Discurso durante a 170ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a respeito de editoriais publicados na imprensa nacional contendo críticas à atuação política do governo federal.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a respeito de editoriais publicados na imprensa nacional contendo críticas à atuação política do governo federal.
Aparteantes
Alvaro Dias, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2004 - Página 39143
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, LEITURA, TRECHO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PAIS, AUMENTO, PREÇO, COMBUSTIVEL, FRAUDE, BOLSA FAMILIA, PERDA, POPULARIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONFLITO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OBJETIVO, REELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, SEM-TERRA, ESTUDANTE, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSBD - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Endosso as palavras de V. Exª a respeito da qualidade, da experiência, do talento do Senador Alberto Silva, e muito obrigado a V. Exª pelas reiteradas manifestações de apreço pessoal por este seu modesto colega do Amazonas.

Sr. Presidente, faço hoje apenas um vôo de pássaros sobre os jornais brasileiro. O Jornal do Commercio, do Recife: “Combustível fica mais caro hoje”; outra notícia: “Sem-terra ocupam a fazenda Recreio”, e mais: “Protestos contra aumento de passagem de ônibus contra a prefeitura petista de Recife”.

Ainda “Protestos contra Aumento de Passagens de Ônibus contra a Prefeitura Petista de Recife”. Gazeta Mercantil: “Brasil Pode Perder US$800 Milhões com Soja em 2005”. Gazeta Mercantil: “Brasil Precisa Definir seu Papel”. Diz o Presidente Fernando Henrique Cardoso:

A idéia de fazer acordos tópicos vem em um quadro mais defensivo do que ofensivo. Nós temos uma política defensiva. E eu acho que nós deveríamos passar para uma política ofensiva e tomar a decisão de nos integrarmos à economia global.

Muito delicadamente, o Presidente Fernando Henrique apenas diz que o Presidente Lula, na verdade, faz espalhafato, mas é incompetente quando se trata de política externa.

Estado de Minas: “Gasolina Sobe Outra Vez”. E o Presidente Lula apela por compensação aos Estados, quando depende dele cumprir a palavra que empenhou junto aos Governadores. Dispensamos todo o gesto teatral de solidariedade que teria de ser expresso nos votos de sua Bancada aqui ao cumprirem os acordos firmados pelo Presidente da República.

Zero Hora, do Rio Grande do Sul, resvala para a corrupção: “Fraudes no Programa Bolsa-Família se Espalham pelo Estado”. Outra notícia: “Aumento de 7% da Gasolina é o Terceiro do Ano”. Outra notícia: “Infância Desamparada”. Faço, Sr. Presidente, na verdade, a crônica do desgoverno. Refiro-me à matéria da primeira página do Zero Hora. Dentro do jornal, há a manchete: “Aumentam Indícios de Fraude no Bolsa-Família no Estado”. E o Fantástico já tinha sido tão eloqüente, denunciando esse crime triplicado, que é o crime, em si, de desvio de dinheiro público, crime brutal perpetrado contra o futuro das crianças brasileiras.

O Estado de S. Paulo traz um calhamaço de páginas com essas notícias. Na primeira página, há: “Um dia de fúria dos ex-aliados de Lula. Gasolina sobe 4,2%; Diesel, 8%. Não subiu antes da eleição por motivos eleitoreiros, pura e simplesmente por motivos eleitoreiros.”

Mostrou que tinha razão a equipe econômica, o Copom, quando exigiu da Petrobrás que fizesse um realinhamento de preço. Houve uma nota malcriada do Presidente da Petrobrás, mas agora o preço chegou ao que deveria ter chegado antes, ou seja, não aumentaram a gasolina e o diesel antes por motivos absolutamente eleitoreiros e demagógicos.

O Presidente Fernando Henrique pergunta por que o Governo quer maioria se não tem projeto para indicar a essa maioria que vote e por ele empreenda uma luta estratégica.

Ainda consta de o Estado de S. Paulo: “Lula se queixa da indiferença do povo”. Sr. Presidente, não tenho como não me lembrar de algo parecido, porque, quando as coisas dão errado, o Presidente vaidoso pensa sempre que a culpa é do povo. O Presidente João Figueiredo, que V. Exª e eu tanto combatemos, Senador Álvaro Dias - sem dúvida V. Exª era opositor dele, Senador Mão Santa -, chegou a dizer aquela célebre frase que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro do povo. O Presidente Lula está no mesmo caminho. Já está se queixando da indiferença do povo em relação a ele.

