Discurso durante a 141ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

O processo eleitoral no Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. HOMENAGEM.:
  • O processo eleitoral no Estado do Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2004 - Página 31477
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESTADO DO PIAUI (PI), GRAVIDADE, APREENSÃO, POLICIA FEDERAL, IRREGULARIDADE, DISTRIBUIÇÃO, DINHEIRO, COMERCIO, VOTO, ELEIÇÃO, PREFEITO DE CAPITAL, EXPECTATIVA, JUSTIÇA.
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, DEFESA, MELHORIA, REMUNERAÇÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Heloísa Helena, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes ou que assistem, pelo sistema de comunicação do Senado, a esta sessão do dia 15 de outubro. Quis Deus estivesse presente aqui o Senador Heráclito Fortes, do meu Piauí.

Senadora Heloísa Helena, evidentemente, eleição é uma festa. O povo, que é soberano, é que deveria decidir. Segundo a História, o povo, não mais suportando os longos governos dos reis, foi à rua e gritou: liberdade, igualdade e fraternidade. Aquele regime era muito bom para quem estava na corte, mas, para o resto, era sofrimento. Abraham Lincoln disse: “Governo do povo, pelo povo e para o povo”. Eu mesmo, quando governei o meu Estado, o Piauí, tinha o seguinte slogan: “o povo é o poder” e assim rezava.

Senadora Heloísa Helena, Professor Cristovam Buarque, a minha maior obra foi baseada no ensinamento de que o povo é o poder, ensinando a respeitá-lo, a servi-lo, a amá-lo.

Senadora Heloísa Helena, falando de eleições, foi incrível o que se passou no Estado do Piauí. Por ironia do destino, essa situação foi criada pelo PSDB - dos que estão aí, não mais em memória a Franco Montoro, a quem admiramos como professor de ética.

Professor Cristovam Buarque, a mais feia página de uma eleição, comprometendo a Justiça, ocorreu logo no Piauí, que se iguala à Bahia. Se há um homem que deve ter um busto à altura de Rui Barbosa, esse homem é Evandro Lins e Silva, jornalista e nem um milímetro menor do que Rui. Ele não foi Senador, mas foi Ministro na época da ditadura e se impôs, Senador Heráclito Fortes, como aquele que tinha uma inspiração de Deus, que disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça!” Eu digo isso para acordar os homens que fazem justiça no Piauí.

Vem aí o segundo turno. Eu já perdi e já ganhei eleição. E quero ensinar: não se deve perder a dignidade e a vergonha. Está aí o exemplo de Rui Barbosa. Ele perdeu duas vezes a eleição para Presidente. Ninguém aí sabe o nome de dez presidentes, mas toda criança sabe o nome de Rui Barbosa.

Professor Cristovam Buarque, ainda não chegou a sua vez. Abraham Lincoln pregava caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no direito. E ninguém foi mais que ele. Imagine, Senador Heráclito, que ele enfrentou uma eleição em período de guerra, na Guerra da Secessão. Ele dizia, Professor Cristovam: “Este país não pode ser metade livre e metade escravo”. Está na Bíblia: a família dividida é facilmente derrubada.

Imagine, Senador Heráclito Fortes, enfrentar uma eleição em guerra. Ele disse aos amigos e à família: “Isso ainda vai passar”. Há os ensinamentos, e ele perdeu a eleição. Isso, ficando apenas no patamar de Rui e de Abraham Lincoln. Mas não é o fato que me preocupa, e sim a justiça.

Vi cassarem um Deputado do Piauí, um médico de uma cidade pequena. Foi dada uma amostra de Viagra.

Aqui, há o bravo Senador João Capiberibe, patrimônio de dignidade.

Senador Cristovam Buarque, o PSDB do meu Estado escreveu a mais vergonhosa página no dia da eleição. O candidato não era eu; era minha esposa, Adalgisa. Não a quero lá na prefeitura. Quero que ela esteja na minha casa, no meu quarto, na minha cama. É isso.

