Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2005 - Página 5189
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros; Senadoras e Senadores presentes; brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem por meio do Sistema de Comunicação do Senado Federal.

Senador Renan Calheiros, muito já foi dito e tudo verdade.

Senador Heráclito Fortes, V. Exª pode ouvir Roberto Carlos em uma de suas musica dizer “meu irmão camarada”. Heráclito foi “irmão camarada” de Luís Eduardo. Várias vezes nos encontramos. Mas, o que me chama a atenção e a do Brasil, atentai bem, Senador Pedro Simon, é a história. Pedro Simon, cristão; Cristo, a Última Ceia, o Sermão da Montanha, deserto, transformação do vinho para alegrar as bodas, casamento, felicidade. Mas, na hora do pega, Senadora Maria do Carmo, todos negaram, todos falharam, principalmente nós, homens! Anás, Caifás, Pedro, o pai dele, José, os Apóstolos, todos, todos os homens. As mulheres ainda...A mulherzinha de Pilatos, Verônica, as três Marias...Mas os homens, lá na cruz, aquele negócio de ladrão, bom ladrão... Os homens, só um: Pilatos, que nos orgulha.

Senador Luiz Otávio, esse é o quadro que quero buscar de Luís Eduardo. Senador Francisco Pereira, Napoleão, o francês - Senador Eduardo Suplicy -, o general, na ilha, no final de sua vida, já chegada a morte, dizia: “Eu não fui bom; eu não fui bom; mas fui firme, fui firme, fui firme”. E aí está a história do general, o francês, que deixou o primeiro código civil da Europa na França. E quero lhe dizer que essa é a característica: firmeza, solidariedade na dificuldade. Cirineu e a firmeza do estadista Napoleão Bonaparte. Atentai bem, Senador Luiz Otavio, 30 de setembro de 1992! Que data é esta? O que é isso para o Congresso? O que é isso para a Câmara? Senador Heráclito, éramos prefeitos. Eu gosto de política. Ela nos atrai. Eu acho que a política é para buscar o poder, mas o poder - como disse Cristo, não o poder pelo poder, que não nos encanta - para ser um instrumento de servir. Disse Cristo: “Vim ao mundo - aprenda Lula! - para servir, e não para ser servido.”

Trinta de setembro de 1992. Cassação do Presidente Collor. Atentai bem! Eu não sei onde V. Exªs estavam. Eu sei, Senador Francisco Pereira, que eu era prefeitinho de Parnaíba. E, atraído por aquele fato histórico, Senador Pedro Simon, eu não saí de casa. Disse: “Vou ficar aqui, no quarto.” E não saí. Coloquei no chão umas almofadas e assisti a toda a sessão. Estamos aqui; mas, às vezes, não estamos. Nos distraímos, vamos ao café. Naquela, não. Eu a assisti, Senador Pedro Simon! Ontem, por exemplo, houve dezenas de discursos. Eu assisti ao de V. Exª integralmente. Aquela sessão do Collor - o Senador Heráclito era Prefeito de Teresina - eu a assisti toda, como se assiste a uma novela, a um teatro, e atento. Dentre os 503 Parlamentares, um mereceu respeito e dignidade, por ser firme e solidário. É essa a grandeza!

Tivemos muitos momentos de felicidades, até em mesas de bares, com o Senador Heráclito, tomando vinho do Porto, porque ele era alegre. Mas eu fiquei. E passaram todos, uns envergonhados. A imprensa dizia que tinham ido ao Alvorada, onde hoje está o Lula, tirar retratos, e na hora negaram. Choraram: “Presidente, é injusto...” Quantos? Atentai bem, Senador Pedro Simon. Eu gravei. Um Deputado de Itumbiara, lá em Goiás, não conheço, mas a gente grava. Eu, povo do Brasil - era prefeito, mas povo -, atento. Um Deputado de Goiás, José Gomes, na hora de votar - e um filho de Itumbiara jamais trai um amigo -, votou contra o impeachment. Senador Pedro Simon, atentai bem, quando ele chegou, toda Itumbiara foi recebê-lo, pela coerência, pela firmeza, pela solidariedade e pela amizade na dificuldade. Ainda hoje ele é Deputado Federal.

