Discurso durante a 116ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagens ao ex-Presidente Getúlio Vargas, pelo transcurso dos 50 anos de seu falecimento.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens ao ex-Presidente Getúlio Vargas, pelo transcurso dos 50 anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2004 - Página 27466
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE MORTE, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ANALISE, ATUAÇÃO, HISTORIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • ELOGIO, POLITICA EXTERNA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, COMPARAÇÃO, NACIONALISMO, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mesmo tendo trazido um discurso escrito, faço, antes, alguns comentários.

Do tempo em que fui líder sindical ao que sou hoje, eu gostaria de aqui traçar os dois perfis de Getúlios Vargas. Sempre haverá pessoas que nos vão admirar e outras que nos vão detestar. Isso faz parte da natureza humana.

Naquele primeiro momento, no início da minha carreira política como sindicalista, aprendi, por meio de livros e de minhas vivências, acerca de um Getúlio Vargas mão-de-ferro, de um Getúlio Vargas pulso forte, de um Getúlio Vargas que teve apreço e ligações com o nazi-facismo, de um Getúlio Vargas que entregou Olga Benário a Hitler, e assim por diante. Esse Getúlio Vargas eu detestava. Quando sindicalista, aprendi a combater essas idéias, pois ouvia a voz do meu coração contra esse Getúlio Vargas. No entanto, agora, analisando friamente a História por intermédio de outras bibliografias e conversando com pessoas que com ele conviveram, começo a compreender um Getúlio Vargas que sonhou com um Brasil que, acredito, é o Brasil que todos desejamos: um Brasil independente e soberano; um Brasil com uma economia estabilizada, disposto a se colocar no meio da geopolítica mundial como personagem central. Getúlio teve coragem de ter uma relação diferenciada com a ascendência do imperialismo americano. Pensou em políticas que estão vivíssimas até hoje, visto o debate das questões trabalhistas principalmente. Construiu empresas, como a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras. Pensou em um Brasil que, acredito, não foi para muito pouco tempo, foi um país sonhado para dois, três séculos à frente. Podemos dizer que Getúlio Vargas sonhou muito à sua frente.

Com essas palavras, quero dizer que venho aqui hoje, desarmado de espírito, falar que, no início da década de 80, aprendi a não gostar de Getúlio Vargas. Mas hoje venho aqui falar do Getúlio Vargas que aprendi a admirar. Acho que esse é o tipo de escola de Estado, de Nação, de política, de um jovem, a que muitos aqui já se referiram com propriedade de causa, até mesmo porque são estudiosos, conhecedores profundos do tema, quando sou leigo no assunto, mas posso dar aqui meu testemunho do que é uma pessoa que aprendeu a conviver com essas duas realidades. Hoje acredito que nosso País está tentando retomar esses ideais. No momento em que começamos a negociar nossa economia com patamares diferenciados, defendendo o interesse nacional, buscando outro tipo de relacionamento no mundo, trazendo países que até então eram vistos como quintais da Europa, como quintais norte-americanos, países até então entregues à própria sorte, cujas riquezas naturais eram simplesmente fontes das grandes riquezas e do grande volume de consumo de países do hemisfério norte do nosso globo.

Agradeço à pessoa que me ajudou, mas recuso-me a ler o meu pronunciamento porque acredito que, em situações de homenagem, precisamos ser sinceros e falar com o coração, com sentimento.

Na História do Brasil, carecemos, cada vez mais, em cada unidade da nossa Federação, em cada líder político que temos hoje no Brasil, de qualquer matiz e ideologia em que se possa pensar, que temos um País a construir, sair do que fomos, do jugo dos portugueses para o Império de D. Pedro I e D. Pedro II e da construção da República à construção de um Estado emergente, saindo da economia agrária para uma economia também industrial, desafiar tecnologias, desafiar a inteligência brasileira com a construção de universidades, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e tantas outras instituições públicas de alto interesse nacional.

O mundo mudou e, naquela época, no final da guerra, instalou-se a guerra fria. Então, o grande Getúlio Vargas, que muitos admiravam, passou a definhar. Acredito que foi esse o momento em que a América Latina começou a sucumbir ante o imperialismo e o interesse econômico americano. Agora vivemos a chamada modernidade da globalização, no momento em que os blocos econômicos, cada vez mais vorazes em seus interesses, no momento em que o mundo está partido ao meio, não de uma maneira, digamos assim, mais bonita que poderia ser, entre um pensar da humanidade, mas entre aqueles que podem mais e aqueles que podem menos.

Parabenizo o Governo do Presidente Lula por ter desafiado uma nova geopolítica. E vi com jocosidade alguns pronunciamentos, alguns respeitáveis jornalistas brasileiros dizerem que, ao se criar o G-21, ao se criar uma nova relação com a Rússia, com os países africanos, uma nova relação na América Latina, na América do Sul, o Brasil estava brincando de fazer política, de fazer economia. Quem éramos nós? Não podemos cair no jugo da ameaça por que passa a Venezuela. Não podemos cair no jugo da ameaça da economia por que passaram Coréia do Sul, México e Argentina. É preciso buscar um ideal nacional de longo prazo, Sr. Presidente. E é aqui, com esta emoção que quero dizer que este Getúlio Vargas que aprendi a conhecer mais recentemente tem que pairar em nossos ideais, tem que ser resgatado, exaltado, reconstruído, recolocado no cenário nacional. E respeito todas as ideologias que se colocam não só no Congresso Nacional, mas no País inteiro, na imprensa, no movimento social, nas esferas de Governo, em todas as instituições constituídas no Estado brasileiro, mas creio que só podemos pensar num mundo mais harmônico, Sr. Presidente, num mundo onde se acabe com a fome de uma vez por todas, onde possamos retirar minimamente recursos do aparato bélico, da intimidação, do medo, do terror, da construção das guerras para socializar a solidariedade humana, para socializar o interesse nacional de cada nação, respeitando as negociações, principalmente as suas culturas. E é este o Getúlio Vargas que vim homenagear no dia de hoje.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Agradeço pela oportunidade. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2004 - Página 27466