Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homengem ao Dia Internacional das Mulheres.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homengem ao Dia Internacional das Mulheres.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2005 - Página 4491
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MENSAGEM (MSG), AUTORIA, VICE-PREFEITO, MUNICIPIO, CAMPO GRANDE (MS), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ANALISE, INFLUENCIA, PARTICIPAÇÃO, NATUREZA POLITICA, PROCESSO, CONSTRUÇÃO, CIDADANIA, MULHER.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, escolhi uma forma talvez original de homenagear a mulher pelo seu Dia. Ao invés de palavras, que o vento pode levar, o gesto coerente e conseqüente de me manter em oposição aos desmazelos deste Governo.

Sr. Presidente, uma reforma ministerial, em qualquer governo que se entenda por governo, visa a enxugar a máquina, a poupar despesas, a racionalizar os trabalhos administrativos, a rejuvenescer o Poder Executivo, a dar a idéia de recomeço e revigoramento.

Estamos assistindo a um espetáculo lamentável de fisiologia. O Presidente Lula não fala em nomes ilustres; Sua Excelência não fala em ninguém de fora dos Partidos; Sua Excelência diz apenas que o Partido tal merece uma quota de tantos, outro Partido merece uma quota não sei de quantos, mas quem for contemplado com uma quota menor tem direito a uma estatal, a uma estatal polpuda, uma estatal de bilhões. É isso que estamos vendo.

Está hoje no jornal O Globo, 8 de março de 2005, uma matéria interessantíssima - A política está virando fazenda -:

PP já pede ‘porteira fechada’.

Além de mais Ministérios, Partido quer todos os cargos das Pastas que lhe couberem.

Outra:

Lula busca saída para agradar ao PP.

Não se trata de nada republicano nesse episódio. É o PP confundindo a coisa pública com fazenda. Quer o partido porteira fechada: quem está fora não entra, quem está dentro não sai - e o Presidente Lula achando que isso é natural. O Presidente, mais uma vez abdicando, renunciando ao seu compromisso de renovar a vida pública do País.

Ainda tenho aqui, Sr. Presidente, algo que chama a atenção, informando que crianças indígenas morrem com um ano de idade. Não dá para dizerem que são crianças vitimadas pelo Governo anterior. Morreram com um ano de idade, com seis meses, com dois anos, de fome, de fome, em um Governo do PT, que seria um Governo voltado para o social; morreram de penúria, de abandono. Foi completamente revogado o trabalho feito pela Funasa recentemente, até o Governo passado, que era de atenção máxima às comunidades indígenas.

Temos uma notícia, em O Globo de hoje, que diz:

Pedreiro morre em frente à agência do INSS.

Trabalhador passa mal depois de 12 horas na fila, em Padre Miguel, no Rio, para dar entrada no pedido de aposentadoria.

Espero que não culpem o pedreiro por haver morrido só para boicotar o Governo Lula. Espero que não cheguem a esse desplante, a esse ponto.

Ao falar ainda da coisa pública e homenageando a mulher, em respeitar a mulher, respeitar os filhos dela, respeitá-la e respeitar os seus esposos, respeitar o seu direito de ver o dinheiro público aplicado com correção, aqui, temos um jornal chamado Primeira Página, que circula em São Carlos, São Paulo, e na região do Entorno daquele município, datado de Sábado, 26 de fevereiro de 2005. Ano XVII - já é um jornal tradicional. Número 4.309. Preço do jornal: R$1,00.

Lemos, na primeira página do Primeira Página:

Fórum debate projetos petistas no Estado.

Até aí nada de mais. Todo Partido tem o direito e o dever de debater os seus projetos.

O interessante é que temos, na primeira página do jornal Primeira Página - não estou aqui querendo me perder em trocadilhos -, o Deputado Federal Arlindo Chinaglia, ex-Líder do PT; o Prefeito Newton Lima, de São Carlos, e o Ministro José Dirceu.

Diz o jornal que os três “deixam aeroporto da cidade rumo ao Fórum”. Até aí, também nada de mais. O Ministro José Dirceu é um militante e tem o direito de freqüentar o seu Partido, tem até o dever de fazê-lo; o Prefeito Newton Lima, acredito que sim; o Chinaglia, sem dúvida.

