Discurso durante a 66ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do Governo Lula, destacando o oportunismo da Oposição na maneira como conduz a questão da criação da CPI dos Correios, e alardeia a idéia de que todo o Governo é corrupto. Existência de um clima de golpismo no ar. Análise da política de alianças do atual Governo.

Autor
Cristovam Buarque (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa do Governo Lula, destacando o oportunismo da Oposição na maneira como conduz a questão da criação da CPI dos Correios, e alardeia a idéia de que todo o Governo é corrupto. Existência de um clima de golpismo no ar. Análise da política de alianças do atual Governo.
Aparteantes
José Jorge, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2005 - Página 16037
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AMBITO, DIRETRIZ, INTERESSE NACIONAL, ANALISE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • CRITICA, BANCADA, OPOSIÇÃO, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ALEGAÇÕES, CRISE, POLITICA NACIONAL, OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, CONEXÃO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ANTERIORIDADE, GOVERNO.
  • APOIO, POSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, EFICACIA, POLICIA FEDERAL, REALIZAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, AVALIAÇÃO, ORADOR, IMPORTANCIA, ATENDIMENTO, OPINIÃO PUBLICA, PEDIDO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • ANALISE, QUEBRA, CONFIANÇA, POVO, AMERICA LATINA, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, MOTIVO, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, GOVERNO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • JUSTIFICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), NEGOCIAÇÃO, APOIO, BANCADA, FAVORECIMENTO, EXERCICIO, GOVERNO FEDERAL, NECESSIDADE, AUMENTO, COMPROMISSO, ETICA, DEFINIÇÃO, PRIORIDADE.
  • SUGESTÃO, GOVERNO FEDERAL, CUMPRIMENTO, COMPROMISSO, MANDATO ELETIVO.
  • SUGESTÃO, GOVERNO, REMESSA, CONGRESSO NACIONAL, PROJETO DE LEI ORÇAMENTARIA, FAVORECIMENTO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, público aqui presente, sobretudo os jovens, venho aqui, como fez o Senador Tião Viana há pouco, defender o meu Partido e o Governo que ajudei a eleger. Mas vim defender não apenas na ótica e no enfoque daquilo que o Governo fez nesse período, como fez o Senador, mas dentro de uma visão de mais longo prazo, o que, a meu ver, é aquilo que o nosso Partido e o nosso Governo devem fazer. Analisarei cada um dos pontos de defesa feitos pelo Governo, pelo PT, por meio de suas direções, nos últimos dias.

Em primeiro lugar, concordo que a Oposição vem sendo, sim, oportunista na maneira como defende a CPI sobre os Correios. Mas creio que não defenderia bem o meu Governo e o meu Partido se não percebesse e dissesse que esse oportunismo está sintonizado com a opinião pública neste momento. Há, sim, de parte da opinião pública, um sentimento de que é necessário aprofundarmos a análise daqueles fatos.

É também correto criticar aqueles que antes eram contra as CPIs e agora ficaram a favor. É verdade; mas acho que isso não pode ser desculpa para que fiquemos contra. Não podemos nos igualar por baixo, na incoerência. Se aqueles que antes eram contra as CPIs e agora as defendem, sintonizados com a opinião pública, o nosso papel é manter a nossa coerência de antes e não ficar contra agora. Até porque se, de repente, os que antes defendiam ficam contra e os que eram contra ficam a favor, o povo fica perplexo e perde a confiança, não apenas no PT, não apenas no PSDB, mas nas instituições que nós, como políticos, representamos.

Quero defender também o meu Partido e o meu Governo na idéia de que a Polícia Federal é uma instituição muito melhor preparada para fazer as investigações que dizem respeito a qualquer crime, inclusive corrupção. Mas, ao mesmo tempo em que defendo essa tese, quero dizer que o povo não está acreditando que esse é o melhor caminho. Na política, não basta fazer pelo melhor caminho; há que se fazer também pelo caminho que o povo considera melhor. Hoje, há uma ânsia no sentido de que a apuração desses fatos não se limite à Polícia Federal, apesar de que estou absolutamente convencido da seriedade e da competência com que ela faz seu trabalho.

Quero dizer também que protesto contra todas essas acusações da Oposição, como se o Governo do Presidente Lula fosse um governo de corrupção. Porém, não prestaria um serviço ao meu Partido, ao meu Governo, se não dissesse que a reação contra apurações de escândalos termina fazendo com que o povo pense aquilo que não é verdade, ou seja, que o Governo está envolvido em atos de corrupção.

