O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves Filho, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Antonio Carlos Magalhães, a Bahia é de Rui, de V. Exª, de Martha Rocha.

           Rui Barbosa meditou nesta Casa e disse: “Vai chegar o dia em que vamos rir da honra”. De tanto vermos as nulidades triunfarem, a desonestidade campear, vamos ter vergonha de ser honestos.

           Senador Demóstenes Torres, será que o dia é hoje? Estamos desde cedo em sessão. E a sessão traduziu a voz rouca das ruas. Não há democracia sem Parlamento e o Parlamento é a voz do povo, é ressonância. Assim deve ser. E foi corrupção. A vergonha da corrupção. Alimentada pelo Partido que está no Governo. Essa é a verdade.

           Senador Antonio Carlos Magalhães, eu acredito muito no estudo - e aqui estou, Senador Garibaldi Alves: as pernas do estudo e do trabalho me trouxeram até aqui. Essa é a crença.

           Eu perguntaria se o nosso Presidente da República se debruçou sobre um livro de Administração. Senador Antonio Carlos, nós viemos da ciência médica - a mais humana das ciências, e o médico, o grande benfeitor da humanidade - como Juscelino Kubitschek e tantos outros.

           Por quê? Porque, como se diz, Senador Demóstenes, saúde não é apenas ausência de doença ou a enfermidade, mas o mais completo bem-estar físico, mental e social. Social, contra o pauperismo, a miséria e a forme. Isso nos aproxima de encontrarmos na política esse combate à injustiça social, à miséria, à fome e ao pauperismo. Daí estarmos aqui, Demóstenes.

           Mas, de repente, Senador Antonio Carlos Magalhães, fui eleito Prefeito de Parnaíba, prefeitinho. Olhe, Senador Garibaldi Alves Filho, Senador Heráclito Fortes, de família ilustrada do Piauí, aí eu tive medo. De madrugada, eu dizia: “Mas Mão Santa, que fria! Você, de uma sala de cirurgia pura, onde essas mãos guiadas por Deus salvavam uma aqui e outra acolá, vai se meter nesse mundo político!?” E eu tive medo, Antonio Carlos.

           Eu sempre acreditei no estudo. Aí eu varava a noite estudando Administração. Desde o primeiro livro de Henry Fayol, um engenheiro. Eu com medo, Antonio: “Vou me lascar. Como é que eu saí de minha sala de cirurgia, que estava tão bem, tão bom?”

           Adalgisa dormia e eu estudava. Garibaldi, aproximava-se o dia 1º, e eu com medo: “E agora? Sair da sala de cirurgia de uma Santa Casa? Meio político?”

           Demóstenes, de madrugada, um livro, de capa amarela: De Taylor, o Mago da Administração. De repente, ele dizia: “Não, administrar é fácil, é como o cirurgião”. Digo: “Ah, então eu estou comigo”. “Tem que ter coragem, ter que ter decisão, unidade de comando, tem que saber começar, saber terminar, trabalhar em equipe”.

           Aí eu tive coragem e estou aqui. Ele dava o exemplo nesse livro. Mas eu estudei o Taylor e tudo e aprendi que tem que haver unidade de comando e unidade de direção. Está faltando unidade de comando. O Presidente não comanda.

           Quem está comandando é esse José Dirceu aí, o maligno, que, malignamente, manda o homem viajar, para abandonar os problemas. Aí depois dizem que ele tem uma crise de choro!? Malignamente, compra um avião e o homem anda nos céus e no mundo. Tira retrato de pirâmide, posa e não sei o quê; é comer, vestir equipe... E todo dia troca uma camisa e troca boné...

           É, Garibaldi, mordomia é bom, eu gosto, mas moderada. Fernando Henrique Cardoso eu conheço, é doido por mulher. Moderada. Mas aí essa deslumbrada do PT deu no que deu. Está...Abandonou e tal. E os problemas surgiram e estão aí. Unidade de comando? Não tem unidade de comando. Cada um está comandando...

           E agora eu não vou... Vou no povo da Bahia e do Nordeste. Não é com Rui, não. Eu aprendi lá: pau que nasce torto morre torto. O Governo começou torto.

