Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2005 - Página 5187
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este é um dia importante para o Senado, em virtude da homenagem a Luís Eduardo Magalhães. Não falarei muito, porque muito já foi dito hoje sobre Luís Eduardo.

Eu o conheci ainda quase menino. No meu primeiro mandato como Líder do PMDB na Assembléia Legislativa de Pernambuco, reencontrei-o como Deputado Estadual da Assembléia Legislativa da Bahia, da qual, depois, foi Presidente. Ao longo da minha vida, encontrei-o várias vezes, pois tínhamos alguns bons amigos em comum. Finalmente, elegi-me Deputado Federal e estabeleci, logo de início, uma relação mais próxima com a pessoa que, durante o meu mandato como Deputado Estadual e como Secretário de Governo, em Pernambuco, aprendi a respeitar como político, como homem público.

Luís Eduardo era uma pessoa especial. Extremamente lúcido, tinha uma grande capacidade de discernimento e era dono de uma rara habilidade: a capacidade de conviver com os contrários. Era um político muito especial.

A seu favor, de maneira bastante forte, a força política que ele representava no grupo liderado por seu pai. Mas não é fácil ser filho de um político da importância de Antonio Carlos Magalhães e ganhar identidade, expressão, força e personalidade. E Luís Eduardo, sem deixar de ser absolutamente solidário com seu pai, era um político diferente dele. A sua atitude e a sua forma de conviver politicamente eram próprias.

Eu estava no PSB, Partido do Governador Miguel Arraes, quando Luís foi indicado para Presidente da Câmara dos Deputados. Fui um dos primeiros a apoiá-lo no campo da oposição, da esquerda. Disse-lhe, na oportunidade, que meu apoio não tinha relação com a proporcionalidade, com nenhuma das regras que eram consideradas relevantes para se apoiar um candidato, mas com o fato de considerá-lo, naquele momento, a pessoa mais indicada para presidir a Câmara dos Deputados. Participei de uma reunião da nossa Bancada, o PSB, na qual se discutiu o apoio a ele. Alguns o apoiaram com o argumento do respeito à proporcionalidade; eu o apoiei com o argumento do mérito. Eu votaria nele para Presidente e defendi o apoio do meu Partido à sua candidatura por entender que ninguém mais, naquele momento, estava qualificado para ser Presidente da Câmara.

Fiz a sua campanha, e ele ganhou. Foi um Presidente notável. Estabeleceu logo um padrão de imagem extremamente positivo para a Câmara. Tinha grande capacidade de relacionamento com a imprensa. Era capaz de afirmar seus pontos de vista sempre de forma positiva. Nunca foi discípulo do litígio, do confronto, embora, como já disse o Senador Arthur Virgílio, fosse pessoa de personalidade forte e bastante incisivo. Foi um Deputado Federal e um Presidente da Câmara dos melhores que a Casa conheceu.

A lembrança de Luís Eduardo agora é conveniente. Primeiro, porque foi sempre partidário, sempre leal, sempre correto. Nunca vacilou, nunca participou dessa leviana troca de partidos, dessa freqüente transposição ideológica, que é muito visível nos últimos anos. Gente que pensava de um jeito e se comprometia com certas idéias passa a adotar novas idéias e a se comprometer com outros programas. Luís Eduardo, não. Era firme, incisivo. Estava longe de ser um político conservador, mas era um político comprometido com a idéia liberal. Moderno na atitude, na forma de convivência, foi um dos bons políticos que o Brasil produziu nesses últimos trinta anos.

Penso que a sua atitude e a sua forma de atuar são instrutivas neste momento da vida parlamentar, em especial, em que partidos se desagregam, lideranças não são efetivas, compromissos não se cumprem e a palavra vale cada vez menos. Há situações em que já parece visível uma certa desagregação. Não se tem mais confiança no resultado das votações, não porque as votações não são livres, mas porque as votações não têm mais lógica; e não têm mais lógica porque os partidos não estão valendo; e os partidos não estão valendo porque houve uma ação deliberada para se desestruturarem os partidos, o que terminou se voltando contra o Governo atual, que a produziu de maneira sistemática. O reflexo dessa desagregação e dessa desautorização foi, de maneira bastante visível, o resultado da última eleição na Câmara dos Deputados.

Hoje é dia de homenagem a Luís, não é um dia para se fazerem críticas. Mas, na hora em que falamos de homens como Luís Eduardo, de certa maneira, deixamos muito clara a nossa crítica a outros personagens da vida pública brasileira que não estão colaborando com a democracia que o povo espera que o Brasil organize e faça funcionar.

Fui seu amigo, embora não convivesse muito com ele. Certa vez, fui citado numa comissão parlamentar de inquérito. Fiz a minha defesa, justifiquei-me e fui afastado da investigação por falta de prova ou de evidências de prova. Um ano e meio depois, o Congresso precisava reestruturar seu sistema de Orçamento, e Luís Eduardo Magalhães me chamou e disse: “Você vai ser o Relator de uma Comissão que vai mudar o sistema de Orçamento”. Eu lhe respondi que não desejava essa tarefa, que queria outra, em uma Comissão que estava sendo formada para o Mercosul. A sua resposta foi: “Você seria bom no Mercosul, mas será melhor nessa Comissão.” Eu disse: “Mas o meu Partido tem uma dezena de Deputados, há a tem a questão da proporcionalidade”. Ele disse: “Desconhecerei essa questão. Você vai relatar essa matéria porque tem condições de fazê-lo e porque é preciso que você se afirme nisso”. Foi uma demonstração de solidariedade, amizade e espírito público que jamais esquecerei.

Certa vez, neguei-lhe um voto importante. Eu era de um Partido de Oposição. Num primeiro momento, ele não gostou. Não sei se Luís Eduardo gostava das discordâncias. Talvez não gostasse muito delas. Ele estranhou a minha negativa ao voto que me pediu. Não lhe dei o voto e, durante três ou quatro meses, ele não foi comigo tão afetivo como era antes, mas, cinco ou seis meses depois, conversamos outra vez e lhe expliquei porque eu não podia ter votado como me pedira que fizesse. Ele me disse que eu fiz muito bem em não ter votado.

Luís era uma pessoa positiva, de coragem, um político coerente.

Foi muito ruim para o Brasil ele ter indo embora, não ter ficado entre nós. Ele fez e faz muita falta à democracia brasileira. Fez falta ao Presidente Fernando Henrique e ao seu Governo.

É bom que hoje, mais uma vez, sob a Presidência do Senador Renan Calheiros, lhe prestemos homenagem, porque, fazendo isso, prestamos homenagem ao melhor da vida pública e da democracia entre nós.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2005 - Página 5187