Na verdade, o povo é generoso ao ser indiferente. Deveria estar bem mais atento ao desgoverno que vai sendo praticado e perpetrado contra este País.

Sr. Presidente, falando ainda sobre o Presidente Lula, lembro-me de um poema de Berthold Brecht, chamado Poema Clandestino, escrito depois da revolta popular, em 1953, na antiga República Democrática Alemã. Leio o poema para V.Exª e para a Casa. Diz Brecht:

Depois do levante do 17 de junho

O secretário da União dos Escritores

Mandou distribuir panfletos

Na Stalinee,

Nos quais se podia ler que o povo

Deixara de merecer a confiança do Governo.

E só poderia reconquistá-la, agora,

à custa de muito trabalho.

Mas não seria então

Mais simples se o Governo

Dissolvesse o povo e

Elegesse outro?*

Ou seja, Figueiredo, quando preferia cavalo ao povo, no fundo, ele queria outro povo no lugar daquele que o criticava tanto. Lula já acha que o povo está indiferente. Quem sabe daqui a pouco ele delira imaginando que seria melhor construir o novo povo, ele imaginaria que daria menos trabalho do que ele construir um novo Governo, um Governo de verdade. E essa é sua obrigação, para se credenciar ao respeito duradouro do povo e da História.

“Gasolina e diesel ficam mais caros hoje. No fim, a Petrobras desobedeceu o Copom”, observa o Jornal O Estado de S. Paulo. “Na esplanada dos Ministérios, há uma onda de protestos contra o Governo.”

E diz economista Plínio de Arruda Sampaio Filho: “Se não mudar, Lula terá de romper com seus aliados históricos.”

“Governo de resultados”, editorial no Estadão de hoje. “Quando o Presidente Lula exige de seus Ministros do Governo de resultados em 2005, o resultado que tem em mente é sua reeleição em 2006.”

Quando ele lembra ao PMDB que o partido mantém o nome nacional para concorrer ao Planalto, sugerindo, portanto, que a agremiação fará melhor se ficar no Governo, com mais espaço naturalmente e desta vez integrar-se à coligação eleitoral vitoriosa em 2002, a intenção é a mesma. E é para isso também que até o PP poderá desfrutar de Ministério na reforma que virá. O empenho de Lula nessa composição e o fato de ter ele assumido, pessoalmente, e solitariamente, o comando da articulação política do Governo indicam que ele deve concordar com a avaliação do antecessor Fernando Henrique, segundo a qual, o desfecho das eleições municipais mostrou que o Presidente não é imbatível.

Na verdade, só há uma coisa com começo, meio e fim neste Governo: as tratativas do Presidente Lula para tentar se reeleger Presidente. No mais, está parado.

Celso Ming, em seu belo artigo de hoje, no jornal O Estado de S. Paulo:

A direção da Petrobrás tratou a opinião pública com descaso. Durante meses, negou que houvesse desalinhamento de preços, mesmo não podendo esconder que o reajuste de outros derivados, como o do querosene e de aviação e do óleo combustível obtivesse tratamento.

Mais adiante, diz Ming:

Uma segunda questão a examinar é a chamada divergência entre a Petrobrás e o Banco Central. Na ata da reunião do Copom, realizada em outubro, o Banco Central advertiu a Petrobrás de que o atraso no reajuste concorria para deteriorar as expectativas dos agentes econômicos e prejudicava a execução da política monetária.

Ou seja, a eleição primeiro, os interesses do País, depois.

Sr. Presidente, peço que tudo seja inserido nos Anais da Casa.

O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, apenas para acrescentar...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador Álvaro Dias.

O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - Uma matéria do jornal Valor Econômico mostra o quanto perdeu a Petrobras por adotar a postura eleitoreira, que não beneficia a população porque agora anuncia o reajuste com o atraso, que significou um prejuízo enorme para o País. A estatal deixou de ganhar 4 bilhões, por manter os preços da gasolina, e mais 2 bilhões perdeu com a venda de diesel por um preço mais barato do que o das importações brasileiras. Portanto, Senador Arthur Virgílio, V. Exª, com muita responsabilidade pública, vem à tribuna para denunciar os prejuízos a que somos submetidos, nós, brasileiros, em função da postura eleitoreira do Governo, que contraria toda a sua pregação, na esteira desse sepultar de dogmas e postulados apregoados durante tanto tempo pelo PT no País.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Álvaro Dias. V. Exª me enseja a dizer que o Governo tem um caráter de certo hermafroditismo político.

