Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a medicina brasileira pelo Dia do Médico.

Autor
Luiz Otavio (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a medicina brasileira pelo Dia do Médico.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2004 - Página 31553
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, REGISTRO, DIFICULDADE, EXERCICIO PROFISSIONAL, ELOGIO, ATUAÇÃO, VULTO HISTORICO, COMBATE, DOENÇA GRAVE.
  • HOMENAGEM, MEDICO, FORÇAS ARMADAS, ATUAÇÃO, TERRITORIO, DIFICULDADE, ACESSO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, no imaginário coletivo, poucas profissões possuem uma presença tão destacada quanto o ofício médico. Desde a infância, praticamente todas as pessoas aprendem a conhecer, a confiar e também a admirar os médicos.

Essa confiança e essa admiração se refletem, por exemplo, na cultura popular. Inúmeros são os filmes, novelas e séries de televisão que possuem médicos como protagonistas ou, ainda, que se desenrolam inteiramente ao redor dos acontecimentos de um hospital ou de um consultório.

Também entre as crianças, a profissão médica se reveste de predicados especiais. Ao perguntarmos a meninos e meninas no começo de sua vida escolar o que querem ser quando crescerem, muitos dirão “piloto de Fórmula 1”, “modelo” ou “jogador de futebol”, mas muitos outros dirão, com esperança, que, ao se tornarem adultos, gostariam de ser médicos.

Desses milhares dispostos a manter o sonho de infância, prestarão o vestibular das faculdades de Medicina, que há décadas permanecem entre os mais concorridos do País. Os que logram a aprovação iniciam, então, sua passagem por um curso longo e notoriamente difícil: aos seis anos de escola, em período integral, juntam-se outros tantos de residência e de especialização, noites mal-dormidas e baixa remuneração.

E, mesmo diante de tais obstáculos, as faculdades de Medicina continuam cheias. As vicissitudes da formação médica não bastam para espantar os candidatos a médico, como tampouco as dificuldades da profissão bastam para afastar os profissionais formados de sua área de atuação.

Ao contrário de modas passageiras, a aura da medicina advém de sua permanente vinculação com as mais profundas necessidades humanas. Se algumas profissões contam com o glamour que lhes é emprestado pelas câmeras, holofotes e microfones, a carreira médica, prescindindo dessa ilusão, oferece a seus iniciados a satisfação de preservar, proteger e dignificar a vida humana.

Em vez das facilidades ilusórias da profissão da moda, a Medicina oferece o árduo exercício da abnegação e do contínuo auto-aperfeiçoamento. A paga, no entanto, é muito maior: a gratidão permanente dos assistidos, a salvação de vidas e a preservação da saúde.

Todos conhecemos, intuitivamente, o papel da medicina para o bem estar, não apenas individual, mas de toda a Nação. A história do Brasil é pontuada pelas ocasiões em que a ação médica foi fundamental para a preservação de nossa tessitura social.

Por exemplo, o combate à varíola demonstra, de maneira eficaz, a importância da Medicina para o Brasil. Essa grave doença, conhecida desde a antiguidade, ocorria em todo o mundo, gerando surtos periódicos que clamavam milhares de vidas.

Desde seu surgimento, na ilha de Itaparica, em 1563, a partir de onde se espalhou por todo o litoral e ceifou 30 mil indígenas, a varíola periodicamente irrompia em todas as regiões do Brasil. Por exemplo, entre 1830 e 1870, houve quinze surtos de importância apenas na cidade do Rio de Janeiro.

A ação enérgica de Oswaldo Cruz - ainda que incompreendida pela população e capitalizada pelos adversários políticos do governo, que incitaram a Revolta da Vacina - mostrou-se, por fim, o mais importante passo para o combate a essa praga. Dessa forma, pela vacinação compulsória, o Brasil pôde se antecipar ao esforço de erradicação coordenado pela ONU, que logrou obter, no final dos anos 70 do século passado, a erradicação total da doença.

Mas a bexiga não foi o único mal epidêmico a grassar em nosso território. A febre amarela, introduzida em 1849, a partir de Salvador, Recife e do Rio de Janeiro, também cobrava seu feroz tributo. Muitas vezes se alternando com a varíola, essa virose transtornou o Brasil: durante o verão, com a eclosão dos ovos de mosquitos, atacava a febre amarela; durante o inverno, favorecia-se a propagação da varíola.

Também quanto ao combate à febre amarela, a figura de Oswaldo Cruz se destaca, orientando, implementando e apoiando o trabalho modernizador do Prefeito Pereira Passos, com o aterramento dos pântanos urbanos, criatório de pernilongos, e a disseminação de métodos de controle daquele inseto.

