Discurso durante a 158ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Ministro José Dirceu. Elogios aos Presidente Lula pela aproximação com a China. Aumento do desemprego e da violência no Brasil. Exortação ao PMDB para que busque um projeto nacionalista.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas ao Ministro José Dirceu. Elogios aos Presidente Lula pela aproximação com a China. Aumento do desemprego e da violência no Brasil. Exortação ao PMDB para que busque um projeto nacionalista.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2004 - Página 36365
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA PARTIDARIA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, SENADO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, ELOGIO, POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, POLITICA PARTIDARIA, RELACIONAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), GOVERNO FEDERAL, CRITICA, DECLARAÇÃO, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESEMPREGO, FOME, MISERIA, VIOLENCIA, FRUSTRAÇÃO, ELEITOR.
  • DEFESA, APRESENTAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, SUGESTÃO, CANDIDATURA, GERMANO RIGOTTO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), APOIO, PROJETO, NACIONALISMO.
  • ANALISE, DADOS, REDUÇÃO, INVESTIMENTO PUBLICO, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, NECESSIDADE, REVISÃO, PRIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, BENEFICIO, CRIAÇÃO, EMPREGO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Francisco Mozarildo, Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado. Hoje é dia 12 de novembro, sexta-feira, e aqui está o Senado dando o exemplo de trabalho; sexta-feira de manhã, Senador Pedro Simon. À tarde vamos receber aqui o Presidente da China. Realmente temos que render homenagens ao Presidente da República porque ele foi um dos artífices dessa aproximação muito importante.

Senador Pedro Simon, quis Deus V. Exª estar aqui; V. Exª simboliza, a meu ver, o sentimento do Brasil e do homem comum do nosso Partido, o PMDB.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª me permite? Desculpe-me, mas é que V. Exª comentou que hoje receberemos o Presidente da China, o que é realmente um grande feito. Os entendimentos do Lula com a China são extraordinários. Lembro que João Goulart quando vice-Presidente da República - e Jânio Presidente - ele foi à China; fez uma visita de 10 dias em nome do Governo brasileiro e realizou uma série de entendimentos. E praticamente não tínhamos relações com a China. Há um filme sobre a vida de Jango que mostra o discurso dele que o Senado deveria passar na TV Senado. No Parlamento chinês, ele dizia: “Muito mais rápido, muito mais breve do que se imagina, Brasil e China serão os dois países que mudarão a humanidade, que haverão de se entender porque são dois continentes, são dois países amantes da paz; e tenho certeza que o meu Brasil e a China haverão de se entender e haverá um fato que significará mudança no mundo”. É com alegria que vejo que depois da ida do Lula à China vem o Presidente da China ao Brasil, e aquela previsão do Presidente João Goulart hoje se torna realidade.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Há pouco brincava com o Senador Mozarildo citando o líder maior da inteligência da história do mundo, Leonardo da Vinci, pai do Renascimento, que disse: “Mau discípulo é aquele que não suplanta o mestre”. O Senador Mozarildo Cavalcanti dizia, com sua franqueza e inteligência de homem do Norte, que jamais conseguiria superar o mestre Pedro Simon. E é verdade, mas S. Exª veio fortalecer o meu raciocínio.

Primeiro, estava na minha mente prestar uma homenagem a Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar. Aprendam pelo menos isto meus correligionários: “Escutai a voz rouca das ruas”. Pelo menos isso! Espero que esses que estão se alvoroçando de líder do PMDB aprendam pelo menos isso. E o outro vivo maior é o Pedro Simon, que está presente.

Chega ao nosso Partido um José Dirceu, que dá uma declaração sobre PMDB: não vai acontecer nada. Digo aqui: José Dirceu, você é que é de nada. V. Exª é quem mais comprometeu o Presidente da República com suas cachoeiras da vida. O PMDB merece respeito por mim e por todos que o fizeram. Por Ulysses, por Teotônio, por Tancredo, por aqueles que fizeram nascer o Rio Grande do Sul, o nacionalismo de Getúlio, de Goulart, de Alberto Pascoalino, de Brizola, de Pedro Simon e, agora, deste grande Governador, o Rigotto. Esse é o PMDB.