O interessante, o bonito da foto, é que atrás está um avião da FAB. Eles foram discutir o PT em avião da FAB. Aqui está, dá para ler: “Força Aérea Brasileira”. O contribuinte brasileiro e, portanto, a mulher brasileira, que hoje deveria comemorar o seu Dia, está custeando uma farra, porque isso é uma farra: dinheiro público, combustível público, pessoas das Forças Armadas, pagas pelo contribuinte, pelas mulheres brasileiras, facilitando a chegada a São Carlos do ilustre Ministro José Dirceu e seus correligionários.

E ainda, Sr. Presidente - já que estamos falando em democracia, e não podemos falar em lisura na coisa pública sem nos referirmos à democracia -, na pág. A3 do mesmo jornal de São Carlos, há algo muito interessante também. O PT é um Partido surpreendente. Este Governo é muito surpreendente. Fico cada dia mais fascinado. Ainda vou dedicar-me a fazer uma tese de doutoramento sobre o PT - não sei se enlouqueço antes ou se consigo concluí-la. O fato é que diz o jornal Primeira Página:

O líder do PT [aliás, ex-Líder, o jornal está defasado] na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP) [durante o evento], lembrou da extinta União Soviética como exemplo para as esquerdas de todo o mundo [nunca vi um negócio mais atualizado do que este], afirmando que “a diferença entre PT e Governo vai ser cada vez menos possível de ser evitada e isso é um processo histórico”.

Talvez aqui esteja a explicação para o aparelhamento deslavado; talvez aqui esteja a explicação para o autoritarismo, para o desrespeito às oposições; talvez aqui esteja a explicação, Senador Romeu Tuma, para todo esse processo de construção de um pensamento único, tentando banir do debate quem pensa diferente deles. Ou seja, aqui dizem que o modelo é o da União Soviética e o fazem a bordo de um avião da FAB, custeado com o dinheiro das mulheres brasileiras, que hoje deveriam estar comemorando o seu dia.

Recebi um e-mail de uma pessoa indignada, chamada Henrique. Não tenho o sobrenome dele, graças a Deus, e não terei que citá-lo, já que o modelo é o da União Soviética. Quem sabe o Henrique termine sendo preso se eu disser o nome dele inteiro, com identidade, CPF, número de telefone e tudo o mais. Ele chama a atenção exatamente para isto. Ele viu parte do encontro e ficou pasmo com essa história de dizerem que o modelo era o da União Soviética. No entanto, o modelo da União Soviética é exatamente como o da União Soviética. Os soviéticos viajavam nos aviões da companhia de aviação daquele país, cujo nome nem sei... Mas aqui viajam em aviões da FAB.

Sr. Presidente, francamente, eu poderia chegar aqui e também fazer uma poesia sobre a mulher. Poderia... Eu seria um poeta menor, um poeta sem talento. Posso ser sem talento, mas posso fazer uma poesia. Não precisaria ser Chico Buarque, nem precisaria ter o talento literário do Presidente José Sarney. Mas eu poderia, aqui, agredir o bom gosto literário de meus Colegas e fazer uma poesia. Resolvi que não era para escrever nenhuma palavra melosa na comemoração do Dia Internacional da Mulher. Contudo, é meu dever, como Líder de um Partido de Oposição, trazer mais denúncias, e são fatos. Ou seja, eles têm como modelo a União Soviética. Eles têm como modelo o aparelhamento do Estado, haja vista o avião à disposição de um encontro petista. Eles têm, como modelo, tudo isso que hoje redunda na morte de crianças indígenas, filhos de mulheres que estavam aqui antes de Cabral, e na morte de um pedreiro, que permaneceu durante 12 horas em uma fila. Não deu para acabar com a fila do INSS depois de dois anos? Precisa de mais tempo? É necessário outro mandato para o Presidente Lula acabar com a fila do INSS? É herança maldita! Quem matou o pedreiro foi a herança maldita. Quem está matando as crianças indígenas é falta de Governo do PT ou é a herança maldita. É falta, é incúria, é inércia, é incapacidade, é incompetência! É aquilo de que sempre reclamo no Governo do PT: o partido se reúne para convocar, convoca para reunir e, no final, não conclui coisa alguma. É um Governo que se preocupa mais com a sardinha. Criaram um grupo de trabalho presidido pelo Ministro da Defesa para estudar a sardinella brasiliensis, a sardinha brasileira, e não conseguem fazer nada, nem grupo de trabalho nem nada, para salvar a vida das crianças indígenas e para evitar que morra na fila o pedreiro. Eles que não fazem um grupo de trabalho para moralizar o uso de avião da FAB, não fazem um grupo de trabalho para moralizar o uso da coisa pública! Entupiram de correligionários, que, por sua vez, entopem os cofres do PT de recursos financeiros, pecuniários; entupiram de correligionários a máquina do Estado.