Professora Heloísa Helena, a Polícia Federal pegou 14, homens e mulheres, todos com R$4 mil, R$9 mil, R$14 mil, em cédulas de R$10 e R$5, comprando o povo brasileiro por esse regime de salário, de desemprego. O povo é bom e é honrado, precisa às vezes de um real, que dá uns seis pãezinhos. O povo é honesto. Então, paga-se a ele e ele vai lá e cumpre, porque o pobre é honesto, o pobre é honrado, o pobre tem vergonha.

Mas homem-banco, mulher-banco? Nós não conhecíamos o homem-bomba, a mulher-bomba, no Iraque, no Irã, com granadas e bomba e tal? Ali era homem-banco, mulher-banco e carro-banco, ligados por parentesco ao prefeito da capital - cunhado, irmão de cunhado. Um, a esposa do mais votado vereador; outro, um desconhecido que teve uma votação para vereador que dá para eleger um Senador, que é eleição difícil.

Francisco Ramos, setenta e tantos anos, aquele patrimônio da medicina, que por quase 20 anos foi Diretor do HGV e construiu um pronto-socorro no meu governo, teve votação pequena. É interessante e aí está.

Então, esperamos essa justiça. Lembro que vi ser cassado um médico do interior. Vi aqui o Senador João Capiberibe. Mas é o Piauí de Evandro Lins e Silva. Feliz do povo, felizes desses que fazem a justiça e que não precisam buscar exemplos em lugares outros, basta na vida, na luta e na dignidade. Eu diria, como disse Montaigne, que o pão de que mais a humanidade precisa é justiça. Privei da intimidade de Evandro Lins e Silva, Senador Heráclito. Ele me dizia que, quando Ministro, tinha uma salinha, uma mesinha, na simplicidade; mas, na sua simplicidade, teve firmeza em fazer justiça.

O dia é maior ainda quando é Dia do Professor, Senadora Heloísa Helena. Deus escreve certo por linhas tortas e quis que V. Exª estivesse presidindo esta sessão no dia das professoras e dos professores.

O símbolo maior da nossa educação, Professor Cristovam Buarque e Senador Heráclito Fortes, não é o Presidente da República, não são os Senadores, não são os empresários, os industriais, os fazendeiros, os banqueiros, os gigolôs que desrespeitam Rui. Rui disse que a primazia é o trabalho e o trabalhador, e eles inverteram: a primazia é o dinheiro, é o capital e a riqueza. Rui disse que o trabalho e o trabalhador vieram antes, fizeram a riqueza. Mas não são nem esses banqueiros. Só uma classe, Senadora Heloísa Helena, recebe da humanidade o nome de Mestre, igual a Cristo. A Senadora Heloísa Helena e o Professor Cristovam Buarque representam com grandeza os professores.

Eu faria aqui uma homenagem à educação, Professor Cristovam Buarque. O mundo civilizado, os grandes ensinamentos, o mundo onde queremos viver, começou na Grécia. Sócrates, tido como o mais sábio dos homens e que explicava fenômenos que nem os reis entendiam, deu o grande ensinamento. Morreu dizendo “sei que nada sei”, ele que era tido como culto. A humildade une os homens, o orgulho divide.

            Poderiam dizer que o Mão Santa está com uma história antiga. Mas eu diria, Senador Cristovam Buarque: antigo também é o Pai-Nosso e a Ave-Maria, e toda vez que os balbuciamos, transportamo-nos desta terra aos céus.

Peter F. Drucker, o mais moderno dos entendidos em administração, em seu livro O Líder do Futuro, Senador Heráclito Fortes, disse que o líder do futuro tem que ser cada vez mais indagador, tal o desconhecimento. E para ser indagador, perguntador, tem que ter humildade. Então, é válido ainda. Sócrates não escreveu nada - Sócrates, como Cristo, não deixou nada escrito -, mas um discípulo seu, Platão, procurou chamar a mocidade que Sócrates tinha educado. Disseram os poderosos que ele pervertia os jovens, mas o saber é sempre assim encarado pelos poderosos. São poucos, Senador Cristovam Buarque e Senadora Heloísa Helena, que defendem. Eu plantei no meu Estado do Piauí - e me orgulho - a semente do saber, que é a semente que acho mais importante. Em lugar algum do mundo cresceu tanto uma universidade como no nosso governo - do mundo e não do Brasil. O Senador Heráclito Fortes está aqui para concordar.

