Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à condução da política externa do Brasil pelo Presidente Lula e ao comportamento do Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SAUDE.:
  • Repúdio à condução da política externa do Brasil pelo Presidente Lula e ao comportamento do Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2005 - Página 9074
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), QUESTIONAMENTO, CONDUTA, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INTERFERENCIA, POLITICA EXTERNA, MANIPULAÇÃO, CARGO DE CONFIANÇA, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), O ESTADO DE S.PAULO, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REVISÃO, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, ALTERAÇÃO, CRITERIOS, INTERNAMENTO, DOENTE, UNIDADE, TRATAMENTO MEDICO, PROGRAMA INTENSIVO, HOSPITAL, SETOR PUBLICO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, às vezes fico pasmo com o que me parece uma mistura de má-fé e até de ingenuidade - embora eu vá me referir claramente ao Ministro José Dirceu. A essa altura, de alguém que nomeia Waldomiro Diniz para trabalhar ao seu lado podemos esperar tudo, menos ingenuidade. Mas percebo - e vou falar nisso, por enquanto, bem de raspão - o Ministro José Dirceu, vivendo o que para mim é um delírio. Ele deu agora para colocar pessoas boas - elas, sim, ingênuas - para, por vias indiretas, se referirem a mim. Muito bem. Eu me refiro ao Ministro José Dirceu de maneira direta. O Ministro não pode ter a idéia de que, por alguma via, me silenciará. Não pode ter essa pretensão. Ele teria que ser internado no primeiro hospital público para doenças mentais se, porventura, tivesse a expectativa de me silenciar. Ninguém conseguiu, não será ele o primeiro a fazer.

E, portanto, eu, que hoje não ia falar nele, estou dizendo que ele é o principal responsável por essa coisa vergonhosa publicada no jornal O Globo: “Guerra aberta por Cargos. PP e PT disputam indicação de dois mil postos de confiança na Câmara dos Deputados.” E aqui há um entrevero entre o Presidente Severino Cavalcanti e o ex-Presidente João Paulo, da Câmara dos Deputados. E toda a fisiologia, todas as entranhas do Governo sendo expostas de maneira pútrida no Jornal O Globo de hoje. Isso aqui tem a cara da atuação política do Sr. José Dirceu. Assim como essa política externa atoleimada também lembra este Governo, o Ministro Furlan perdendo tempo - ainda agora eu aparteava o Senador Eduardo Siqueira Campos -, e não sendo recebido por autoridades dos países africanos, que até deveriam se sentir honrados com a perspectiva de poder negociar com o país, dada a nossa importância.

Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, veja essa política externa tão eficiente, que não consegue sequer unir os parceiros do Mercosul em torno de nós: além das medidas protecionistas que a Argentina está tomando contra as nossas exportações, além da manifestação de ontem do delegado argentino na ONU contra a vaga permanente no Conselho de Segurança para o Brasil, o candidato do Brasil à OMC, Embaixador Sérgio Seixas, vai ser derrotado agora...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não tem o apoio do Uruguai.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - ... pelo uruguaio, com o apoio da Argentina e do Paraguai. Que aliança, que parceria é essa, Senador?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Este Governo tem a cara do Sr.José Dirceu. Como tem a cara do Sr. José Dirceu! E quero que os Anais consagrem a carta que recebi, que me foi entregue por um eminente Senador, uma carta justificando aquela história das UTIs, que eu chamei de atitude nazista do Ministro Humberto Costa porque, burocrata, iria dizer quem tem direito a viver e quem é obrigado a morrer. Muito bem. Entendo que o médico é que sabe quem precisa de UTI e quem não precisa, e o Governo tem que investir em educação e procurar dar respostas administrativas que não dá.

Mas é a cara do Sr. José Dirceu, é a cara do Sr. José Dirceu! Vou repetir pela terceira vez: é a cara do Sr. José Dirceu! Mais duas vezes: é a cara do Sr. José Dirceu, é a cara do Sr. José Dirceu! Mais uma outra: é a cara do Sr. José Dirceu! E a cara não é bonita. A cara política não é bonita.

Aqui está: O Governo, depois de mandar uma carta, e que eu recebi, justificando essa maldade da UTI, está voltando atrás nas mudanças sobre as UTIs. Se fosse bom, por que não manter, apesar de a opinião pública se declarar inicialmente em contrário? Se é ruim, por que tentaram? Está aqui na Folha de S.Paulo.Vai tudo para os Anais.

Está aqui a manchete: “UTI: Governo volta atrás” (Correio Braziliense de hoje); Governo volta atrás nas mudanças sobre UTIs (O Estado de S.Paulo), que foi a primeira manchete que li; e a terceira,“O nível da saúde recua e pára a discussão sobre restituição e UTI.” (Folha Cotidiano).