Ridicularizado por destinar recursos públicos ao pagamento de caçadores de mosquitos, Oswaldo Cruz jamais se deixou contaminar pelo derrotismo, jamais deixou de se dedicar inteiramente ao seu trabalho, em razão de que veio a morrer, prematuramente, aos 44 anos apenas, deixando como legado a erradicação da varíola, da febre amarela e da peste bubônica no Rio de Janeiro.

Igualmente, a figura de Carlos Chagas se destaca nos anais da Medicina brasileira. Não apenas pela descoberta e descrição do ciclo da doença de Chagas, mas igualmente pelo trabalho exemplar na profilaxia da malária.

A esses luminares, gostaria de acrescentar, ainda, o paraense Gaspar de Oliveira Vianna, que se destacou pela classificação do protozoário causador da leishmaniose e pelo desenvolvimento do medicamento utilizado para seu tratamento. Vianna, falecido aos 29 anos, em decorrência de suas pesquisas científicas, é um mártir pouco lembrado da Medicina brasileira.

Cruz, Chagas e Vianna compuseram, ao lado de outros cientistas de grande destaque, tais como Emílio Ribas, Adolfo Lutz, Carlos Seidl e Vital Brazil, a primeira geração de médicos formados dentro do paradigma científico que ainda hoje baliza a Medicina. Superadas as sangrias e ventosas que caracterizaram a precária experiência médica dos séculos anteriores, os médicos do início do século 20 foram capazes de efetivamente avançar no combate às doenças.

No presente, a Medicina se depara com os seus maiores desafios. O aparecimento de novas doenças, das quais a mais impiedosa é a AIDS, o ressurgimento de ameaças que todos julgavam superadas, como a tuberculose, e os avanços na área de genética, permitindo o descobrimento das bases hereditárias de diversas doenças, representam mais um capítulo na eterna luta dos médicos contra a enfermidade e a morte.

Nesse momento, Sr. Presidente, em que fronteiras inimagináveis até há alguns anos se afiguram no topo das linhas mundiais de pesquisa científica, em que clonagem e terapia gênica oferecem ao mesmo tempo riscos e possibilidades, não podemos nos esquecer que, no Brasil, ainda há muito a se fazer em termos de Medicina básica.

Assim, mesmo que tenhamos praticamente erradicado a poliomielite, ainda somos um dos únicos países do mundo a não cumprir as projeções de redução da hanseníase. Ainda, assistimos recentemente ao retorno da epidemia de dengue, por intermédio dos pernilongos, cujo esforço de erradicação não pode ser suspenso.

A experiência médica no Brasil é uma experiência multifacetada, reunindo tanto profissionais que a exercem em condições de ponta quanto aqueles que lutam para obter recursos básicos para cumprirem suas missões.

Assim, na passagem do Dia do Médico, eu gostaria de saudar os incansáveis membros da profissão, consignando-lhes minha admiração e meu imenso respeito. Na impossibilidade de me referir a todos os praticantes da ciência e da arte da Medicina, quero consignar apenas alguns poucos, baseado em minha experiência pessoal.

Minha homenagem aos médicos das Forças Armadas: do Serviço de Saúde do Exército e das Diretorias de Saúde da Marinha e da Força Aérea, cujo denodo em levar os serviços médicos mais elementares a partes remotas do território brasileiro pode ser testemunhado por qualquer cidadão originário dos Estados amazônicos.

Minha homenagem, também, aos médicos de meu Estado, o Pará, que seguem o exemplo de dedicação de Gaspar Vianna, ocupando-se da proteção do bom povo paraense. Os médicos do Pará, saúdo-os nas pessoas do doutor Sérgio Zumero - pediatra e dirigente esportivo -, do doutor Salvador Namias, preeminente cardiologista, e do doutor Ivan Neiva, gastroenterologista e professor.

Minhas saudações, também, aos médicos do Instituto do Coração, em São Paulo, nas pessoas dos doutores Adib Jatene e Carlos Daniel Magnoni. Esse hospital, cuja extrema competência e capacitação técnica pude observar ao acompanhar familiares que lá foram tratados, representa uma meta a ser alcançada por toda a medicina brasileira.

Também estendo meu reconhecimento aos médicos da Secretaria de Assistência Médica e Social do Senado - que represento na pessoa de seu diretor, Paulo Roberto Rodrigues Ramalho, por sua competência e dedicação nos atendimentos de Senadores e funcionários desta Casa.

Finalmente, quero homenagear os médicos e colegas Senadores Antônio Carlos Magalhães, Augusto Botelho, Mão Santa, Mozarildo Cavalcanti, Papaléo Paes e Tião Viana, dignos representantes da profissão médica nesta Casa.

Por fim, a todos os demais médicos do Brasil, rendo minhas sinceras homenagens.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2004 - Página 31553