Discurso durante a 70ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à política econômica do governo. Aponta política econômica Chilena como exemplo a ser seguido pelo Brasil. Alerta sobre a gravidade da corrupção no país. Defende realização de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para apurar casos de corrupção denunciados pela imprensa.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Críticas à política econômica do governo. Aponta política econômica Chilena como exemplo a ser seguido pelo Brasil. Alerta sobre a gravidade da corrupção no país. Defende realização de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para apurar casos de corrupção denunciados pela imprensa.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2005 - Página 16532
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, FAVORECIMENTO, BANQUEIRO, APRESENTAÇÃO, DADOS, ORIGEM, PRONUNCIAMENTO, PEDRO SIMON, SENADOR, INJUSTIÇA, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, AUMENTO, JUROS, PRECARIEDADE, QUALIDADE DE VIDA, IDOSO.
  • DEFESA, IMPLANTAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • ELOGIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, ESPECIFICAÇÃO, POLITICA FISCAL, EDUCAÇÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem através do sistema de comunicação do Senado Federal, é impressionante a audiência da TV Senado.

Senadora Heloísa Helena, continue no seu sonho ideal, que hoje vou me reportar sobre uma civilização, como se diz em espanhol, bem cercana, o Chile. Senadora Heloísa Helena, no Chile, o candidato à Presidência preferido dos chilenos é uma mulher.

Senador Tião Viana, pode parecer que tenho um perfil pessimista, mas não é verdade. Sou extremamente otimista, convicto, Senador Pedro Simon, tanto que uma das fontes da minha inspiração é o discurso de V. Exª do dia 23 de maio de 2005.

Creio muito na ciência médica, como o Presidente Tião Viana. Na Psicologia, uma ciência médica, surgiu a neurolingüística. Senador Pedro Simon, segundo a neurolingüística, devemos ter um modelo. Quem quiser ser jogador de futebol deve buscar um modelo, o Pelé ou o Ronaldinho. Se quiser ser cantor, o Roberto Carlos.

Para mim, na minha geração, por ser médico, o meu modelo foi Juscelino. Era médico como eu, cirurgião de Santa Casa, sorridente; foi prefeito, governador, cassado nesta Casa. Ele dizia que era melhor ser otimista. O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado.

Diante desses fatos, ainda estou otimista. O nosso País vai mal e muito mal, nunca esteve tão mal. Agora, a verdade é que toda mídia é paga pelos bancos, Senador Paulo Paim, pelos banqueiros. Pode-se ver na televisão quem financia as novelas boas, os jogos de futebol. Os banqueiros estão bem.

O Senador Pedro Simon, no dia 23/05/2005, fez um dos pronunciamentos mais contundentes sobre os banqueiros. Os banqueiros levam a mídia de roldão, mostrando a farsa de que este País vai bem, mas nunca esteve tão mal nos seus 505 anos e nos meus 62 anos de existência. Nunca, nunca, nunca.

Senador Tião Viana, essa corrupção passou do momento do isolamento, da endemia. Hoje, ela é uma epidemia, uma vergonha. Respira-se corrupção.

Todas as capas de revista, todas as manchetes de jornais e noticiários trazem notícia da corrupção. O teor da corrupção está muito maior, Senador Augusto Botelho, do que o do oxigênio necessário à vida, à combustão, para transformação da energia térmica e mecânica em vida. É a corrupção.

Entendo, Senador Pedro Simon, como médico, que isso é uma doença, uma praga, uma epidemia. Como médicos, temos de buscar a causa. É a etiologia: onde está o micróbio?

Senadora Heloísa Helena, o micróbio dessa corrupção, que se transformou em epidemia desavergonhada, está em Santo André. É lá o foco, a malignidade; o maligno veio de lá e se multiplica. É uma metástase.

Entendo, Senador Pedro Simon, na minha maneira de entender as coisas e de falar como o povo quer entender, que CPI é como vacina. Se não houvesse vacina contra poliomielite, Salk e Sabin, estava aí a poliomielite da qual até o Presidente Franklin Roosevelt foi acometido. Tem que haver a vacina.

A CPI é uma das vacinas contra a corrupção. Se não se repetirem as doses de vacina, vem a patologia, a doença isolada que está na falta de moral dos homens do PT de Santo André, que não dissecam, não exploram e não buscam o agente responsável por esse mar de corrupção. Essa é a verdade.

