Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Clamor da sociedade brasileira para a apuração de denúncias de corrupção no Governo Lula.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Clamor da sociedade brasileira para a apuração de denúncias de corrupção no Governo Lula.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Geraldo Mesquita Júnior, Heráclito Fortes, Sibá Machado, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17952
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • REGISTRO, OPINIÃO PUBLICA, APOIO, IMPLANTAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REGISTRO, IMPORTANCIA, INICIATIVA, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), OBJETIVO, COMBATE, IMPUNIDADE, SOLICITAÇÃO, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senadora Patrícia Gomes - lamento a ausência da Senadora Heloísa Helena, que está fazendo aniversário hoje, pois eu gostaria muito de cumprimentá-la, e o farei -, Senador Arthur Virgílio, da manhã de sexta-feira até agora, viajei para Natal, para Lajes, um Município do interior do meu Estado, e para São Paulo. Cheguei às cinco horas da tarde.

Tive a oportunidade de ouvir muitas pessoas e de com elas conviver, Senador Antonio Carlos, na capital e no interior do meu Estado e na cidade de São Paulo. Não que eu tivesse perguntado algo sobre o que estamos tratando aqui, mas é impressionante - e parece que o Governo é autista, porque só ele não percebe isso -, Senador João Capiberibe, como um fato está mobilizando a opinião pública e antenando a sociedade.

Deixem-me expor os fatos que vivenciei de sexta-feira para cá.

Na sexta-feira, à noite, fui a um restaurante e a uma recepção na minha cidade, em Natal. No restaurante Museu do Bacalhau, onde comi um bacalhau, havia muita gente, e alguns cumprimentavam-me. Na saída, o garçom - que, sempre muito solícito, vinha, servia e voltava - postou-se sorrateiramente na porta e, quando eu ia saindo, pegou no meu braço e disse: “Senador, a CPI sai, não sai?” Eu lhe dei uma explicação e fui embora.

No dia seguinte, fui à Caprifeira, uma exposição de caprinos e ovinos que ocorre anualmente no Município de Lajes, no interior do meu Estado.

Senador Marco Maciel, como V. Exª sabe, pois é nordestino como eu, o evento é um ponto de encontro de sertanejos, de agricultores, de gente sofrida, de uma gente do interior, mas nem por isso alienada. Não foi um, não foram dois nem três, foram muitos, entre veterinários, agrônomos, expositores e “tangerinos”, aqueles que tomam conta das ovelhas em exposição, que me fizeram pergunta igual à do garçom do Museu do Bacalhau: “Senador, a CPI sai, não sai? Vocês não vão deixar que o Governo abafe a CPI, não é Senador?” A resposta era sempre a mesma.

Voltei para Natal e peguei uma bela chuva. É festa quando chove no Nordeste. De Lajes até Natal, foram 120km de chuva, o tempo todo. Cheguei em Natal no sábado, cansado, e fui dormir cedo. No dia seguinte, recebi muita gente em casa e fui cortar o cabelo com meu barbeiro habitual, Tonho Guedes. Não havia ninguém, pois era domingo. Ele, conversador, começou a cortar o meu cabelo. Daí a pouco, chegou o filho dele, que entrou na barbearia como um foguete, partiu para cima de mim e disse: “Senador, a CPI sai ou não sai?”

Senador Tasso Jereissati, eu vou ainda em frente citar uma série de relatos para mostrar que os que fazem o Governo devem estar vivendo num outro país, porque não estão percebendo o clamor da sociedade em torno dos fatos que estão acontecendo no Brasil.

O filho do meu barbeiro chama-se Beto. Estou citando os fatos e os nomes. Dei a mesma explicação e a mesma resposta a ele.

Saí do barbeiro e fui almoçar no hotel de um amigo meu, homem de posses. Do meio para o final do almoço, chegou o filho do dono e perguntou: “Senador, e a CPI, sai ou não sai?” A mesma pergunta, Senador Geraldo Mesquita, do barbeiro, do tomador de conta dos caprinos, do garçom, todos. Dei a mesma resposta a todos.

Domingo, sai a Veja, com a reportagem do ex-Presidente do IRB, o Sr. Lídio Duarte.