Entendo o seguinte: Presidente Lula, votamos em primeiro turno e fomos decisivos para sua vitória no Piauí, onde Vossa Excelência nunca tinha ganhado. Aliás, ajudamos até a eleger o Governo do Estado do Piauí nessa confiança. Mas Vossa Excelência se encastelou; Vossa Excelência é um homem bom e humilde. Todos sabemos a trajetória e o currículo do Presidente da República.

Senador Pedro Simon, Shakespeare disse que não há bem nem mal. Depende da interpretação, Senador Valdir Raupp. Vou exemplificar, Senador Francisco Mozarildo, com uma faca. Se fizermos um churrasco do Rio Grande do Sul, a faca é um instrumento abençoado; mas, se cortarmos a barriga do paciente, como cirurgião, o uso da faca é complicado, perfurando as alças.

            Presidente Lula, o Brasil vai pior! Quem lhe diz é um homem igual a você; você não tem um milímetro mais de franqueza do que eu. É difícil se mensurar a luta. Foi longa e sinuosa minha chegada até aqui. Escolhi a porta estreita da vergonha e da dignidade.

As eleições me proporcionaram entrar nas casas. Entrei na capital do Piauí, combatendo o bom combate nas cidades daquele Estado. O povo está muito mais desesperado e desesperançado.

Presidente Lula, a situação está pior do que quando Vossa Excelência era retirante do Nordeste. É o desemprego. É a fome. É a miséria.

A lei eleitoral, Senador Pedro Simon, não sei se é boa ou má, como dizia Shakespeare.

Vi brasileiros, pais honrados, dignos, homens cristãos, pedir R$1,00, pelo amor de Deus. Eu queria dar, mas não podia, porque a lei eleitoral diz que isso é comprar voto. Entendeu, Senador Mozarildo? Homens da dignidade, da vergonha.

Na minha capital, o esquema que dominava a Prefeitura utilizou os mais vergonhosos procedimentos, Senador Pedro Simon. No Piauí, houve um tal homem-banco, mulher-banco, carro-banco negociando votos dos desesperados, dos desempregados.

Essa é a realidade. Senador Pedro Simon, atentai bem: eu também pensava que era problema do mundo. Não é. Ó Presidente Lula, acorde! Vossa Excelência fez bem em mandar José Dirceu viajar. Ele talvez não lhe desse tranqüilidade para ouvir outras pessoas, como nós Senadores que votamos e acreditamos em Vossa Excelência.

Senador Pedro Simon, eu pensava que era culpa do mundo, mas não. Deus me fez, recentemente, ir ao Chile. Senador Valdir Raupp, quando se chega ao Chile, vemos que eles têm um conceito lá: o Chile é a Inglaterra da América do Sul; Santiago é Londres. Senador Pedro Simon, vi o povo - o povo! - dizer: “A polícia daqui não é corrupta”. Que coisa bonita, Presidente Lula! Eu vi isso!

Senador Pedro Simon, vá visitar o Chile. Não conheci o homem pessoalmente, mas comprei o seu livro sobre os caminhos que percorreu, com o qual depois presenteei o Presidente José Sarney - li-o antes. O Presidente Ricardo Lagos.

Senador Pedro Simon, em Santiago, fiquei hospedado no bairro onde mora o Presidente. O motorista de táxi me disse: “Esta é a casa do Presidente”. Um sobradinho, onde não vi qualquer segurança. E foi o motorista que me contou isso, Senador Mozarildo Cavalcanti.

Presidente Lula, vá à casa do Presidente Ricardo Lagos! Eu não vi segurança lá. A casa é a mesma, Senador Pedro Simon - um sobrado comum. O Presidente costuma receber autoridades. Sua Excelência mesmo serve os drinques. A mulher dele põe as toalhas e os pratos na mesa. Que austeridade!

O Senador Pedro Simon estava com o livro de Francisco de Assis, o Santo. Pois é. No Chile, eu andava de madrugada, às 5 horas, às 6 horas, e não há violência.

Na semana passada, fui com minha Adalgisinha passar outra lua-de-mel, em Buenos Aires, cidade do extraordinário Néstor Kirchner. Saí de Montevidéu e lá cheguei à meia-noite. Fomos a um restaurante e depois saímos caminhando para fazer a digestão. Eu e minha Adalgisa, de mãos dadas, percorremos a Calle Florida, a Calle Corrientes, às 3 horas da manhã, sozinhos; depois percorremos a 9 de Julho, por dois quilômetros. Imaginem andar dois, três quilômetros na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, ou na Avenida Paulista, em São Paulo, ou até mesmo na minha Teresina, que era pacata, de amor. A violência é uma epidemia.