Vejam ainda o que diz O Estado de S. Paulo: “Governistas tentam salvar sigilo de aliados do MST” e V. Exª, Senador Álvaro Dias, era o Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a crise no campo. “Dois Deputados do PT e um do PC do B queriam anular sessão da CPI da Terra que autorizou a abertura de dados”. Ou seja, supostamente haveria corrupção ali, mas pensavam que não se deveria investigar. Parece, então, que são aliados do MST.

O Estado de S. Paulo publicou também: “MST caminha para Oposição, diz D. Tomás Balduíno”. “Movimentos populares estão frustrados com Lula, afirma o Presidente da CPT”. É um exemplo puro de hermafroditismo político.

O mesmo jornal publicou: “PFL convoca Gastão para explicar acusações. Segundo o Senador José Jorge, declarações do ex-Secretário contra o Ministério da Saúde são de extrema gravidade”. É o lado mais obscuro que tem sido recorrente no Governo do Presidente Lula. “Fernando Henrique Cardoso faz duro ataque à política agrária de Lula, alertando para os perigos do descontrole civil e do descontrole econômico”.

A Folha de S.Paulo publica matéria de quase uma página, intitulada: “Estudantes e sem-terra vão às ruas protestar contra Lula”. A página inteira praticamente. E não há nenhum Partido atiçando isso, como havia contra FHC, contra José Sarney. O PT encabeçava o movimento. Agora, não. É espontâneo. É o povo mesmo.

Matéria da Folha de S.Paulo intitulada “Lula viria por empresários, diz D. Tomás. D. Tomás acusa o Presidente Lula de não se interessar em discutir com os movimentos sociais e diz, do alto da sua autoridade que, se fosse uma reunião com empresários, Lula iria cheio de gracinhas, iria cheio de piadas, iria com seus ternos elegantes.Iria.”

Aqui temos o Presidente dando mau exemplo para nossos filhos e netos: “Presidente come bombom e joga o papel no chão” - Folha de S.Paulo. Presidente, coloque no cinzeiro. Não jogue no chão. É feio. Está ensinando mal as crianças.

Folha de S.Paulo: “Ex-assessor de Humberto Costa ataca o Governo.” E aí envereda pelo caminho do desmando do desvio de recursos públicos.

Folha de S.Paulo: “Sem-terra invadem Incra e enfrentam a PM.” Aqui o PT impede que se investigue corrupção dentro do Movimento dos Sem Terra.

“Banco Central e Congresso viram alvo de manifestantes.”

Folha de S.Paulo: “Copom admite altas maiores dos juros para manter a meta de inflação”.

Escreve o jornalista Kennedy Alencar, em matéria por ele assinada: “Queda de juros só vem a partir de março.” Quem sabe?

“Banco Central terá de rever projeção para gasolina no ano.”

Folha de S.Paulo: “Combustível sobe pela segunda vez em 42 dias.” “Mercadante acusa Governo de abusar da edição de medidas provisórias.” “Banco Central afirma que ritmo da alta de juros pode ser acelerado.” “MST invade, na Bahia, fazenda de suspeito de chacina.”

Folha de S.Paulo: “João Paulo acusa PMDB de obstruir votações.” Vaca não reconhece bezerra, Presidente Mão Santa. Eles estão brigando entre eles. Ninguém briga conosco. Todos brigam entre si.

Folha de S.Paulo: “Copom admite altas maiores dos juros para manter meta.”

Ainda Folha de S.Paulo: “Combustível”...

Estou repetindo. É tanta notícia ruim que eu estou repetindo.Não quero que me acusem de ter repetido notícia ruim porque o Governo não precisa disso.

Folha de S.Paulo: “Mercadante critica a ação de Lula no Senado”. E o Presidente aqui resvala para o desespero. “O Presidente quer elevar mínimo para R$300”. Seu compromisso não era esse; seu compromisso era dobrar o valor real de compra do salário mínimo em quatro anos, e ele teria que fazer algo bem diferente disso para cumprir seu compromisso de campanha. A outra saída era a hombridade de dizer para a Nação, numa cadeia de rádio e televisão, que ele não está sendo capaz de cumprir com a sua meta, com o seu compromisso. Seria uma atitude de mais hombridade, algo mais firme, mais justo, mais decente, mais ético, mais honrado.

