Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Repercussão do pronunciamento realizado pelo Presidente da República em visita ao Estado do Espírito Santo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Repercussão do pronunciamento realizado pelo Presidente da República em visita ao Estado do Espírito Santo.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho, Marcelo Crivella.
Publicação
Publicação no DSF de 01/03/2005 - Página 3420
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, NEGLIGENCIA, CORRUPÇÃO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), CRIME, PREVARICAÇÃO.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ALEGAÇÕES, TENTATIVA, DESEQUILIBRIO, ESTABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, PROTESTO, PREVARICAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTRADIÇÃO, EXERCICIO, OPOSIÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, NOTA OFICIAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, MESA DIRETORA, VOTO, CENSURA, SENADO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, DENUNCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, AUTORIA, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), SOLICITAÇÃO, ENQUADRAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIME DE RESPONSABILIDADE.
  • LEITURA, TRECHO, COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREJUIZO, REPUTAÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não fosse o episódio da leviandade e do possível acobertamento de um caso de corrupção, poder-se-ia dizer que o Presidente Lula é um figuraço. Afinal, ele chama o Presidente do BNDES de “companheiro”! Isso explica bem os desacertos e a falta de rumo do seu chamado governo.

O Presidente do PT, meu Colega de Câmara e de Congresso, José Genoíno, em nota, divulgada on line, pela Agência Estado/Broadcast, às 15h54, disse que setores da Oposição tentaram criar clima de instabilidade.Ou seja, o Presidente Lula ter supostamente prevaricado ou ter supostamente mentido não gera desestabilização. Isso tudo navega pelos rios da normalidade, Senador Marco Maciel. O que desestabilizaria seria o comportamento normal - eu já daria a cronologia da normalidade aqui -, a exigência de que esse episódio não passe em branco.

Senador Alvaro Dias, no dia 25/05/99, o mesmo atual Presidente do PT, José Genoíno, à época Líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara, se junta ao ilustre e prezado Deputado Miro Teixeira e à ilustre e prezada Deputada Luiza Erundina e entram, junto à Câmara, com um requerimento, pedindo o enquadramento do Presidente Fernando Henrique Cardoso em crime de responsabilidade - isso em 25/05/99. Portanto, àquela época, não desestabilizava; àquela época, isso significava o correto, o justo.

Esse maniqueísmo vai afundar o PT; esse maniqueísmo é responsável pela derrota do PT na Câmara; esse maniqueísmo é responsável por este desgoverno; esse maniqueísmo é responsável pelo Presidente se imaginar tão blindado que pode dizer as coisas estapafúrdias que disse no Espírito Santo, imaginando que bastam manobras palacianas para se abafar o caso!

Sr. Presidente, aqui, passo a fazer uma certa cronologia das providências que tomamos, para, em seguida, no tempo que tenho nesta tribuna, comentar, junto com a imprensa brasileira, como foi visto esse episódio pela Nação.

As tolices e/ou leviandades foram ditas no dia 24 de fevereiro de 2005. Nesse mesmo dia, respondi, com uma nota, em nome da minha Bancada - peço a V. Exª que a enderece aos Anais da Casa -, exigindo do Presidente providências, esclarecimentos, retratação, enfim, qualquer coisa que cheirasse a bom senso e à hombridade.

No mesmo dia 24, o Líder do meu Partido na Câmara, Deputado Alberto Goldman, expede também uma nota, que também peço a V. Exª que enderece aos Anais da Casa. Aliás, Sr. Presidente, peço que mande colocar nos Anais a declaração do Presidente José Genoíno, dizendo que gera desestabilização pedir enquadramento de Presidente em crime de responsabilidade, e a referência a ele, pedindo que se enquadrasse o Presidente Fernando Henrique, em 1999, em crime responsabilidade. É sempre bom que os fatos sejam registrados porque os nossos netos, os nossos bisnetos vão estudar História e é bom aprenderem que a incoerência, às vezes, marca como ferro.

No dia seguinte, 25 de fevereiro, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista coletiva à imprensa brasileira, emite também uma nota se defendendo e exigindo do Presidente - perplexo como estava, homem de bom senso como sempre foi - que se retratasse ou esclarecesse esse episódio. E, se houvesse culpados a denunciar, que os denunciasse; se quisesse aprofundar as investigações, que fizesse o aprofundamento das investigações.