Não tenho ligações com o PSDB, pelo contrário, fui vítima dele, mas quero dar um testemunho, porque pertenço ao Senado, Casa de homens experientes. Refiro-me à última entrevista de Fernando Henrique Cardoso, homem culto, um estadista. S. Exª falava com toda a pobreza, Senador Mozarildo, quando aconselhava o Presidente Lula. Temos de nos curvar ao conhecimento do ex-Presidente Fernando Henrique. S. Exª dizia que cada Presidente tem sua missão histórica, Senador Teotonio Vilela. A dele foi o combate à inflação. Não vou fazer o exame de DNA para saber se a paternidade é dele ou do Itamar. Não interessa; eles foram vencedores. O ex-Presidente Fernando Henrique dizia que Lula deveria preocupar-se com a violência.

E a violência, Senador Pedro Simon, começa no pai de família bom, humano, que ama. Ama e não suporta o choro de um filho pedindo um pão, pedindo um cobertor para se proteger do frio. Para conseguir isso, ele tenta obter dinheiro até fazendo um assalto e, não sendo profissional, acaba cometendo um homicídio. Assim está o País. Essa é a realidade, Sr. Presidente. O Brasil vai mal!

Presidente Lula, faça uma reflexão, aproveitando o alívio proporcionado pela viagem de José Dirceu. Vá a Santiago, converse com o Presidente. Lá não existe violência. E isso é sabido. Há muitos brasileiros fazendo turismo naquele país. Encontrei dezenas deles, que me reconheceram, porque ouvem nossos pronunciamentos. São brasileiros que vão em busca de tranqüilidade. Estão fugindo do turismo no Brasil por causa da violência. Essa é a verdade.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª me permite um aparte, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas o PMDB, Senador Pedro Simon, nasceu para salvar, nasceu com altruísmo, com estoicismo, como o de Teotônio Vilela - quis Deus que o filho dele estivesse aqui, pois árvore boa dá bons frutos, está na lei de Deus -, que, apesar do câncer, saiu pregando a independência. Esse PMDB que simulou Tancredo, mas que teve Sarney, que Deus abençoou para fazer uma transição democrática na paz. V. Exª, Senador Pedro Simon, fez parte do Governo, no bem de Francisco, o Santo. É desse PMDB que falo.

Vou dizer o que penso. Sou herdeiro de Ulysses Guimarães e de Pedro Simon. Sou herdeiro das virtudes deles, e delas não abdico. E o que penso? Penso que o PMDB, esse Partido grandioso, tem que ter candidato a Presidente da República. Penso que um Partido deve ter um projeto de poder, poder como instrumento para fazer o bem e para servir, como Cristo, inspirado em Cristo, que disse: “Vim ao mundo não para ser servido, mas para servir”.

Senador Valdir Raupp, devemos ter candidato porque temos os melhores homens. O Presidente Sarney, por que S. Exª não é lembrado para, novamente, ser Presidente da República?

A Polônia nos ensinou: Lech Walesa, operário, não deu muito certo; depois veio um estadista, um homem extraordinário homem.

Nos momentos mais difíceis da democracia, da reconstrução da paz, do ressuscitar, da transição, de que V. Exª fez parte, Senador Pedro Simon, as greves enfrentadas, a paciência... É um grande nome o de José Sarney. Mas existem outros. Pedro Simon. Esses Governadores todos: Roriz, imagem do dinamismo de Juscelino Kubitschek; o do Nordeste, Jarbas, um homem de cara fechada, não tem simpatia nenhuma, mas tem austeridade, respeitabilidade; o Luiz Henrique, que foi Presidente do Partido; esse gaúcho, o Rigotto; o Garotinho, que entrou aí... E quanto a essa história de que ele teve dificuldade, Churchill nos ensina, Senador Pedro Simon, e ninguém melhor do que ele, herói militar, herói político: “Política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. A diferença é que na guerra você só pode ser morto uma vez, mas em política, muitas vezes”. Eu estou ressuscitado. E aí está o Garotinho, uma figura de Deus. Mas o Rigotto, se eu estivesse no lugar dele, me lançaria candidato, pois o considero o homem do momento. E tenho essa franqueza. Por quê? Porque Deus prepara os homens das horas certas. Foi assim que preparou Moisés, para libertar seu povo; Davi para vencer Golias. E o Rigotto? Por quê? O nascimento do Rio Grande do Sul. Com todo o respeito, Senador Mozarildo - sou até homenageado pelo seu Estado de Roraima, tenho a comenda maior de lá -, mas o Rio Grande do Sul é a mais bela história do Brasil. Foi lá que nasceu esta República. Foi lá, com a Revolução Farroupilha, que nasceu o ideal republicano, o ideal da liberdade dos negros, os sacrifícios dos lanceiros negros.