Folha de S.Paulo: “Gasolina deve subir mais de 3% na bomba”. E era para ter subido antes da eleição. Subiu depois porque eles estavam a fim de votos.

O Globo: “Críticas de ex-secretário abrem crise na saúde. Gastão Wagner acusa Humberto Costa (atual ministro) de priorizar o marketing. Ministro atribui críticas a ressentimento pessoal”. E tome petista brigando com petista! Esse é o quadro do desgoverno e do desalento que a Nação é obrigada a suportar.

O Globo: “Ministro Bastos defende presidente do Incra: é mais uma questão de linguagem.” Entende o Ministro Bastos que o presidente do Incra, falando para nove mil pessoas, ter dito que o agronegócio é inimigo dos movimentos sociais é apenas uma questão de linguagem. Está tolerante o meu prezado amigo Ministro Márcio Thomaz Bastos com algo que tem muito a ver com a manutenção da ordem interna desse País, portanto muito a ver com a Pasta que ele tem todas as condições de abrilhantar pela sua respeitabilidade pessoal e pelo seu nível de preparo intelectual, que é dos melhores.

O Globo, página inteira: “Fogo é mais que amigo. Mercadante, Líder de Lula, e João Paulo, Presidente da Câmara, atacam o governo. Protestos no Congresso e nas ruas. Fernando Henrique, não se pode tentar redescobrir a pólvora. Ex-Presidente diz que governo dá força ao reivindicacionismo incessante do MST”.

Aí vem o Presidente do PT, José Genoíno, chamando o ex-Presidente Fernando Henrique de arrogante e distorcendo as suas palavras. Diz que o Presidente teria dito que apenas no PSDB haveria gente preparada para ser Presidente da República. E o Presidente não disse isso. Vou ler o que disse o Presidente Fernando Henrique: “Talvez o PSDB seja o único partido que disponha de tantas pessoas qualificadas para serem candidatas”. Quando se diz qualificadas não é apenas moralmente ou intelectualmente, mas qualificada também eleitoralmente. Vemos o PFL dirigindo suas baterias para o Prefeito César Maia; vemos o Governador Germano Rigotto no PMDB; vemos no PT Lula e apenas Lula; vemos quatro, cinco, seis nomes no PSDB. Foi apenas isso que o Presidente Fernando Henrique quis dizer. E o Presidente do PT, em sua resposta, nessa ânsia quase doentia de tentar silenciar o ex-Presidente da República, distorce o que ele diz.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já lhe concedo um aparte, Senador Mão Santa. Apenas avanço um pouco mais.

O Globo: “PP, PTB e PL ameaçam fazer boicote”. Ou fazem o que eles querem ou tem boicote contra matérias de interesse do Governo na Casa. São aliados do Governo, e não adversários. Os adversários somos nós. Ontem aprovamos aqui seis medidas provisórias, e o Governo não tinha maioria para fazer algo parecido. Aqui mostramos que a Oposição critica, mas quer o Brasil andando, não quer o Brasil parado.

Correio Braziliense: “Renda do brasiliense cai 40% nos últimos anos.” Mas vamos ser honestos: isso tem a ver com o problema do Distrito Federal, com o problema da economia brasileira, não se refere apenas ao Presidente Lula. Vamos ser bem honestos. Tem aqui várias prisões. Protestos contra o Governo do Presidente Lula. A manchete também diz: “Vaias e prisões. Protestos contra o governo do Presidente Lula”.

O Globo: “Sem-Terra e estudantes invadem prédio do Incra”. Protestos no Congresso e nas ruas. MST faz manifestação na Esplanada contra reformas do Governo Federal. Portas de Vidro e duas vidraças foram quebradas. Houve confronto com policiais e oito pessoas ficaram feridas. Agricultores invadem fazenda”. É o quadro do desatino e da inércia administrativos.

Correio Braziliense: “Protestos. Manifestação organizada pelo Partido da Solidariedade (PSOL) e por sindicalistas na Esplanada dos Ministérios tem como saldo dois estudantes presos, vidros do Congresso quebrados e carros amassados. Policiais detêm manifestantes na frente do Congresso. Minoria provocou confronto, que acabou com dois estudantes presos. Passeata terminou em confronto” e “CPT (Comissão Pastoral da Terra) critica Governo Federal”.