Ainda no dia 25 de fevereiro, requeri, desta tribuna, um voto de censura do Senado Federal ao Presidente Lula. Ou seja, é muita coisa para abafarem, Sr. Presidente. É muito difícil! Quando se trata de um fato ou dois ainda dá para se tentar fazer aquilo que, no Norte, quando se pratica política baixa, se chama “jabaculê”. Mas não dá para fazê-lo com 20 providências que estamos cobrando, em nome da Nação.

Requeri um voto de censura contra o Presidente Lula. A Mesa, de maneira muito decente, imediatamente encaminhou o pedido à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Lá, o Presidente daquela Comissão, o Senador Antonio Carlos Magalhães, haverá de escolher um Relator, e essa matéria vai tramitar.

Advirto que não aceitamos nada diferente do que colocar essas matérias em votação. E o mesmo se aplica, Senador José Agripino, em relação ao requerimento de convocação do Ministro José Dirceu pelos Senadores Antero Paes de Barros e Jefferson Péres. Será essa a minha posição na reunião de Líderes, amanhã, com o Presidente Renan Calheiros. Se o Governo tem número, que derrube a votação da matéria no número. Fora isso, teremos de votá-la e veremos “quem é que tem café no bule”. Essa é que é a verdade.

Juramos de pés juntos para o Ministro - já estou jurando - que, se S. Exª vier aqui para discutir as tolices que o Presidente Lula falou e as leviandades que o Presidente Lula fala, juro a S. Exª, de pés juntos, que não pergunto pelo Waldomiro. O medo de vir aqui é porque, se ele vem para discutir meteorologia, ele pensa que, a qualquer pretexto, vamos dizer: “Muito bem, acabou meteorologia. Qual é a sua ligação com Waldomiro?” Isso é que apavora o Ministro José Dirceu. Já estou assegurando que, nesse caso, S. Exª viria isento de Waldomiro. Nós apenas “lularíamos”; não “waldomiríamos”.

Muito bem, no dia, 25, o Líder do meu Partido na Câmara, entra com uma denúncia junto à Mesa daquela Casa, precisamente junto ao Presidente Severino Cavalcanti da Câmara dos Deputados, pedindo enquadramento do Presidente Lula por Crime de Responsabilidade.

E aqui fico vendo as voltas que o mundo dá. Todo esse desprezo que, durante a campanha e na pós-vitória de Severino, o PT mal disfarçava em relação a Severino Cavalcanti, toda a arrogância do PT em relação a seus aliados, não respeita nenhum dos seus aliados, trata todos como coadjuvantes e, portanto, atores de segunda classe em relação ao processo político que eles, de maneira brilhante, de maneira absolutamente fulgurante, estariam liderando no País. Muito bem, caíram nas mãos de Severino Cavalcanti. O Presidente Lula vai comer milho nas mãos do Presidente Severino Cavalcanti. É esse o ponto a que chegou este Governo! Aí está o ponto de desencontro, esse é o ponto de falência, esse é o ponto de comprometimento em relação à sua seriedade e ao seu compromisso ético a que chegou o Presidente Lula junto com esse seu governo.

Repito, Sr. Presidente, para ficar bem claro: estão comendo milho nas mãos do Presidente Severino Cavalcanti. É hora, portanto, de discutir a reforma ministerial, ministério para cá, ministério para acolá, um, dois ou vinte ministérios, não entendo dessa conta. Mas quero saber se é verdade ou não que estão comendo milho nas mãos do Presidente Severino Cavalcanti de Oliveira e que, portanto, o Presidente Lula está proibido de desdenhar do Presidente Severino Cavalcanti agora. Está proibido, não pode desdenhar do Presidente Severino. Tem, agora, até de elogiar o Presidente Severino, e o PT também, o PT tem que elogiar e dizer que o Presidente Severino Cavalcanti é um estadista à altura de Winston Churchill, por exemplo. Não pode ser diferente, sob pena de Severino ficar mais indisposto ainda com a tese do arquivamento, do embargo de gaveta ao requerimento do Presidente e do Líder do meu Partido, Deputado Alberto Goldman.

Sr. Presidente, vimos, hoje, o Líder do PFL anunciar providências conjuntas do PFL e do PDT, que serão apoiadas e subscritas pelo PSDB em nova feição de interpelação judicial ao Presidente da República. O Presidente e o Vice-Presidente do Partido também assinarão esse requerimento. No tocante ao PSDB, se nos for dado o requerimento, já assina o Vice-Presidente do Partido, Senador Alvaro Dias, que está presente no plenário neste momento.