Viajei para São Paulo, hoje, às 6h45. Para completar, o rapaz da Infraero que confere o código de barras do tíquete, pela porta por que entro sempre no embarque do Aeroporto de Natal, com um sorriso nos lábios, perguntou: “Vai a São Paulo, Senador?” - porque era o vôo que saía naquele horário para São Paulo. Respondi que sim. E ele acrescentou: “E a CPI?” - não perguntou se sai ou não sai. Eu disse: “Estamos trabalhando nela”.

Senador Tasso Jereissati, embarquei, cheguei a São Paulo e peguei um táxi. Eu não tinha conhecimento ainda da matéria da Folha de S.Paulo, tinha conhecimento da matéria da Veja. Quando cheguei em São Paulo, o telefone começou a tocar e me leram partes da matéria do jornal.

Peguei um táxi para ir à Associação Comercial, onde tinha um encontro com o Senador Marco Maciel, com o Prefeito Cesar Maia, com o Senador Jorge Bornhausen, com o Deputado Aleluia e com empresários do comércio de São Paulo.

Curiosas as observações do motorista do táxi que peguei em São Paulo, Senador Antonio Carlos Magalhães! Ele deve ter-me reconhecido, porque eu falava ao telefone sempre, e me disse: “Senador, ainda bem que saiu a Veja. O senhor já imaginou? Porque esse homem foi à Polícia Federal, porque o Governo mandou investigar por uma sindicância interna, pela Controladoria-Geral da União, gabando-se das investigações, foi à Polícia Federal, e esse Lídio Duarte negou tudo. Já imaginou se a Veja não tivesse a gravação? A acusação que foi feita ia passar por quê? Ainda bem que a Veja tinha a gravação para desmacarar”.

Virou ele e disse: “O senhor já viu a Folha de S.Paulo de hoje?”Eu disse: “Não vi, mas tomei conhecimento.” E ele me fez a constatação que qualquer brasileiro comum faz. Ele me disse, Senador Arthur Virgílio: “Agora eu estou entendendo” - Senador Jonas Pinheiro -, “agora eu entendi, matei a charada do porquê do esforço que o Governo está fazendo para evitar essa CPI”. Porque este homem, o Deputado Roberto Jefferson, que já disse, desdisse, redisse, agora entregou as razões pelas quais o Governo não quer que esse fato seja investigado de jeito nenhum, porque está claro que a coisa não é nos Correios, a coisa vai muito mais longe, são os agentes do PT que estão levando mesada para partidos políticos, para Deputados. A coisa é grossa.

Senador Marco Maciel, estou falando isso tudo para relatar a voz do povo em São Paulo, em Lajes, em Natal, em toda parte. E o Governo não acorda, Senador Tião Viana. Pelo amor de Deus!

Ouço, com muito prazer, o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Agripino, é hora de todos os embustes serem descartados. A ação da Polícia Federal contra a corrupção é meritória, ela está aí para isso, não foi inventada neste Governo. Ela já fazia em outros governos - e muito, no anterior - ações semelhantes. Mas eles, que desconfio nem sempre controlam esse vigor cívico da Polícia Federal, alegam sempre, e logo após, já na hora do rescaldo das operações, que isso faz parte de uma campanha moralizadora encetada pelo Governo Lula, que seria pioneiro nisso. É mais ou menos essa a ideologia, mas vou dar dois exemplos que põem por terra esse embuste. Primeiro, será que eles mandaram a Polícia Federal invadir a Caixa Econômica Federal em busca de documentos da GTech que poderiam incomodar o Ministro José Dirceu e que, certamente, complicariam ainda mais o caso Waldomiro Diniz? Segunda pergunta: será que eles autorizaram mesmo a prisão do publicitário Duda Mendonça? E, se fizeram isso, por que logo em seguida transferiram os policiais federais responsáveis pela prisão, com todos os transtornos, até familiares, que uma transferência abrupta ocasiona em uma situação dessas? Ou seja, seria bom que o Governo largasse toda sua “marketologia” e olhasse com sinceridade nos olhos da Nação, olhasse com sinceridade nos nossos olhos para se alçar a esse diálogo que estamos propondo. Ou seja, limpe o Governo e converse com a Nação. Assim, o Presidente terá um futuro radioso. Fora disso, de negaça em negaça, teremos o caos se aproximando, porque a crise se aprofunda.

