O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, queria deixar claro que, com toda boa vontade, eu faria uma permuta com o Senador Efraim Morais, mas S. Exª ainda está terminando alguns litígios da Paraíba com o Senador Ney Suassuna, rescaldo ainda da campanha das eleições municipais. Tenho certeza de que isso ainda vai perdurar alguns minutos.

Inicio o meu pronunciamento, dizendo que na semana que passou registrei desta tribuna a realização de mais um Círio de Nazaré. Naquela oportunidade, convidei meus Pares e o povo brasileiro para testemunharem uma das maiores demonstrações de fé que acontecem em nosso País.

O Círio 2004 foi realizado no último dia 10, na minha querida cidade de Belém do Pará. Quase dois milhões de pessoas passaram pelas ruas de Belém. A procissão durou quase nove horas e meia.

Digo isto emocionado: essa foi uma grande demonstração da devoção e da religiosidade do povo paraense.

Na verdade, essa festa já não é só do Pará, mas de toda a Amazônia e até mesmo do Brasil. Todos nós tivemos momentos de paz, de reflexão e principalmente a oportunidade de voltar às nossas origens e, junto com o povo, pedir a Deus melhores dias para o nosso País.

Sr. Presidente, aproveitando este momento, quero registrar que foi anunciado oficialmente ontem que o Arcebispo Metropolitano de Belém será o Bispo de São José do Rio Preto, Dom Orani João Tempesta, cuja posse acontecerá no próximo dia 8 de dezembro. Informo, ainda, que o administrador da Arquidiocese, não mais Arcebispo, Dom Vicente Zico, foi nomeado Bispo Emérito de Belém.

É com grande alegria que comunico que Dom Vicente Zico continuará residindo em Belém após a posse do novo Arcebispo. S. Exª pretende dedicar-se aos doentes e à formação espiritual do povo. Houve, como diz Dom Zico, um matrimônio espiritual entre a sua pessoa e a comunidade.

Dom Zico declarou que já comunicou à família, que vive em Minas Gerais, quando a visitou no mês de julho, sua decisão de permanecer em Belém. Essa escolha se deve à acolhida que recebeu do povo paraense, disse Dom Zico, com a simpatia de sempre, em entrevista ao jornal O Liberal, o maior jornal da Amazônia e um dos maiores jornais do País.

Na entrevista a O Liberal ,Dom Vicente Zico agradeceu o carinho dos paraenses e lhes pediu perdão por não ter feito tudo o que imaginara fazer, tudo o que sonhara, ou o que ele deveria ter feito. Disse, ainda, que continuaria liderando a Arquidiocese, não fosse a recomendação para a aposentadoria aos que alcançam os 75 anos de idade.

Após completar 75 anos, ainda permaneceu no cargo por mais dois anos, a pedido do Papa. “Se não fosse a determinação, eu continuaria Arcebispo com muita alegria, entusiasmo e amor por Belém” - afirmou Dom Zico.

Quanto ao fato de o anúncio ter sido feito somente após o Círio, Dom Zico explicou que a sua vontade era se despedir durante a procissão, quando agradeceria ao povo o carinho. Isso não foi possível - garantiu - porque a determinação do Vaticano era anunciar a substituição dele somente em 13 de outubro. S. Exª disse estar satisfeito por encerrar o seu mandato no dia dedicado à Nossa Senhora de Fátima, já que é devoto de Maria.

Dom Zico, até o dia da posse do novo Arcebispo, permanecerá como Administrador Apostólico da Arquidiocese e não como mais Arcebispo. Dom Carlos Verzeletti, um dos nomes cogitados em Belém para suceder Dom Zico, continuará acumulando as funções de Bispo Auxiliar em Belém e Bispo em Macapá, terra do Senador Papaléo Paes, no Estado também representado pelo Senador José Sarney, Presidente do Congresso Nacional e do Senado Federal. Até a decisão do Papa, a Arquidiocese do Amapá será dirigida por Dom Carlos Verzeletti.

Sr. Presidente, Dom Zico é mineiro, da cidade de Luz. Nasceu em 27 de janeiro de 1927. É o quinto filho do casal Belchior Joaquim Zico e Anita Maria de Jesus. Lazarista, entrou na Congregação da Missão em 2 de fevereiro de 1943, fazendo profissão religiosa em 19 de março de 1945. Estudou no Seminário do Caraça, em Minas Gerais, e Petrópolis, no Rio de Janeiro. Em 22 de outubro de 1950, foi ordenado sacerdote por Dom Jorge Marcos de Oliveira. Cursou o Instituto Superior de Pastoral Catequética em Paris, França. É formado em Filosofia e Psicologia.