A cada ataque que votava, a cada um, Luís Eduardo se levantava e, como Líder, tombou ali ao lado, como é comum, Senador Pedro Simon, prestar homenagem ao sol que nasce. Ele estava ali, com solidariedade e firmeza, no cumprimento de sua missão, advertindo-os. Ele se tornou ali o meu herói, Senadora Maria do Carmo. E o espetáculo foi longo. Foram cerca de seis horas de espetáculo.

Foi isso que ele passou. Não foi por ser filho do nosso amigo, o homem que fez da Bahia um país, o Senador Antonio Carlos Magalhães. A minha admiração se deu naquele momento de dificuldade. Esse é o exemplo. Quero, então, dizer o seguinte: atentai bem: cinqüenta anos faria hoje. Isso que relato aconteceu há treze anos. Tenho a imagem daquela época. E é isto que tem o povo: o respeito àquele democrata, que cumpriu o seu papel de líder nas horas de maior dificuldade, que, com solidariedade e firmeza somados, mostra a dignidade que se deve ter neste Congresso.

Quero dizer, Sr. Presidente, que está aqui um baiano, Rui Barbosa, trinta e um anos neste Senado. Também ele não chegou à Presidência, como não chegou o nosso Luís Eduardo. O retrato de Rui Barbosa está ali debaixo do de Cristo, que também mostrou a fraqueza dos homens que o abandonaram. Ele foi um dos que mostrou solidariedade e firmeza; o baiano que está aqui: Rui Barbosa.

O Senador Heráclito Fortes deu o maior presente ao Senador Antonio Carlos: um busto de Luís Eduardo, pelas mãos artísticas do Piauí. Então, por que não nasce aqui a idéia de se colocar um busto de Luís Eduardo lá, no plenário da Câmara, onde serviu com grandeza, fazendo nascer leis boas e justas, dando o maior exemplo de solidariedade, firmeza e dignidade, outro baiano que se igualou em dignidade a Rui Barbosa? Estas são as nossas palavras.

Senador Heráclito Fortes, busque o mesmo artista plástico piauiense que confeccionou o busto de Luís Eduardo com que V. Exª presenteou o Senador Antonio Carlos Magalhães, para que confeccione um busto e, assim, lá no plenário da Câmara seja colocado o busto de mais um baiano ilustre.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte só para esclarecer?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Daqui a pouco, porque, em primeiro lugar, vou conceder o aparte ao nosso Líder maior do PMDB do Nordeste, talvez do Brasil, Senador Garibaldi Alves Filho.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Mão Santa, estou ouvindo o depoimento de V. Exª, como hoje ouvi vários testemunhos. Na verdade, não tive a oportunidade de conviver com o Deputado Luís Eduardo Magalhães porque não passei pela Câmara dos Deputados, não fui Deputado Federal. Mas, por meio desses depoimentos, estamos sentindo a imensa perda que todo o Brasil teve com o desaparecimento do Deputado Luís Eduardo, que era um homem com vocação para o Parlamento. Mas, quem sabe, aqueles que são vocacionados para o Parlamento terminam sendo convocados para o Executivo, e já se falava de um vôo mais alto que o Deputado Luís Eduardo poderia empreender. Ele, sabemos, tinha todas as qualidades do seu pai, o Senador Antonio Carlos Magalhães, a par de ser um político moderno, novo. Então, quero apresentar também a minha solidariedade, a minha participação diante dessa homenagem - a ele que estaria completando cinqüenta anos de vida se fosse vivo hoje - e dizer que realmente foi uma pena que ele desaparecesse tão cedo. Contudo, ficou o seu legado, a sua memória, o seu exemplo, os seus ideais. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a participação do Senador Garibaldi Alves Filho e peço que seja incorporada ao meu pronunciamento.

