Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Desrespeito ao PMDB nas negociações da reforma ministerial.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Desrespeito ao PMDB nas negociações da reforma ministerial.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2005 - Página 5647
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, DISCURSO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, PROGRAMA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPROMISSO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, CRITICA, CRITERIOS, REFORMULAÇÃO, MINISTERIO.
  • PREVISÃO, VITORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, estrela do PT; Senadoras, Senadores; brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado; Senadora Heloísa Helena, a sua coragem já era esperada, porque a mulher, ao longo da história, sempre tem tido mais coragem do que nós, homens.

Basta uma reflexão no maior drama da humanidade: a crucificação de Cristo. Senador Eduardo Siqueira Campos, todos nós, homens, falhamos. Anás, Caifás, Pilatos, que foi governador como eu. E a Adalgisinha dele dizia: “Pilatos, sonhei que o homem é justo”. Todos. Onde estão Pedro, os amigos de Cristo, os que banqueteavam, os discursos bonitos? Nenhum. Até vinho ele multiplicou para esses homens. Nenhum. Fraquejaram. As mulheres, não: a de Pilatos, Verônica... Homens, havia mais dois ladrões. Aqui estamos. Oh, mulheres, venham ao meu Partido, o PMDB; estamos precisando.

Senador Eduardo Siqueira Campos, entendo que a democracia é uma conquista. O homem é um animal sociável, segundo Aristóteles. A sociedade, o governo sempre buscaram um modelo. Autoritários, reis, imaginavam e governavam, dizendo que eram deuses, divinos, e que todos deveriam ser unos. L’État c’est moi.

            Mas o povo sofreu e cansou de ser enganado. Foi às ruas e gritou: “liberdade, igualdade e fraternidade”. Estamos vivendo a democracia. Montesquieu a ajeitou com três poderes equipotentes, independentes, harmônicos. O neojudiciário está aqui, como um capeta que vem trair a nossa consciência, no sentido de aumentar os nossos salários, que já são bons demais. Para executar obras? A organização não faz obra, mas lei. Ou seja, mandam as medidas provisórias: nós não fazemos leis.

Aí está a confusão. Agora, para sustentar isso, o mundo criou os partidos; qualquer pessoa sabe disso, mas o Presidente Lula ainda não entendeu. O núcleo duro, o Sr. José Dirceu, cabeça-dura da cúpula, pensa que é só um Partido. E estão marchando contra o meu MDB, para destruí-lo.

Não é assim! Não é assim! E trago aqui - eu vi, meninos - o discurso daquele que está encantado no fundo do mar e que disse: “Ouça a voz rouca das ruas”.

Heloísa Helena, V. Exª não se inclui. V. Exª encanta todos nós com sua coragem de mulher, com sua beleza de mulher, com sua firmeza de mulher.

Mas atentai bem, Senador Siqueira Campos! “Navegar é Preciso” é o título do discurso de Ulysses Guimarães como anticandidato, para que aquele emedebezinho pequeno construísse isto: ser amado pelo povo. É o Partido que tem mais Senadores, mais Prefeitos, mais Governadores. Naquela circunstância, ele, para crescer no seu sacrifício, repetiu “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Era o anticandidato.

Heloísa Helena, leio só um trecho, para lhe inspirar:

Como o desenvolvimento é o desafio da atual geração, pois ou o Brasil se desenvolve ou desaparecerá, o Movimento Democrático Brasileiro, em seu programa, define sua filosofia e seu compromisso com a inadiável ruptura da maldita estrutura da miséria, da doença, do analfabetismo, do atraso tecnológico e político.

(...)

A liberdade e a justiça social conformam a face mais bela, generosa e providencial do desenvolvimento, aquela que olha para os despossuídos, os subsalariados, os desempregados, os ocupados em ínfimo ganha-pão ocasional e incerto, enfim, para a imensa maioria dos que precisam para sobreviver, em lugar da escassa minoria dos que têm para esbanjar.

Atentai bem! Continua o discurso:

...o desenvolvimento é o novo nome da paz.

Desenvolvimento sem liberdade e justiça social não tem esse nome. É crescimento ou inchação, é empilhamento de coisas e valores, é estocagem de serviços, utilidades e divisas, estranha aos homens e seus problemas.

