Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre os questionamentos do PMDB a respeito da permanência do partido na base governista.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Reflexões sobre os questionamentos do PMDB a respeito da permanência do partido na base governista.
Aparteantes
Magno Malta, Maguito Vilela, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2004 - Página 37515
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, POVO, ANALISE, CRESCIMENTO, REPRESENTAÇÃO POLITICA, RESULTADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, DEFESA, DEFINIÇÃO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRISE, RETIRADA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.
  • ELOGIO, DECLARAÇÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), AUSENCIA, NEGOCIAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSIÇÃO, POLITICA PARTIDARIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Romeu Tuma, mais generoso na exigência do tempo, uma benção de Deus, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pela sistema de comunicação do Senado, dirijo-me ao Senador Ramez Tebet, cujo nome escolhi por se igualar a Rui Barbosa no amor à justiça, com uma diferença: V. Exª, Senador Ramez Tebet, tem maior admiração minha por ser do PMDB.

Senador Efraim Morais, sob os céus há um tempo determinado para cada propósito, e agora é o destino do PMDB. Pois Rui Barbosa, em um imbróglio como este, disse: “não troco a trouxa das minhas convicções por um ministério”. Que beleza, hein, Rui!

Escutai, PMDB! PMDB de Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar, escutai a voz rouca das ruas! Vamos ouvir as ruas, o povo.

O homem é um animal social, como já disseram filósofos como Aristóteles e outros. E o homem sempre procurou uma forma de governo. E por muito tempo o governo foi uma monarquia, foi dos reis.

Senador Magno Malta, na Bíblia estão os reis: rei Saul, rei Davi, rei Salomão. Por quê? Porque se assemelhava à paternidade, à família: um manda, todos obedecem. Mas na nossa sociedade, Senador Romeu Tuma, ficou muito bom para quem estava no Palácio. Para o povo mesmo, explorado, esquecido, decepcionado, humilhado... Esse povo foi às ruas e gritou por liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, as Repúblicas da Velha Grécia foram melhorando.

Senador Heráclito Fortes, caíram todos os reis que representavam aquele “l’état c’est moi”, de Luís XIV. E aqui nas Américas um líder definiu governo como governo do povo, pelo povo e para o povo.

Estou muito à vontade no PMDB, porque vi essa identidade com o povo. O PMDB é isso; o seu compromisso era com o povo, com a coragem, com o ideal do povo.

Senador Efraim Morais, lembro-me de que, quando estava no Rio de Janeiro, fazendo a minha pós-graduação em cirurgia, na década de 60. Comprei o jornal e li, entusiasmado, o discurso de Ulysses, o anticandidato, sem chance alguma pelas regras do jogo, dando a nossa mensagem de conquista do Governo pelo povo.

O meu PMDB é o de Heráclito. Em convenção, vi S. Exª, com força física, defendendo essa bandeira. Naquele tempo, Ulysses, sem chance, mas com a chama da liberdade e da igualdade, saiu à luta. Agora, esse PMDB, grandioso pelo seu passado, também tem de sê-lo pelo nosso presente, pela nossa presença e pela nossa luta. Com 1 mil prefeitos e 8 mil vereadores, é o maior Partido, Senador Maguito Vilela. Nunca antes, no pluripartidarismo, desde os tempos de Rui Barbosa, houve uma bancada tamanha como esta.

Dizem que está resolvido e que não há candidato em combatividade. Errare humanum est. Erramos na vez passada, quando tínhamos dois excelentes e extraordinários candidatos: o pai do combate à inflação, Itamar Franco, ex-Presidente austero e honrado; e Pedro Simon, símbolo das virtudes e da tradição gaúcha daquele povo que foi o primeiro a gritar pela liberdade dos negros, pela Guerra Farroupilha e pela República. O nacionalismo de Pasqualini, de Getúlio, de Jango e de Brizola estava sintetizado em Pedro Simon, assim como o espírito cristão de São Francisco, quem mais se assemelhou a Cristo. E recusamos.

O Partido é para isso, e quem sabe é o povo mesmo.

