ao Balé Folclórico da Bahia, do Teatro Miguel Santana, localizado no Pelourinho, local que por si só já representa tanto para a nossa cultura.

Registro minha enorme alegria com este fato na medida em que me empenhei muito, desde quando estava à frente da Secretaria da Fazenda até hoje, primeiramente, para assegurar a continuação do Balé Folclórico e, depois, por essa doação que se efetivará na segunda-feira, o que representará uma grande conquista para a única companhia de dança folclórica profissional do País.

O Balé Folclórico foi criado em 1988 pelo incansável Walson Botelho, o Vavá, e por Ninho Reis e possui atualmente um significativo currículo de atividades, com inúmeros prêmios e várias turnês nacionais e internacionais realizadas.

A primeira vez que tive a oportunidade de vê-lo foi, aliás, fora do Brasil, ocasião em que senti muito orgulho por eles e o orgulho também por ser baiano. Desde então, passei, efetivamente, a buscar ajudá-los de todas as formas possíveis, dentro das possibilidades do Estado.

O Balé passou por alguns momentos difíceis. Como a maioria dos movimentos culturais neste País, que carecem de mais atenção das autoridades competentes, por algumas vezes passou por dificuldades e quase acabou. Mas com o empenho de alguns que, como eu próprio, entendiam a importância desse movimento para o nosso Estado e para o País, a Companhia continuou e hoje goza de grande prestígio nacional e internacional, refletido na resposta do público e também da crítica especializada.

A Companhia, composta por 38 integrantes, entre dançarinos, músicos e cantores, tem funcionado em regime integral de seis horas de trabalho diário, sob a direção artística de José Carlos Santos, o popular Zebrinha, desde 1993. Ela já formou mais de 500 bailarinos e bailarinas, espalhados hoje pelo mundo, elevando o nome do nosso Estado e do nosso País.

Eu até me pergunto o que seria dessas pessoas, desses 500 bailarinos e bailarinas que estão hoje no País, o que seria deles se não fosse o Balé. Eles vêm das camadas menos privilegiadas da população, dos bairros mais periféricos e pobres de Salvador. O que seria deles? O que poderia ser deles? Atribuo uma enorme importância a esse trabalho realizado pelo Balé, nessa criação constante de empregos. E foram empregos criados com o talento desse povo, com a vontade e a obstinação de uma raça, mais do que por terem sido alocados recursos públicos nessa área.

O Balé tem sede em Salvador e fez a sua estréia durante o Festival de Dança de Joinville, mesmo antes de seu lançamento oficial, quando mais de 20.000 aplaudiram o espetáculo “Bahia de Todas as Cores”. A partir daí, já recebeu muitos prêmios, com destaque para o “Prêmio Mambembão”, oferecido pelo Ministério da Cultura, em 1996, como a melhor preparação técnica de elenco no País naquele ano.

No ano de 1992, fez sua estréia internacional no renomado festival da Alexander Platz, em Berlim, para um público de mais de 50 mil pessoas, sendo ovacionado no final do espetáculo por vários minutos seguidos. Seguiu, então, a partir daí, realizando pequenas outras turnês no exterior até que foi convidado para participar da Bienal de Dança de Lyon, na França, considerado o mais importante evento do gênero no mundo, ao lado das mais importantes companhias de dança da atualidade, a exemplo da Alvin Ailey Dance Company, Ballet of Harlem, Bill T-Jones Dance Company, Dayton Ballet, entre outras.

O enorme sucesso das apresentações, em Lyon, no Auditorium Maurice Ravel, foi motivo para a primeira crítica de página inteira no jornal The New York Times, escrita por Anna Kisselgoff, que considerou o Balé Folclórico da Bahia, entre as diversas companhias dos quatro continentes presentes no festival, como a que melhor exemplificava a temática do evento, que era Mama África.

A Bienal de Dança de Lyon, em 1994, abriu caminho para as constantes turnês internacionais da companhia. Retornou à Bienal em 1996 e consagrou-se, definitivamente, como uma das mais importantes e atuantes companhias de dança do mundo na atualidade. Em conseqüência do novo sucesso obtido em solo francês, realizou novas turnês nas Américas do Norte e Central, Europa e Austrália, tendo apresentado-se nos mais prestigiados palcos do Estados Unidos, da França, do Canadá, da Suíça, da Alemanha, de Portugal, da Finlândia, da Suécia, da Dinamarca, entre outros.

Seu sucesso continua, pois partirá em turnê, já no mês de setembro, nos Estados Unidos, em 48 cidades, deixando um outro grupo se apresentando em seu teatro - já no Pelourinho, graças, outra vez, ao empenho e à dedicação do seu líder, Walson Botelho.

Trata-se, portanto, de um patrimônio cultural do Estado da Bahia e do Brasil que, a partir de agora, terá endereço certo em um dos locais mais visitados da nossa capital.

Concluo novamente exaltando a postura do Governo do meu Estado que, há muitos anos, percebeu que o incentivo à cultura representa um dos melhores investimentos do poder público. Por isso, nosso Estado cada vez mais atrai turistas e se destaca no cenário nacional como pólo de cultura, criando empregos.

A Bahia muito deve ao seu Balé Folclórico. O ato do Governador Paulo Souto, a doação em si, além de refletir a seriedade e a sensibilidade do seu governo, representa um gesto de reconhecimento e agradecimento à cultura afro-baiana. Afinal, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a influência da arte negra na cultura do meu Estado é singular e única, pode-se até dizer que ambas se confundem.

Com grande satisfação, vejo que o mês de agosto vem se tornando muito importante no calendário da arte negra baiana, afinal, pelo segundo ano consecutivo, o Instituto Negro de Arte, Cultura e Lazer - INAC -, composto majoritariamente por artistas e intelectuais baianos, promove o Projeto Cultura Negra através da Arte, evento que, por meio de palestras, debates e eventos culturais, discute questões ligadas à negritude, arte e educação.

Também em agosto, mais precisamente do dia 25 ao dia 29 do mês, mantendo uma tradição que já dura vários anos, ocorre em Salvador, nas dependências do Ilê Axé Opô Afonjá, o Alaiandê Xirê, reconhecido como um dos mais importantes eventos artístico-culturais de herança africana realizados no Brasil.

E agora, numa feliz coincidência, a partir de segunda-feira, no mês de agosto, o Balé Folclórico da Bahia, legítimo representante da arte negra baiana, estará com novo e definitivo endereço: o Teatro Miguel Santana, no Pelourinho, algo que faço questão de registrar nos anais desta Casa como mais um motivo de comemoração e orgulho para todo o povo baiano.

Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2004 - Página 27272