Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2005 - Página 9147
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PERIODO, MANDATO PARLAMENTAR, DEPUTADO FEDERAL.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 12 DE ABRIL DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem vê o Ministro-Chefe da Casa Civil, o Deputado José Dirceu, falar, sem olhar para os antecedentes, pensa que se trata de uma figura muito importante na República. Ele dá aval a Ministros acusados, trata com deboche e com desrespeito os adversários, age como se não tivesse perdido a formidável massa de poder que já esteve em suas mãos no início deste indigitado Governo.

S. Exª foi Deputado Federal por dois mandatos - se houve outro antes, não me lembro; a situação foi pouco marcante, e não me lembro. Lembro-me de que acompanhei dois mandatos, até porque fui seu colega. Exerceu atividade legislativa pífia com pequena presença na tribuna. O que S. Exª fez de mais notável, de mais marcante, Senador Leonel Pavan, foi apresentar um projeto pedindo plebiscito para decidir se iríamos ou não à Alca, o que serviu apenas para conturbar os mercados às vésperas da eleição que consagrou o Presidente Lula, em 2002. Outra idéia “brilhante” foi pedir plebiscito para saber se o Brasil pagaria ou não a dívida externa, embora saibamos que o dever de qualquer nação civilizada é cumprir com seus compromissos, honrar seus contratos. É isso que faz baixar o risco-País e se pensar, ao longo do tempo, em juros sustentavelmente baixos e, portanto, em perspectiva de crescimento sustentável em taxas razoáveis. Se alguém pudesse me contar uma tolice maior, eu me calaria, mas essa é uma aberração.

S. Exª, então, diz quem foi eficiente e quem não foi. Quando fala na televisão, tenho a impressão de que não estou vendo um Ministro, mas um comissário do povo da extinta União Soviética, aquele que, se for contrariado, manda para a prisão, para a Sibéria, quem o contrariar; aquele que tem a palavra última, até porque amigo de Beria, até porque delegado direto de Stalin.

A grande verdade, Senador Sérgio Guerra, é que S. Exª, no fundo, no fundo, vive um drama psicanalítico, pois não se conforma em ter perdido o poder que perdeu. E perdeu o poder precisamente porque dá explicações para todas as enrascadas dos Ministros do Governo Lula, dá explicações para tudo que imagina que foram fracassos das gestões passadas, explica o que chama de êxitos do Governo atual. Só não explica três coisas: a ligação do Partido dos Trabalhadores com as Farcs, a narcoguerrilha, no período em que presidia o Partido; o caso Santo André, que rendeu oito assassinatos no País: o do prefeito, que teria se rebelado contra a corrupção, e mais sete pessoas, em cadeia; e o caso Waldomiro Diniz. S. Exª não compareceu a esta Casa a fim de dar explicações. O tempo todo, escafedeu-se da possibilidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que examinasse a fundo a questão.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Quantos minutos mais, Senador Papaléo Paes?

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - V. Exª dispõe de cinqüenta e quatro segundos, mais dois minutos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Ministro Dirceu vive,então, um mundo de fantasia. Finge que manda - e deve constranger o Presidente Lula -, e foi fragorosamente derrotado na última reforma ministerial. A reforma não saiu, pelas indecisões do Presidente. E apesar de, entre outros líderes, José Dirceu ter anunciado que a reforma teria início e que seria ampla, não foi ampla nem chegou a ser iniciada, foi interrompida. E estamos vendo que o resultado não foi tão alvissareiro para o País. Mas o Ministro José Dirceu precisa fingir que manda. É psicanalítico. E esse é um terreno que não é o meu, não sou médico, não quero aqui fazer exercício ilegal de medicina, o que seria um pecado, até um crime. Mas posso arriscar que estamos no terreno da psicanálise sim. Que S. Exª, para continuar vivendo, precisa fingir que manda, precisa fingir que não perdeu poder, precisa fingir que existe. E agora já cogita uma saída que, supostamente, para ele, é honrosa, a saída de disputar uma cadeira de Deputado Federal. E não é difícil S. Exª se eleger, com essa máquina formidável. Quaisquer votinhos que obtiver, S. Exª se elege, e volta a ser o Deputado bisonho que conheci, que fugia da tribuna, que enfrentei na Câmara dos Deputados, que não era da linha de frente, um Deputado mais do cochicho, mais da conversa de bastidor, que todos nós julgávamos um grande articulador, até porque dizíamos que, se não ocupava a tribuna, se não topava o debate, é porque era um grande articulador.

Encerro, lembrando a figura do Pacheco, de Eça de Queiroz, que o Senador Mão Santa conhece bem. Pacheco era uma figura em Portugal que todos diziam ser brilhante, Senador Sérgio Guerra. Diziam que Pacheco era um sábio. Nunca escreveu nada, nunca discursou sobre nada, nunca elaborou tese, mas criou fama de brilhante. Era tão brilhante, na acepção dos outros, que foi convidado para o gabinete português, para ocupar o cargo de Ministro.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já encerro, Sr. Presidente.

Tornou-se Ministro. Certo dia, ocorre uma crise geral no gabinete português. Todos os Ministros opinaram sobre a crise geral de Portugal. Pacheco levanta o dedo. Disseram: finalmente o sábio vai falar. Mas quando chegou sua vez, recolheu o dedinho, e as pessoas, ainda condescendentes, pensaram: recolheu o dedinho à espera de oportunidade melhor. Pacheco, afinal de contas, era um gênio que haveria de dar a palavra definitiva sobre algo. Até que, de repente, a crise desemboca, Senador Demóstenes Torres, em algo específico da pasta do Ministro Pacheco em Portugal. Ele não teve como recolher o dedinho, ele teve que falar. Quando falou, perceberam que era um homem dado a parvoíces, que era um homem do tipo “parlapapão”, do tipo inconsistente, do tipo incongruente, do tipo despreparado. Ou seja, a partir da literatura consagrada de Eça de Queirós, virou Pacheco sinônimo de mediocridade. Este Governo tem um Pacheco, que fala com voz mais raivosa do que o Pacheco de Portugal; esse Pacheco é de carne e osso e se chama José Dirceu.

Posso dar um aparte ao Senador Demóstenes Torres?

Sendo impossível, digo que impossível a esta altura é alguém me provar o bom senso e o prestígio real do nosso Pacheco brasileiro, que é o nosso preclaro Ministro José Dirceu, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2005 - Página 9147