Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à matéria "FHC e Lula confirmam Aron", publicada no Jornal do Brasil, de autoria do ex-Senador Jarbas Passarinho, edição de 28 de setembro do corrente.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários à matéria "FHC e Lula confirmam Aron", publicada no Jornal do Brasil, de autoria do ex-Senador Jarbas Passarinho, edição de 28 de setembro do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2004 - Página 31312
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, ALTERAÇÃO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PDT - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, matéria do ex-senador Jarbas Passarinho, publicada no Jornal do Brasil do dia 28 de setembro do corrente, traz a confirmação de um estudo sociológico que afirma que os proletários deixam de viver como proletários no dia em que chegam ao poder.

Segundo a matéria, o obreiro Lula abandonou o socialismo marxista-leninista das campanhas anteriores para atender aos interesses dos bancos internacionais. Três argumentos confirmam isto. Primeiramente, a insatisfação de antigos correligionários que acabaram fundando outro partido político o P-Sol e esperam abrigar “outros companheiros egressos do PT moderno”, após as eleições municipais.

A passagem do proletário para o burguês também resta comprovada quando se observa a “lua-de-mel” vivida pelo presidente Lula e o patronato. Registre-se que a Fiesp, antiga opositora, é vista agora com simpatia e até colabora com o governo, aprovando, em grande parte, a política econômica do ministro Antônio Palocci.

Por fim, considerando que ninguém coloraria o próprio filho em perigo, cabe a conclusão de que o novo avião do presidente da república, comprado por US$56 milhões, atende tão-somente à comodidade de seus usuários. Isto porque, conforme a citada matéria, o avião continua voando e acaba de ter como passageiro um dos filhos do presidente da República. 

Para que conste dos Anais do Senado, requeiro, Sr. Presidente, que a matéria publicada no Jornal do Brasil, intitulada “FHC e Lula confirmam Aron”, seja considerada como parte integrante deste pronunciamento. O texto é o seguinte:

 

***********************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR SÉRGIO GUERRA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso 1º e § 2º, do Regimento Interno.)

            ****************************************************************

Matéria referida:

Jornal do Brasil de 28 de setembro de 2004

FHC e Lula confirmam Aron

‘Burgueses, no poder, permanecem burgueses. Proletários deixam de sê-lo’

Jarbas Passarinho

Escritor

            Das quatro tentativas de Luiz Inácio Lula da Silva para chegar à presidência da República, nas três primeiras seu discurso de modelo socialista radical o incompatibilizou com o patronato nacional. O respeitado industrial Mario Amato celebrizou-se ao dizer que, vitorioso fosse o petista, trezentos mil empresários migrariam para o exterior. O líder operário que recusara o voto de Ulysses Guimarães e a aliança com qualquer partido de direita, fundara o Foro São Paulo com os esquerdistas da vinculação marxista, inclusive a guerrilha comunista da Colômbia, as FARC. Prometia negar o pagamento da dívida externa e demonizar o FMI. Hoje, para essas bandeiras do passado é um antônimo.

            Escreveu Raymond Aron, em seus Estudos sociológicos: ''Ao assumir o poder, os burgueses mantiveram-se iguais. Ao contrário, os proletários deixam de viver como proletários no dia em que dirigem uma fábrica, um truste ou um ministério. Os burgueses, no poder, permanecem burgueses. Os proletários, no poder, deixam de sê-lo''. Fernando Henrique Cardoso não é ao pé da letra um proletário, pois não era trabalhador manual de macacão, mas da classe do colarinho branco, operário das letras, em todo caso sempre um assalariado. Mudou, porque evoluiu intelectualmente num mundo que também mudara. Sem perder o velho amor por Marx, que estudou e lecionou na USP, acercou-se de Merleau-Ponty, que aproxima o marxismo do humanismo. No exílio, sem subestimar a revolução social, recusa apoiar a ditadura stalinista e aceita de Ponty a crítica do marxismo, não mais a palavra final na História, mas uma doutrina heurística. Evoluiu para Marx Weber. Daí a suposta frase, já no governo, que lhe valeu injusta adesão ao neoliberalismo, ele que em lugar de seguir a cartilha de Hayek, seguiu a de Malan e o Consenso de Washington, infeliz denominação do economista John Williams, que o criou, mas que nada tinha de dependência oficial norte-americana. Em suma, um governo de pequeno burguês, que se manteve pequeno burguês, segundo a máxima de Aron.

            Já o líder obreiro Lula, que vence, na quarta tentativa, as eleições presidenciais, não mais pregava o socialismo marxista-leninista das campanhas anteriores, conquanto nunca tenha sido membro de qualquer partido comunista. No máximo, na salada real do partido que instituíra, era um seguidor do pensamento de Harold Laski, da esquerda do Partido Trabalhista inglês. Seus correligionários, presos ao discurso do passado, não levaram em conta o Manifesto do PT de 2002. Certamente, pensaram tratar-se de mera estratégia de dessensibilização da classe média, que afinal deu mais de 20 milhões de votos ao candidato do PT. Não era lobo com pele de cordeiro. Por isso, a política econômica vigente, essa sim, é um Consenso de Washington, segundo o FMI, o Banco Mundial e o Banco Interamericano, o que tanto incomoda o ministro Dirceu que luta para afastar seus fantasmas, Waldomiro Diniz e o assassínio do prefeito petista de Santo André. Por insistirem no discurso radical do passado, foram defenestrados quatro dos quadros petistas, todos eles expressivos em termos de prestígio popular, agora reunidos no nanico partido P-Sol, um bunker de intransigentes marxistas-leninistas e trotskistas, que pode abrigar novos companheiros egressos do PT moderno, logo após as eleições de outubro próximo.

            Ao revés do medo do patronato, corajosamente expressado pelo acatado industrial Mario Amato, o Presidente Lula vive em lua de mel com os patrões. As pesquisas do DCI mostram avaliações crescentes de aprovação dos empresários ao ministro Palocci. A exceção é quanto à taxa elevada de juros, mas é uma velha queixa.

            A Fiesp, vista antes como o dragão da oposição, é olhada com mais simpatia. Seu presidente, Horácio Piva, aceitou compor o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, em colaboração leal com o governo. Manteve cordial contato com o presidente a quem recebeu respeitosamente, sempre. Não bastasse, o Palácio empenhou-se para ter na sucessão de Piva o adversário de seu candidato a sucedê-lo na Fiesp.

            E last but not least, empresários estão cobrindo os milhões de reais que custarão reformar o Palácio da Alvorada, não por causa da ampla sala da biblioteca - peça ociosa - mas pelo odor desagradável que invade os cômodos, proveniente da cozinha. Ademais, o avião presidencial que serviu e poderia ainda servir ao Presidente, segundo garantiu a FAB, ainda que tenha dado um susto em Marco Maciel, quando Vice-Presidente, teve de ser substituído por um mais moderno, ao custo de us$56 milhões. Mas o ''sucatão'' continua voando, ao levar o Destacamento precursor, que acaba de ter como passageiro um filho do Presidente da República. Logo, a troca não se fez por maior segurança, mas por maior comodidade.

            O Governo é de um Líder proletário que deixou de sê-lo como sentenciou Raymond Aron.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2004 - Página 31312