Então, o nosso Rigotto, Senador Pedro Simon, tem isto. Ele tem a seu favor o fato de aparecer na história do PMDB como filho de Pedro Simon. Ele está vitorioso neste instante. Machado de Assis, o mais inspirado escritor brasileiro, disse: “Ao vencedor, as batatas!” Isso porque, antigamente, a batata inglesa era a melhor comida. Ele é o vencedor do Estado, do Município, da história.

Quando governava o Piauí, tive oportunidade de recebê-lo lá. Ninguém sabe tanto de reforma fiscal quanto ele. Eu aprendi com ele. Daí eu ter votado contra a reforma fiscal e a reforma da Previdência.

Entendo que o PMDB deva ser outra opção. A democracia não é só isso. Os dois que aí vão representam o liberalismo. O aplauso, o apoio, o ajoelhe-se ao dinheiro, ao capital, ao BID, ao Bird, ao Fundo Monetário Internacional. Que o PMDB busque, Pedro Simon, um projeto nacionalista, nacionalista do Rio Grande do Sul, que não aceitava um imperador português e brigou dez anos, com Bento Gonçalves liderando a luta; o nacionalismo de Getúlio, de João Goulart, de Alberto Pasqualini; o nacionalismo de Juscelino, que teve coragem de romper com o FMI. Que o PMDB vá buscar aliados.

Senador Valdir Raupp, está aí o PDT, liderado hoje por esta extraordinária figura política, Jefferson Péres, na ausência do extraordinário nacionalista Brizola. Vamos nós, PMDB, associar-nos a outros. Com essa nossa história, com esses valores extraordinários, com esses nomes, sem dúvida alguma, antevejo a vitória do povo do Brasil quando o PMDB governar este País, com um sentimento nacionalista e com a experiência de milhares e milhares e milhares do PMDB que governaram as milhares e milhares de cidades e Estados do Brasil.

Digo que esta é a nossa crença: as coisas não vão bem. Eu dizia ao Presidente Lula: “Presidente Lula, Vossa Excelência foi muito ingrato com o Piauí. Convide um homem do Piauí para ser seu Ministro”. Foi assim que a revolução, com seus pecados, foi buscar uma luz e um farol: João Paulo dos Reis Veloso. Dez anos de mando, Senador Pedro Simon, nenhuma indignidade, nenhuma corrupção, nenhuma imoralidade. Virtudes do homem do Piauí. Foi assim que eles buscaram Petrônio Portella. Quando a truculência militar fechou este Congresso, Petrônio disse: “Este é o dia mais triste de minha vida”.

Então, está aqui o piauiense Raul Veloso para orientar esses meninos. Um artigo hoje, transcrito no Jornal do Brasil - e que coincidência, Senador Mozarildo -, dizia das grandezas e virtudes do homem do Piauí. Senador Pedro Simon, se houver as olimpíadas da virtude, dou ao homem do Piauí medalha de ouro e ao do Rio Grande do Sul, medalha de prata.

Pois bem, hoje, Raul Veloso está aqui no jornal. Convide-o, Presidente Lula, para orientar sua equipe. Raul Veloso, irmão mais novo de João Paulo dos Reis Veloso, filho de carteiro com costureira. João Paulo dos Reis Veloso, pobre, aos nove anos de idade, abria a fábrica de meu avô. Passou o emprego para o segundo irmão, o segundo para o terceiro, o terceiro para o quarto. Todos os quatro trabalharam na fábrica de meu avô. Manias de primeiro lugar.