Ô, Antonio Carlos, nós fomos prefeitinhos e fomos governadores. E isso é igual a uma casa de família. Então, tinha dezesseis. O Collor baixou, corretamente, para doze. Depois voltou para dezesseis. De repente o Lula bota quase quarenta Ministros. Não dá! Então, tirou. O cobertor é curto, como se diz. Tirou da segurança, da educação, da saúde. Bem, aí estão as belas esposas dos militares honrados. O funcionário público, Antonio Carlos... Ô Lula, aprenda: acompanhe pelo menos a inflação. Deu frações de décimos! Um aumento que não corresponde nem à inflação.

Antonio Carlos aqui denuncia essa Petrobras. Getúlio dizia: “O petróleo é nosso!” Que nosso! É o forró, a irresponsabilidade, a malandragem do PT.

A gasolina, Heráclito. Eu fui à Venezuela, onde cinqüenta litros custam R$5,00. Aqui eu coloco agora 50 litros e pago, na Parnaibinha, R$140,00. O botijão de gás lá custa R$10,00, bem aí na Venezuela do Chávez. Aqui custa R$40,00.

Que Fome Zero! Eles estão comendo coisa fria porque não têm... Esse desmatamento? Vão desmatar mesmo porque estão fazendo carvão. É madeira, porque não podem comprar gás de R$40,00. Custa cinco ou seis vezes mais caro.

Essa é a realidade e aí está a confusão.

Padre Antonio Vieira disse que um bem não vem só. Eu digo que o mal também não vem. Está aí a corrupção. Nasceu lá no tumor. Em Santo André todos sabem.

Mas, Antonio Carlos, que beleza de Polícia Federal! Por que não a colocam lá para esclarecer isso? O tumor dá metástase. A doença é endemia, é epidemia. E um dos medicamentos era a CPI, uma vacina contra corrupção. Não se deixou tomar e agora aí está.

Senador Heráclito fortes, eu queria voltar a Deus. Padre Antonio Vieira disse, Senador Antonio Carlos Magalhães, que há roubo pouco e há roubo muito. Roubo pouco dá culpa, dá cadeia para os pobres, e roubo muito dá grandeza. Estão aí todos grandes, mandando. Essa é a verdade!

Mas eu vou ficar com a imagem de Deus aqui entre nós. Dom Mauro afastou-se de São João de Meriti, da Baixada Fluminense. Lucidez! Sessenta e nove anos. A imagem de Cristo. O que diz Dom Mauro? Faço minhas as suas palavras: “A corrupção pode levar o povo a um alto grau de ceticismo e até de cinismo, o que pode recrudescer a violência”. Alertou dizendo que “a hora é muito séria”. Essa é a situação do Brasil.

Então, essas palavras bíblicas! Presidente Lula, a Bíblia, pelo menos. Já que não gosta de ler, o nosso cabeça branca da Globo, aquele jornalista, tem a Bíblia gravada em disco. Não furtarás! E aqui já disse Ulysses para não deixar roubar e colocar na cadeia quem rouba. E é isso.

Mas lá vai o Dom Mauro. “Durante o discurso, Dom Mauro deu três recomendações a seu sucessor: que não descuide dos pobres; que ajude a concretizar um plano de comunhão de bens dentro da Igreja e que não ignore ‘a vergonha e o escândalo da corrupção, que tira a alegria e a dignidade do povo’ brasileiro”. Dom Mauro!

Dom Mauro acha que os políticos têm de acordar. Heráclito, desligue seu telefone e acorde esta CPI. Ela já existe. Ela já tem comandante, presidente, regimento. É o Senador Jefferson Péres. Por que não podemos continuar com S. Exª? Podemos, sim. É uma boa sugestão. Quem tem condição moral de vetar esse nome? Ouço a opinião pública, a voz rouca da rua, Senador Antonio Carlos Magalhães. Todo o Brasil está confiante no comportamento dele nas entrelinhas. Vamos aguardar até terça-feira para que meditem, para que reflitam a grandeza do Congresso e a esperança do Brasil, que é essa CPI. Por que o Senador Jefferson Péres não pode continuar na Presidência, Senador Heráclito Fortes? É um apelo para o Senador Pedro Simon, esse patrimônio de virtude que nos prende ainda ao PMDB. A CPI é para buscar a verdade, a verdade! Senador Roberto Saturnino, V. Exª é cristão. “Eu sou o caminho, a verdade e a luz.” É só isso que queremos na CPI. Só, somente!

