Pronunciamento de Antonio Carlos Magalhães em 03/05/2005
Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de Televisão.
- Autor
- Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
- Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de Televisão.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/05/2005 - Página 13027
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, ATUAÇÃO, ROBERTO MARINHO, JORNALISTA, EMPRESARIO.
O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Renan Calheiros, Sr. Ministro Edson Vidigal, prezados Ministros Eunício Oliveira e Ciro Gomes, prezado colega Efraim Moraes, querido amigo João Roberto, minhas senhoras e meus senhores, Srªs e Srs. Senadores, acompanhei bem de perto o nascimento e o crescimento, até chegar aos dias de hoje, desta grande Rede Globo de Televisão.
Roberto Marinho, que me distinguia com o seu afeto, colocava-me, desde os anos 60, o seu desejo de fazer uma televisão que fosse orgulho para os brasileiros. Conseguiu com rapidez o seu intento.
Em 1965, o Presidente Humberto Castello Branco, que tinha realmente um senso cultural muito grande e, sobretudo, amor às artes, fez com que saísse a autorização para o funcionamento da Rede Globo. Aí é que se encontra Roberto Marinho. Apesar de tudo isso, quando surgiu o Ato nº 2, o Ministro de Estado, numa sala do Ministério da Justiça, solicitou que todos os proprietários de jornal e de televisão retirassem de seus quadros aqueles julgados incompatíveis com o regime. Assistiu-se ao fato, e um silêncio muito grande ocorreu na sala. Surgiu, então, a figura de Roberto Marinho, que se levantou e educadamente se dirigiu ao Ministro, dizendo: “Ministro, a Rede Globo eu comando, e não vou demitir comunista pela vontade do Governo. Sou o responsável por tudo que existe ou vier a existir nas minhas organizações”.
E assim se vê a postura desse homem grandioso, desse jornalista notável, que, depois de fazer de O Globo o grande jornal do País, foi para outro campo, como salientaram vários oradores, inclusive V. Exª, Sr. Presidente, para mostrar, mais uma vez, sua capacidade empreendedora e sempre de jornalista. Aqueles que lidavam com ele viam que o que mais agradava o Dr. Roberto era ser chamado de jornalista e não de empresário. Ele queria ser o jornalista e acompanhava seu jornal toda manhã, até 1h da tarde; ia depois almoçar na sua tenda de trabalho, a Rede Globo, na rua Lopes Quintas, e lá ficava trabalhando por sua televisão, ele mesmo no comando, já com o apoio dos melhores homens da televisão do País e de seus filhos. Daí nasceu a educação de todos eles para o trabalho e, sobretudo, para os grandes movimentos do País.
A figura de Roberto Marinho é ímpar. Pode-se dizer dos seus defeitos, porque não era imune aos mesmos, mas sobretudo da grandeza de sua figura, que não acalentava ódios e queria fazer a grandeza do País, por meio dos adversários ou dos amigos mais íntimos. O Brasil sempre estava acima de tudo. Sofreu muito, talvez por isso, mas teve também a glória, que veio mesmo antes do seu falecimento. Depois do falecimento, a glória é sempre mais comum, mas antes Roberto Marinho já era glorificado, neste País, como grande jornalista e empreendedor.
Daí por que acho que jamais nós, do Senado, poderíamos calar-nos na oportunidade dos 40 anos de vitórias da Rede Globo. Marcamos, com muita felicidade, esta data. O Parlamento só existe com imprensa livre. O Parlamento só existe com televisões que realmente garantam sua credibilidade nacional e, no caso da Globo, internacional.
Estamos a falar de uma das três maiores e melhores televisões do mundo. Isso não é coisa fácil: significa trabalho. Isso significa saber o que o povo deseja. Todos esses movimentos populares tiveram o apoio não só do jornal O Globo antes, como também da TV Globo depois. Ninguém pode ignorar que não se faz movimento e opinião pública sem povo. E a sensibilidade de Roberto Marinho ia buscar no sentimento popular aquilo que era bom para o País.
Quantas vezes estive com ele e vários Presidentes da República, principalmente o Presidente José Sarney, em cujo Governo eu era Ministro das Comunicações. Mais um ato de grandeza que sou obrigado a confessar neste instante: o Presidente Tancredo Neves me convidou para Ministro das Comunicações e me disse: você se aborrece, se for convidado pelo Dr. Roberto Marinho? Eu disse: não, para mim é uma honra, porque ele é um dos meus melhores amigos na vida. E S. Exª falou com o Dr. Roberto, que lhe respondeu: não, para ser um ministro forte, ele tem que ser convidado pelo Presidente da República. Assim era Roberto Marinho. Assim foi a sua vida, toda ela pontilhada de momentos de dificuldade, mas de coragem para enfrentar as lutas.
Mas acho que talvez aquilo que de maior ele tenha realizado foi em relação a seus filhos: a educação que deu a todos eles é a garantia da união de hoje, que faz com que não haja solução de continuidade em O Globo. Essa união é importante para o Brasil. Também me recordo - dada a idade, posso falar - de que, quando eu me dirigia ao Dr. Roberto, sempre o fazia em relação a João Roberto como seu Luís Eduardo; ele a mim se dirigia sobre Luís Eduardo como meu João Roberto. A idade de ambos, o espírito público de ambos, o trabalho de ambos pelo País realmente faziam com que também fossem unidos, embora não fossem de uma convivência tão permanente.
Quero neste instante exaltar os 40 anos da Rede Globo. A programação foi feita à altura dos 40 anos pela capacidade profissional de todos que lá labutam. Mas o principal - ressalto neste momento - como qualidade de Roberto Marinho foi fazer com que seus filhos estivessem unidos, como estão, pelas causas mais legítimas do Brasil de hoje.
Muito obrigado. (Palmas.)