É um equívoco achar que a melhor maneira de defendermos o nosso Governo, quanto à sua honestidade, seja tentando impedir a realização de todas as investigações que serão feitas, inclusive, também - e por que não -, por meio de CPIs.

Quero também defender e analisar a idéia de que existe um clima de golpismo no ar. Acho que existe, sim, um clima de quebra da credibilidade nas instituições, que é uma etapa anterior ao golpismo. Todavia, penso que isso não advém da atuação da Oposição; isso advém, hoje, do espírito de impaciência que toma o povo, em todos os países latino-americanos, por perceber que, depois de anos e anos de democracia, não estamos fazendo as reformas sociais necessárias, não estamos cumprindo as promessas feitas na campanha e não estamos lutando ou dando a impressão de estarmos lutando contra as diversas formas de corrupção.

Esse sentimento de golpismo, se há, na sua ante-sala de medidas mais dramáticas contra as instituições, não é, a meu ver, ação de ninguém isoladamente, mas de uma percepção do povo de perder a crença nas instituições.

Quero analisar, também, ajudando, colaborando e defendendo o meu Governo e o meu Partido, a acusação de que fizemos alianças espúrias. Em política, toda aliança transparente e democrática é correta. Ao contrário: um partido que não faz alianças, quando está no Governo, é um partido autoritário. Assim, defendo as alianças. Porém, essas alianças precisam ter duas premissas, as quais - até para defender o meu Partido e o meu Governo - devo dizer que não estamos cumprindo.

A primeira, Senador Sérgio Guerra, é a de que as alianças são feitas dentro de regimes rigidamente comprometidos com a ética e não para lotear coisas. A segunda é a de que as alianças devem ser feitas com propósitos, com causas a serem defendidas. As alianças feitas sem causas que as respaldem, feitas apenas ao sabor dos acordos, para manter-se no poder, não são as alianças corretas. Creio que não defende o Partido dos Trabalhadores e não defende o Governo quem achar que qualquer aliança, apenas pelo poder, justifica-se.

Quero dizer que muitos acusam o Governo Lula de não ter coordenação política. Não acho que seja a acusação correta. A acusação correta que faço, defendendo o Partido no longo prazo e o Governo no imediato, é que precisamos, toda vez em que formos fazer a coordenação política, ter antes uma aglutinação política em torno de algumas bandeiras. A meu ver, o que falta na coordenação é aglutinação. Hoje, o que falta não é saber como as pessoas votam naquilo que o Governo quer, mas saber o que é que a gente quer para que a Oposição, Senador Mão Santa, vote corretamente. Estão faltando bandeiras aglutinantes, como teve Juscelino quando fez esta cidade e a industrialização, como teve o Presidente Sarney, que aqui estava há pouco, quando levou adiante o programa de democratização neste País. Hoje, nós não temos essas bandeiras aglutinantes.

E querendo colaborar - como é minha obrigação - com o meu Partido e com o meu Governo, quero propor algumas idéias que, a meu ver, serviriam para retomar o rumo do Governo, o rumo do Partido, a coerência partidária e mudar o Brasil.

Antes, porém, concedo um aparte ao Senador Sérgio Guerra, que me solicitou.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, não se constitui fato surpreendente a palavra tranqüila do Senador Cristovam no geral e hoje à tarde. Se essa fosse a palavra que prevalecesse no Governo, na sua Base e no Partido dos Trabalhadores, seguramente teríamos um grau de colaboração muito mais amplo e consistente. Por exemplo, falar de golpismo, evidentemente, não tem conteúdo e não faz sentido. Não há, seguramente, nenhuma articulação golpista nem a vontade de nenhuma força política de que essa articulação se dê. Se falarmos em desgastes, perda de confiança, contradições, estaremos falando na verdade. Esses são os fatos. Evidentemente, falta de confiança e falta de coerência são elementos que desacreditam as instituições e, nesse sentido, servem à concretização de um ambiente de desordem que pode favorecer, eventualmente, uma ação golpista. A questão das alianças foi apresentada de forma magistral por V. Exª.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Aliança tem de se dar em torno de um projeto, de um programa, de uma determinada ação ou de um conjunto de ações que tenham capacidade de aglutinar, de fazer com que a adesão ou o combate se faça em torno do mérito e não em torno de interesses imediatistas e conjunturais que não podem ser explicitados na perspectiva de curto, médio e longo prazo na democracia nova. Seu discurso é seguro. Acho que o Partido dos Trabalhadores ainda é um grande Partido. Se eu fosse do PT, eu refletiria uma, duas, dez vezes sobre as palavras do Senador Cristovam Buarque, a quem conheço há muitos anos e sei que não é de ser levado pela ventania, mas de ficar firme nas suas convicções, que são democráticas e de muitos anos. Parabenizo-o por suas palavras.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - Muito obrigado, Senador Sérgio Guerra.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - Sr. Presidente, peço a generosidade de V. Exª para que eu possa concluir, dizendo das propostas que trouxe como forma de defender o meu Partido.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - V. Exª dispõe de mais quatro minutos.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - É o suficiente.

