Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de Colombo Neto no Estado do Piauí. Críticas à política de juros altos praticada pelo governo federal.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Pesar pelo falecimento de Colombo Neto no Estado do Piauí. Críticas à política de juros altos praticada pelo governo federal.
Aparteantes
Marcelo Crivella.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2005 - Página 5239
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • COMENTARIO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PRECARIEDADE, QUALIDADE, GASTOS PUBLICOS, INJUSTIÇA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AUMENTO, JUROS, INEFICACIA, POLITICA SOCIAL.
  • DEFESA, REDUÇÃO, JUROS, LIBERALISMO, ECONOMIA, BRASIL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Serys Slhessarenko, Srªs e Srs. Senadores que estão em Brasília e no Brasil, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, ocupo a tribuna para fazer um discurso com tópicos estudados. E quis Deus V. Exª estar presidindo esta sessão, pois a mulher, ao longo da História, tem demonstrado mais sensibilidade.

Em nome do Piauí, Senador Roberto Saturnino, ocupo a tribuna. E para explicar meu sentimento, digo que todos nós gostamos de ler, a leitura é uma busca da sabedoria. Entre as leituras do mundo cristão, uma das mais aceitas é a da Bíblia. Outro dia, o colunista Diogo Mainardi disse que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não lê. Não creio. Sua Excelência deve ler pelo menos a Bíblia, o que é muito importante.

Mas, Senador Roberto Saturnino, hoje o Piauí está de luto. Perdeu um homem extraordinário. E eu falaria como Cristo, por parábolas, para dizer o que significaram Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes para o Rio de Janeiro e o Brasil.

Cronista social moderno, passou a participar, com seus escritos, dos aspectos políticos e de desenvolvimento das sociedades parnaibana e piauiense.

Senador Geraldo Mesquita Júnior, quis Deus que V. Exª simbolizasse o Direito, sendo um reviver de Rui Barbosa nesta Casa, por sua firmeza. Abraham Lincoln disse: “Caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no Direito”. É assim que defino V. Exª.

Senador Roberto Saturnino, um dos trechos que mais me encantam na Bíblia é o Eclesiastes, escrito pelo Pregador. Senador Mozarildo Cavalcanti, o Livro de Deus diz mais ou menos assim - cito para expressar meu sentimento de pesar e o do Piauí pela perda do jornalista Colombo Neto -: “Eu sou Coilé; ninguém tem mais sabedoria do que eu. Sou descendente de Davi e de Salomão. Meu avô e meu pai ensinaram-me sabedoria”.

Quis Deus que aqui estivesse presente esse homem, representante de Deus nesta Casa, o Senador Marcelo Crivella. Repito o que disse o Pregador: “Eu sou Coilé. Tive mulheres mil, gado mais do que as estrelas no céu, terras que minha vista não alcançava, ouro, prata, caprinos. Ninguém entende as coisas mais do que, pela minha procedência. E o que tenho a dizer é: sob os céus tudo é vaidade, tudo é vaidade! Não vá se afadigar de trabalhar demais, que eu vi o resultado disso. Riquezas que caíram em mãos indevidas. Quantos genros, quantos filhos, quantos descendentes cometem a vaidade! Vou dar um ensinamento: o bom mesmo é beber bem, é comer bem, é fazer o bem e viver bem. É a felicidade. O resto é vaidade. Nascemos nus e morremos nus”.

E elogio, Senador Marcelo Crivella, quando fala da mulher, da mulher do paraíso. Observe V. Exª a destinação. Lembre-se que de um candidato a senador e candidato a prefeito derrotado o povo fez presidente da República. A história pode se repetir em seu nome. Disse Coilé, Senador Roberto Saturnino: “Você vai ver que isso é verdade. Talvez seja como São Tomé neste momento. Não em uma boda, não em uma festa, não na euforia de um carnaval, mas na sentinela de um amigo”. É o meu sentimento e o do povo do Piauí.

Eu gostaria de dizer, desta tribuna, onde tombou um Senador piauiense, Dirceu Arcoverde, que foi Governador, que tombou ontem o jornalista. Foi uma perda, mas deixou o exemplo. E minha vinda aqui é especialmente para registrar essa perda irreparável.