(Interrupção do som.)

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Parabéns pelo discurso eloqüente de sempre e que, na verdade, reflete a preocupação que V. Exª tem com a ética e com a apuração dos fatos, dentro da serenidade que marca a sua vigorosa e brilhante atuação parlamentar.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio. V. Exª, como eu, está aqui a serviço do interesse coletivo.

Senador Marco Maciel, não passa pela minha cabeça falar em impeachment ou em renúncia de ninguém, mas não vou abrir mão de interpretar o sentimento do cidadão comum que está na rua. Senadores Marco Maciel e Hugo Napoleão, não há marketing no mundo que convença o povo de que essa CPI não se faça imperativa, por uma razão simples: as pessoas estão percebendo, e não é porque eu, o Senador Arthur Virgílio ou o Senador Tasso Jereissati estejamos dizendo, mas porque as pessoas estão concluindo. Foi o que homem do táxi me disse em São Paulo: se a Veja não tivesse guardado a fita gravada, o assunto do IRB tinha se acabado. O Lídio Duarte negou e está negado.

O que faz uma CPI? Provoca a atenção da opinião pública. Os meios de comunicação ficam acompanhando os depoimentos o tempo todo, e o pessoal antenado. Os ladrões se tremem. Um entrega o outro. E, um entregando o outro, vão muitos para a cadeia, como foram na CPI do Judiciário. Vamos nós abrir mão de uma coisa que não é um direito nosso a essa altura, mas uma obrigação?

Senador Tasso Jereissati, já vou lhe conceder o aparte e ao Senador Geraldo Mesquita Júnior também.

Os fatos revelados pela Folha de S.Paulo de hoje colocam em segundo plano o IRB, os Correios, a Eletronorte e tudo o que é mencionado. O que é colocado em primeiro plano é que o uso do dinheiro desses órgãos está sendo colocado como operado pelo Secretário-Geral do PT, Sílvio Pereira, e pelo Tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para dar mesada a partidos políticos inteiros citados pelo Presidente do PTB, Roberto Jefferson. Então, o Congresso brasileiro está em xeque.

Senador Marco Maciel, V. Exª, que é um homem probo e decente - homem decente com cara de homem decente -, poderá ser admoestado nos aviões daqui para Recife. Quem disse que compraram só o povo do PP ou do PL e não compraram V. Exª ou a mim ou o Senador Tasso Jereissati? Quem assegura?

Ou nós passamos isso a limpo e esta CPI é objeto de aprovação nesta semana, ou a sociedade irá se mobilizar. Tenho certeza, pelo que ouvi nas ruas, de que a sociedade vai-se mobilizar e entrar neste Congresso. E, antes que seja tarde, é bom que o Congresso brasileiro faça a sua parte.

Ouço, com muito prazer, o Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador José Agripino, V. Exª, como sempre, com sua impressionante capacidade de fazer observações com clareza, com raciocínio lógico, chegou ao ponto que considero principal em nossa discussão. V. Exª, dirigindo-se ao Presidente desta sessão, Senador Tião Viana, disse: ”Meu Deus, está tão claro que a sociedade brasileira precisa de um esclarecimento sobre o que está acontecendo, e o Governo não acorda, não percebe!” Ouvi há pouco tempo, Senador José Agripino, um pouco antes de sua chegada a esta Casa, uma defesa, uma participação do Líder do Governo, em que S. Exª dizia da participação da Polícia Federal. Afirmava que a Polícia Federal está extremamente envolvida, já desvendou muitos casos, fez muitas investigações, concluiu vários inquéritos. “Meu Deus do céu”, repetindo a expressão que V. Exª empregou tão bem, será que o Governo ainda não percebeu que o que está em jogo agora é sua própria atuação? A sensação que passou ao País, Senador Tião Viana, é a de que há uma ação de corrupção institucionalizada dentro do próprio Governo, com várias raízes diferentes. Ora, é claro que o Governo não pode, ele mesmo, investigar e dizer o que aconteceu, se existe uma corrupção institucionalizada dentro dele próprio; se há um elemento fazendo corrupção no órgão tal; outro elemento de outro Partido fazendo corrupção no órgão tal; outro, na diretoria de uma empresa estatal, dirigido por um núcleo central, que arrecada recursos pelo tesoureiro e principal secretário do Partido do Governo, para distribuir como mesada entre os Deputados! Talvez seja o maior caso de corrupção institucionalizada da história brasileira que eu conheça. É o Governo que está em jogo. É o Governo que vai ser investigado, além do próprio Congresso Nacional. Não tem sentido que o próprio Governo se investigue neste momento. Se me permite fazer-lhe uma observação, Senador, não é obrigação, é dever desta Casa investigar e levar à opinião pública brasileira o esclarecimento, porque nossas instituições, neste momento, estão em xeque.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Antes que seja tarde, Senador Tasso Jereissati! Antes que seja tarde! Vamos ser claros, vamos antecipar-nos aos fatos, antes que seja tarde.