Hoje, também, o PSDB anuncia que ingressou, no Supremo Tribunal Federal, com uma interpelação, para que o Presidente Lula se retrate ou esclareça o fato de uma vez por todas. Além disso, o Partido também anuncia, pelo Presidente Eduardo Azeredo, Senador e colega nosso, que está indo à Procuradoria-Geral da República, ou seja, ao Ministério Público, pedindo ampla investigação desse episódio, de modo a que não haja a menor possibilidade de conseguir abafar todas essas manifestações que são feitas em nome de uma Nação perplexa e indignada - não sei se mais perplexa ou se mais indignada -, mas, com certeza, uma Nação profundamente perplexa e profundamente indignada, Senador José Agripino.

Agora, o que pensa a Nação? Na última edição da revista Veja que está circulando nas bancas, André Petry diz:

Diante de uma platéia formada por 400 áulicos, Lula contou que, ao assumir o governo, um “alto companheiro” mostrou-lhe as vísceras de uma “instituição” que fora levada à “quebradeira” devido ao “processo de corrupção” ocorrido em “algumas privatizações” feitas na gestão de Fernando Henrique. Acrescentou que, para não “achincalhar” a gestão do antecessor, orientou o “alto companheiro” a “fechar a boca”. Ao dizer que tomou conhecimento de um crime e decidiu ocultá-lo, Lula está sujeito a ser processado por prevaricação ou por crime de responsabilidade. Nada disso deve acontecer, dada a ilimitada generosidade com que as falas do Presidente têm sido encaradas pela opinião pública. Mas isso não encerra a questão.

Pensei que André Petry fosse apenas jornalista, mas vejo que também é psicanalista - não sei se com diploma, mas certamente com todo o physique de rôle para atuar nesse setor. E aqui vem o xis da questão, Senador José Agripino, fora a excitação mental que toma conta do Presidente de vez em quando e cujas razões desconheço. André Petry também refere-se à instituição nacional do puxa-saquismo e pergunta: “Não apareceu um único assessor, amigo, aliado, conselheiro para avisá-lo de que estava dizendo uma tremenda tolice em público?” Mais ainda, a platéia de áulicos aplaudiu o Presidente, entendendo que não havia nada de mais.

Continua André Petry:

Lula é vítima de uma ânsia incontrolável para rebater qualquer crítica lançada pelo ex-Presidente Fernando Henrique. Com isso, comete o erro imperdoável em gente experiente como ele de fazer política com o fígado.

Complementa o brilhante articulista:

Se até encobriu um crime para não “achincalhar” o governo antecessor, só o fígado explica que tenha agora chegado a ponto de confessar publicamente uma postura ilegal apenas para achincalhar o Governo antecessor...

André Petry diz algo grave - e esta questão me foi feita por pessoas do povo nas ruas de Manaus: “Se o Presidente é capaz de acobertar a corrupção no governo de um adversário, imaginem o que não faria para esconder a corrupção na gestão de algum Ministro amigo do peito dele?”

Ou seja, o Presidente está-se colocando sob suspeita e só lhe cabe mesmo um pedido de desculpas ou apontar de maneira frontal os eventuais corruptos nesse processo de privatização. Ele tem que sair da toca, parar de se blindar e de mandar pessoas falarem por ele e dar uma satisfação à Nação, porque este caso é grave, muito grave, é um dos mais graves de que já tomei conhecimento ao longo da minha militância, modesta mas muito intensa, na vida pública deste País.

Senador Alberto Silva, a jornalista Dora Kramer, de Estado de S. Paulo, diz:

“A massa nem percebe, isso não sai no Jornal Nacional”, é a frase que mais ou menos resume os revides a cobranças por alguma coerência e consistência naquilo que diz o Presidente.

Pois muito bem, agora Lula produziu uma história de incontinência verbal com começo, meio e fim e de tradução simplificada: disse que tinha ouvido uma denúncia de corrupção mas, em nome do País, pediu ao denunciante que ficasse quieto .

Quero que tudo vá para os Anais, quero entulhar os Anais com essas coisas. É preciso que a gente respeite o direito de estudar a história dos que virão depois de nós.

Temos aqui o Estado de S. Paulo:

Passou dos limites.

Anteontem, Lula disse que “não vamos permitir que, por atitudes impensadas e irresponsáveis, a gente jogue a esperança desse povo no limbo...”

