Discurso durante a 80ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia Mundial pela Erradicação do Trabalho Infantil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração do Dia Mundial pela Erradicação do Trabalho Infantil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2005 - Página 19359
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, ERRADICAÇÃO, TRABALHO, INFANCIA.
  • CONTESTAÇÃO, DECLARAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, DEFESA, FEDERALIZAÇÃO, EDUCAÇÃO, OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, DESCENTRALIZAÇÃO, ENSINO PUBLICO, IMPLANTAÇÃO, EDUCAÇÃO FAMILIAR, OBJETIVO, AUXILIO, ERRADICAÇÃO, TRABALHO, INFANCIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão de homenagem ao Dia Mundial pela Erradicação do Trabalho Infantil, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação.

Senador Alberto Silva, V. Exª tem uma grande vida política e me faz lembrar de que, na minha infância, ouvia Olavo Bilac: “Criança, não verás nenhum país como este!” Senadora Heloísa Helena, isso foi dito há 100 anos. O que diria Bilac hoje ante a barbárie e a mentira do nosso País?

Vim do Piauí e nunca vi falhar uma sabedoria popular. Lá eles dizem que é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade.

“Criança, não verás nenhum país como este!” Um quadro vale por dez mil palavras: na Cidade Maravilhosa, abençoada pelo Cristo, que a abraça, Senadora Heloísa Helena, no ano que passou, mataram cinco vez mais do que no Iraque, como se vê na televisão.

Professor Cristovam Buarque, para falar do trabalho infantil, em primeiro lugar, busquemos o sentido do trabalho.

Abençoada é Heloísa Helena, em cuja gaveta há uma Bíblia, que às vezes consulto. Senador Paulo Paim, está ali o caminho de Deus aos governantes: “Comerás o pão com o suor do teu rosto.”

Presidente Lula, não tens obrigação de ser católico, mas caótico não vamos permitir que sejas.

Aquela é uma mensagem de Deus aos governantes, de que a única saída é propiciar trabalho. É claro! No entanto, Deus não mandou as criancinhas; Ele disse: “Vinde a mim as criancinhas”, para prepará-las para o trabalho.

Senador Cristovam Buarque, Deus me permitiu atentamente ouvir o seu discurso, enquanto vinha de carro. V. Exª é único aqui. Não me refiro ao Presidente, não me refiro a banqueiros ou a empresários que temos aqui. V. Exª recebe um título maior do que Senador: o de mestre, professor. Mestre, igual a Cristo. E eu vinha ouvindo seu discurso, mas me permita contestar alguns pontos.

Senador Cristovam, V. Exª tem um respeito muito grande pelos outros Ministros da Educação por entender que o nosso erro não é de agora. Sr. Presidente, sou médico, e para onde vamos levamos a nossa profissão. O professor Cristovam Buarque leva a dele e eu trago a minha. O médico dá valor à etiologia, à causa. Esse negócio de febre, de convulsão, ele não está nem aí para isso; ele quer saber a causa: o vírus, o micróbio, a bactéria.

E quero dizer que a causa daqui é velha, não é de hoje, é de 505 anos, é da nossa colonização. Os portugueses nos educaram mal. A educação que eles deram para a elite foi ruim; para a pobreza, eles não deram nenhuma, e de trabalho muito menos. O que fizeram foi colocar os negros, os índios e também as crianças para trabalhar. E não é assim, não! Daí a diferença. Pau que nasce torto morre torto - essa frase é lá do Nordeste, da Bahia, Senador Alberto Silva. Essa é a diferença.

Senador Paulo Paim, a nossa universidade é muito recente. E essa é nossa. Tivemos Ministros bons, inclusive Cristovam Buarque, uma beleza de idealista, sonhador. A universidade melhorou, mas o atraso era muito grande. A nossa universidade é uma infância. Quero apenas dizer que a aprendemos com a História. Ela ensina. Isso tudo começou, Senador Paulo Paim, porque o homem é um animal sociável e busca governos. Cansado de governos absolutos, foi à rua e gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade.” Caíram todos os reis do mundo.

Quero citar dois exemplos da França, Senadora Heloísa Helena. O Rei Luiz XIV disse “L’etat c’est moi”; e Voltaire, um grande parlamentar, disse “à majestade tudo, menos a honra”. Aprendam isto, Senadores do PT: à majestade tudo, menos a honra! O Rei mandou perguntar a Voltaire - atentai bem, Senador Alberto Silva - sobre quando a educação devia começar, professor Cristovam Buarque. E Voltaire mandou dizer ao Rei: “Cem anos antes”, um século antes. Quando se deve começar a educar as crianças? Cem anos antes. Vejam que sabedoria! Começa antes, nos avós, no pai, na família.

O Presidente Lula não ouve o Senado, não ouve o Senador Cristovam Buarque, não liga para ele - ou, quando liga, liga o telefone errado. Ligaram para aprender.

Senador Alberto Silva, cito também Napoleão - o francês, não aquele Senador do Piauí que esteve aqui -, o estadista. Não me refiro àquelas guerras. Ele foi quem fez o primeiro Código Civil. Era um educador. Está aí a França! Para sair do Absolutismo rumo à República houve tombos, mas ele era sábio e via a educação. O Código Civil é um exemplo.

Senadora Heloísa Helena, Napoleão estava em uma solenidade de educação, ao lado de sua professora. Todos nós tivemos a nossa professorinha, aquela figura encantadora, que faz a gente ainda acreditar neste País. A professora disse-lhe: “Napoleão, você está amuado, aborrecido. Você conquistou quase que o mundo”. Ele respondeu: “Estou. Tenho investido muito na educação, nas escolas, nos prédios, na arquitetura, mas vejo que o francês está cada vez mais mal-educado”. A professora, então, lhe disse: “Napoleão, você tem que investir em escolas de mães”. É com as mães que começa a educação.