Quero defender o meu Partido, o Governo que ajudei, mas sem fazer concessões àquilo que eu penso e à coerência que procuro ter na vida pública.

Em primeiro lugar, Sr. Presidente, ao meu Partido: temos que lutar, defender e brigar para que o nosso Governo funcione e cumpra os seus compromissos. Mas temos a obrigação de defender o nosso patrimônio. Em nenhum governo, nem o nosso, justifica depredarmos o patrimônio do Partido. Às vezes, por algumas falhas, podemos estar depredando o patrimônio do nosso Partido. Será trágico para o próprio Governo, se tivermos um segundo mandato - como eu espero - chegarmos aqui com uma Bancada muito menor, o que é bastante provável atualmente.

Em segundo lugar, na idéia de defender o Governo, quero sugerir ao Presidente Lula que aproveite a chance que terá, nos próximos dois meses, de enviar para cá uma proposta orçamentária, Senador Pedro Simon, que mostre a cara do PT. Ali é que se dá a diferença. A luta, hoje, dá-se no orçamento. Se Che Guevara estivesse vivo não iria subir a Sierra Maestra, mas viria defender no orçamento público recursos para um programa que tivesse capacidade distributiva neste País e capacidade transformadora do País. Isso se faz por meio do orçamento, democraticamente. Se não for possível, que a Oposição assuma a sua responsabilidade de não ter aprovado as propostas do Governo.

Concedo um aparte ao Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Cristovam Buarque, gostaria de me solidarizar com a análise de V. Exª. Uma das minhas preocupações permanentes aqui é a questão da estrutura partidária. Penso que ultrapassamos esse ponto da democracia. Não temos espaços para retrocessos, mas precisamos avançar no ponto da governabilidade. Na governabilidade, nós dependemos de fortificar os Partidos políticos. E, efetivamente, o PT, durante esses vinte anos, foi o Partido político que conseguiu melhor se estruturar. Portanto, ele é um patrimônio não somente dos petistas, como V. Exª, mas até dos adversários. Para nós, é importante que o PT exista e que seja forte. Da maneira como o Governo vem-se conduzindo, da forma como faz alianças e da forma como governa, certamente o PT estará em risco, muito mais que o Governo. O Governo é transitório, um dia ele vai acabar, mas o PT, o PFL, o PSDB e o PMDB são Partidos que devem ser permanentes. Portanto, temos de nos preocupar com o futuro de todos esses Partidos. Neste momento, acho que o PT é o que está em maior nível de risco. Muito obrigado.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF) - Muito obrigado, Senador. Eu também tenho o maior respeito pelos Partidos brasileiros. Todos eles, juntos, compõem esse teatro da democracia, tão importante.

Insisto na proposta final, naquilo que defendi aqui: a melhor maneira de o Governo mostrar sua reorientação - e aglutinar para isso - é elaborar um projeto de orçamento que reduza as desigualdades regionais, que resolva o problema da educação básica, que construa uma sociedade com saúde, que tire os recursos que este País, há cinco séculos, mantém para a parcela mais rica da população e faça com que, por meio dos recursos públicos, este País distribua renda e se transforme e se modifique. Isso é possível. Já temos massa crítica capaz de saber como fazer isso e aqui temos um Congresso Nacional para ser chamado à responsabilidade pelo Governo, para ver se quer cumprir corretamente seu papel. Só, então, faríamos as alianças necessárias, dentro da ética e do compromisso de mudar este País e distribuir os nossos recursos para todo o nosso povo.

Era essa, Sr. Presidente, a forma que encontrei de defender o meu Partido e o Governo, que me alegro de ter ajudado a eleger.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2005 - Página 16037