Discurso durante a 36ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Morte do Papa João Paulo II.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Morte do Papa João Paulo II.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2005 - Página 8494
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO PAULO II, PAPA, ELOGIO, VIDA, LUTA, PAZ, COMBATE, AUTORITARISMO, GUERRA.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o corpo do Papa João Paulo II será sepultado hoje no Vaticano, debaixo de um clima de comoção mundial. Desde segunda-feira, mais de cinco milhões de fiéis de todas as partes do mundo estiveram na Basílica de São Pedro para prestar as últimas homenagens ao Pontífice.

Mais de uma centena de autoridades de todo o mundo, incluindo dezenas de Chefes de Estado, estarão presentes na despedida deste que foi um dos maiores líderes religiosos de toda a história.

A morte do Papa João Paulo II, ocorrida no último final de semana, não representa apenas a perda do maior líder da Igreja Católica e um dos mais importantes homens de nosso tempo. É a partida do mais fervoroso defensor da paz mundial.

Em seus 26 anos de pontificado, o terceiro mais longo em toda a história do Cristianismo, João Paulo II visitou 129 dos 191 países do mundo, numa peregrinação que tinha como foco central à pregação da paz.

Na defesa dessa convicção, não hesitou em assumir posições políticas corajosas nos momentos mais sensíveis da história recente. Historiadores e cientistas sociais consideram João Paulo II como um dos personagens mais influentes na derrubada no Muro de Berlim, que culminou com o fim da polarização Capitalismo versus Comunismo.

Crítico contumaz do totalitarismo, postou-se pela abertura política do leste, mesmo sendo ele oriundo da Polônia, na Europa Oriental.

Em cada um desses momentos, exibia a força que lhe era característica desde a juventude, quando chegou a ser fichado pela Gestapo de Hitler em função de sua posição de resistência à Alemanha nazista. A mesma força que demonstrou em seus últimos dias, ao enfrentar publicamente a dor e o sofrimento de sua enfermidade.

O polonês Karol Wojtyla foi também um forte opositor à invasão do Iraque em 1991 e da nova guerra iniciada em 2003. “A guerra é uma aventura sem retorno”, advertia.

A condenação à guerra foi uma constante em seu pontificado. Pediu pela paz no Oriente Médio, local que visitou no ano 2000, com passagens por Israel e por territórios palestinos.

Condenou as guerras na África, onde também esteve em mais de uma ocasião. E os conflitos na América Latina, onde interveio várias vezes.

A luta pela paz não se dava apenas através da força de sua palavra, mas de ações que empreendeu ao longo dos anos à frente do Vaticano. Ações de grande impacto político, que deixavam claro que sua convicção era um ideal profundo que carregava consigo. Num desses gestos, enfrentando a resistência de setores de sua própria Igreja, chegou a defender a união das religiões.

Foi João Paulo II o primeiro Papa em mais de dois mil anos de Cristianismo a estabelecer relações diplomáticas com Israel. O primeiro chefe da Igreja Católica a entrar em uma mesquita e pedir perdão, em nome da Igreja, pelos erros católicos cometidos nas cruzadas, nas guerras religiosas, em relação ao tráfico de negros e contra os judeus. Foi também o primeiro pontífice a entrar numa sinagoga.

Obviamente, nem sempre João Paulo II obteve êxito. Seus posicionamentos nem sempre se impuseram aos fatos. Mas Karol Woytila, o polonês castigado pelo nazismo, operário de pedreiras, trabalhador de indústria química, o segundo mais jovem cardeal da Igreja Católica, o Papa mais jovem do Século XX, o primeiro não-italiano a se tornar pontífice, nunca de curvou, jamais admitiu recuar. A ele não cabia esse papel. A João Paulo II estavam reservadas as tarefas que só se colocam diante dos fortes.

Até no último momento, atacado pela enfermidade que lhe minava as forças, o Papa teve a luz de deixar uma mensagem final, cujo conteúdo não poderia ser outro: uma ode ao amor e à paz.

Abre e fecha aspas:

À humanidade, que às vezes parece perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece seu amor que perdoa, reconcilia e faz ressurgir o ânimo à esperança. É o amor que transforma os corações e leva à paz.

O sofrimento e a agonia do Papa chegou ao fim. João foi a Deus. Mas seu exemplo permanece vivo. Nas palavras pronunciadas, nos textos escritos, nos gestos históricos de coragem ímpar.

Ao mundo cabe mirar no significado de cada uma das ações de João Paulo II e buscar sempre não apenas o que ele queria e pregava como um seguidor dos ensinamentos divinos. Mas a realização da vontade expressa da força maior de Deus: amor, igualdade, justiça social e paz.

A nossa homenagem a este grande homem, peregrino da paz e do amor. Estamos orando por você, João de Deus.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2005 - Página 8494