Discurso durante a 18ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Sugestões para o combate à seca no Nordeste e no Rio Grande do Sul.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA AGRICOLA.:
  • Sugestões para o combate à seca no Nordeste e no Rio Grande do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2005 - Página 4910
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CALAMIDADE PUBLICA, SECA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), SEMELHANÇA, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, LIGAÇÃO, BACIA HIDROGRAFICA, BENEFICIO, IRRIGAÇÃO.
  • DETALHAMENTO, PROPOSTA, APROVEITAMENTO, RIO, AFLUENTE, CONSTRUÇÃO, BARRAGEM, NASCENTE, CRIAÇÃO, RESERVATORIO, POSSIBILIDADE, ASSENTAMENTO RURAL, MARGEM, PRODUÇÃO, AGRICULTURA.
  • ANUNCIO, PROJETO, UNIÃO, PREFEITO, ESTADO DO PIAUI (PI), LAVOURA, MAMONA, OBJETIVO, PRODUÇÃO, Biodiesel, CONTRIBUIÇÃO, REDUÇÃO, GAS CARBONICO, ATMOSFERA.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é um dia daqueles em que o Plenário não está completo. Estão presentes meus ilustres colegas do Rio Grande do Sul e de Alagoas, Senador Paulo Paim e nossa querida Senadora Heloísa Helena, respectivamente.

Volto à tribuna para tratar, mais uma vez, do homem do campo. Acabo de ouvir o Senador Paulo Paim falar das dificuldades por que passa o Rio Grande do Sul, que enfrenta grande seca. Isso é quase inacreditável. Numa ocasião, o ex-Presidente Figueiredo disse que este País precisava, quando estava chovendo demais no Sul, ser inclinado para que a água fosse para o Nordeste. Agora ocorre o contrário: não chove no Rio Grande do Sul. É claro que o prejuízo deve ser muito grande.

Caro Senador Paulo Paim, jamais imaginaria que haveria seca no Rio Grande do Sul. Sempre ouvimos dizer que o Rio Grande do Sul produzia trigo e arroz em larga escala, além de soja, porque tinha água, tinha chuva, apesar de enfrentar dificuldades, às vezes, com a chuva de granizo que ocorre quando a temperatura cai.

O Rio Grande do Sul tem vários rios perenes. Pelo que me lembro da geografia do Rio Grande do Sul, independentemente das lagoas que existem por lá, há muita água, muitos rios. Quem sabe, Senador Paulo Paim, não seria o caso de repensar o trabalho de distribuição de bacias, fazendo canais de irrigação também no Rio Grande do Sul, como estamos tentando fazer no Nordeste para levar água onde não há? Quem sabe, agora, tivéssemos que repensar o Rio Grande do Sul! Eu não ia tratar daquele Estado, mas fiquei impressionado com as palavras do Senador Paulo Paim, que disse que a situação é de calamidade mesmo, semelhante à do Nordeste: o gado morrendo, a população sem água. Isso é dramático.

A sugestão é a de que se repense e se faça um projeto de distribuição de bacias. Há muita água em vários rios do Rio Grande do Sul. Em vez de pensarmos na transposição do São Francisco, que vai custar US$2,4 bilhões, poderíamos fazer, com US$200 milhões, as interligações de bacias dos rios do Rio Grande do Sul, e, talvez, não houvesse mais esse drama.

E são canais simples, não é preciso muita coisa. Canais em terra mesmo, bem construídos, levariam água como o leito natural de um rio. É apenas uma depressão no terreno não-cimentado, e a água segue pelo leito do rio. Pode-se, também, fazer um canal, cavado na terra, seguindo-se as curvas de nível e, talvez, protegendo-se as margens com plantações. Não é preciso concretar canais, nem colocar mantas protetoras. Há, ainda, as adutoras em tubulação fechada, com diversos escalonamentos de pressão. Com isso, ter-se-ia água distribuída ao longo do seu Estado, Senador Paulo Paim.

Mas volto ao meu Nordeste, já que temos de lidar sempre com o problema da seca. Vejo o meu companheiro, Senador Garibaldi Alves Filho, do Rio Grande do Norte. Tenho uma idéia diferente daquela da transposição, mas para o Estado de V. Exª, Senador Garibaldi Alves Filho. V. Exª foi Governador, e eu, Superintendente do Pólo Nordeste. Andei, no seu Estado, palmo a palmo, vi os grandes açudes, a seca, o Projeto Serra do Mel. Tivemos a oportunidade de trazer os franceses, para que, com energia solar, fosse bombeada a água do açude para a Serra do Mel. Na época, essa era uma das idéias que tínhamos.

Hoje quero tratar dos riachos do Nordeste, os chamados riachos secos. Quando chove, existe água no Nordeste, que pode ser vista do avião; jura-se que aquela região nunca ficará seca. São milhares de riachos, cuja água escorre ora para os açudes, ora para outros pequenos riachos que vão acabar no mar. Mas um riacho como esse, na verdade, é, em potencial, um grande reservatório de água, se o homem colocar a cabeça no lugar e pensar. Já fizemos uma experiência dessa no Piauí; estou falando de cadeira.

