Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Denuncia disputa dos veículos de comunicação, no caso das denúncias de corrupção no governo. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). IMPRENSA.:
  • Denuncia disputa dos veículos de comunicação, no caso das denúncias de corrupção no governo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20333
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). IMPRENSA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, RETORNO, CAMARA DOS DEPUTADOS, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, DEFESA, HONRA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, SOLICITAÇÃO, REGISTRO, ANAIS DO SENADO, NOTA OFICIAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APOIO, ETICA, DEMOCRACIA.
  • COMENTARIO, TRATAMENTO, IMPRENSA, CRISE, POLITICA NACIONAL, QUESTIONAMENTO, INTERESSE, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ANTERIORIDADE, COMPROVAÇÃO, DENUNCIA.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, FORUM, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, TENTATIVA, PERDA, ESTABILIDADE, GOVERNO, FAVORECIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/ PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, as segundas-feiras são sempre aguardadas com muita expectativa, principalmente pela Oposição, para trazerem à tribuna as questões que vêm sendo apresentadas pela mídia nacional.

O final de semana passado foi muito intenso, Senador Tião Viana, desde a quinta-feira, quando acompanhamos muito atentamente a saída do Ministro José Dirceu, que fez um belíssimo pronunciamento que tive a oportunidade de registrar desta tribuna. José Dirceu volta à Câmara para defender a sua honra, o nosso partido e o nosso Governo com a competência e com a história de luta e de compromisso que o ex-ministro e Deputado Federal José Dirceu já demonstrou ao longo de toda a sua vida pública. Tivemos o ato em São Paulo, também muito emocionante, a reunião do diretório - peço, a propósito, que seja registrada, na íntegra, a nota que o diretório aprovou em defesa do PT, da ética e da democracia, para que fique registrado nos anais desta sessão.

Mas o que me traz a esta tribuna são as notícias, a forma pela qual a mídia tem trabalhado essa crise, essa tão falada e comentada crise.

Temos visto notícias, denúncias, ilações e tiros para todos os lados, os noticiários apontam para vários lados ao mesmo tempo. O que se quer é, efetivamente, investigar? Essa é a pergunta que tem de ser feita. A política adotada é a do diversionismo, a política de atirar para todos os lados, colocar tudo sob suspeita, focar tudo e, obviamente, nada focar. Essa tem sido uma característica marcante do posicionamento, de como vêm se conduzindo setores importantes da mídia nacional.

A outra característica - e essa é gritante, escandalosa - é que as denúncias são apresentadas, mas não apresentam provas. Exemplo disso é aquela matéria escandalosa da Veja sobre a ex-Prefeita Marta Suplicy, que, além de ser escandalosa, é profundamente machista. Não terei tempo de registrar as matérias individualmente, mas em todas elas muitas coisas são afirmadas sem que provas sejam apresentadas.

Com esse processo de atirar para todos os lados, sem apresentar provas, começa, inclusive, a disputa nos meios de comunicação. Para ilustrar o que estou dizendo, cito reportagem da revista IstoÉ Dinheiro, que antecipou sua edição publicando uma entrevista que estava guardada há quase um ano. Não tinham provas, e a declaração foi desmentida pela tal secretária, ainda no dia seguinte, no depoimento oficial, sob juramento. Está posta, está colocada a disputa na mídia para ver quem vai emplacar a capa mais contundente nas bancas.

Para subsidiar essa disputa, há a questão da ex-mulher do Deputado Valdemar Costa Neto. Sem nenhuma prova, foi veiculada no principal mecanismo de imprensa do domingo a notícia de que o PT teria recebido recursos do governo de Taiwan. Qualquer pessoa que junta um mais um sabe da posição e da disputa política e econômica que há entre o governo da China Popular e o de Taiwan. Então, fazer uma ilação dessas é algo primário. A troco de que haveria esse financiamento? Qual é a lógica? Além de não ter sido apresentada nenhuma prova, é algo que não se sustenta, que não tem cabimento político e econômico, para não mencionar o absurdo da ilegalidade que seria qualquer tipo de financiamento de um país para uma campanha dentro do Brasil.