Platão, então, resolveu chamar a mocidade e ensiná-la na escola que fundou, a Academia. Senadora Heloísa Helena, eram três anos de estudo. No primeiro ano, na sala onde estudavam, estava escrito, para entrar na mente e na consciência dos alunos: “Seja ousado”. Os que chegavam ao segundo ano, Platão esperava noutra sala - o curso de Platão durava três anos, atentai bem -, onde estava escrita outra mensagem que ele queria incutir: “Seja ousado, cada vez mais.” A Senadora Heloísa Helena freqüentou os bancos de Platão. Os que chegavam ao terceiro ano, Platão os esperava em nova sala, onde estava escrito: “Seja ousado, mas não em demasia.” Platão ensinava que a ousadia deve ser acompanhada da prudência. Daí o livro A Arte da Prudência, de Baltazar Gracian, o Monge.

Professor Cristovam Buarque, V. Exª é o hoje, é o futuro do Brasil.

Termino com Einstein, para não dizer só. Professor Cristovam Buarque e Professora Heloísa Helena, sei da cultura de V. Exªs, mas gostaria de recomendar um livro, não iria eu dar meus ensinamentos. Acho que ninguém mais do que Albert Einstein para falar de educação. No seu livro Escritos da Maturidade, Albert Einstein tem um capítulo sobre educação. Atentai bem, professores: Albert Einstein disse que “educação é aquilo que fica depois de esquecer tudo o que se aprendeu na escola”. O que fica é o pensar, é a disciplina, é saber distinguir o bem do mal, são as virtudes, o aprender a aprender. Estudo é aquilo por que a gente passa. Ele disse que Educação é aquilo que fica depois de esquecer, são as virtudes, a disciplina que as escolas tinham no nosso tempo. As virtudes... O de aprender a estudar, o seguir o bem e o mal.

Professor Cristovam Buarque, V. Exª, não vou dizer que foi o melhor, mas está dentre os melhores educadores deste País e dentre os melhores Ministros de Educação, como o anterior, o Dr. Paulo Renato.

Albert Einstein deu um ensinamento que eu fazia no meu Governo. Quer saber se uma escola é boa, Heráclito? E eu fiz, eu visitava as escolas. Senador Heráclito, eles diziam: conversem com as crianças e perguntem; digam às crianças que vão dar brinquedos, bolas e que vão fechar a escola e que haverá mais feriado. Se eles aceitarem é porque essa escola não presta. Na escola boa, a criança quer vê-la funcionar.

Então, essas são nossas palavras. E protesto! Este é um País injusto, indigno. Tratam as professoras mal. E tenho um carinho especial, Senadora Heloísa Helena; fui buscar minha mulher, Adalgisa, na porta de uma Escola Normal, como professora. Como ganham mal. Não vejo, nas professoras de hoje, o sorriso que via em Adalgisa. Elas estão sem esperança.

Senador Efraim Morais, qualquer sociedade - só não sabe o PT, de pouco estudo e, com certeza, de pouco tempo - em qualquer sociedade séria, qualquer salário do menor para o maior é 10 vezes, 12, 13 ou 14. Nós, vergonhosamente, nos curvamos a uma diferença de salário maior de 18 mil. Para que esse governo tenha vergonha, a professora de menor salário teria que ganhar 10 vezes mais, R$ 1.800. Se este País não dá essa condição, esta Casa tem que refletir a respeito do que é justiça.

Se formos incapazes de ser justos com as nossas mestras, que se igualam ao Cristo, não haverá justiça neste País, porque está triste, está pior.

Tenho coragem e dignidade, entro nas casas. Heloísa Helena, faço política como está no Livro de Deus. Está lá escrito: procurai e acharás. Eu procuro. Batei e vos será aberto; pedi e dar-se-vos-á, mas, Professor Cristovam, há este Governo da televisão, da mídia, do Duda “Goebbels” Mendonça, da mentira, e há o Brasil da realidade, da fome, do desespero e da desesperança.

Oh, Cristo, Deus e Divino Espírito Santo, abençoai os professores e professoras do meu Piauí e do Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2004 - Página 31477