Enfatize-se que o desenvolvimento não é um silo monumental e desumano, montado para guardar e exibir a mitologia ou o folclore do Produto Interno Bruto, inacessível tesouro no fundo do mar, inatingível pelas reivindicações populares.

É o que se diz: cresceu! Ganhamos! Vendemos! Exportamos! Mas ele diz que não é isso.

Mas tudo isso de nada valeu, e, na época, o grande jornalista Carlos Chagas analisou a postura, os ensinamentos e a mensagem. Trago aqui a oração de adeus dele, despedindo-se do Partido. O PMDB tem o tamanho dos seus militantes.

Este é só um trecho, Senadora Heloísa Helena:

Nossos mortos, levantem-se de seus túmulos. Venham aqui e agora testemunhar que os sobreviventes da invicta Nação Peemedebista não são uma raça de poltrões, de vendidos, de alugados, de traidores. Venham todos!

Venham os mortos de morte morrida, simbolizados em Juscelino Kubitschek, Teotônio Vilela, Tancredo Neves.

Venham os mortos de morte matada, encarnados pelo Deputado Rubens Paiva, o político; Vladimir Herzog, o comunicador; Santos Dias, o operário; Margarida Alves, a camponesa.

Não digam que isso é passado.

Passado é o que passou. Não passou o que ficou na memória ou no bronze da História.

O PMDB é também o passado que não passou. Não o enterremos, pois estaríamos calando vozes que a Nação ouviu e esquecendo companheiros que não se esqueceram de nós.

É esse PMDB que representamos. É esse PMDB - que não é do passado, é do presente - que atraiu, por essa história, jovens livres como Papaléo e nós aqui.

O Presidente Lula quer assassinar esse patrimônio da democracia. Tenho de ensinar...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Desculpem ocupar mais tempo, mas os cabeças-duras do Palácio pouco aprendem. O núcleo é o duro.

Não há democracia sem partido forte. Partidos fortes são poucos no nosso País. Tomara que o seu pessoal cresça, seja forte, e que a árvore dê bons frutos! Heloísa Helena é a mãe.

São poucos os partidos fortes, e o PMDB é o mais histórico, o mais forte. Se o destruir, Lula, com carguinhos, estará destruindo a democracia.

E falo isso, Papaléo - ó Tião! -, porque nenhum do núcleo duro foi Prefeitinho ou Governador. Eu o fui. Heloísa Helena, ninguém me acuse de defender reeleição! Eu não a queria, não a desejava. Ela veio, e eu a disputei. O adversário era muito forte.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª dispõe de mais dois minutos, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Dois minutos? Não eram cinco minutos?

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Esta é uma sessão deliberativa. São somente dois minutos, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas estou torcendo tanto para que V. Exª seja o Ministro... Esse não está valendo não! Desconta aí!

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Agradeço a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quero dar o meu exemplo, Senador Siqueira Campos. Disputei a reeleição, o candidato era muito forte - foi três vezes Ministro. Senador Siqueira Campos, atentai bem, desligai o telefone, escutai! O PSDB me apoiava, Heloísa Helena. Saíram todos, e lançaram um candidato bom e digno. O povo nos escolheu. Eu os enfrentei.

Lula, seja homem, bote esse seu timinho, o PT, para enfrentar em campo livre - diante do povo, no Maracanã, diante da população brasileira - o PMDB. E não os atraia, enganando-os com carguinhos!

Rui, que está aí, que é do nosso Nordeste, não chegou à Presidência, mas é citado e seguido. Ele disse: ó peemedebistas, aqui denunciados por Ulysses, olhem esse homem! Lula, ele não foi Presidente não. Não se sabe o nome de dez Presidentes da República. Mas Rui Barbosa toda criança conhece. Que seu nome não fique entre os esquecidos, Lula! Lembre-se que Rui Barbosa disse: o homem que não luta pelos seus direitos não merece viver. E estamos lutando pelo direito do povo do Brasil.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, peço-lhe um minuto, pela sua bondade.

E, lutando, queremos aqui afirmar aquilo que Ulysses lembrou e disse: ouçam a voz rouca das ruas! Estamos aqui representando o sentimento da democracia, que é uma conquista de todos nós. Queremos que o PT tenha a coragem de enfrentar o PMDB, porque somos melhores, vamos vencer as próximas eleições para Presidente da República e para Governadores de Estado, em sua maioria, para a grandeza da Nação brasileira!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2005 - Página 5647