Se a eficiência cai, dane-se a eficiência. O importante é essa “sovietização” delirante que eles estão propondo ao País. Se o Brasil pára de funcionar, dane-se o Brasil. Importante é saber que está em marcha um projeto, que é um projeto autoritário, montado com um único objetivo, que é o de chegar à reeleição de um Presidente que não sabe o que fazer com o poder. Nunca vi isso. Sempre vi menina querendo boneca, sabendo o que fazer: brincar com a boneca; sempre vi fulano querendo casar com fulana porque queria constituir uma família com ela; sempre vi o jogador indo para o campo porque queria fazer gol no adversário. Nunca vi alguém querer tanto algo com que não sabe lidar. Nunca vi.

Imagino que uma pessoa poderia, equilibradamente, estar sentindo mal com isso. “Puxa vida, não sei governar... O que eu faço governando? Se eu teria que saber governar, não sei, não quero aprender, eu não sento...”

Sr. Presidente, ao encerrar, volto a dizer a V. Exª que o Presidente Lula tem sido muito ingrato comigo, muito ingrato. Faço aqui uma queixa do fundo do coração, Ministro Cristovam Buarque, do fundo do coração. Vejo Partidos aqui pedindo cota, nomeação de Ministros, “porteira fechada”, transformando a República numa fazenda. Quem compra ou vende alguma coisa com porteira fechada, está falando de fazenda e não da coisa pública. Isso não passa pela minha goela e não passa pela goela e pelo bom senso desta Nação. Mas, muito bem. O perdedor, Senador Geraldo Mesquita, leva uma estatal. O que vai fazer com a estatal, se o perdedor é sério? E os jornais publicam que a estatal mexe com RS1 bilhão por ano. Qual é a diferença para um homem sério se mexe com 10 mil réis ou com R$1 milhão? Que diferença faz? Então, estamos, nós, aceitando padrões que são abaixo do aceitável. Vejo, então, pedirem ao Presidente Lula tudo. O homem está vexado de tantos pedidos absurdos que recebe - talvez possa atendê-los e aí se desmoraliza; talvez não possa atendê-los e aí pode ser que não governe, porque implantou uma forma extremamente fisiológica de governar.

Pedi a Sua Excelência uma coisa só, em agradecimento a tantas votações que faço aqui para ajudá-lo e a nossa votação é sempre gratuita, ninguém pede nada aqui. Só pedimos a Sua Excelência o direito de ouvir esses nossos desaforozinhos. Isso não é nada, não é necessário nem que se tome banho para se livrar disso. Eu disse: “Presidente, mande-me uma foto sua trabalhando, sentado, atendendo a um Ministro.” Eu só tenho foto do Presidente em pé. Eu queria uma foto autografada, com Sua Excelência trabalhando, atendendo a um Ministro, e eu não a consigo.

Presidente, está na hora! Comece a governar para que não morram mais crianças indígenas, para que não se vilipendie mais ainda a mulher, para que não tenhamos ainda mais problemas de pedreiros morrendo nas filas do INSS e para que não tenhamos que tolerar mais o Ministro José Dirceu viajando com avião da FAB para encontros petistas, onde dizem que o modelo a ser seguido é o da União Soviética.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2005 - Página 4491