Discurso durante a 63ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da viagem de S.Exa. em comitiva ao Japão. Expectativa com a viagem do Presidente Lula ao Japão. Observações sobre os problemas estruturais com corrupção no Brasil.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Relato da viagem de S.Exa. em comitiva ao Japão. Expectativa com a viagem do Presidente Lula ao Japão. Observações sobre os problemas estruturais com corrupção no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 19/05/2005 - Página 15422
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEPOIMENTO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, DELEGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ANTERIORIDADE, VISITA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, PREPARAÇÃO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, EMIGRAÇÃO, BRASIL, INTEGRAÇÃO, DESCENDENTE, ESTRANGEIRO.
  • SEMELHANÇA, DIPLOMACIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, REFORMULAÇÃO, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), INCLUSÃO, REPRESENTANTE.
  • SOLICITAÇÃO, ANEXAÇÃO, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, DADOS, CRESCIMENTO ECONOMICO, CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, ALEGAÇÕES, CRISE, BRASIL, AUTORITARISMO, DECLARAÇÃO, RISCOS, DEMOCRACIA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, CORRUPÇÃO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem eu ainda estava sob o efeito da mudança do fuso horário, no retorno da minha viagem ao Japão. É impressionante como isso afeta o nosso equilíbrio e o nosso raciocínio. Então, tive certa dificuldade de entender determinadas questões, o que estava atribuindo ao problema do fuso. Talvez, o problema não seja de fuso, seja confuso, Senador Hélio Costa.

Mas, na viagem ao Japão, tivemos uma recepção muito positiva. Numa comitiva pelo PT, fomos àquele país juntamente com o Presidente José Genoíno, com o Paulo Ferreira, nosso Secretário de Relações Internacionais, e também com o Professor Luizinho, Deputado Federal por São Paulo. E há uma expectativa muito grande da visita do Presidente Lula, que deve acontecer na próxima semana, nos dias 26 e 27, com um grande evento empresarial e com perspectivas muito positivas de retomada e de ampliação das relações comerciais entre Brasil e Japão. Está acontecendo a preparação do centenário da colonização japonesa, que será comemorado daqui a dois anos. Trezentos mil brasileiros descendentes de japoneses moram no Japão, e a colônia japonesa no Brasil engloba aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. Portanto, essa integração é muito importante, e a comemoração do centenário da colonização é algo que está criando uma expectativa muito positiva. Haverá grandes eventos para comemorar essa integração cultural e econômica entre os dois povos.

Há um ponto de convergência na ação diplomática do Brasil e do Japão neste momento, que é a questão da reformulação do Conselho de Segurança da ONU, pois os dois países têm como perspectiva a entrada de seus representantes no Conselho.

Como tivemos oportunidade de perceber nos contatos com os principais partidos japoneses, o PLD e o Komei, há expectativa da viagem do Presidente Lula ao Japão também, porque a China está ocupando muitos espaços na disputa pela hegemonia na Ásia. Portanto, a visita do Presidente Lula neste momento vem no bojo desse sentimento.

Então, chegamos do Japão com uma expectativa positiva de ampliação dos negócios e recebemos muitas notícias boas sobre a realização da Cúpula América do Sul - Países Árabes, uma proposta concretizada pelo Presidente Lula que teve uma grande repercussão e foi extremamente bem avaliada. Uma situação de muito risco, mas que se conformou como algo positivo para a abertura de panoramas importantes para o Brasil, para a América do Sul e para toda a América Latina, principalmente na perspectiva dos investimentos, dos famosos petrodólares.

Além disso, temos informações também do que está acontecendo em nosso País. De janeiro a abril, houve o maior volume de empregos com carteira assinada registrado pelo Caged: mais de 558 mil empregos. Desde que esse registro começou a ser feito, em 1992, nunca se tinha alcançado um volume tão grande de empregos com carteira assinada, tratando-se, portanto, de um recorde nos últimos doze anos.

A produção de cimento, no primeiro trimestre deste ano, teve um crescimento de 8,1% comparativamente ao mesmo período do ano passado; a produção de bens de capital, 33%, no primeiro trimestre de 2005 em relação a 2004; as exportações, 17%, nas duas últimas semanas de maio, comparadas com o mesmo período de 2004, quando a indústria estava a todo vapor.

Aliás, peço o registro, na íntegra, do editorial do jornal O Estado de S. Paulo de hoje, que mostra todos esses números. Os indicadores econômicos são extremamente positivos e mostram a retomada efetiva do crescimento econômico, da geração de empregos.