E diz Dom Tomás Balduíno: “Se ao invés de 12 mil trabalhadores estivessem aqui 12 mil empresários Lula teria vindo”. É incrível como Dom Tomás Balduíno está decepcionado com os rumos adotados pelo Presidente Lula.

Não sou aliado de Dom Tomás Balduíno, sou adversário de suas idéias até. Entretanto, tudo que peço dele é respeito, e não vejo que ele tenha alguma razão para não me respeitar quanto ao que mantenho de coerência e de firmeza em relação aos meus pontos de vista. Quem se elegeu com os votos e com o apoio de Dom Tomás Balduíno foi Lula, a quem ele dirige essas palavras que até parecem desrespeitosas.

O brilhante Presidente do PPS, Roberto Freire, diz: “O que eles fazem não é coalizão, é ajuntamento”.

Correio Braziliense de hoje: “Fernando Henrique Cardoso ataca Lula. Falta criatividade. Ele condena o fracasso das políticas sociais”.

O Presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, diz: “Considero sofrível o desempenho do Governo Lula”. Ele foi gentil; queria dizer coisa pior.

Jornal Correio Braziliense: “Política Econômica - Ata do Copom mostra que os índices do custo de vida e os aumentos nos preços dos combustíveis continuam pressionando a Selic”. A taxa foi elevada em meio ponto percentual na semana passada, o que significaria, segundo o Jornal Correio Braziliense, sinal de nova alta de juros.

Jornal do Brasil: “Mercadante reclama de excesso de MPs”.

Jornal do Brasil: “Violência marca protesto estudantil”.

Jornal do Brasil: “Infeliz, Dirceu cogita de voltar à Câmara”. Mas a Câmara não é consultório de psicanálise para ninguém. A Câmara é para ser dirigida por alguém altivo, que venha para cá mostrar cooperação com o Governo, mas com independência. Não é escritório de psicanálise: estou infeliz, vou ser presidente da Câmara. Daqui a pouco alguém diz: vão me dar a presidência do Senado porque estou infeliz. Não é consultório de psicanálise. É fundamental percebemos o que pretende a Câmara como melhor caminho, a partir da decisão soberana de seus membros. Vamos respeitar a Câmara dos Deputados e o Congresso Nacional.

Jornal do Brasil: “Combustíveis voltam a subir” e “COPOM sinaliza alta de juros”.

Jornal do Brasil, na primeira página: “Sobe o preço dos combustíveis”.

E uma notícia boa: um mafioso americano foi preso. Seria bom que não tivéssemos nenhum mafioso solto, americano ou de qualquer nacionalidade, principalmente os nacionais, do ponto de vista do brasileiro.

Jornal do Brasil: “Movimentos sociais se distanciam do Governo”; “Mais de oito mil manifestantes criticam política econômica e Reforma Agrária”; “CUT participa da marcha e já programou a próxima”. A crise no campo: “Mandante de chacina tem fazenda invadida”.

E, finalmente, o Valor Econômico: “Correção do Imposto de Renda longe da inflação”. Ou seja, um mero arremedo de solução apresentado aqui pelo Governo.

Eu acordei muito cedo para trabalhar. Eu queria ver em que pé estava o Governo Lula do ponto de vista da mídia, e aqui estamos vendo. A mídia, supostamente, representa uma ótima perspectiva de formação de opinião pública.

E a última matéria de hoje: “Ministério - Lula quer reforma pronta antes da Convenção”.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já lhe concederei o aparte, Senador Mão Santa.

O Presidente Lula não quer a reforma do seu Ministério para tornar o Governo mais eficiente, mais eficaz; ele a quer antes da Convenção do PMDB. Ou seja, a preocupação dele não é o País, mas é saber se ele não perde o apoio do PMDB. Ele poderia ter uma relação com o PMDB como tem com o PSDB, ou seja, o PMDB quer devolver os cargos - eu penso que deveria fazer e não quero me meter em assunto interno desse Partido. Nós do PSDB apoiamos tudo que é de interesse da Nação e não abrimos mão da independência de criticar o Governo. Seria, talvez, este o caminho mais justo. Mas esta matéria é deplorável: “Lula quer reforma pronta antes da Convenção”. Não é reforma pronta para governar bem o País, não é reforma pronta para dar solução a problemas tão graves, e sim reforma pronta para resolver uma pendenga política com um de seus aliados. Isso diminui o tamanho do Presidente da República; isso diminui a majestade do cargo de Presidente da República; isso reduz o nosso nível de atuação política a algo mesquinho, pequeno, menor do que o coração do povo brasileiro.

