Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre editorial publicado no jornal O Estado de S.Paulo, edição de hoje, sobre a reeleição do Presidente Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentário sobre editorial publicado no jornal O Estado de S.Paulo, edição de hoje, sobre a reeleição do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2005 - Página 7887
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, FUNÇÃO, MANDATARIO, EXECUTIVO, SIMULTANEIDADE, EMPENHO, CAMPANHA, REELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula assumiu ostensivamente o comando de sua própria campanha pela reeleição no próximo ano, diz editorial publicado na edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo. Em conseqüência, segundo análise da mesma fonte, o Palácio do Planalto virou comitê eleitoral, um autêntico Politburo, ou seja, uma réplica do antigo “Presidium” que ditava as normas na então União Soviética.

Se antes, o Presidente não encontrava tempo para governar, agora a tendência é tudo se tornar ainda mais complicado, sobrando espaço apenas para o Diktat do Cerrado.

Por isso, o Governo Lula acabou por se transformar num verdadeiro saco-de-gato, com todos se arranhando e sem nem sequer saber o que se passa por fora, ou seja, no País.

Bem a propósito, o Presidente do PT, José Genoino, saiu-se ontem - e está nos jornais de hoje - com mais uma viva demonstração de que até entre os petistas o tiroteio de um contra o outro revela a perplexidade reinante no Governo. Transcrevo trecho da notícia que traz a fala de Genoíno:

O Presidente do PT, José Genoíno, afirmou ontem que a carga tributária está alta demais. "Bateu no teto. Tem de baixar", disse ele, em entrevista ao lado do plenário da Câmara, simultaneamente à sessão solene em comemoração aos 25 anos de seu Partido.

“Em tom de candidato, Genoino disse que proporá ao governo diálogo para achar formas de reduzir impostos a médio e longo prazos. "Todos os indicadores mostram cenário favorável a isso. Acho possível convencer a equipe econômica de que têm de reduzir a carga tributária." Anteontem, em São Paulo, ele admitiu que, se houver consenso, está disposto a continuar presidindo o PT, que vai eleger novos dirigentes em setembro.

Enquanto isso, o chefe do Politburo, o Presidente Lula, sai atirando em parlamentares, jogando uns contra os outros e, assim, complicando ainda mais o cenário. Diz a notícia:

“Lula critica parlamentares do Nordeste”

Na opinião do presidente, eles só votam projetos de interesse do Sul e do Sudeste.

Leonencio Nossa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem parlamentares nordestinos que "só votam projetos de interesse do Sul e Sudeste". A crítica foi feita na solenidade em que empossou o senador do Piauí Alberto Silva (PMDB) no Conselho da República, criado para assessorar os presidentes da República. Silva foi indicado por outro parlamentar nordestino, o senador José Sarney (PMDB-AP). (O Estado de S. Paulo, 06/03/05)sem

Sr. Presidente, estou anexando a este pronunciamento o editorial do Estadão, edição de hoje, para que, assim, passe a constar dos Anais do Senado da República.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso 1º e §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“O presidente assumiu.”

Quarta-feira, 6 de abril de 2005.

O presidente assumiu

O Palácio do Planalto é hoje o que há de mais parecido em Brasília a um comitê eleitoral. Ali, o presidente Lula assumiu ostensivamente o comando de sua própria campanha ao pleito de 2006. Nem o titular da Casa Civil, José Dirceu, descrito como o ministro da reeleição, muito menos o da Coordenação Política, Aldo Rebelo, rivalizam com Lula no exigente trabalho de construção dos alicerces para o segundo mandato.

Depois de tudo o que deu de errado nas eleições municipais, na disputa pela presidência da Câmara, na reforma ministerial e na votação da MP dos impostos, o presidente parece ter chegado à conclusão de que era hora de pôr, ele mesmo, a mão na massa para conseguir - pelas práticas que outrora o PT prometia extirpar da política brasileira - os apoios tidos como imprescindíveis à meta da vitória já no primeiro turno.

A fixação nesse alvo, em tempo integral, revela o receio do Politburo do Planalto de que as chances de Lula sejam menores na segunda rodada. Para formar o mais amplo arco de alianças concebível na atualidade, o presidente passou a atuar em duas frentes: junto à base governista no Congresso, em especial na Câmara, e junto aos partidos, em especial o PMDB, com os quais o PT será induzido a se coligar no maior número de Estados.

Nos dois casos, Lula não mede meios nem discrimina interlocutores. Como alternativa à reforma ministerial que abriria novas vagas na Esplanada às legendas da base parlamentar - e que ele foi obrigado a cancelar por uma questão de honra depois que o deputado Severino Cavalcanti deu como fato consumado a nomeação de um dos seus -, o presidente irá desaparelhar, aqui e ali, os setores da administração de interesse de seus aliados.

“Fazer o controle do segundo e terceiro escalões pelo lado da eficiência é correto e não deve ter cor partidária”, argumenta o presidente do PT, José Genoino, com a arte dos políticos de usarem palavras para escamotear fatos. Pois a entrega a outras siglas de cargos ocupados por petistas - exatamente por serem petistas, o resto era detalhe - nada tem a ver com eficiência, e tudo com o cálculo reeleitoral.

Lula convida a palácio, digamos, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, e, sem eufemismos, pede que indique o nome de sua preferência para certo cargo federal em um Estado, garantindo que se trata de negócio fechado. Por sua vez, o ministro Aldo Rebelo ficou de fazer um circunstanciado inventário das demandas da base por verbas e empregos.

Nesse jogo em que só o resultado conta, é apenas natural que o mais recente interlocutor de Lula tenha sido o ex-governador Orestes Quércia, que chefia o PMDB paulista. Poucos políticos já trocaram em público tantas e tão pesadas ofensas como esses dois. Quércia, por exemplo, disse certa vez que Lula não tinha competência nem para administrar um carrinho de pipoca. Lula retrucou com alusões a delitos capitulados no Código Penal.

Mas isso são águas passadas. Em 2002, Quércia queria que o PMDB apoiasse a candidatura Lula. Um ano mais tarde, sentindo-se insuficientemente recompensado, rompeu com o governo e, ao lado do presidente do partido, Michel Temer (com quem Lula também já conversou), faz parte do que se convencionou chamar “ala oposicionista” do PMDB, cujos deputados tendem a votar contra o governo, e que fala em candidato próprio para 2006.

Depois de 1 hora e 40 minutos com Lula, Quércia saiu quase chapa-branca. “O PMDB pode se unir mais no apoio ao governo”, entoou como quem acaba de ouvir coisas prazerosas. Lula não perdoa a prefeita Marta Suplicy por ter esnobado a idéia de um vice peemedebista para a reeleição, e não admite que isso se repita na disputa pelo Bandeirantes - o que abre sugestivas possibilidades para o próprio Quércia.

Se os conchavos forem adiante, como quer Lula, o PT terá de se resignar em outros Estados a ser vice do PMDB. E o segundo de Lula será um peemedebista (o atual, José Alencar, do PL, deverá se candidatar ao governo de Minas). Quaisquer que sejam as suas chances de êxito, a armação deixa claro que, à maneira dos políticos tradicionais, Lula vê os partidos, a começar do seu, como ferramenta de uso pessoal, e o governo como material de barganha.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2005 - Página 7887