Meu Deus, se isso é a retratação, é pouca enquanto retratação. É muito pouca. Se isso, porventura, é a confissão de que ele próprio se confessa irresponsável, fico realmente a cada dia mais estarrecido e mais perplexo. Volto a dizer, Sr. Senador José Agripino, estarrecido e perplexo, mais até do que indignado porque sinto uma falta de limites enorme.

Folha de S.Paulo:

Discurso irresponsável.

(...) num discurso eivado de intenções eleitorais, mas que acabou por se voltar contra ele próprio (...)

Ao que parece, o Presidente ainda não assimilou por inteiro a importância do cargo que ocupa e não aprendeu que as palavras do primeiro mandatário têm um peso bastante diferente das “bravatas” de um líder sindical em campanha. O mínimo que se pode esperar é que o Planalto forneça explicações claras sobre o que foi dito na quinta-feira.

Jornal do Brasil. Rodrigo de Almeida, Editor de Opinião do JB, resume, no final de seu artigo: “Talvez seja o modo que encontrou para compensar a falta de rumo”. E diz o jornalista: “Eis o seu programa de governo: uma pletora de palavras”.

Sergio Prado, Jornal do Brasil: “Mas o governo do PT é assim mesmo. Não é necessário nem adversário para complicar um jogo ganho.”

Temos aqui Eliane Catanhede, Folha de S.Paulo:

Lula perdeu uma ótima chance de ficar calado. Quando o Presidente é boquirroto, fala cobras e lagartos. E é vítima do próprio veneno.

Clóvis Rossi:

Silêncio.

Ou seja, confessou um crime.

Curioso o mundo, o Papa está condenado ao silêncio, o que muitos lamentam. Mas, em outras paragens, o lamento está dado pela incontrolável verborragia do Presidente.

Gazeta Mercantil:

Já o crime de prevaricação consiste em (o funcionário público, inclusive o Presidente da República) “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. A pena é de detenção de três meses a um ano, mais cobrança de multa.

Vinicius Torres Freire, Folha de S.Paulo:

É sentimento na elite que Lula dobrou o cabo da última esperança com o discurso em que quis se fazer de magnânimo esperto e disse acobertar corrupção no governo FHC; que seu despreparo pode produzir crises sérias a troco de nada. Lula é imensamente popular, mas muita gente graúda já acredita que até 2006 há tempo para dar um jeito nisso.

Essa história de popular... Não estamos tratando de eleição! Mais popular do que o Lula aqui, para nós todos, é a Juliana Paes. Não estou discutindo popularidade; estou discutindo seriedade, estou discutindo compostura, estou discutindo postura pública. Não estou discutindo aqui se é popular ou se não é, até porque não é jogador de futebol ou de basquetebol, não é nadador olímpico. Na eleição, se afere popularidade; durante o governo, tem-se de aferir a seriedade, o compromisso, a sobriedade do Presidente.

Em “A natureza do escorpião”, no site “Primeira Leitura”, Reinaldo Azevedo critica que o Ministro Márcio Thomas Bastos fala da nota de Fernando Henrique Cardoso e se refere, de uma maneira muito dura, a todo esse episódio, dando espaço a tudo aquilo que foi dito. E a Oposição falou praticamente sozinha, a partir do dia 24 último, quando o Presidente Lula usou da palavra. PT tenta esvaziar confronto.

O Ministro José Dirceu, no dia 25, disse de Buenos Aires que o feitiço poderia virar contra o feiticeiro. E aí reforcei a idéia de que era prevaricação e não mentira. Ou seja, o Ministro José Dirceu supostamente saberia de alguma irregularidade nesse episódio e estaria dizendo: já que nos estão incomodando, vamos dar nomes aos bois. S. Exª precisaria vir a esta Casa. Aliás, Senador José Agripino, recomecei a colecionar as assinaturas para a CPI do Waldomiro outra vez. Peço a V. Exª que encaminhe o documento à Bancada do PFL. Queremos tratar de Waldomiro na CPI do Waldomiro; queremos tratar de privatização onde eles quiserem; queremos tratar do que eles quiserem onde quiserem. Agora, o importante é que tenhamos o Ministro da Casa Civil aqui, dando explicações, conforme sugeriram os Senadores Antero Paes de Barros e Jefferson Péres na sessão da última sexta-feira.

Mas aqui vem o PT, que não consegue ser humilde de jeito nenhum, é impressionante!