Ontem observei ressaltarem as qualidades - também ressaltei - de Luís Eduardo Magalhães, que herdou todos os amigos do pai e nenhum inimigo. Colombo Neto era assim. E Deus me presenteou, pois no fim de semana fui a um casamento e, na volta, dei carona a ele. Conversamos, como despedida. E resta aquela imagem.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não. Concedo o aparte ao Senador Marcelo Crivella, representante de Deus nesta Casa. Deus sabe das coisas. Nós não sabemos de nada. Apenas digo que o Piauí empobreceu e o céu enriqueceu com a presença de Colombo Neto.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Senador Mão Santa, muito obrigado pela oportunidade de aparteá-lo. V. Exª sempre cita as palavras da Bíblia com muita propriedade. Em meu Estado, o Rio de Janeiro, é comum as pessoas me abordarem, telespectadores da TV Senado, dizendo que se lembram dos discursos de V. Exª. Entre eles, minha mãe, que possivelmente nos assiste agora. V. Exª lamenta a perda de um companheiro do Piauí. E clama, da tribuna, como João Batista no deserto, por um Brasil melhor, mais justo, onde as pessoas tenham mais emprego. Em 2003, 4 mil brasileiros foram presos ao entrar ilegalmente nos Estados Unidos. No ano passado, foram 8 mil. Ontem, estive com o Senador Cristovam Buarque e o Embaixador dos Estados Unidos. Em janeiro e fevereiro deste ano 20 mil brasileiros foram presos nos Estados Unidos ao tentar conseguir emprego. Vinte mil! V. Exª é da geração que conquistou a democracia, e mostrou que isso podia ser feito sem sangue. Minha geração ainda deve mostrar - a minha e a de muitos outros Senadores - que também sem sangue é possível conquistar a democracia social. A política, já conseguimos. V. Exª foi um artífice dela, o povo brasileiro reconhece. O povo de sua terra o reverencia, principalmente o de sua querida Parnaíba, cujo rio se abre em cinco braços e encontra-se com o Atlântico, formando uma mão.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Com certeza, santa.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Por essa razão, Senador Mão Santa, faço esta homenagem e digo que V. Exª tem razão. Também sem sangue precisamos conquistar a democracia social no País. E que V. Exª jamais se cale, que sua voz seja ouvida nos confins do Brasil, porque é justo seu clamor.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço o aparte cristão do extraordinário Senador, e faço um pedido. A minha mãe, que está no céu, nunca disse que sou mão santa, Senador Roberto Saturnino, mas que sou filho de mãe santa, terceira franciscana. Senador Marcelo Crivella, peço que sua mãe me adote na terra, pois estou órfão. Gostaria de ter V. Exª como irmão, e o tenho.

Mas, agora, trataremos do assunto que nos traz à tribuna: os impostos e os juros, que estão na Bíblia. Tanto temos falado desse assunto aqui, falado para o deserto, como São João, como Cristo. E, para mostrar que não somos só nós, Senadora Serys Slhessarenko, Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas, diz que o problema do Brasil está na qualidade do gasto público. “É preciso fazer chegar o dinheiro aos pobres. Além do mais, é preciso reduzir os juros, pois aí se gastaria menos com os juros e sobrariam recursos para os programas sociais”.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eduardo Gianetti da Fonseca, economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), diz que, “apesar de 40% da renda brasileira passar pelas mãos do Governo, a distribuição de renda continua das piores do planeta. Só pode haver uma conclusão: temos uma máquina infernal de concentração de renda”.

Rogério Mori, economista da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, diz que “o Governo pode cortar gastos sem comprometer políticas sociais e o investimento público”.

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista da Unicamp, avalia que “o que impede a queda da carga tributária é a opção de política econômica feita pelo Governo, que engessa o Orçamento e exige juros em níveis altos”. Quando você tem que pagar 7% do PIB em juros por ano, você não está em uma posição muito confortável, mas o Governo recusa-se a admitir essa contradição”.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Sr. Senador, V. Exª tem meio minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E é o suficiente. Cristo fez o Pai Nosso em um minuto e nos leva ao céu.

E eu terminaria mencionando a nossa experiência. Ó, Presidente Lula! Ó, Núcleo Duro! Não tem nenhum lá que foi prefeitinho, que foi governador. Eu fui!

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Geraldo Mesquita, sabe qual é o apelido do meu Secretário de Planejamento, César Fortes? Sorbonne. Sorbonne, Lula! O meu Secretário de Planejamento.

César Fortes, economista do Senado, diz que a palavra governo vem do grego e significa navegar. O papel do governo é navegar e não remar. E, parafraseando Ted Gaebler e David Osborne, “a questão não é o quanto de governo devemos ter, mas que tipo de governo queremos”.

Ao fixar as maiores taxas de juros do mundo, o Governo brasileiro define a sua preferência pelo capital financeiro e despreza o investimento público, comprometendo o futuro do País.

E, confiado na bondade do coração da Senadora Serys, vou dar o meu pensamento.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Mozarildo Cavalcanti, Bill Clinton viu que a democracia era complicada e mandou dois técnicos, Ted Gaebler e David Osborne, estudarem o assunto. E eles escreveram o livro Reinventando o Governo. Eles chegaram à conclusão, Senador Jonas Pinheiro, de que o Governo não pode ser grande demais. Um transatlântico afunda. Até o Titanic afundou. O Governo tem que ser pequeno e ágil. Temos que ter um governo ágil. Vamos ouvir Rui Barbosa, que disse: “a primazia ao trabalho e ao trabalhador, pois eles vieram antes e fizeram a riqueza”. Que possamos dizer o que Getúlio Vargas dizia em cada 1º de Maio: “Trabalhadores do Brasil!”. Getúlio os animava com um salário mínimo digno. Aí está o Senador Roberto Saturnino, que escreveu uma das grandes obras...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ... Banqueiros do mundo, tranqüilizai-vos! Eu garantirei os seus lucros”.

Era o que eu tinha a dizer.

Srª Presidente, obrigado pela generosidade em me conceder mais tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2005 - Página 5239