A Petrobrás, pela primeira vez, tem a exportação superior à importação, numa perspectiva muito concreta de auto-suficiência já em 2006. O Banco do Brasil apresenta a maior lucratividade do setor, advinda agora do empréstimo, do crédito, e não da rolagem dos papéis da dívida. O principal banco do sistema financeiro, um banco público, está cumprindo seu papel, que é o de financiar.

Cheguei ao plenário ontem. Estava tentando adequar-me ao fuso e ao confuso ambiente deste recinto e ouvi discursos em que se dizia: “Acabou! Acabou! É a crise! Está instalado o caos!” Lembrei-me de algumas coisas. Há pouco tempo, não faz muitas semanas, ouvi: “Não sou candidato, mas, se houver uma crise, estou à disposição; se não houver, darei um jeitinho de criá-la”. Este é o recado óbvio, a conclusão imediata: se só sou candidato se houver crise; então, arranjarei uma crise para ser candidato.

Há outra declaração que não repercutiu neste plenário, apesar de ter sido feita aqui: “Ou ganha autoridade moral, ou este Governo, que já se julga reeleito e até perpetuado no poder, irá se decepcionar, será apeado do poder pelo voto. Mas, se não for pelo voto, por aqueles que têm dignidade de reagir de qualquer maneira para que o Brasil não viva na desordem em que vive”.

Essa declaração, feita neste plenário, é de uma malvadeza, é de uma maldade... Estão com saudade de quê? Da ditadura? Do autoritarismo? Vai ser retirado do poder pelo voto ou “de qualquer maneira”?

Quero entender isso. Hoje estou um pouco mais adaptada ao fuso horário e quero entender o que está acontecendo. A realidade da economia, a retomada do crescimento, as mudanças que vêm sendo realizadas pelo Governo Lula estão incomodando tanto que estimularam o uso da expressão “de qualquer maneira”? Quero entender até aonde vai isso. Já assistimos a esse filme. O filme não é novo, Senador Hélio Costa; já o vimos muitas vezes neste Brasil; já o vimos muitos vezes na América Latina.

Mudanças significativas começam a ser feitas. Surgiram críticas ao Bolsa-Família, um programa que atinge 6,5 milhões de famílias e mais de cinco mil Municípios, com repasses do Governo Federal. Irregularidades? É óbvio que haverá; é impossível não existirem. Mas naquelas denúncias aparecia, muito subliminarmente, o fundo da crítica. Qual era o fundo da crítica? “É muito dinheiro para pobre!”

Quando se começa a mexer em determinadas questões, a realizar determinados programas e a efetivar certas ações, aqueles que governaram este País durante séculos, as elites, as classes dominantes, determinadas personalidades que, pela primeira vez na história do Brasil, não estão no Governo central, ficam incomodados. Então, toda essa crise, essa situação que está sendo colocada como catastrófica não bate com a realidade, com o que está sendo feito neste País.

Volto a afirmar: o Brasil tem problemas estruturais de corrupção, Senador Tião Viana, todos nós sabemos. A corrupção é endêmica, está encardida no tecido do Estado brasileiro. Eliminá-la, diminuí-la não é tarefa fácil nem rápida. Agora, efetivamente, as denúncias que aparecem têm pronta decisão: afasta, instala inquérito, retira, coloca o Ministério Público para acompanhar as ações - como ontem, em Alagoas, Estado em que, durante dez anos, funcionou um esquema para desviar merenda escolar.

Seria importante que houvesse mais tempo para fazer todo o histórico das ações que vêm sendo realizadas no combate à corrupção em nosso País. É suficiente? Não, é óbvio que não. Que não venham querer transformar uma situação numa crise institucional que apenas mascara o fato de determinadas parcelas das elites brasileiras não se conformarem com a eleição de Lula e com o que estamos fazendo neste País.

É por isso que hoje, com o meu fuso talvez um pouco mais adaptado, estou tentando entender um pouco melhor as declarações tão malvadas de quererem retirar de qualquer maneira aqueles que legitimamente foram eleitos pelo povo brasileiro, numa das vitórias históricas e que muito nos orgulha, a de colocar pela primeira vez na Presidência da República um Presidente com a cara, o sentimento e o compromisso com o povo brasileiro.

Muito obrigada.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Editoriais”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/05/2005 - Página 15422