José Genoino afirma que o presidente Lula não acusou Fernando Henrique de corrupção e que a oposição está se aproveitando de suas declarações para criar artificialmente um impasse institucional.

Eles são cobras criadíssimas nisso; entendem de impasse institucional como ninguém.

Uma pessoa cujo ideário econômico não bate com o meu, mas que se portou com enorme honestidade nesse episódio todo é o ex-Presidente do BNDES, Carlos Lessa. Ele não concedeu um só minuto à leviandade do Presidente. Primeiro, afirmou ter falado em descuido, em políticas equivocadas e não em corrupção - e foi enfático - ou em falência do Banco. Disse: “Nunca o Presidente mandou que eu não falasse (sobre a situação do BNDES)”. Ou seja, Lula tem que ser processado sozinho, não há de contar com a companhia honrada do ex-Presidente do BNDES.

Em Brasília, Dr. Geraldo Magela diz que o PT está perdendo tempo, já se lançando candidato e fala de Waldomiro Diniz. Afirma que as denúncias de que teria recebido para a campanha eleitoral mais de R$100 mil, intermediados por Waldomiro Diniz, estão superadas. “A população não acreditou naquilo, porque não há provas.” Impressionante! É de impressionar! Então, ele diz que Waldomiro não gosta dele.

A isto se reduziu um pouco esse Partido: à idéia da conveniência - quando interessa, quer apurar; quando não interessa, quer engavetar -, à idéia de fazer fidelidade partidária - e concedo já o aparte ao Senador Garibaldi Alves Filho... Meu Deus, o Presidente Lula, hoje em dia, estimula seus Líderes e o Presidente de seu Partido a dizerem que agora querem a fidelidade partidária, depois de terem promovido um festival de enfraquecimento artificial de Partidos, como fizeram com o meu. Meu Partido elegeu, mais ou menos, 70 Deputados e agora possui cerca de 50 apenas. Tiraram 22 pessoas mais fracas do meu Partido e as distribuíram entre os partidos pequenos, que incharam. Não deixaram de ser pequenos, mas agora se voltam contra o Presidente Lula com a faca no peito. E o Presidente é obrigado, Senador Almeida Lima, a baixar a cabeça, pura e simplesmente.

Concedo um aparte ao Senador Garibaldi Alves Filho; em seguida, encerrarei o meu discurso.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Arthur Virgílio, não parece a V. Exª que as palavras do Dr. Carlos Lessa, de certa maneira, esvaziam um pouco o que está sendo discutido? Ou seja, que retiram a dimensão de gravidade que poderia haver no fato de o Presidente supostamente ter dito que estariam sendo acobertados fatos graves? O próprio Presidente do BNDES disse que foram políticas equivocadas. Mais do que uma resposta, do que uma participação, contestando as palavras de V. Exª, faço uma pergunta.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Responderei com muita honra, logo a seguir.

Líder Garibaldi, seu raciocínio é inteligente. A ser verdade, primeiro, há que se considerar que Lula virou um tutelado de Carlos Lessa, que já nem é membro do Governo, ou seja, que Carlos Lessa, para ir ao vulgo, estaria quebrando um galho de Lula - mas não quero ir por aí. Segundo, não podemos desmentir a gravação, pois não havia nenhum sósia, nenhum dublê do Presidente Lula - Brad Pitt estava ocupado em Hollywood, naquela hora, então não havia nenhum dublê à mão -, e o fato é que vai ficar uma pergunta no ar. Digamos que se resolva essa questão dos processos, dizendo-se “o outro esvaziou...”. Pergunto: qual é a ação, para reavermos aos cofres públicos o dinheiro gasto com essa viagem do Presidente? O que se pode fazer com um homem que, com a feição transtornada, começa a dizer aquilo que depois é desmentido pelo Presidente do BNDES da época? Que situação seria a dos governados, a dos súditos, a nossa, a presenciar um Presidente que, no fundo, não disse nada de mais, porque não fala nada de mais; não disse nada de sério, porque não fala nada de sério; não disse nada de conseqüente, porque não fala de conseqüente.

