Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Realização do Alaiandê Xirê, um dos maiores eventos da cultura do candomblé, em Salvador/BA, no período de 25 a 29 de agosto.

Autor
Rodolpho Tourinho (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Rodolpho Tourinho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Realização do Alaiandê Xirê, um dos maiores eventos da cultura do candomblé, em Salvador/BA, no período de 25 a 29 de agosto.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2004 - Página 29036
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), FESTIVAL, TROCA, CONHECIMENTO, ARTES, RELIGIÃO, CULTURA AFRO-BRASILEIRA, ANIVERSARIO, ORDENAÇÃO, SACERDOTE, SAUDAÇÃO, MANUTENÇÃO, TRADIÇÃO, MUSICA, CERIMONIA RELIGIOSA, ESPECIFICAÇÃO, DEBATE, PROTEÇÃO, NATUREZA, MEIO AMBIENTE.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, venho novamente à tribuna tratar de um tema muito importante para a cultura do meu Estado, a Bahia.

Trago ao conhecimento deste plenário que no período de 25 a 29 de agosto, com vasta programação, ocorreu um dos maiores eventos da cultura do Candomblé: o Alaiandê Xirê, realizado neste ano no Ilê Axé Opô Afonjá.

Trata-se de um acontecimento único no mundo, pois permitiu a reunião e troca de conhecimentos sobre a arte, a cultura e a religião dos Orixás de uma forma diferente: no terreiro. Foi o terreiro abrindo as portas para a Cultura.

O Alaiandê Xirê- Festival Internacional de Alabês, Xicarangomas e Runtós, que neste ano comemorou os 65 anos de Iniciação Religiosa de Mãe Stella de Oxossi, reuniu os melhores músicos sacerdotes: cantores e tocadores de atabaques da Bahia, do Brasil e, também, de diferentes regiões do exterior.

As exibições de alguns virtuoses do universo dos Orixás, Voduns e Inquices atraíram as atenções de centenas de pessoas de múltiplos interesses que vieram participar do evento, já sedimentado na cidade do Salvador. São religiosos, acadêmicos, pesquisadores, artistas e simpatizantes que comparecem ao Opô Afonjá - a Casa do Alaiandê, Xangô, o mestre tocador, porque é o maior dentre todos os tocadores e dançarinos de batá: um toque ritual em sua homenagem.

Sr Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a Bahia é conhecida pela sua rica cultura, que nos coloca como um Estado exportador de arte popular para o resto do país e para o mundo, todavia, é fundamental exaltarmos o sincretismo religioso baiano, não menos famoso, como um dos principais motivadores desta produção cultural tão densa.

No caso do Alaiandê, desde sua primeira edição, o evento foi um grande e emocionante sucesso! Por seu espaço sagrado já passaram sacerdotes com mais de 90 anos de idade e 70 de iniciação. Seu principal objetivo, no entanto, é a preservação dos cânticos e dos toques trazidos da África, mantidos e recriados no Novo Mundo, no universo dos terreiros. Nesta religião afro-brasileira, o lúdico e a festa são meios para que aconteça a ligação entre homens, mulheres, crianças e divindades. A liturgia é feita à base de cânticos, reprodução dos mitos, danças e dogmas.

É fundamental para os que procuram manter a tradição a passagem do conhecimento dos mais velhos aos mais jovens, reforçando-se a ética da religião dos Orixás, demonstrando-se a sabedoria e a arte de um povo que é uma das principais matrizes da formação do Brasil Brasileiro, tal como escreveu Ary Barroso, homenageado no último Alaiandê em virtude de seu centenário.

Além das demais atividades, o encontro sempre traz ao debate um tema correlato à cultura afro-religiosa a ser apresentado em Seminário ao longo da programação. No ano de 2003 o tema foi: "Xangô na África e na Diáspora", e contou com a participação dos maiores nomes da Academia e das Artes: Vivaldo da Costa Lima, Monique Augras, Claude Lepine, Júlio Braga, Giselle Cossard, José Flávio Pessoa de Barros, Raul Lody, Ildásio Tavares, Sérgio e Mundicarmo Ferretti, José Celso Martinez Correia, Chica Xavier e Clementino Kelé, Maestro Fred Dantas, Tuzé de Abreu, Márcio Meireles, Jorge Alakija, Paola Pedri, OSB - entre outros.

Este ano o tema foi "Xangô dobra os Couros para Ode e Exu; o Grande Senhor da Floresta e o Avesso do Avesso". Sendo dedicado a Oxossi (Odé) e Exu, homenageou as instituições e personalidades que se voltam à preservação, conservação e ampliação dos recursos naturais, do equilíbrio ecológico e da melhor qualidade de vida de todos os seres. Aliás, é importante registrar que no Candomblé a preservação da Natureza é fundamental. Florestas, rios, cachoeiras, mares, pântanos. Terra, fogo, ar e água são sagrados e são elementos presentes em todos os rituais religiosos.

Apesar de se tratar de um evento com apelo religioso, pesquisas informais têm constatado que grande parte do público presente é formado, por estudantes secundaristas, universitários e de pós-graduação. Além de profissionais de diversas vertentes: músicos, artistas, artesãos, professores, antropólogos, sociólogos, advogados, médicos, psicólogos, religiosos de outras tradições, operários e os moradores dos bairros periféricos do Retiro e de São Gonçalo. A presença de adolescentes e crianças também é marcante.

O Candomblé é uma religião alegre, que traz estampado no rosto de seus seguidores o fascínio pela vida. Por isso, a comemoração. Por isso reunir os melhores tocadores de atabaque do Brasil e do mundo para celebrar a existência das sábias sacerdotisas que comandaram o Candomblé.

Por isso o desejo em preservar a História, que neste terreiro baiano é conduzida com carinho por Mãe Stella, Odé Kayode, que tem se empenhado em fortalecer esta religião, mantendo a entrega religiosa e a tradição que remonta a milhares de anos.

Concluo, Sr Presidente, Sras. e Srs. Senadores, ressaltando a importância do Alaiandê Xirê para a minha terra, a Bahia, entendendo que é muito importante trazer ao plenário do Senado um pouco desta cultura que é tão rica e que tem dado tanto ao Brasil.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2004 - Página 29036