O piauiense Raul Veloso - um dos maiores especialistas em contas públicas do Brasil - concluiu, recentemente, um levantamento sobre os gastos do Governo Federal entre 1987 e 2003. A conclusão do estudo é que o Governo Federal tem destinado a maior parte dos seus recursos para gastos com assistencialismo, aposentadoria e juros da dívida. Assim, estão praticamente desaparecendo investimentos em geral e programas de desenvolvimento como de crédito agrícola, crédito para a pesquisa. .

Senador Pedro Simon, V. Exª, que foi Ministro da Agricultura, lutou pelo crédito da agricultura; V. Exª, que criou ciência e tecnologia no Rio Grande do Sul, sabe a importância do desenvolvimento.

Não é à toa que o País vem crescendo pouco. Em 1987, o Governo aplicava investimentos (principalmente na infra-estrutura) 16% da receita corrente líquida da União.

Então, tem que haver investimento. Só assim aparece emprego, trabalho e acaba a violência, Presidente Lula! Venha, liberte-se do José Dirceu e venha antes nos ouvir.

O Governo gastava 16%, e essa aplicação caiu para 2,2% em 2003, Senador Mozarildo. Senador Pedro Simon, em resumo, está havendo uma grande deterioração dos gastos públicos. Os investimentos desapareceram, aumentaram os juros da dívida e elevaram-se os gastos sociais de qualidade duvidosa, já que não chegam aos pobres. É só consultoria, não-sei-o-quê, ONG, o diabo! Esta é a verdade: não chega. O economista é que está dizendo.

A trágica situação de nossas estradas é uma conseqüência direta dessa política de gastos. Apesar da Cide - contribuição criada para recuperar as rodovias do País -, os investimentos do Ministério dos Transportes em 2003 despencaram para R$1,5 bilhão, enquanto a Cide garantia receita de R$8,8 bilhões. Sabe para onde está indo o dinheiro da Cide? Para pagar os juros da dívida. Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro. Por outro lado, como não há dinheiro para investimentos, 83% da malha rodoviária brasileira é considerada deficiente ou péssima!

E assim vamos tendo uma década perdida atrás da outra, Pedro Simon. E o contribuinte paga cada vez mais impostos. “Entre 1987 e 2003, os brasileiros passaram a pagar mais de R$300 bilhões em impostos. Não tem alguma coisa de muito errado nisso tudo?” - indaga o economista.

Está ali Rui Barbosa. Por que ele está ali, Pedro Simon? Porque é bonito? Não é não! O baiano era feio; bonita era Marta Rocha, e ela não está ali, não é verdade? Quem nos encantava não era Marta Rocha? Teotônio Vilela, ele está ali porque ensinou que a primazia tem que ser dada ao trabalho e ao trabalhador. O trabalho e o trabalhador vêm antes, pois eles é que criam a riqueza. E o Governo do PT? Perdeu-se. O único que se achou mesmo foi o Suplicy, que está refletindo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Governo perdeu-se, foi ajoelhar-se e servir ao dinheiro, ao capital. Pedro Simon está ali com o livro de Deus, a Bíblia, o livro de São Francisco. Não se pode servir a dois senhores. Não se pode servir ao dinheiro e ao trabalhador. Eles estão servindo ao dinheiro e ao capital. A dívida ativa da União chega a R$190 bilhões, e o Governo consegue recuperar somente 2% desse total ao ano. Essa ineficiente força do Governo a criar novos impostos e a elevar a carga tributária brasileira dos atuais 30%, e os técnicos estão dizendo que vão aumentar, Pedro Simon. É isso! É um caso de Deus; falta Deus.

Presidente Lula, aproveite o alívio que o José Dirceu vai lhe dar com sua ausência e leia o livro de Deus: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Lula, já que não quer escutar os Senadores, os pais da Pátria, escute Deus. “Comerás o pão com o suor de teu rosto” é uma mensagem de Deus aos governantes, que são obrigados a propiciar trabalho para a nossa gente. E o apóstolo Paulo foi mais severo quando disse que quem não trabalha não merece ganhar para comer. Aprenda com a lição e faça a reflexão. Perderam a eleição. Isso é uma vergonha! O povo do Piauí é honrado, não quer esmola, quer trabalho. O povo é de luta. Esta é a nossa história e este é o conselho que queremos dar, em nome do Piauí, ao Presidente da República: que leve a esperança prometida, pois o povo está desesperançado.

Agradeço a aquiescência do Presidente pelo tempo extrapolado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2004 - Página 36365