Senador Magno Malta, Ulysses Guimarães disse: “Escutai a voz rouca das ruas”. O que eu vejo nas ruas do meu Piauí e do Brasil é que time que não entra em campo não ganha e perde a torcida. Não vamos ganhar nunca. Partido é para chegar ao poder - não ao poder pelo poder, Senador Ramez Tebet -, mas como instrumento. Cristo disse: “Não para ser servido, mas para servir”. Este PMDB tem de buscar aquela luz, aquela chama e aquela tocha do anticandidato Ulysses.

Agora chega alguém e diz que está resolvido. O coronel do PT que quis cubanizar este País disse que o nosso Partido não tem combatividade. Lamentamos, Senador Papaléo.

Matéria do jornal Correio Braziliense, que cada vez está melhor - que se cuidem os jornais do Rio e de São Paulo - traz: “Queda de Braço - PMDB em crise”. Segundo o jornal, aumenta a guerra dentro do Partidos entre os aliados de Lula e os que insistem em sair do Governo.

Entendemos e queremos deixar bem claro. Eu sou cirurgião. Primeiro, há que se ter a teoria. Depois do estudo, é preciso ver os outros operarem, ajudar, para, então, operar. Na política também funciona assim, pois, se se estuda até para jogar futebol, como é que para ser político não se vai estudar?

Maquiavel, autor de O Príncipe, na Era do Renascimento, na Itália, ensinou que é muito difícil governar afastado do povo. Presidente Lula, atentai para o que Maquiavel disse. Não adianta trazer alguns atraídos pelo queijo dos cargos. Vamos atrair o povo.

Senador Ramez Tebet, Abraham Lincoln, jurista como V. Exª, dizia o que está na Bíblia: “casa dividida é facilmente derrubada”. Este País não pode ser metade livre e metade escravo. O PMDB tem que ter essa unidade. É bíblico saber onde está a sua força: no povo, como ensina a teoria de Maquiavel. Atentai também para a reflexão de Abraham Lincoln: “Tudo o que se faz com a opinião pública tem êxito. Tudo o que se faz contra a opinião pública malogra”.

O Sr. Magno Malta (PL - ES) - Peço um aparte, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Essa busca tresloucada por cargos contraria o povo. O povo é soberano na democracia. E Juscelino Kubitschek, esse democrata, Senador Papaléo Paes, chegava a seus mais íntimos - José Maria Alkmin, Israel Pinheiro - e dizia onde estava, no Palácio de Minas, em Brasília, no Rio de Janeiro: “Como vai o monstro?” O monstro era o povo. O Presidente da República tem que saber isto: como vai o monstro, o povo, o povo, o povo; e não como vão alguns líderes, que querem cargos, cargos, cargos, contrariando Rui Barbosa.

É isso que entendemos, e posso dizer isso, porque governei o Piauí, Senador Papaléo Paes, e cantava como uma reza: “O povo é o poder”.

O essencial é invisível aos olhos; quem vê bem vê com o coração. Ensinei no Piauí a se acreditar no povo, a se respeitar o povo, a se trabalhar pelo povo e até amar o povo. Eis o que nos fez Senador da República.

Estou com o nosso Presidente, mas o do Partido. Michel Temer deu uma declaração, que está aqui no jornal: “É melhor termos um partido menor, se for o caso, mas com uma consciência absoluta de sua tarefa, de sua função no Senado Nacional, do que um grande partido fragmentado”. Ele foi mais longe ainda ao dizer a Lula que não participa desses almoços porque pode parecer uma tentativa de cooptação.

Diria, Senador Maguito, que não vai ser almoço e nem jantar. Aliás, com esse negócio de comida, ele não tem acertado. No Fome Zero, não acabou com a fome, ficou só com a nota zero. Senador Maguito, ele tem que reconhecer o esforço. E o nosso voto é de graça, é pela consciência, é pelo povo, é pela Pátria. Eu trabalhei, lutei, votei para ver Lula presidente. Era daqueles que tinha esperança. Mas, Senador Maguito, votei contra a reforma da Previdência, porque achei que não era boa, e eles mesmo acharam isso. Quanta luta. Olha a PEC paralela, o resultado disso. Votei contra a reforma tributária, porque tornou o Brasil o país em que mais se paga imposto.