Concedo o aparte ao Senador do nosso Piauí, irmão camarada de Luís Eduardo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa, agradeço as palavras generosas de V. Exª. Quero apenas fazer um registro. O busto do Luís Eduardo já foi confeccionado pelo mesmo artesão que fez esse busto a que V. Exª se refere, e já se encontra na Ala Luís Eduardo Magalhães, em frente à Biblioteca da Câmara dos Deputados. Houve uma solenidade muito bonita, em que foi inaugurado com a presença de toda a família.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço a participação de V. Exª, mas reafirmo a solicitação, ou seja, para que V. Exª consiga outro busto confeccionado pelo artista piauiense e o entregue ao Presidente Severino Cavalcanti, do Nordeste, para que S. Exª promova ações para colocar o nordestino num patamar tão alto, no plenário da Câmara, como está, aqui no Senado, outro baiano: Rui Barbosa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Plenário da Câmara dos Deputados se chama Plenário Deputado Ulysses Guimarães, que é uma homenagem que aquela Casa presta a outro grande brasileiro.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ulysses Guimarães, encantado no fundo do mar, lá está agora postado. Então, ao seu lado, figuraria o nordestino, o baiano, Luís Eduardo Magalhães.

Nossas últimas palavras aos céus, a Deus, simbolizado por Cristo, por Pedro Simon, cristão franciscano: que, com a ajuda de Deus, com o exemplo de Luís Eduardo Magalhães e a nossa vontade de acertar, possamos juntos fazer leis boas e justas para beneficiar o povo brasileiro, que ainda sofre muito.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Agradeço a V. Exª.

Srªs e Srs. Senadores, Victor Hugo afirmou, certa vez, existir “um espetáculo mais grandioso que o mar e o céu, que é o interior da alma”. O Senador Arthur Virgílio, há pouco, em brilhante pronunciamento, fez esse mesmíssimo raciocínio.

Somente quando conhecemos personalidade como a do saudoso Deputado Luís Eduardo Magalhães, que nos deixou, prematuramente, em 21 de abril de 1998, aos 43 anos de idade, é que podemos avaliar a dimensão exata do significado dessa frase.

Luís Eduardo era a pessoa que todos gostariam de ter sempre ao lado; alguém que, ainda na primeira hora, qualquer que fosse a dificuldade, chegaria disposto a ajudar.

Liderança respeitada, teve influência na formação de outros Líderes, tanto em seu Estado, a Bahia, quanto no País.

De personalidade compreensiva, dava orgulho, como disse, tê-lo por perto. Sabedoria política o levou naturalmente a exercer importantes cargos na vida pública.

Luís Eduardo Magalhães nasceu em 16 de março de 1955, em Salvador, e hoje completaria 50 anos. Iniciou a carreira política como Deputado Estadual. Logo cedo, deixou clara sua vocação para a atividade política.

Com o tempo, mostrou-se um especialista em ouvir a todos com atenção, relacionar-se bem mesmo com os adversários, sempre com posições firmes, bom humor e presença de espírito. Essas foram as suas marcas na política brasileira.

Em 1986, elegeu-se Deputado Federal, com 138 mil votos, a maior votação da Bahia naquele pleito. Foi o primeiro de três mandatos de Luís Eduardo na Câmara dos Deputados, onde se sobressaiu como personagem do primeiro plano da política nacional.

Em fevereiro de 1995, assumia a Presidência da Câmara dos Deputados aos 39 anos de idade. Desejava contribuir - e efetivamente contribuiu muito - para o desafio de transformar o Brasil.

O Deputado Luís Eduardo Magalhães nos deixou no momento mais importante da sua carreira política, quando iniciava a campanha para o Governo da Bahia e era considerado um nome muito forte para a sucessão presidencial.

Seu prematuro desaparecimento comoveu o País e deixou mais pobre a vida política brasileira. Ficou o exemplo de espírito público, de pessoa afável e de fácil relacionamento, de um político hábil, honesto e competente.

Infelizmente, a vida também nos submete a muitas tristezas. E já o disse aqui com todas as letras e lágrimas o Senador Antonio Carlos Magalhães. E, por isso, estamos aqui hoje para celebrar a memória de um grande brasileiro, por seu notável saber e sua consciência de homem lúcido, hábil e tolerante.

Seja onde estiver, Senador Luís Eduardo Magalhães, aceite nossas sinceras homenagens, as sinceras homenagens. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2005 - Página 5189