Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a condução da atual política econômica.

Autor
Cristovam Buarque (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com a condução da atual política econômica.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2005 - Página 15935
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DISCURSO, AUTORIA, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, SUSPEIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, REAJUSTE, TAXAS, JUROS, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÕES.
  • DEFESA, AUTONOMIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ISENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RESPONSABILIDADE, DECISÃO, REAJUSTE, TAXAS, JUROS.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Senador, democrático. Qualificado, eu não posso dizer, porque aí seria uma pretensão. Agora, preocupado, sem dúvida. Lembro que nunca fui crítico da política econômica, porque eu não tenho outra para pôr no lugar. Isso eu faço desde o tempo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. O meu discurso não mudou nada de lá até aqui.

No que se refere à taxa de juros, Senador Arthur Virgílio, não tenho dúvida de que é estratosférica, exagerada. Mas não sei se ela é ou não necessária. Não sei. Não tenho dados suficientes. Agora, por que preocupado? Preocupado porque, de fato, estamos chegando a um ponto muito grave da credibilidade entre nós, políticos.

Por exemplo, o Senador Arthur Virgílio, com toda a responsabilidade de Senador, suscita uma hipótese em que eu não quero acreditar - mas, se S. Exª o faz, tem razões, pois não faria isso levianamente -, a hipótese absurda de que se manipule a taxa de juros sob a forma política, seja para baixá-la perto da eleição, seja para fazer populismo de ter uma taxa baixa, voltando a inflação.

Agora, Senador Arthur Virgílio, o pior é que, ouvindo aqui o seu discurso, fiquei pensando. E se as pessoas acharem que o Senador Arthur Virgílio está falando isso porque, quando as taxas baixarem, a Oposição vai poder dizer que baixou por razões eleitorais? É uma dúvida que começamos a generalizar. Dúvida em relação ao Governo manipular a taxa de juros e dúvida se o Senador Arthur Virgílio não estaria manipulando a manipulação da taxa de juros. Isso é prova de uma grande desconfiança mútua entre todos nós, que é real, não é irreal. Não é, em nenhuma hipótese, irreal. É algo real.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª me permite um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª, de acordo com o art. 14, já tem garantida a palavra, uma vez que foi citado. Vamos continuar com o debate democrático, qualificado e, agora, preocupado.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - É absolutamente real, e concluo - e o real não é nenhum trocadilho. Agora, isso me leva a ter uma preocupação maior ainda do que com a taxa de juros. Refiro-me à taxa de credibilidade de todos nós: de nós, diante da opinião pública, e de nós, entre Parlamentares. Acho que essa taxa de credibilidade é que está tão baixa que a preocupação nossa é de elevá-la, ao mesmo tempo em que acho que deve ser uma preocupação baixar a taxa de juros responsavelmente, tanto do ponto de vista de que ela seja a menor possível para gerar emprego e a maior possível para não trazer de volta a inflação, como também que ela nunca seja instrumento de manipulação. Aliás, por essa razão, defendo - e sou talvez uma voz quase única no meu Partido - a autonomia do Banco Central. E o faço porque um Presidente da República tem direito de ter todas as tentações do mundo, menos duas: o que ele deixa ser impresso nos jornais e o quanto ele deixa ser impresso na Casa da Moeda.

Sou absolutamente responsável do ponto de vista fiscal, sempre fui, mas tenho medo de ser Presidente com o Banco Central na minha mão, porque vou explodir de dinheiro para colocar na educação. E, como quero uma boa educação com estabilidade monetária, não quero ter o poder de emissão de moeda, não quero ter o poder sobre a taxa de juros. Essas são decisões que têm de ser tomadas à luz da técnica. E não tenho outra forma a não ser acreditar que a decisão sobre a taxa de juros está sendo tomada corretamente. Mas me preocupa que haja razões para a preocupação do Senador Arthur Virgílio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2005 - Página 15935