Lembro-me de que, quando Cristo passou pelo mundo, perguntaram-lhe se era justo pagar impostos a César. Ele respondeu: “Dai a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”. Mas, se Cristo andasse no Brasil, Senador Papaléo, ele diria: “Não pague não, porque já levaram demais do povo”.

De doze meses trabalhados, cinco vão para os impostos. É a brasileira e o brasileiro na luta, porque têm que trabalhar a mulher e as crianças. Todo mundo tem de trabalhar para ter uma renda mínima. Decresceu como nunca, nesses últimos anos, o poder aquisitivo do dinheiro e do salário mínimo. A classe média está aí, mas não é mais média. Média sim, porque ela tem nota três.

Então, o que queremos dizer é que votamos contra, mas votaremos de graça em favor de qualquer lei boa e justa, pelo Brasil, pelo Piauí e pelo povo! É para isso que estamos aqui, para votarmos em troca de nenhum cargo, embora exijamos que renasça a esperança, que está morrendo. E sabemos que a esperança é a última que deve morrer, Senador Papaléo, mas está morrendo. E não podemos deixar acabar, Senador Magno, a esperança da Pátria na democracia, pela qual passa o PMDB.

Senador Magno Malta, tem a palavra V. Exª, que se inspira em Deus e o representa aqui como um dos seus ministros.

O Sr. Magno Malta (PL - ES) - Senador Mão Santa, V. Exª expõe as divergências internas do seu partido com muita transparência e clareza, mas não posso me intrometer nos problemas dele, até porque a ele não pertenço e a mim não me cabe nem opinar. Pedi o aparte apenas para contribuir, porque o que a Bíblia diz de fato é que uma casa dividida não subsistirá.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, é isso mesmo. Queremos a unidade.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª tem todo o direito porque foi um dos mais competentes e corajosos presidentes do PMDB. E eu estava aqui na posse de V. Exª para trazer-lhe o apoio do nosso Piauí.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Muito obrigado. Cumprimento V. Exª por abordar os problemas de um partido tão importante para o Brasil quanto o PMDB. Já fiz isso de outra feita, também desta tribuna, e fui criticado depois pela cúpula do PMDB por abordar aqui problemas do partido. Na época, respondi que o PMDB era um partido ramificado, com capilaridade em todo o País, que dizia respeito ao povo brasileiro. Então, todos têm que ter interesse pelo nosso partido e saber qual é o caminho mais correto que ele deve trilhar. Há mais de oito anos, venho lutando para que o PMDB tenha candidato próprio à Presidência da República. Lutei por isso no passado e continuo lutando para o futuro. Ninguém, em sã consciência, pode admitir que um partido com a grandeza e a história do PMDB não participe das principais eleições deste País, que são as presidenciais. O PMDB não tem participado delas. Eu me candidatei à reeleição para presidente do partido com essa bandeira e perdi. Quem venceu o fez também com a obrigatoriedade de lançar candidato à Presidência da República. O PMDB não tem, sistematicamente, participado das principais eleições do Brasil, mas precisa fazê-lo. Eu defendo essa participação com muita veemência. V. Exª se lembra de que, no início, eu dizia o mesmo que V. Exª está dizendo hoje: o partido pode apoiar o Governo no que consulta aos interesses do País e do povo, independentemente de cargos, de ministérios. Está registrado nos Anais da Casa que eu disse que o PMDB deveria dispensar os ministérios e apoiar o Governo Lula, pois a governabilidade é importante para o País. Se a maioria do povo brasileiro elegeu este Governo, nós temos que apoiá-lo, até para que ele possa encontrar o melhor caminho para o País e para o povo, independentemente de cargos. O PMDB tem feito ministros, mas não tem participado de decisões. Assim, defendo um partido independente, que caminhe com suas próprias pernas, que escreva a sua própria história, e com responsabilidade. É lógico que não se pode ficar aqui fazendo oposição raivosa, obstruindo, deixando de votar. Acho que o partido tem que ter responsabilidade e tem que ajudar na governabilidade. Mas, nessa questão de cargos, V. Exª tem razão. Eu nunca troquei a trouxa das minhas convicções por cargo nenhum. E não foi por falta de oferecimento, pois, no Governo passado, tive convites do meu partido para assumir ministérios. Não aceitei, nunca pleiteei e nunca vou pleitear ministério algum. Não é do meu feitio, e acho, inclusive, que o partido ficaria muito mais à vontade sem os ministérios. Parabéns pela sua fala.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, que incorporo. Reconheço a liderança extraordinária que V. Exª teve à frente do PMDB. V. Exª reviveu o conceito de Winston Churchill, que disse: “Política é como a guerra, com a diferença de que, na guerra, só se morre uma vez”. O PMDB de Goiás acabou de ressurgir. É disso que se precisa!