Foi praticamente proibida a CPI. Ela era um mecanismo de controlar, sobretudo, a corrupção, como vimos na história deste País. Uma CPI afastou um Presidente, outra investigou os “anões parlamentares do orçamento”. Era uma vacina. Mas o núcleo duro e corrupto impediu da aplicação dessa vacina no País. Alastrou-se! Nunca vi na história do mundo e do Brasil tanta corrupção. Quais são as causas?

Senador Pedro Simon, está aqui o seu pronunciamento de 23 de maio. Permita-me falar ao Brasil de um Parlamentar para quem ainda há esperança, virtude, honestidade.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Rui Barbosa nos advertia que chegaria o dia de rir de tanto vermos as nulidades subirem ao poder, de tanto vermos a corrupção, fazendo com que tivéssemos vergonha de ser honestos. Isso tudo nasce porque este Governo não está servindo nem ao trabalho, nem ao trabalhador, mas aos que se utilizam das riquezas criadas pelo trabalho e pelo trabalhador, ou seja, o capital e os banqueiros. São os banqueiros que pagam a mídia.

Bastaria o que o Senador Pedro Simon trouxe, um texto fundamentado, cujas palavras faço minhas: “Se um correntista tivesse depositado R$100,00 na poupança no dia 1º de julho de 1994, data do lançamento do real, ele teria hoje a conta fantástica de R$374,00”.

Se você, trabalhador, brasileiro ou brasileira honrada que trabalha, colocou em um banco R$100,00 em 1994, quando começou o real, hoje você teria R$374,00, segundo pesquisa de Pedro Simon.

Se, no mesmo instante, esse mesmo correntista tivesse tirado R$100,00 de um banqueiro, de um cheque especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$139.250,00, no mesmo banco. Ou seja, com R$100,00 do cheque especial, ele ficaria devendo nove carros populares; e com uma poupança no mesmo valor, ele compraria apenas três ou quatro pneus. Esse é o sanguessuga.

Senador Tião Viana, Lula chegou. V. Exª é um homem do Acre. V. Exª é a esperança. Vá lá e diga: “Lula, Vossa Excelência vai acabar de assassinar muitos aposentados com a mentira desse negócio do empréstimo para servidor público, de que ele é barato”.

Barato onde, Senador Pedro Simon? Os juros deste País são os mais imorais e estratosféricos do mundo e da história do mundo, são um pouco menos do que o cheque-ouro, mas são exorbitantes, e uma transação indigna e vergonhosa, sem qualquer risco, já tira.

Senador Pedro Simon, haverá muitos suicídios. Presidente Lula, Vossa Excelência estudou pouco, mas quero dizer o que sei. Senador Paulo Paim, conheço o que é o velho porque sou medido e trabalhei muito. O Lula trabalhou muito pouco, quase não trabalhou. Sei que foi acidente, tenho sensibilidade para isso. Um acidente lamentável! Senador Augusto Botelho, conheço, e não há quem tenha mais honra, dignidade e vergonha do que nossos velhos, porque eu os tratei.

Senador Pedro Simon, eles vivem com um orçamento estreito. E sei da generosidade dos velhos, que conheci e assisti, através de minha profissão e de meus conhecimentos de psicologia, pois vi muitos se suicidarem pelo descontrole do seu orçamento. De repente, eles que vão ganhar R$400,00 e não têm essa dívida, foram atraídos por um consumismo, compraram um aparelho elétrico, uma televisão e uma moto. São comprometidos com os netos, pagam os estudos dos netos, pagam luz, água, alimentação, aluguel - pois nunca conseguiram comprar a casa própria porque o Governo não desenvolveu um plano de habitação - e remédios. E agora, Senador Pedro Simon, mais esse compromisso, mais essa prestação, essa escravidão que são os juros altos, a dívida. Uma escravidão moderna. Senador Tião Viana, sei que o Presidente Lula não gosta dele, mas bastaria aprender isto de Abraham Lincoln, que disse: “Não baseie sua prosperidade em dinheiro emprestado”.

            Portanto, muitos velhos vão desequilibrar seu orçamento com essa dívida, e vai haver suicídio.