Aqui está o Ministro sorridente, aquele sorriso sem dente, aquele sorriso com a boca fechada, aquela coisa esquisita. Está aqui. Mas rindo de quê? Rindo de quem precisa de UTI? Rindo dos seus burocratas, metade deles já envolvida em denúncias de corrupção terrível, a partir da Polícia Federal, na tal Operação Vampiro? Não apontaram uma só pessoa que pertencesse a governos passados. Todas eram neovampiros, eram vampiros desta gestão.

Volto a dizer que eles vão mal - e vão muito mal - e vão pior quando imaginam que podem silenciar quem quer que seja. Ou seja, se algum colega quiser debater comigo, estou às ordens dos 80 para debaterem comigo sempre.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª está criticando de maneira muito severa o fato de o Governo, o Ministério da Saúde, ter tomado uma nova posição e suspender algo que provocou sensibilidade e repercussão na opinião pública. Tratou-se de uma ação, avalio, de bom senso. Quando um Governo, tomada uma decisão, constata uma reação tão forte, que talvez nem tivesse previsto, volta atrás, eu não vejo mal nisso. Vamos citar outro exemplo que ocorreu também na área da saúde e que agora está sendo objeto de decisão de grande importância - e V. Exª certamente está acompanhando. Refiro-me à questão dos transplantes. O Senador Tião Viana, há cerca de dez dias, fez um pronunciamento enaltecendo a decisão do Sistema Nacional de Transplantes, que vai considerar não apenas a fila cronológica de transplantes, mas também, e sobretudo, a gravidade de cada paciente. V. Exª deve ter acompanhado muitos casos de pessoas que estavam gravemente enfermas, mais graves do que outras, e que deveriam ter tido o direito de ser atendidas primeiro, se não morreriam. Ora, dia 17 de março foi tomada a decisão que, durante alguns anos, vinha sendo objeto de debate no Conselho Nacional de Medicina, mas que não chegou a ser decidida ao tempo do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda que muitas pessoas tivessem solicitado ao então Ministro da Saúde José Serra que tomasse essa decisão. Foi necessário um longo debate, pesquisas, e a experiência de outros países foi considerada. Na próxima segunda-feira, será confirmada a decisão do Sistema Nacional de Transplantes. Então, trata-se, desta vez, de uma decisão que está para ser confirmada na segunda-feira próxima, tendo sido considerada toda a experiência e o acúmulo de reflexões da comunidade médica científica, inclusive dos pacientes. Estou citando esse exemplo, porque se trata de decisão significativa e importante, mas que não pôde ser tomada à época do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Acredito, entretanto, que até o Ministro José Serra consideraria essa decisão importante, porque muitas vezes ele ouviu, de familiares de doentes graves, que essa medida deveria ser considerada.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Relato esse exemplo de uma decisão relevante na área da saúde, que agora o Brasil está tomando, acredito que inclusive com médicos do PSDB presentes nesse organismo, que é colegiado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

            Sr. Presidente, peço tempo para concluir e o faço respondendo ao Senador Eduardo Suplicy, para dizer, que na verdade, de maneira bem curta e grossa, para mim, o Governo é ruim mesmo. O Ministro da Saúde é ruim. Uma pessoa que diz que precisa alterar a regra para internação em UTI pública e, uma semana depois, uma semana depois não, três dias depois, diz que já não é assim...Ou seja, no começo diziam que ele tinha se explicado mal. Ministro da Saúde que se explica mal já não deve ser mantido no cargo. Ministro da Saúde que tem assessor envolvido em corrupção não deve ser mantido no cargo. Ministro da Saúde que depois diz que se explicou bem, mas que quer recuar da posição tomada não deve se manter no cargo.

Se o Presidente Lula quisesse recomeçar, eu lhe diria para usar menos boné e menos fantasia nessas suas viagens, nas suas incursões públicas e demitir também o Sr. José Dirceu, porque quem tem um articulador político desse calibre, que trabalha o ódio, que trabalha o rancor, que trabalha sempre o subterrâneo - continua clandestino até hoje, até hoje não voltou para a luz do dia - é um Governo que tem vida curta do ponto de vista da sua relação política saudável com o Congresso e com a Nação.

De minha parte, eles terão o combate. De minha parte, eles terão a minha voz, que é o que posso oferecer em favor do povo brasileiro.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Governo volta atrás nas mudanças sobre UTIS” (O Estado de S. Paulo);

“D. Eugênio: Lula não é critão-modelo” (O Estado de S. Paulo);

“Guerra aberta por cargos” (O País);

“UTI: governo volta atrás” (Correio Braziliense);

“Ministério suspende estudos sobre norma para internações em UTIs” (O Globo);

“Ministro da Saúde recua e pára a discussão sobre restrição em UTI (Folha Cotidiano)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2005 - Página 9074