Sr. Presidente, eu gostaria de pedir que fosse incluído em meu pronunciamento, além da nota do PT, a íntegra do texto de Mino Carta, da Carta Capital desta semana. Lerei apenas um trecho: “A mídia quer desestabilizar o governo, demolir o PT e preparar o retorno dos tucanos. Esquece a conveniência da mediação com um povo tão injustiçado”. O artigo de Mino Carta, como sempre, é brilhante.

Por último, peço também que seja publicado, na íntegra, um artigo veiculado na revista Fórum deste mês, no dia 15 de junho, escrito por Renato Rovai. Lerei alguns trechos. Ele começa com “Há um cheiro estranho nas últimas notícias sobre o PT”, relata a sua ida à Venezuela e trata de algumas coisas parecidas.

Comparando com o que aconteceu com Hugo Chávez, ele assim se refere à posição da imprensa:

Com uma sutileza: ela não é personalizada na figura do presidente da República, como no caso venezuelano, mas no seu partido político, o PT.

É fato que há uma denúncia que precisa ser apurada e do bom jornalismo espera-se uma investigação com base em entrevistas e reunião de documentos. Faz bem à democracia que a imprensa assim atue. É isso o que dela se espera.

Em outros trechos, referindo-se ao famoso livro Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi:

Seu livro, o Brasil Privatizado, repleto de provas escandalosas, vendeu mais de 100 mil exemplares e mereceu apenas registros pontuais nos veículos. Não impulsionou nenhum movimento anti-PSDB nos veículos de comunicação.

Mais à frente:

Sugere-se em editorias e opiniões de articulistas e parlamentares tucanos que Lula precisará se livrar do PT caso queira terminar o mandato. Justifica-se a pressão por conta de o tesoureiro do partido estar sendo acusado de comprar toda a bancada de deputados do PL e do PP. O curioso é que desses deputados acusados nada se fala. Alguns são bastante famosos (...). Mas nenhum foi emparedado por veículos de comunicação para dar explicações. Ao contrário, o presidente do PT, José Genoíno, tem sido acuado com ironias e grosserias em muitas de suas participações em programas de rádio e TV.

Falando sobre a matéria da Veja, “O mensalão da perua”, em que Marta Suplicy foi acusada:

A liberdade de imprensa de Veja nunca permitiria que um de seus funcionários escrevesse algo como "Picolé de chuchu repete as mesmas balelas em relação ao caos na Febem”.

(...) O fato de investigar o PT e seus dirigentes faz bem à democracia. Fiscalizar o governo também. A imprensa deve ter liberdade para isso. Precisa fazer o seu papel. Mas há um limite entre investigação, fiscalização e perseguição. Na sociedade contemporânea, onde a cidadania é garantida de certa forma pela informação que se recebe, quando o setor midiático - associado a um espectro da política - resolve fazer uma campanha persecutória contra um partido ou governo, sem tratar com rigor e responsabilidade o que publica, não há outro nome para designar tal movimento. Busca-se nesse caso um golpe midiático. E para que isso aconteça basta ao midiático poder brasileiro acompanhar o toque editorial da última edição de Veja. Estará desenhado o cenário. E o cheiro podre que vem da Veja pode infestar a democracia brasileira. E não será a primeira vez que a "liberdade de imprensa" participa de um golpe no Brasil. Com a diferença que, desta vez, nada indica que os quartéis serão acionados. Na atualidade é mais aconselhável, para parecer democrático, que o midiático poder aja sozinho.

           Muito obrigada, Sr. Presidente. Peço a inclusão, na íntegra, das três matérias.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno)

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Matérias referidas:

“Há um cheiro estranho nas últimas notícias sobre o PT” (Revista Fórum, junho/2005).

“Quando a esquerda é necessária” (Carta Capital, 19/06/05).

“Em defesa do PT, da ética e da democracia” (Site do PT).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20333