            Essa é a verdade, é a ignorância do nosso núcleo duro.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª me permite um aparte, Senador Mão Santa?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não, Senador Pedro Simon, que foi a fonte inspiradora deste pronunciamento.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Gostaria de dizer a V. Exª, que faz mais um dos seus pronunciamentos, que, quando ando pelo Rio Grande, todos me perguntam: “Aquele Mão Santa é seu amigo?”. Respondo: “É meu grande amigo”. Perguntam ainda: “Ele, na vida real, é tão bom quando como fala?” Respondo: “É, exatamente. O apelido dele é Mão Santa e o nome dele é Mão Santa porque, como médico, ele era um santo que operava de graça e curava todo mundo”. V. Exª está fazendo mais um desses pronunciamentos que têm um grande embasamento na sensibilidade popular. V. Exª tem razão, principalmente quando vemos noticiar, mais uma vez, mais uma reunião do Copom e mais um aumento nos juros deste País. Isso é incompreensível. Parece que esse Ministro Presidente do Banco Central, pelo fato de noticiarem que ele deve sair, que está sendo processado no Supremo Tribunal Federal, está sendo denunciado, estão escancarando sua vida, parece que quer dar uma demonstração de firmeza, de homem que está acima do bem e do mal e que não tem medo, e está anunciando mais um aumento de juros neste País. O que é ridículo. É algo que não tem mais razão de ser, nenhuma lógica, nenhum significado de ser. Por isso, V. Exª, de certa forma se antecipando a essa reunião do Copom, vem dizer que todos estamos na base do insustentável. É impossível conviver com a estupidez dos juros que estamos vivendo. Meu abraço muito carinhoso e meus cumprimentos a V. Exª, indiscutivelmente, que traz a voz do povo quando fala em seus pronunciamentos nesta Casa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, agradeço. E digo que não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa, porque ela é terceira franciscana, como V. Exª. Mãe Santa. Estas mãos são mãos humanas, comuns, que Deus as guiou em uma Santa Casa, que salvava uma vida aqui, outra acolá. Mas elas são - o Piauí e o Brasil sabem - limpas, honradas, trabalhadoras, porque para se fazer oposição tem que se ter coragem e vida limpa; não apenas as mãos, mas a vida toda.

Senador, gostaria de me demorar mais. Estudei o pronunciamento de V. Exª: a dívida desde os primórdios, como ela foi fundada e como chegou até aqui. Como médico, tenho que dar a terapêutica.

Senador Tião Viana, tenho que dar o tratamento. E está aqui o Chile. E tanto acredito no Chile, Senador Augusto Botelho, que quarta-feira irei àquele país. Houve a oportunidade de participar de um Congresso Parlatino, e já me inscrevi, porque gosto de ver a civilização para mostrar aqui.

Senador João Alberto, não estou falando em Primeiro Mundo, em Estados Unidos, em Alemanha, em Inglaterra; mas no Chile, que está bem aí. Mas a nossa mídia reconhece por que o Chile dá certo. Está na Veja. Eu apenas gostaria de dizer, sobre a reportagem, que se criou uma lei que impede o Estado de gastar mais do que arrecada. Até hoje, a responsabilidade fiscal é um dos pontos fortes da política chilena.

Senador Pedro Simon, eu teria que vir como médico dar o tratamento, o caminho, orientar o núcleo duro e o Lula. Senador Tião Viana, naquele país, os impostos foram reduzidos, e a arrecadação simplificada. Atualmente, as empresas pagam um único imposto de menos de 20% - sabemos que a carga tributária do Brasil é de 40% -, medida que ajuda a aumentar os investimentos, fazendo com que a sonegação no Chile seja a mais baixa da América Latina.

No que tange à educação, há uma lei, agora, estabelecida pelo Presidente daquele país, Senador Pedro Simon e Senadora Heloísa Helena.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Mão Santa, V. Exª já extrapolou em cinco minutos o tempo de prorrogação, e peço que conclua em mais um minuto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Atendo a V. Exª. Obrigado por esse minuto. Nos primeiros segundos, agradeço a sua generosidade. Tenho esperança de que V. Exª possa convencer o núcleo duro.

Mas aqui está! Então, Ricardo Lagos assinou um decreto em que aumentou o quadro de estudos do chileno para 12 anos. E, para terminar, diria apenas que o Chile tem 3% de analfabetos. É plantar nesse país a semente do saber.

Essas são minhas palavras, na esperança de que, agora, depois...

(Interrupção de som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...da perda daquilo que é mais importante, a dignidade do povo, a moral do povo, a vergonha abalada pelos escândalos, possamos nos inspirar em Rui Barbosa, que disse que o único caminho é acreditarmos no trabalho, no trabalhador, que é quem propicia e faz as riquezas, e não nos banqueiros que, segundo a Senadora Heloísa Helena, engordam suas panças com o trabalho e o suor de nossos brasileiros e brasileiras, que são quem mais paga impostos e juros!

Muito agradecido, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2005 - Página 16532