Ouço, ao encerrar, o nobre Senador Mão Santa, que me honrará com o seu aparte.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, atentamente ouvi todo o seu discurso, bem como todo o País. Eu quero dar aqui um testemunho. Precisamente hoje, dia 26 de novembro, quase dois anos, aprendi que “quem nunca comeu mel quando come se lambuza”. O PT chegou ao Governo e pensou em transformar este País em Cuba. O Senado foi a resistência; no Senado, V. Exª. Um quadro vale por dez mil palavras. Hoje, sexta-feira, ninguém do PT está aqui, mas V. Exª está presente, cumprindo com seu dever de Oposição, essencial e fundamental para fortalecer a democracia. V. Exª se iguala ao oposicionista Rui Barbosa, ao seu pai, Arthur Virgilio, a Affonso Arinos, a Teotônio Vilela, a Mário Covas e a tantos outros. Foi, sem dúvida alguma, sua inteligência, acompanhada da sua coragem, que fez o PSDB ressurgir. Só estou a lamentar que Fernando Henrique tenha falado em alguns líderes que podem chegar, através do PSDB, à Presidência da República e não tenha dito o nome de V. Exª. O próprio Fernando Henrique saiu daqui do Senado. Ninguém representou tão bem, engrandecendo a Oposição, como V. Exª. Quero apenas lembrar as inúmeras manchetes e artigos que, lúcida e estoicamente, V. Exª coletou, desde a madrugada, para trazer ao Brasil, somando, como sempre. Tenho aceitado sua liderança aqui, embora eu seja do PMDB, mas do PMDB de Ulisses, que, encantado, no fundo do mar, ainda faz chegar seu mandamento: “Ouçam a voz rouca das ruas!” Quero apenas dizer que o que vivemos, como diz Boris Casoy, “é uma vergonha”. A CPMF foi a mais bela inspiração de Adib Jatene, esse extraordinário homem da ciência médica. Transformada em lei, ela é desviada, não vai para a saúde. A Cide, pela qual tanto lutamos, é uma vergonha! Como está aqui na revista da Confederação Nacional do Transporte, 75% das estradas brasileiras estão imprestáveis. E o Piauí tinha que ser a luz, como o foi no regime da ditadura, buscando João Paulo dos Reis Veloso, um homem que, em dez anos de mando, não apresentou nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Virtudes do homem do Piauí! Senador Arthur Virgílio, apenas 10% da Cide estão sendo empregados em transportes. Daí 75% das estradas estarem imprestáveis. Das dez piores estradas, três estão no meu Piauí, que votou em Lula e entregou até o Governo do Estado para o PT. E o irmão de João Paulo dos Reis Veloso, Raul Veloso, expert em contas públicas e homem do Piauí, diz, em resumo: “Entendemos que a PPP não resolve problemas rodoviários”. Ela só vai onde haja lucro. A PPP é uma privatização meio enrustida. “Esta questão tem que ser resolvida pelo recurso da Cide”. Só 10% são aproveitados. A Petrobras é uma vergonha, um caso de a Policia Federal ir lá e prender. Na Venezuela a corrida de táxi é equivalente a R$3,00. Tem produção de petróleo lá, mas aqui também tem. Em Buenos Aires, a corrida de táxi é equivalente a R$5,00. Por que aqui não é assim também? Porque é uma falta de vergonha. O Presidente da Petrobras fica fazendo marketing, coisas que nada tem a ver com o transporte, com o barateamento do custo, fazendo gracinhas eleitoreiras. A Petrobras, podendo baratear o custo do combustível, que serve a todos, fica a fazer politicagem com as várias instituições. Quero aplaudir e mostrar nosso reconhecimento, nosso orgulho de, embora eu seja do PMDB, ter V. Exª como nosso líder em momentos difíceis neste Parlamento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, agradeço as palavras sempre gentis, fraternas, que V. Exª me dirige e as devolvo reafirmando a minha expectativa, completamente cumprida, quanto a V. Exª se afirmar como o grande Senador que é. Grande representante do Estado do Piauí, ao lado do Senador Heráclito Fortes e do Senador Alberto Silva, e um oposicionista coerente, aquele homem que não se liga a benesses governamentais, que prefere, na verdade, manter o compromisso com as suas idéias, com o seu coração e com o seu cérebro. Isso faz de V. Exª alguém que merece a admiração de todos nesta Casa, a começar por mim.