Ninguém vai passar manteiga em venta de gato e imaginar que o povo vai aceitar. A Polícia Federal tem a obrigação institucional de tomar a iniciativa nos casos como o de Duda Mendonça e da madeireira, que são crimes de responsabilidade contra o patrimônio público; ninguém vai colocar na cabeça do povo que o Governo está se esquivando. Na hora em que é para investigar fora, tudo bem, a Polícia Federal entra, e o Governo assume a paternidade; mas, na hora em que é para investigar a ação do próprio Governo, que conversinha é essa? Por que tanta reação? Todos sabem que esse tipo de investigação não vai dar em nada, até porque os instrumentos vão ser fechados à Polícia Federal, que já declarou, por intermédio do delegado encarregado da investigação do caso dos Correios: “a CPI é recomendável”. E ele tinha razões de sobra para dizer isso. Ele sabe o porquê. Então, quando é para investigar para dentro, o Governo tem a obrigação de dar o exemplo e permitir que a CPI se instale e opere.

Ouço, com muito prazer, o Senador Geraldo Mesquita Júnior.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Interrompo V. Exª apenas para prorrogar a sessão por mais 30 minutos.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Senador José Agripino, agradeço a V. Exª a concessão do aparte. Serei breve, para não tomar seu tempo. Fiquei impressionado, porque nunca vi ninguém trazer o Brasil real, a vida do povo brasileiro para o interior de um plenário como este, como V. Exª faz em seu pronunciamento., Senador, se houvesse alguém com a clarividência de V. Exª, que tivesse circulado neste País - como V. Exª fez no final de semana - e que levasse para o interior do gabinete do Presidente o Brasil real, do qual Sua Excelência infelizmente se divorciou, tenho certeza absoluta de que o Presidente da República talvez tomasse decisões que até agora não tomou. Tenho a impressão de que Sua Excelência desconhece exatamente a descrição que V. Exª fez há pouco, sobre o que tem acontecido, sobre como a população está vendo o episódio. Nas perguntas que foram formuladas a V. Exª, pessoas simples do povo, motoristas de táxi, garçons, porteiros de restaurante, agricultores mostram o que estão sentindo, o que querem. Esse é o Brasil real, que o Presidente deveria ouvir. E tenho certeza absoluta de que, se houvesse alguém do lado de Sua Excelência,... Mas que fosse amigo, porque acredito que o Presidente está cercado de pessoas que não são amigas. Penso que ao gabinete do Presidente da República dificilmente chega um amigo, para dar um conselho. O Presidente está precisando de um conselho grande, de alguém que pegue em seu braço e o leve para fazer esse périplo que V. Exª fez no final de semana, pelo Brasil afora. O Presidente precisa colocar o pé no Brasil; precisa circular, ouvir a população brasileira, aquela a que se deveria ter aliado no início de seu Governo e com que deveria ter estabelecido uma parceira profunda; aquela com que V. Exª manteve contato. Então, se alguém, amigo de fato do Presidente, descrevesse para ele o Brasil real, que V. Exª viu e vê todo final de semana quando vai a seu Estado, tenho certeza absoluta de que o Presidente hoje estaria tomando decisões graves, que até o momento não tomou.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Obrigado, Senador Geraldo Mesquita; já comentarei o aparte de V. Exª.