Olha-se o riacho seco, mas há água acumulada no subterrâneo, durante o período de chuva. Conheci um engenheiro, um verdadeiro sábio, o Dr. Gontijo, que fez um livro sobre o aproveitamento dos riachos secos a partir de uma barragem de cabeceira.

O que é uma barragem de cabeceira? O riacho nasce de uma depressão no terreno, seguramente, senão a água não correria. Suas águas deslocam-se do ponto mais alto em direção ao mais baixo. Na nascente, há uma enorme depressão, onde a água vai-se juntando; forma-se, então, o primeiro filete, que vai engrossando e dá origem ao riacho. Quando chove muito, o riacho é caudaloso, parece um rio. Geralmente, a depressão é de dois quilômetros; a declividade é mínima, pequena. Pode-se construir, no começo do filete d’água, uma barragem simples, como uma barragem de estrada - se esta apresenta uma largura de sete metros, o aterro é de sete metros. No lugar mais profundo do riacho, é possível subir um pouco mais. São 50 metros, no máximo, de um aterro de sete metros de altura, que se faz, com as máquinas e rolos compressores, facilmente, camada por camada.

Tem-se, então, o miolo do riacho barrado nos 50 metros. Continua-se com o aterro-barragem até o ponto mais alto da depressão, e, com isso, forma-se algo como uma estrada de uns quatro quilômetros de comprimento, que, na verdade, é uma barragem que segura a água de uma depressão de dois por dois quilômetros ou três por três. Sabem V. Exªs quanto se acumula numa área como essas? Milhões de metros cúbicos d’água! Quatrocentos milímetros chove no Nordeste, não há dúvida; no entanto, chove trinta hoje, cinqüenta amanhã, e perde-se a safra, porque o intervalo entre uma chuva e outra é de 20 ou 25 dias.

No terreno em que se infiltra a água, 25% evaporam, 25% ou 30% correm no riacho, se não houver a barragem, e o resto se infiltra. Pelo menos 50% da água que caiu se infiltra, no riacho e na cabeceira.

Agora vamos olhar o enorme reservatório de água que existe no riacho seco. Para isso, é preciso segurar os filetes de água que correm em direção ao mar. Até uma profundidade de dois metros, aproximadamente, os filetes estão correndo, e o riacho, secando. Se, lá na ponta, antes de o riacho chegar a outro rio - talvez 20 quilômetros depois de sua nascente -, for cavada uma vala na largura do riacho e colocada uma lona plástica, a água dos filetes será barrada e não escorrerá mais. Colocando-se poços amazonas...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Alberto Silva, V. Exª dispõe de mais cinco minutos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Vou acabar em cinco minutos, Sr. Presidente. Gastei um pouco do tempo com seu Estado e fico muito feliz com isso.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu lhe agradeço.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Barrando-se o fim do riacho com uma manta plástica, tem-se um reservatório de 20 quilômetros de extensão por 50 de largura. Isso é água de verdade!

O que se faz? Coloca-se um poço amazonas e uma bomba solar de 500 litros por hora, e traz-se a população para a beira do riacho, para plantar feijão. Por volta de três mil famílias podem ser colocadas ao longo do riacho, para cultivar feijão e mamona, no verão, na seca, aguando a plantação com regador, já que é só um hectare, 100 metros. A família, que tem água na caixa, tirada do poço cacimbão com energia solar, molha a plantação como quem molha uma horta em casa. Por que não? Monta uma barraca e vai ganhar dinheiro na beira do riacho. Um quilo de feijão verde na feira vale até R$2,00 no tempo da seca.

Então, essa é uma sugestão que procurarei desenvolver. Trarei o desenho e o distribuirei aos companheiros do Senado e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, criada recentemente. Não faço parte dela, mas gostaria de pelo menos oferecer minha experiência, como essa do Piauí. Quem sabe, com isso, comecemos a trabalhar o semi-árido de outra forma!

Para encerrar, Sr. Presidente - perdoe-me, mas preciso de só mais um minuto -, estamos com um megaprojeto de plantio de mamona no Piauí, mas baseado na Associação dos Prefeitos. São 100 prefeitos que já aderiram, e cada Prefeitura tem mil lavradores que plantam roça. Então, estamos dirigindo para aquele projeto mamona e feijão - mamona para o biodiesel e feijão para alimentar a população. São 100 mil famílias. Vamos trabalhar esse fim de ano.

Lembro que 100 mil hectares de mamona roubam da atmosfera 200 mil toneladas de CO². São duas toneladas por hectare/ano que um pé de mamona tira do ar. É bom que o pessoal de Kyoto saiba disso. Se vamos plantar 100 mil hectares de mamona e feijão no próximo ano, no Estado do Piauí, teremos direito a um ressarcimento, porque não é brincadeira que 200 mil toneladas de CO² sejam tiradas do ar, quando sei que quando queimo uma tonelada de diesel mineral gero duas toneladas de CO². Então, o meu Estado gasta 15 mil toneladas/mês, as nossas roças de mamona tiram todo o CO² produzido pelo diesel mineral do Piauí queimado num ano.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2005 - Página 4910