Agora concedo um aparte ao Senador Papaléo Paes, do PMDB.

O Sr. Papaléo Paes (PMDB - AP) - Senador Mão Santa, como companheiro de partido e observador do quadro político nacional, eu não poderia deixar de emitir minha opinião. Primeiramente, parabenizo V. Exª pelo brilhante discurso, que faz com que não só peemedebistas mas outros políticos e até o povo despertem para a situação por que está passando nosso grande PMDB. Cheguei a ter o atrevimento de dizer que o PMDB está subsistindo às custas de suas glórias do passado. Então, não consigo admitir que um partido tão grande como o PMDB, criado pelo próprio povo, pois foi o povo que deu a ele todo esse know how, esteja hoje como um partido “reboqueiro”, um partido de aluguel - eu não queria dizer de aluguel, mas acabei dizendo -, um partido no qual realmente não sentimos um posicionamento firme, no sentido de ajudar a tornar governável o País, sem se deixar levar para uma situação que o apequene. Então, lamento profundamente que o PMDB, que tem nesta Casa 23 Senadores e a maior representatividade, participe de um jantar com o Presidente da República às vésperas de uma convenção que vai decidir se o partido continuará ou não apoiando o Governo da forma como está apoiando, a reboque. E achei inabilidade do Governo convidar os Senadores para esse jantar, sabendo dessa convenção, dando a impressão para a população de que, no jantar, seriam resolvidos problemas não do partido, porque ali estavam só Senadores, mas, sim, questões individuais dos Senadores, para que o partido continue no Governo. Lamento essa situação e quero dizer que a posição do Partido deverá ser coerente. Jamais viraríamos as costas para a governabilidade por uma decisão do PMDB; mas viraríamos, sim, para o troca-troca. Não aceito que um Partido como o PMDB se troque por cargos, por ministérios, seja pelo que for. Então, Senador Mão Santa, estou no PMDB e nele entrei pelas suas figuras importantes, de repercussão nacional; figuras importantes, respeitáveis, mas que devem ter uma posição coerente com a grandeza do nosso Partido. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª.

Um quadro vale por dez mil palavras, e V. Exª é esse quadro, Senador Papaléo, é o PMDB novo, não só da grandeza de Ulysses, de Teotônio, de Tancredo, mas o PMDB de hoje, que tem um compromisso com seu passado e com o povo. E que tem nomes extraordinários, como o Presidente Sarney. A política é isso. A Polônia elegeu um trabalhador, um sindicalista, depois, um intelectual. Governadores como Roriz, esse homem de desenvolvimento, que tem a inspiração de Juscelino; Luís Henrique; Germano Rigotto, vencedor. Machado de Assis já dizia: “ao vencedor, as batatas”. Requião; Jarbas, de Pernambuco; o Garotinho; Íris Resende, figura extraordinária, pode ser candidato; Renan, o nosso Líder Renan, que já foi Ministro, nos lidera aqui no Senado; Ramez Tebet.

Quero deixar claro que a nossa posição está no Hino do Piauí: “Numa guerra, o seu filho é o primeiro que chega”, e sou o primeiro a dizer que luto pelo PMDB de Ulysses, independente, mas sem abandonar o País, a governabilidade e o povo, de graça abençoado por Deus.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2004 - Página 37515