Concedo um parte ao Senador Sibá Machado e já encerro, Sr. Presidente.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Agripino, tenho insistido, desde sexta-feira, em que uma situação como essa indigna mesmo qualquer pessoa. Qualquer notícia ruim traz indignação; meu medo é o de que isso vire estatística. Quando uma pessoa morre em um acidente, considera-se que houve uma tragédia; quando muitas morrem, trata-se de número. Espero que cheguemos a um fato determinado, mesmo porque, observando o que foi a CPI do Banestado, não gostaria de ver CPI nenhuma seguir aquele caminho. A insistência que faço é que essa indignação não possa externar-se naquilo que tenho sentido, ou seja, de que isso é uma coisa generalizada. Estou insistindo na tese de que a corrupção tem uma inteligência que perpassa governos, tal qual o problema do narcotráfico. Penso que os governos do mundo inteiro têm isto como o primeiro ou o segundo item de sua pauta: varrer da face da terra o problema do narcotráfico e do crime organizado. Infelizmente, o problema da corrupção parece estar colocado num plano dessa natureza. Então, todos os governos têm procurado fazer um esforço mínimo para resolver essa situação, e o nosso está fazendo isso também, ao deixar trabalhar livremente o Ministério Público, a Polícia Federal e as demais instituições. E algumas medidas, com certeza, estão vindo a olhos vistos, como todos nós estamos assistindo. Portanto, a nossa indignação se deve a um fato real, já mencionado, mas discordo de que, no Brasil, a onda de corrupção que estamos vivendo é coisa de hoje; nisso não posso acreditar. Ainda há pouco, eu estava repetindo ao Senador Arthur Virgílio, em aparte, que a principal preocupação de José Sarney foi evitar que, em seu governo...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª que conclua, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - ... que em seu governo se reproduzissem medidas do governo anterior, que era exatamente um governo de exceção. Daí em diante, o esforço tem sido o de varrer a corrupção da face do Brasil. Infelizmente, penso que isso não se resolve por decreto, mas por um trabalho persistente, continuado e que tem que perpassar todo e qualquer governo que vier. Solidarizo-me com V. Exª nessa indignação que é de todos nós, inclusive do Presidente Lula.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço os apartes do Senador Geraldo Mesquita e do Senador Sibá Machado.

Senador Geraldo Mesquita, quem quer interpretar o sentimento do povo tem que ir à rua, tem que conversar com as pessoas, não pode ficar coberto por redoma, não pode se transformar num autista, não pode se deixar proteger em excesso do contato e do sentimento popular. É isso que se espera de um Vereador, de um Prefeito, de um Governador, de um Deputado Estadual, de um Deputado Federal, de um Senador, de um Ministro de Estado, de um Presidente de República.

Estou falando aqui para ver se o Presidente da República ouve o eco da minha modestíssima palavra. Estou transmitindo a Sua Excelência a voz das ruas do Brasil. O que se conversa no interior do Rio Grande do Norte não é nada diferente do que se conversa no interior do Acre, nem no interior de Pernambuco, nem no interior do Piauí, do Senador Heráclito Fortes. É a mesma coisa. Fato determinado, Senador Sibá, corrupção, existe na Alemanha, nos Estados Unidos, na Suíça, na Suécia, em toda parte - mais, menos; agora, corrupção, como a que estamos assistindo no Brasil, com fitas de vídeo gravadas do Waldomiro com Cachoeira, do Maurício com um comprador...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ... do Sr. Maurício Marinho com um comprador não identificado - pelo amor de Deus! - gerando a quantidade de manchetes de primeira página e capas de revista de circulação nacional, nunca se viu neste País! Nunca! É inédito!

Senador Arthur Virgílio, o mal maior da corrupção chama-se impunidade. CGU, Sindicância Interna, Polícia Federal para fatos dessa gravidade não são remédio. O remédio para esse tipo de dolo é Comissão Parlamentar de Inquérito.