São as nossas palavras. O momento é este. A esperança não pode morrer. O Apóstolo Paulo já dizia: “Fé, esperança e amor!”. Tem de haver essa esperança. “Onde houver desespero, que eu leve a esperança.” de Francisco, o santo. É essa esperança que o povo do Brasil quer ter no seu Congresso; são as virtudes de que precisamos. É isso. O PT, nós o queremos grande, porque entendemos que a democracia se faz com partidos grandes e fortes. Então, eu os quero todos fortes. Não que ele compre o meu Partido, o de Ulysses, que está enterrado no fundo do mar, encantado no fundo do mar, e que transmitiu a mensagem “ouça a voz rouca das ruas”, o povo. Respeite o povo. Ele beijou a Constituição. Desrespeitar a Constituição é rasgar a bandeira.

E esses que estão aí, Heráclito, eu temia que eles mudassem as cores da nossa bandeira multicolorida, como é a bandeira do Piauí, por um vermelho, como o que está ali já dizendo que eu tenho de finalizar já, já. Não, eles só foram no branquinho, no lema positivista de Augusto Conte “Ordem e Progresso”, e mudaram para desordem e regresso, que é essa barbárie que vivemos do predomínio. Que o digam os velhinhos, os idosos, que foram desrespeitados em seu salário de aposentados. Onde está o aumento do funcionário público, que está parado, em greve, e com razão? E os nossos militares, que, ao longo da vida, garantiram hastear a bandeira “Ordem e Progresso”? E as criancinhas abandonadas neste País em que se trabalha, trabalha.

Senador Heráclito, eu errei. Eu provei aqui que havia 76 impostos e que, de 12 meses de trabalho, cinco são para pagá-los. Mas não é não.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Mão Santa, desculpe-me interrompê-lo mas V. Exª só dispõe de mais dois minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Dois minutos é muito pouco para o tamanho da corrupção que campeia neste País. Tem que se pedir a bênção a Deus para esse milagre. Como disse Castro Alves lá no navio negreiro, vendo os negros sofrendo, vendidos, afastados das famílias, das mulheres: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?” Então, nesse pequeno tempo as nossas palavras são de prece a Deus. Ó Deus, dê coragem a este Senado! Ó Deus, dê a coragem de que falou Ulysses. Senador Heráclito Fortes, seu amigo Ulysses Guimarães dizia: “Se falta coragem faltam todas as outras virtudes.” Então, que este Congresso tenha a coragem que está tendo.

Esse bem-vindo Presidente do Senado é um homem iluminado, protegido, saltou a fogueira do Collor, foi Ministro da Justiça, teve um atrito com Mário Covas - que foi para o céu e deixou-o aqui -, e o Espírito Santo baixou no nosso Presidente Renan. Em pouco tempo, ele tomou as melhores atitudes de grandeza e coragem desta Casa: deu nome, instituiu, a CPI existe. Ela é dirigida, tem o seu comandante, o seu presidente pelo Regimento: Senador Jefferson Péres. Por que mudar, se está tão bem?

Suassuna, você que é o Shakespeare, está escrito no Livro de Deus: pedi e dá-se-vos-á. Vamos substituir aqueles nomes? Pedro Simon: há um clamor, o País quer, o PMDB quer, a CPI precisa da presença de Pedro Simon. Quem tem coragem - Mercadante? - de impugnar o nome de Pedro Simon? Vetar o nome de Pedro Simon é rasgar essa bandeira, é queimar a Constituição, a Pátria e botar aqui: “vamos juntos à corrupção”...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É aquilo que está escrito no Livro de Deus: não busque a porta larga da sem-vergonhice, das facilidades e da corrupção; vamos pela porta estreita. Por essa porta estreita, passou e nasceu a CPI, que Deus haverá de abençoar. E Deus haverá de dar a este Brasil aquilo que ele mais precisa: justiça e vergonha!