Antes do Episcopado, foi professor na Escola Apostólica, professor prefeito de disciplina, diretor espiritual e reitor do Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza. Também foi professor do Seminário de São Luís do Maranhão e do Seminário da Congregação, em Petrópolis, assistente provincial e secretário da província brasileira da Congregação da Missão.

Entre os grandes trabalhos do Arcebispo de Belém, Dom Vicente Zico, está a conclusão e a inauguração da obra da TV e Rádio Nazaré. Essa emissora, além de transmitir para o Pará e para todo o Brasil as informações, as notícias, une os cristãos do Pará, da Amazônia e do Brasil.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Dom Zico era conselheiro geral da Congregação, em Roma, quando foi designado pelo Papa João Paulo II Arcebispo Coadjutor de Belém, no dia 5 de dezembro de 1980. Foi sagrado Bispo na Basílica de São Pedro, em 6 de janeiro de 1981, pelo próprio Papa. Tomou posse em Belém, na Catedral, no dia 8 de março do mesmo ano. Durante oito anos, foi o Bispo responsável pela Dimensão Missionária da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. Atualmente, é Presidente do Regional Norte 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e membro do Conselho Pontifício para a América Latina.

Quero dar o meu testemunho: Dom Zico é um ícone para o Pará, pois ali prestou relevantes serviços em benefício do povo do meu Estado.

Ao anunciar seu sucessor, Dom Zico afirmou conhecer o novo Arcebispo, também conhecido nacionalmente pela comunidade católica e disse: “Posso afirmar que, a seu modo de ser, vai realizar um belo e importante trabalho em Belém”.