Senador Cristovam Buarque, a admiração que tenho por V. Exª é a mesma que tenho pelos grandes legisladores que por aqui passaram e que fizeram, por exemplo, a reforma de base da educação. Quanta luta de Carlos Lacerda, de João Calmon, de Darcy Ribeiro! O Senador Alberto Silva foi Senador à época de Darcy Ribeiro.

Entendo que o erro está aí. Com relação a esse negócio de federalização, eu fui prefeitinho e agora estou no Senado, na esfera federal, e não cresci um milímetro em termos de dignidade, de responsabilidade, de espírito público. O Planalto, o núcleo duro não tem um milímetro a mais em dignidade, em responsabilidade do que o prefeito. Acho que a educação devia ser descentralizada. O que tem havido é que piorou.

Acaba de chegar a Senadora Patrícia Saboya Gomes, que está fazendo um trabalho brilhante, extraordinário, neste País.

Senadora Patrícia, conheci o Ceará antes de V. Exª, que não havia nascido ainda. E, naquele tempo, Aldeota era só perto do Colégio Militar. Aí foi crescendo e virou um bairro de ricos. Senadora Patrícia, V. Exª fez um trabalho extraordinário no combate àquilo que é a maior vergonha, a maior nódoa, que é a prostituição infantil; vender o maior dom que Deus nos deu, o que nos iguala: o nosso corpo. Pergunto-lhe, Patrícia, se você encontrou as garotas da Aldeota envolvidas nisso. (Pausa.) Então, aí está a causa do problema.

Reza a OMS que saúde não é apenas ausência de enfermidade ou doença, mas o mais perfeito bem-estar físico, mental e social. É o pauperismo que causa a doença. A vergonha maior é a prostituição infantil. Não se pode dizer que isso é trabalho; é a injustiça da sociedade. Senador Cristovam Buarque, é isso que temos que buscar na Bíblia, que diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. É essa justiça que falta, que conclamo. Vieram aqui descarados da Justiça pressionar para aumentarmos os nossos salários, com o deles, é lógico. E quantos não têm salário algum, trabalho algum? Senador Cristovam, é dever dos governantes propiciar trabalho, assim valorizando a família.

Vou dar meu depoimento. Dessas audiências públicas, o que achei mais interessante no Senado - ficamos ouvindo tanta gente, tanta coisa e acabamos aprendendo algo - veio de um jornalista do Jornal do Brasil que deu um testemunho sobre violência. Ele freqüentava as favelas e observou que onde havia uma igreja, de qualquer religião ou credo, a violência era menor. Então, está faltando Deus! Falta Deus no nosso País e nos nossos corações!

John Fitzgerald Kennedy disse: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país”. Ele foi mais adiante: temos que atravessar uma nova fronteira, ter muita imaginação, muita inovação, muita invenção e coragem. Cada caso é um caso. No nosso, piorou.

Dê dinheiro para os prefeitos, pois eles não têm. Tem prefeito que é ladrão? Tem.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E é a esse que se dá ênfase, Senador Paulo Paim. Para mim, a melhor invenção é o avião. Quando passa uma mulher bonita, a turma diz que “lá vai um avião”, querendo dizer que ela é algo extraordinário. Ninguém fala em avião quando ele está nos transportando, mas quando cai é uma confusão. Então, quando aparece um prefeito ladrão, é um escândalo, mas se esquecem que há milhares e milhares de prefeitos bons e altruístas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E eu sou orgulhoso de ter sido prefeitinho.

Senador Paulo Paim, tenho um exemplo a dar à corrupção e ao seu Partido, pois o que falta é vergonha na cara dos políticos, no núcleo duro e no Brasil. O exemplo é de Getúlio Vargas, lá do Rio Grande do Sul. Após quinze anos de ditadura, Getúlio Vargas se recolheu. Ele não tinha uma geladeira. Ele ganhou uma daquelas Electrolux à querosene, mas não quis receber, até que foi convencido. Depois, quando perguntado, disse: “É, eu tomo um sorvete à noite”. Isso após quinze anos no poder. E estão todos se locupletando por aí com riquezas e descaramentos. Esse é o exemplo. Lembro-me que o meu avô, que não era Presidente, tinha três geladeiras, Senador Alberto Silva. Ele tinha uma na casa dele, uma na praia e uma na firma. É isso que os governantes estão buscando, o ter, esquecendo-se de Shakespeare: To be or not to be! Esquecem-se do ser.

            Quero prestar aqui um testemunho.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, a Presidência faz um apelo a V. Exª para que conclua o seu pronunciamento, porque ainda temos seis oradores inscritos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É lógico. Cristo fez o melhor discurso, o Pai Nosso, em um minuto.

Concluo dizendo que Alberto Silva criou um projeto que se chamava Casa-Escola. O projeto previa que seriam educados os pobres das regiões rurais que tivessem um sentido de família melhor.

Termino citando Juscelino, médico e cirurgião como eu, prefeitinho, Governador e Presidente, tendo sido até cassado, que disse que é melhor ser otimista, pois o otimista pode errar e o pessimista já nasce errado e continua errando. Eu sou otimista, uma vez que o Senado busca esta reunião para este debate. Abençoados por Deus, vamos encontrar nessas crianças aquilo que podemos melhor fazer por elas. Cristo disse: “Vinde a mim as criancinhas”. Devemos dar a elas o amor; o amor resolve todos os problemas.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2005 - Página 19359