V. Exª menciona João Paulo dos Reis Velloso, um homem de bem, e também Raul Veloso, economista competente, especialista em contas públicas, reunindo o talento, a experiência e a capacidade de análise que fazem dele um dos mais agudos observadores da cena econômica nacional, com ênfase para as contas públicas.

Agradeço, ainda, ao ex-Governador de Rondônia e nosso querido colega Senador Valdir Raupp por me ter cedido o horário de seu pronunciamento. Viajo daqui a pouco e o Senador Valdir Raupp, com o seu cavalheirismo de sempre, com a sua gentileza de sempre, cedeu-me esse horário, ficando sua fala para depois da minha.

Encerro fazendo minhas as palavras de João Paulo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados. Diz S. Exª: “o Governo não está governando”. Isto está nos jornais de hoje. O Presidente Lula não tem mais desculpas a dar. O que faria o Presidente nos próximos dois anos, que pouco fez nos dois anos para trás? Qual é a mágica? Ele vai chamar algum mágico, algum prestidigitador para resolver o problema da inércia, da inapetência, da incompetência administrativa?

V. Exª falou de Cuba. O Presidente poderia tomar uma atitude básica: mandar uma porção desses Ministros incompetentes dele para cortar cana em Cuba. Seria uma solução. Outra opção seria nomear pessoas de efetiva operacionalidade. Em outras palavras, o Presidente da República precisa compreender que não irá longe e o Brasil irá mal se ele insistir em trocar a ação administrativa pelo marketing político. Peço mais Lula, mais Presidente Lula e menos Duda. Nada de “Dula” ou de “Luda”, uma mistura de Duda com Lula. Nada disso. Peço Lula governando, exijo Lula governando, a Nação cobra Lula governando, a Nação cobra um Presidente que se interesse pelos problemas nacionais, um Presidente que se interesse em estudar as matérias referentes ao País, um Presidente que não abra mão, em nenhum momento, de ser crítico em relação às medidas sugeridas pelo seus Ministros. O Presidente Lula se deslumbra. O Ministro chega lá, diz uma coisa agradável: vamos fazer o programa tal. Ele lança o programa, empolgado com o Ministro. Daqui a pouco fracassam ele, o programa, o Ministro, todos eles juntos, porque o Presidente Lula não estuda os problemas, não se dedica. Ele não é uma pessoa de ouvir, de estudar, de ler, de se preocupar efetivamente com essa ação, que deve ser paulificante para ele, de governar, que é essencial para o País.

Estou falando aqui para três ex-Governadores: Senadores Alvaro Dias, Mão Santa e Valdir Raupp. Eu também já tive experiências administrativas. Sabemos, portanto, nós quatro o que é a necessidade de se estudar as matérias para não ficarmos comendo na mão de Ministro, de Secretários, para não ficarmos entendendo que a verdade única estaria em alguém que está nos trazendo uma solução que, muitas vezes, é falsa.

O Presidente Lula tem dois anos. Disse o Líder da Minoria na Câmara, José Thomaz Nonô, que ele chegou ao meio-dia. Daqui para frente, a caminhada é para o crepúsculo, e depois do crepúsculo vem o anoitecer. Marcos Coimbra, do Vox Populi, nosso “nostradamus de Minas Gerais”, diz que, haja o que houver, Lula já está eleito em 2006, ainda que ande sem roupa na Avenida Paulista, ele já está eleito - jamais vi uma forma tão abjeta de bajulação. Ninguém ousaria se manter respeitável intelectualmente e fazer uma afirmação tão temerária, tão capaz de amanhã comprometer o bom nome de um homem inteligente, como é caso do Dr. Marcos Coimbra. Pois com exceção dele, todos os demais brasileiros, inclusive a velhinha de Taubaté, sabem que o Brasil está mergulhado numa crise que tem o nome de crise de Governo. O Presidente Lula não governa, e, não governando, faz com que sua base se rebele e leva a Nação a experimentar todos esses momentos de angústia, de dúvida, de arrependimento e de frustração, porque, afinal de contas, Lula se elegeu em nome da esperança e não está sabendo governar em nome dos interesses maiores e legítimos do povo brasileiro.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

vários artigos de jornais.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2004 - Página 39143