Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a recente visita do Presidente Lula ao Presidente da Venezuela, Hugo Chavez. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre a recente visita do Presidente Lula ao Presidente da Venezuela, Hugo Chavez. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2005 - Página 1900
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, HUGO CHAVEZ, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, PERIODO, ENCONTRO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA EXTERNA, REPUDIO, SUPRESSÃO, CARACTERISTICA, ELIMINAÇÃO, EXAME, LINGUA INGLESA, INSTITUTO RIO BRANCO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, O Globo, no dia 15 de fevereiro último, em página inteira, refere-se ao encontro recente dos Presidentes Lula e Chávez* e menciona uma frase -- que é lapidar, do Presidente venezuelano: dita, inclusive, na presença do Presidente brasileiro “Em vez de Estados Unidos e Europa, Brasil, Argentina e Colômbia”. Ou seja, o Presidente Chávez acha que não precisa de nenhum acordo com o Norte, que basta procurar unir parte dos países do Sul para resolver o imbróglio do desenvolvimento econômico dos chamados povos emergentes.

Isso é tão grave, tão sério, que me ponho a meditar sobre os outros pontos da política externa brasileira, jeca, atrasada, a começar pela minimização do ensino da língua inglesa no Itamaraty. Estão desmontando o Instituto Rio Branco, que, daqui a pouco, deixará de ser uma área de excelência da burocracia brasileira - se já não deixou, Senador César Borges.

O inglês deixa de ser eliminatório. Agora, digo a V. Exªs que é possível, em tese, um diplomata não saber falar esse idioma daqui por diante, talvez nunca mais, porque não precisará saber inglês para passar no Instituto Rio Branco. No primeiro ano, ele tem metade das aulas, de lavagem cerebral. V. Exª nunca foi convidado para fazer nenhuma palestra lá, nem eu, mas não faltam pessoas do establishment que ali vão, para tentar fazer lavagem cerebral nos jovens diplomandos em Diplomacia. A outra metade do tempo é para o estudo, propriamente dito. Isso não basta para se aprender inglês à perfeição.

No segundo ano, as aulas são apenas práticas. No meu tempo, o ensino era acadêmico; agora, é apenas prático. Metade do tempo, estágio nas divisões e em Departamentos do Itamaraty; outra metade, nas embaixadas e consulados de países de língua hispânica, a não ser que queiram ensinar inglês na Guiana Inglesa, onde se fala um inglês que não é o ideal.

Então, não se fala inglês no Rio Branco, não se aprende esse idioma no estágio, e o primeiro posto é África ou América do Sul. Portanto, é possível, em tese, que alguém se diplome Terceiro Secretário e chegue a Primeiro Secretário, sem manejar corretamente a língua inglesa.

No fim de semana, assisti a um genial filme, dirigido por Steven Spielberg, “O Terminal”. É a história de um habitante de um suposto país, Cracovia. Tom Hanks, ator de tanta excelência, num magistral desempenho, sofre as piores barbaridades nas mãos de um boçal e insensível inspetor da alfândega norte-americana. A Cracovia estava em guerra civil e, de repente, deixou de existir para os Estados Unidos. Como o cravoviano não sabia falar inglês, simplesmente passa por todos os vexames possíveis e imagináveis. Homem de inteligência superior - que, inclusive, aprendeu o inglês -, passou a crescer, a ter certo status naquele mundinho interno do Aeroporto John Fitzgerald Kennedy.

O Ministro Celso Amorim não pode achar necessário exigir inglês fluente de motoristas que estão sendo contratados para uma cúpula de países árabes, que se realizará brevemente no Rio de Janeiro - a exigência lá, Senador Jefferson Péres, é de inglês fluente para os motoristas -, e despisciendo para os diplomatas. Ou seja, é uma política externa que, sem dúvida, vai redundar em prejuízos econômicos para o País.

Hoje em dia, educação é política econômica, sim; saúde é política econômica também. Ao se poupar o possível doente, está-se economizando dinheiro da Previdência Social. A prevenção é fundamental. Então, temos que entender política externa, num mundo globalizado, como política econômica também. Fico espantado em ver como estamos entrando para um terceiro-mundismo que não vai levar a lugar nenhum.

A preocupação hoje, no mundo e nos Estados Unidos, é de uma possível corrida armamentista entre Colômbia e Venezuela, sendo a Venezuela armada pelo Brasil. Isso é de um ridículo tão atroz, tão grande, de uma cafonice tão determinada, tão suprema, que às vezes dá certa vergonha estarmos vivendo este momento. Isso tudo não rende frutos negativos para este Governo. Ainda. Renderá frutos negativos para os próximos governos que virão, porque significará, sem dúvida, um olhar de desconfiança em direção ao Brasil, um olhar de pessoas supostamente maiores de idade, entendendo que o Brasil não seria ele próprio um país de maior idade.

Portanto, imagino, Líder José Agripino, que é nosso dever...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não sei se poderei, Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Serei muito breve.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Infelizmente, nobre Senador Arthur Virgílio, três Senadores que se inscreveram para uma breve comunicação já perderam a oportunidade em função da sobrecarga de tempo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Lamento, Senador Eduardo Suplicy.

Encerro, dizendo que a proposta que fiz hoje ao PDT e ao PFL é a de que entremos em outra fase de oposição ao Presidente Lula, que façamos uma avaliação muito crua, muito dura, muito rígida de cada dirigente, de cada setor, de cada Ministério, de cada ato, para estarmos à altura do que espera de nós a sociedade brasileira.

Hoje, por exemplo - o tempo é muito exíguo -, tentei falar um pouco sobre política externa. Tenho muito que dizer. O debate será bonito na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, e vamos fazê-lo também neste plenário.

Por hora, devo dizer que não está sendo progressista, até porque é tola; não está sendo avançada, até porque é de recuo; não está sendo inteligente, até porque é estúpida, a política externa praticada desse jeito, terceiro-mundista e jeca-tatu como o Presidente Lula a vê.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2005 - Página 1900