Sr. Presidente, tenho certeza de que Dom Orani também fará um grande trabalho em Belém, pois já demonstrou todo seu carisma em São José do Rio Preto, Estado de São Paulo. Dom Orani João Tempesta foi o terceiro Bispo da Diocese do Rio Preto, onde tomou posse em 1º de maio de 1997, adotando o lema episcopal “Que todos sejam um”. Caçula entre nove irmãos, nasceu em São José do Rio Pardo, São Paulo, em 23 de junho de 1950 e foi batizado na Matriz de São José em 9 de agosto do mesmo ano. Filho de Achiles Tempesta e Maria de Oliveira, já falecidos, fez o curso primário, o ginasial e o colegial em sua terra natal de 1957 a 1967. Ingressou no Mosteiro de São Bernardo em 20 de janeiro de 1968, encaminhando-se para o noviciado no Mosteiro Cisterciense de Itaporanga, onde vestiu o hábito em 1º de fevereiro do mesmo ano. Como monge professo de votos simples, fez seus estudos superiores na Faculdade de Filosofia no Mosteiro de São Bento, de 1969 a 1970, e os estudos de Teologia no Instituto Teológico Pio XI, dos religiosos salesianos, ambos em São Paulo. Em 2 de fevereiro de 1972, fez a Profissão Solene na Ordem Cisterciense. Em 7 de dezembro de 1974, foi ordenado sacerdote por Dom Tomás Vaquero, na Matriz de São Roque, em São José do Rio Pardo. A vida pastoral de Dom Orani João foi intensa e o credenciou para assumir a missão árdua do episcopado. Tanto dentro da Ordem Cisterciense como na Diocese de São João e Província Eclesiástica de Ribeirão Preto, seu trabalho esteve marcado pela simplicidade e eficácia. Em 5 de dezembro de 1996, foi eleito o 1º Abade da Abadia de Nossa Senhora de São Bernardo, o primeiro nascido no Brasil. O Abade Orani João foi nomeado, pelo Papa João Paulo II, 3º Bispo de Rio Preto em 26 de fevereiro de 1997. A sagração episcopal se deu em São José do Rio Pardo, das mãos de Dom José Aquino Pereira, a quem substituiria em 25 de abril do mesmo ano. Em 1º de maio de 1997, com grande afluxo de fiéis, autoridades, sacerdotes, seminaristas e religiosos, tomou posse na Sé Catedral de Rio Preto seu novo Bispo, D. Orani João Tempesta. Nesse mesmo dia, fez chegar às mãos do presbitério e dos agentes de evangelização a sua 1ª Carta Pastoral. Dom Orani João sempre foi incansável em visitar todas as paróquias da Diocese, adotando o colegiado como o caminho para o “ver, julgar e agir” nas questões diocesanas.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA) - Concedo o aparte ao ilustre Senador Heráclito Fortes, meu vizinho do Estado do Piauí.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Meu caro Senador Luiz Otávio, acompanho desde o primeiro momento este profundo pronunciamento que V. Exª faz, enaltecendo a figura de Dom Zico e saudando a chegada à sua terra, a cidade de Belém, de Dom Orani. Quero dizer, de antemão, que se algum pecado V. Exª tinha, carregando pela vida, acaba de ser absolvido, não só por essas duas grandes figuras da Igreja, mas também por todos os católicos de Belém que, evidentemente, falam na pessoa de V. Exª nesta tribuna. Impressiona-me e a todos os Senadores que aqui estamos a pesquisa apurada que V. Exª fez, com detalhes, demonstrando a admiração que V. Exª tem pelo clero, especialmente por essas duas figuras. Associo-me a V. Exª neste pronunciamento, desejando êxito ao novo bispo que assumirá suas funções na cidade de Belém, e desejando a Dom Zico, que tantos serviços prestou àquela comunidade, que continue servindo a Deus, aonde o destino lhe enviar após o seu descanso hoje exigido pela Igreja. Congratulo-me com V. Exª e com o povo de Belém, que tem em V. Exª o representante que retrata exatamente aquilo que é o seu sentimento.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA) - Agradeço a participação e a manifestação de V. Exª, Senador Heráclito Fortes, porque tenho certeza de que o Brasil inteiro - e o mundo, pela Internet - participou da procissão e da festa do Círio de Nazaré. Tivemos uma cobertura de mais de dez empresas de televisão, rádio e jornais e também a participação muito forte, expressiva, da Rede Globo, através da TV Liberal, que fez a cobertura por inteiro de mais de 9 horas da Procissão do Círio de Nazaré - a Romaria Fluvial, a Trasladação na noite de sábado, a festa do Círio de Nazaré, no domingo pela manhã, até o final da tarde, o que deu a verdadeira dimensão do que é a nossa religiosidade, a participação das pessoas mais humildes e até mesmo a condição que temos de união, de termos a oportunidade - há mais de 200 anos - de comemorar o Círio de Nazaré, de homenagear a virgem de Nossa Senhora de Nazaré. Esse foi o Círio nº 212, e cada vez trazemos mais brasileiros e mais estrangeiros para somarem-se à nossa população. É uma festa de união, é o Natal do povo paraense. Por incrível que pareça, não acontece nenhum problema na área de segurança. A direção da festa do Círio de Nazaré, chefiada nessa oportunidade pelo Dr. Osvaldo Mendes Filho, junto com o Arcebispo de Belém, promove encontros ao longo do ano inteiro para organizar essa grande festa, que conta com participação das Forças Armadas, da Polícia Militar e da Cruz Vermelha. Até hoje, não existe nenhum registro de morte por acidente, por fogos, no trânsito ou por qualquer motivo nesses 212 anos. É uma procissão ordeira, festiva, de registro de fé do povo paraense e, com certeza, do povo brasileiro.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, o meu registro é feito pela oportunidade que tenho de estar aqui no Senado Federal, trazido pelo povo do Pará, pelo povo do meu Estado, que me deu esta oportunidade. Por conseguinte, tenho, aqui da tribuna do Senado Federal, de refletir a imagem, o pensamento e a vontade do povo paraense.

Sr. Presidente, Dom Orani João sempre foi incansável ao visitar todas as paróquias da diocese, como disse há pouco, adotando o colegiado como caminho para o “ver, julgar e agir” nas questões diocesanas. Pelo seu acolhimento, pelo espírito de cidadania e ação missionária tem conquistado não só os quadros da Igreja Católica, como a parceria de organismos públicos e entidades privadas.

Também em entrevista ao jornal O Liberal, o novo arcebispo disse ter se surpreendido com a nomeação, pois sequer imaginava que seu nome era cogitado. Hoje, encara a tarefa como um desafio. Para Dom Orani, no entanto, qualquer nova realidade é diferente, mas não é difícil de conhecê-la e a ela se adaptar. Em São Paulo mesmo, comentou, experimentou diversidades culturais nas dioceses pelas quais passou. O importante, completa, é ter Deus.

Sobre Belém, disse ter conhecimento da importância do Centro de Cultura e Formação Cristã da Arquidiocese de Belém e da grandiosidade do Círio de Nazaré, visto como a maior manifestação mariana do Brasil e prova de que o povo paraense é um povo de fé. “O que vou implementar só será possível decidir depois que conviver com as pessoas”, disse. O novo arcebispo aproveitou para saudar a população de Belém e destacar que vem “de coração aberto”. “Desde já quero ficar paraense”.

Agradeço a atenção e, principalmente, a participação de V. Exª, Senador Heráclito Fortes, e de todos os Senadores.