Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcurso de 25 anos da "Novembrada", ato de protesto contra o regime militar levado a cabo por estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Transcurso de 25 anos da "Novembrada", ato de protesto contra o regime militar levado a cabo por estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2004 - Página 39376
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ESTUDANTE, POPULAÇÃO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), PROTESTO, DITADURA, REGIME MILITAR, AUMENTO, CUSTO DE VIDA, GASOLINA, IMPORTANCIA, HISTORIA, LUTA, DEFESA, DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS, DETALHAMENTO, PRISÃO, ENQUADRAMENTO, LEI DE SEGURANÇA NACIONAL, REGISTRO, LANÇAMENTO, LIVRO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, RESGATE, MEMORIA NACIONAL.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srª Senadoras e Srs. Senadores, hoje, dia 30 de novembro, é uma data especial para nós, catarinenses. Há 25 anos vivenciávamos em Santa Catarina, no Município de Florianópolis, um episódio marcante da história do nosso Estado e do nosso País, que foi intitulado Novembrada.

Há 25 anos, esse ato de protesto dos estudantes catarinenses, com grande apoio popular, teve uma repercussão inclusive internacional por ter envolvido o Presidente da República, à época João Figueiredo. Só para se ter uma idéia da repercussão, a sucursal do jornal A Notícia deu plantão durante uma semana para atender a agências internacionais, que pediam fotos. Aquele era o único jornal no Estado que possuía o equipamento de telefoto.

O protesto teve uma razão muito ligada ao cotidiano das pessoas: donas-de-casa e taxistas empunhavam panelas e buzinas para protestar contra o aumento do custo de vida e da gasolina, decretado uma semana antes pelo Presidente João Figueiredo. Essa manifestação dos populares foi engrossada pelos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina e acabou transformando o centro da cidade numa verdadeira praça de guerra, envolvendo numa batalha, inclusive física, o próprio Presidente e o Ministro César Cals, que à época acompanhava o Presidente João Figueiredo.

O que aconteceu a partir desse confronto Figueiredo versus estudantes ainda está para ser resgatado pelos historiadores em narrativas científicas e pelos escritores em extraordinários fatos humanos e políticos de cunho literário. O episódio, afinal, representou a afirmação da cidadania contra o autoritarismo. Ali foi lançada a semente das Diretas Já. Ali a temível Lei de Segurança Nacional foi desmoralizada. Ali a linha dura teve uma inesperada derrota política.

A Novembrada tem matéria para múltiplas leituras. Uma delas permanece para sempre na memória de toda população pelo seu significado para a afirmação da cidadania. A coragem dos estudantes no dia 30 de novembro, secundada pela audácia da população catarinense e florianopolitana no histórico ato de protesto pela prisão dos estudantes, que foi realizado poucos dias depois, no dia 4 de dezembro, legitimou a luta pela democratização e pelos direitos humanos.

O jornalista catarinense Luís Mir estava na redação do jornal El Dia, em Madri, na Espanha, no dia 30 de novembro de 1979, quando o telefone tocou. “Era alguém ligando do Brasil para informar que o Presidente tinha saído no braço com alguns estudantes”, recorda Luís Mir vinte anos depois. Foi um alvoroço, já que vivíamos um processo de abertura iniciado com Ernesto Geisel e que desembocara na anistia política, processo acompanhado com vivo interesse na Europa.

“Os jornais de Roma, Paris e Madri repercutiram os acontecimentos de Florianópolis, destacando o fato de um presidente ter se envolvido em briga de rua com estudantes, mostrando total despreparo para o cargo. Aquilo desmascarou a tentativa do regime de se reciclar, apresentando-se como democrático”, complementa Luís Mir. O depoimento mostra a extensão da manifestação, cujo aspecto mais visível e comentado foi o episódio da prisão de sete estudantes.

Esses sete estudantes catarinenses presos foram os últimos civis a serem enquadrados na Lei de Segurança Nacional em nosso País. Foram enquadrados nessa Lei de Segurança Nacional que sobreviveu, infelizmente, à própria Lei da Anistia durante um tempo, a ponto de penalizar esses estudantes.

Eles foram absolvidos por um júri militar, em Curitiba, depois de um longo processo acompanhado pela União Nacional dos Estudantes, à época presidida por, nada mais nada menos, que o nosso Ministro Aldo Rebelo. Esse julgamento militar que absolveu os estudantes catarinenses foi extremamente apertado - três votos a dois -, e hoje a Assembléia Legislativa de Santa Catarina está realizando uma sessão solene para relembrar esse fato.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem.

Terminou o tempo. Quando eu falava, o PT exigiu que eu terminasse. Quero lembrar Rui Barbosa: “O direito é igual para todos”. Quando eu estava na tribuna, o PT exigia o cumprimento do Regimento rigorosamente. Eu, agora, exijo que o Regimento seja cumprido. O PT não está precisando de mais tempo mas de mais competência, como disse o Sr. Fernando Henrique Cardoso.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, vamos respeitar a oradora que está na tribuna. A Mesa está atenta.

Srª Senadora Ideli Salvatti, por favor, peço que conclua o seu pronunciamento.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Sr. Presidente, com relação à competência, se me for dado todo o tempo necessário, mostrarei aqui cinco ou seis páginas de dados concretos da realidade, do momento econômico-social que vive o nosso País.

Quero dizer também que não solicitei o fim da palavra de ninguém e espero ser respeitada na tribuna da mesma forma que respeito a todos.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Peço a sua compreensão e solicito que conclua o seu discurso.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Terminarei, se V. Exª me permite, com toda a gentileza, de fazer o registro.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Pois não.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - No dia de hoje, 30 de novembro, está sendo realizada sessão especial na Assembléia Legislativa de Santa Catarina para relembrar esses fatos da vida do nosso Estado e do nosso País, a Novembrada. Também hoje, o jornalista Moacir Pereira lança um livro, resgatando esse fato histórico tão importante. Quero, ainda, deixar registrado aqui, até pelo fato de termos constituído a Frente em Defesa da Indústria Cinematográfica Brasileira, que um dos melhores filmes catarinenses é exatamente aquele realizado por Eduardo Paredes, que reproduz todo esse episódio.

Eu gostaria de solicitar, Sr. Presidente, que não só o texto que reproduzi aqui da tribuna como também o relato histórico de todo o ocorrido no dia 30 de novembro, registrado pela jornalista Valéria Lages, possam constar dos Anais desta sessão.

Obrigada, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Catarinenses relembram a Novembrada”;

“Anexo”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2004 - Página 39376