Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de requerimento propondo a aprovação de voto de censura ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por declarações feitas durante solenidade em que foi sancionada a lei que institui o Programa de Microcrédito, no último dia 25.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Apresentação de requerimento propondo a aprovação de voto de censura ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por declarações feitas durante solenidade em que foi sancionada a lei que institui o Programa de Microcrédito, no último dia 25.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2005 - Página 10203
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, VOTO, CENSURA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, DESRESPEITO, BRASILEIROS.
  • PROTESTO, INEXATIDÃO, INFORMAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, JUROS, BANCO DO BRASIL, PREVISÃO, ORADOR, AUMENTO, INADIMPLENCIA.
  • ANALISE, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, FAVORECIMENTO, ELEIÇÕES.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou encaminhando à Mesa expediente em que requeiro um voto de censura a Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Entendi esse comunicado bem como um necessário reparo ao destampatório verbal do Chefe do Governo da República Federativa do Brasil.

Além de destemperado, Sua Excelência foi descortês e indelicado, ao usar palavras inadequadas, chulas, de mau tom, nada condizentes com a elevada função a que foi conduzido pelos brasileiros, agora chamados de “comodistas”, ou, o que dá no mesmo, “indolentes” ou “preguiçosos”.

Se o Presidente for ao Aurélio, vai encontrar um significado para a palavra usada ontem. Só não a pronuncio aqui em respeito à dignidade do Senado Federal.

Não foi essa a conduta do Presidente, que, ademais, lançou um mundo de ficção ao convidar o povo a tomar empréstimo em banco mais barato.

Ele chegou a mencionar o Banco do Brasil, para dizer que os juros ali são de 1,5%. No Banco do Brasil, verifiquei há pouco num terminal aqui no Senado, os juros para empréstimos em consignação são de 4,65%. Ou Lula está mal-informado, ou o Banco do Brasil desconhece as ordens do Presidente.

A chulice presidencial deprime e chega a dar vergonha aos brasileiros. Os procedimentos do tipo “canto da sereia bancária” podem levar o povo a se afundar ainda mais em empréstimos, como revelam dados do Serasa publicados hoje em todos os jornais: “Índices de cheques sem fundo cresce 31,6%”. Segundo o jornal Correio Braziliense, “Calote bate recorde”.

Enquanto isso, o Presidente convida os brasileiros a se afundarem mais e mais. O convite chega a ser insinuante. Lula o faz entremeando os acenos a um chopinho das sextas-feiras. O povo, pelas manifestações que recebi hoje via e-mail - e peço que sejam todas essas manifestações consignadas nos Anais desta Casa, Sr. Presidente -, o povo prefere empregos, inflação baixa, segurança para caminhar sem risco pelas ruas. De empréstimos os brasileiros querem passar longe. Sr. Presidente, já vai constar dos Anais o próprio requerimento que fiz, pedindo voto de censura ao Senhor Presidente da República. É algo inacreditável o que se passou.

E aqui para nós, se o Presidente Lula entende que dá para usar essa expressão, não vou me furtar a também aqui empregá-la. O Presidente diz que a culpa dos juros altos na ponta do consumo, ou seja, o chamado spread bancário, é do traseiro dos brasileiros, e eu diria mais: que é do traseiro do Presidente da República, porque Sua Excelência não senta, não apõe o seu traseiro à cadeira presidencial, não se detém a estudar os problemas da República, não se detém a se preparar para sabatinar os seus Ministros e, a cada momento, solta esses dichotes, essas pilhérias, essas palavras impensadas, essas palavras chulas, levianas...

Este País começa a se inquietar com os arroubos do Presidente da República. Ontem, Senador Pedro Simon, recebi um paper de uma jornalista política muito respeitada, de análise bastante acurada, no qual ela dizia que o chulismo era de propósito, era para buscar uma identificação com o povo por baixo. Era para dizer: “Olha, sou um de vocês; logo, não rompam comigo. Se eu estiver mal, os outros supostamente estiveram mal, pelo menos sou igual a vocês, pelo menos sou parecido com vocês”. Esquece o Presidente que há dois tipos de líderes: os líderes positivos e os negativos. O líder negativo está fazendo campanha numa cidade, por exemplo ali na boca do crack em São Paulo; ele encontra os “crackeiros”, ele quer o voto dos “crackeiros” e pergunta: “Esse crack é do bom? Puxa, boa “crackada”, rapaziada. Graças a Deus que vocês estão bem. Votem em mim, sou Fulano de Tal”. O líder positivo diz: “Vocês não deveriam estar pitando crack”. O líder positivo diria: “Prefiro não ter o voto de vocês a compactuar com algo que é ruim para a saúde de vocês, é ruim para a saúde do corpo social brasileiro”. Ou seja, o líder sempre será positivo ou negativo, e o Presidente monta uma estratégia visando a exercer o papel de liderança na sociedade com vistas apenas, exclusivamente, na sua eleição, sem pensar em se transformar no líder positivo para a Nação.

Ontem, sua Excelência passou dos limites, pois disse que entende que os aumentos seguidos na Taxa Selic - inclusive os desnecessários - nada têm a ver com o spread alto que os bancos cobram dos usuários tomadores dos empréstimos. Sua Excelência entende que a culpa é dos brasileiros comodistas, indolentes e preguiçosos por “não levantarem seus traseiros” - a palavra é do Presidente da República - para buscar bancos mais baratos, como se neste Brasil houvesse bancos mais baratos.

Volto a dizer que pensei que fosse passar o mandato de 8 anos aqui. Lula Presidente reeleito, quem sabe derrotado, espero que derrotado, depois vem o seu fulano, seu Zezinho, seu Antônio, mas pensei que fosse aqui discutir tudo, menos o meu traseiro e o traseiro do Presidente. Pensei que não ia ter que discutir, Senador Pedro Simon, o traseiro do Presidente Lula aqui, mas sou obrigado a dizer que Sua Excelência é responsável pelo mau uso que faz do seu traseiro funcionalmente, é responsável, sim, por não termos um Governo competente. E Sua Excelência não senta para estudar os problemas, não senta para despachar com os ministros, está sempre em pé, mas já lhe disse, em um natal passado, se quiser homenagear um velho companheiro seu de lutas democráticas, Senhor Presidente, mande-me um retrato. Um retrato, Senhor Presidente, um retrato sentado, um retrato despachando com o Ministro. Pode até montar a cena: arregace aquela manga social para me dar a impressão, para me iludir que o Senhor está trabalhando, Senhor Presidente! Mas, por favor, não insista em governar este País em pé, discursando o tempo inteiro de improviso e agora dizendo que a questão da República se resolve com o traseiro assim ou com o traseiro assado. Porque isso faz - e eu não quero fazer nenhum trocadilho - mesmo é atrasar a vida e a compreensão política do povo brasileiro.

Muito obrigado, era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2005 - Página 10203