Ou seja, essa sua linha de defesa, Senador Garibaldi, muito inteligente, muito leal, serve para um réu no júri. V. Exª o absolveria, ele não iria preso, mas não o salva da desmoralização política. Essa é a minha opinião, mas louvo a lealdade e o espírito de companheirismo com que V. Exª acode figuras que nem sempre têm sido tão corretas com V. Exª.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerro, Sr. Presidente. Para mim, estamos hoje correndo o risco de termos um Presidente irrelevante, sem peso. Outro dia aconteceu um episódio: o Presidente Lula falou uma dessas coisas absurdas em relação à economia, e a Bolsa nem se mexeu, até porque, logo a seguir à declaração do Presidente, veio o Ministro Antônio Palocci e corrigiu. Então, a Bolsa leu assim: Lula pode falar a tolice que quiser; quem não pode falar tolice, neste momento, sobre economia é o Ministro Palocci. Corremos o risco de ver o Presidente tornar-se irrelevante, um mero relações-públicas de seu próprio Governo, um mero passeador pelo País, um mero eterno candidato, um mero representante de um Governo que Sua Excelência não lidera, um mero representante de um movimento político que Sua Excelência também teria deixado de liderar. Tenho muito medo disso.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª me permite um aparte rápido?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu queria respeitar o tempo, mas, se a Mesa conceder a V. Exª o direito, ouvirei V. Exª com muito prazer.

O SR. PRESIDENTE (Juvêncio da Fonseca. PDT - MS) - A Mesa não se opõe, mas pede que seja rápido, o mais lacônico possível, porque queremos atender toda a lista de oradores dentro do tempo regimental.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Pois não.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Então, é uma honra para mim conceder o aparte a V. Exª, Senador Marcelo Crivella.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª, quando ocupa essa tribuna, encanta a nós todos, faz o seu papel de Oposição de uma maneira brilhante. Todos somos admiradores de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, é bondade, generosidade de V. Exª em relação a mim.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Não é bondade, mas a realidade. V. Exª, no discurso de hoje, foi um pouco mais implacável que sua alma...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Cristã.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - ... sua alma cristã costuma ser.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Jesus expulsou os vendilhões do templo, V. Exª se lembra do episódio bíblico.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Sem sombra de dúvida, mas, já que V. Exª citou Jesus, gostaria de lembrar que ele era o grande mestre da arte de conhecer o que estava por trás de um olhar, a intenção da alma. E a intenção da alma talvez fale mais do que as palavras. As palavras, certas ou erradas, saem da boca, perdem-se no espaço e, sim, dão muitas interpretações. Mas a intenção das palavras vale mais. O Presidente é um brasileiro que se expressa, principalmente diante da multidão, de uma maneira aberta, sem defesa. No entanto, há - V. Exª sabe disso - um movimento para que o Presidente leia discursos apenas escritos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - A Nação se tranqüilizaria com isso.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Pois é, mas, sem dúvida alguma, perderíamos a expressão do grande líder popular, do líder que veio do sindicato, que mobilizou multidões e que chegou aonde chegou. Penso que não resta dúvida alguma à Nação quanto à honestidade do Presidente Fernando Henrique, que é uma figura de orgulho nacional, incólume. Sobre ele não pegará qualquer pecha de roubo ou de malversação de recursos públicos, embora que sob seus liderados porventura tenha havido - não sei. Assim como também no Presidente não vai pegar, com certeza, a pecha de que seja um sujeito venoso ou de que fale com segundas intenções. O Presidente é aberto e tenho certeza de que V. Exª sabe disso. Para concluir, penso, Senador Arthur Virgílio, que esse debate é rico - aqui no Plenário é fantástico! É um tema recorrente na imprensa. Acredito que na consciência nacional não está bem resolvido. De repente, sem qualquer partidarização política, poderíamos ter uma comissão de revisão não para ver os personagens, mas para ver a história: para ver se o sistema de privatização, que continua hoje no País, foi benéfico. Sabemos hoje que nosso índice de inflação está realmente atrelado aos preços que estão indexados. Indexação essa que retiramos dos salários, mas que deixamos nos preços concedidos. Talvez sobre essas coisas caiba o debate, mas tenho certeza de que V. Exª, com a experiência política e com a generosidade que tem saberá distinguir as coisas e separar a água do vinho. Parabéns, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço o aparte de V. Exª.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo que o Senador Marcelo Crivella, inteligente, como também o foi o Senador Garibaldi Alves, de qualquer maneira não deixa de ser paternal em relação ao Presidente. O Presidente, então, não seria um homem preparado para a responsabilidade de falar sem ser por matéria lida. Tratar-se-ia, portanto, no caso dele, apenas de um pobre pecador.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, Inciso 1º e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Broadcast” e notas diversas


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