Neste caso, Senador Arthur Virgílio, Senador Heráclito, quem está em voga é a credibilidade de um instituição chamada Poder Legislativo da República Federativa do Brasil. O caso hoje, com a entrevista de Roberto Jefferson, adquiriu uma importância...

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Caro Senador Agripino, V. Exª está há 22 minutos na tribuna.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já concluo, Sr. Presidente.

Adquiriu uma proporção muitas vezes maior do que aquela ‘denuncinha’ do IRB, da Infraero, dos Correios. A coisa agora pega no Congresso Nacional, em partido político inteiro, que recebe mesada. E nós vamos ficar aqui quietos? Por hipótese alguma! Eu morro teso, mas esta CPI tem que sair. O que eu quero, Senador Marco Maciel, não é perseguir ninguém, não é impeachment de ninguém, agora, é dar a minha modesta contribuição para coibir a corrupção neste País pela via da punição. O pior dos males da corrupção é a impunidade.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Se o Presidente permitir.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Talvez, Senador José Agripino, o Governo não tenha atentado para um fato que torna irreversível essa CPI. Os Correios têm cerca de duzentos mil funcionários, penetra no lar de todo brasileiro; a capilaridade dessa instituição centenária talvez seja mais abrangente em todo o País. Todos nós temos um pouco de dono dos Correios. Então, a partir do momento em que há uma denúncia envolvendo essa instituição, o Brasil inteiro quer resposta. E ficará muito mal, Senador Sibá Machado, para o Partido de V. Exª, o Partido dos Trabalhadores, não permitir que o valoroso trabalhador dos Correios tenha uma definição clara do que ocorreu ou do que está ocorrendo lá. Até pelo valor. Ah, R$3 mil! Ouvi uma Senadora aqui dizer que R$3 mil eram uma bobagem. Não! Uma carta custa R$1,00 e atravessa o mundo para lhe satisfazer curiosidade. Não se está aqui discutindo valores, mas, sim, princípios. A partir do momento em que se minimiza essa crise pelo tamanho do valor, está-se quebrando o princípio...

(Interrupção do Som)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Concederei mais um minuto para a conclusão do pronunciamento, improrrogável.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - ...que sempre foi defendido pelo Partido dos Trabalhadores. De forma que este é um assunto que, felizmente para a Nação, não pode ser colocado embaixo do tapete. Tem de ser esclarecido para o bem do Congresso e para o bem do Poder Executivo. Concordo com o Senador José Agripino. O Congresso, contudo, nesse caso, é vítima. O núcleo inicial do problema é o Poder Executivo. O Congresso está envolvido. Mas o fato tem de ser apurado seja quem for, doa a quem doer. Muito obrigado, Senador.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Para encerrar, Sr. Presidente - e agradeço muitíssimo a tolerância -, Senador Heráclito Fortes, em jogo está a compra do Poder Legislativo pelo Poder Executivo. Desculpem-me a dureza das palavras, mas o que se passa para a sociedade é que o Poder Executivo, com o dinheiro público, está comprando a obediência do Poder Legislativo - com dinheiro público!

E aqui vai o meu apelo final ao Presidente Lula. Já vou concluir.

O Presidente Lula tem uma imagem positiva perante a sociedade, Sua Excelência é estimado pelo povo brasileiro que admira a sua história. O povo brasileiro tem vontade de acreditar que aquilo que Roberto Jefferson falou não seja bem verdade: que ele sabia do que estava acontecendo, e estava reagindo à instalação da CPI, que foi o que o motorista de táxi concluiu.

Faço aqui um apelo ao Presidente Lula: pense, Presidente Lula, como Dom Magela, Presidente da CNBB, que acha que a CPI deve ser instalada; pense como o Presidente do STJ, Ministro Vidigal, que acha que a CPI deve ser instalada; pense, Presidente Lula, como o povo brasileiro que pensa, e deseja, e exige que a CPI seja instalada, para que não paire dúvida alguma sobre a honorabilidade pessoal de Vossa Excelência, para que Vossa Excelência saia bem desse episódio. A partir de agora, mande aqueles que lhe ouvem permitir que a CPI seja aprovada na CCJ, na Câmara, e que a CPMI, Câmara e Senado, se instale para varrer a corrupção do seu Governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2005 - Página 17952