Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política no governo federal. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações sobre a crise política no governo federal. (como Líder)
Aparteantes
Heráclito Fortes, Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2005 - Página 20446
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRITICA, DECLARAÇÃO, CRISE, LEGISLATIVO.
  • ANALISE, GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, ORIGEM, EXECUTIVO, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, OPINIÃO, ORADOR, POSSIBILIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), INCLUSÃO, ESCLARECIMENTOS, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as coisas estão adquirindo ares de complicação tão intensa que nada resta a esse Governo a não ser o caminho da explicação cabal dos fatos. A tergiversação e o diversionismo seriam os piores conselheiros de quem se vê a braços com uma crise de tamanhas proporções ainda não calculadas.

O Presidente Lula - hoje isso me parece parte de uma estratégia, mas não vou, de forma alguma, mostrar-me conivente com isso - diz hoje, segundo o Globo Online, numa solenidade, que ninguém tem mais autoridade ética do que Sua Excelência para combater a corrupção. Tomara que seja assim. Desejo que seja assim. Mais adiante o Presidente diz que - aqui está o grave -, se fizerem acusações contra o Congresso Nacional, é um problema do Legislativo, que tem mecanismos de auto-investigação. Então, Sua Excelência diz que não tem aqui no Congresso nenhum projeto pedindo aumento salarial para si próprio, e o comentário que faz O Globo Online é que o Presidente da República entende - ou quer que entendamos assim - que a crise é do Congresso e que, portanto, o Sr. Delúbio Soares deve ser Senador, o Sr. Silvio Pereira* deve ser Deputado Federal. Já o Ministro renunciante da Casa Civil, José Dirceu, é mesmo Deputado Federal, mas nenhum ato de que é acusado se deu enquanto estava no Congresso; tudo se passou quando S. Exª era Ministro de Estado. O Sr. Marinho não era, graças a Deus, Parlamentar; o Sr. Osório*, tampouco, assim como ninguém do IRB.

Em outras palavras, a crise é do Executivo. Ela tem claras ramificações no Legislativo, sim, mas é uma crise do Executivo. Significa um desserviço à democracia, além de uma covardia cívica e política, o Presidente tentar “tapar o sol com a peneira” desse jeito, jogando pedras sobre o Poder Legislativo, que é, precisamente, o mais desarmado, o mais vulnerável neste País.

Concedo o aparte ao Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, sem dúvida que a crise passa pelo Congresso também. São Deputados acusados por outro Deputado, mas a crise aponta não apenas para o Executivo de modo geral, aponta, Senador Arthur Virgílio, para o Palácio do Planalto. A cloaca a que faz alusão o Deputado Roberto Jefferson, com fortes indícios de verdade, passa na porta - passou durante muito tempo - do gabinete presidencial. O Presidente, repetindo o que disse aquele colunista da Veja, “é cúmplice ou é inepto”. Isso começa a me preocupar muito, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Torcemos todos para que o caso seja de inépcia. A Oposição tem sido muito comedida, procurando admitir que se trata de inépcia e não de algo mais grave.

Entendo, Senador Jefferson Péres, Srªs e Srs. Senadores, que a cruzada deste Parlamento deve ser pela apuração dos fatos e não pela cortina de fumaça.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Todos sabem do meu afeto pelo PSDB, da minha relação pessoal e política com o Presidente Fernando Henrique. Ainda há pouco, a repórter de uma televisão me perguntou: “Ontem, o então Presidente Fernando Henrique recebeu o dinheiro, pagou para o PTB?” Não, Fernando Henrique, segundo Roberto Jefferson, teria recebido dinheiro como candidato - ele era ex-Ministro, não era Presidente de coisa alguma. “Teria recebido dinheiro” é algo bem diferente.

É ingrato o Fernando Henrique, porque, no seu governo, o Sr. José Andrade Vieira, que era conhecido como José do Banco, ficou como ex-Zé do Banco, pois perdeu o banco no Governo do Fernando Henrique. Ingrato. Estou começando a achar que o Presidente Fernando Henrique não é bom amigo, porque, no seu Governo, depois de supostamente ter recebido um favor de campanha, o Sr. Andrade Vieira deixou de ser banqueiro e, até hoje, é um desafeto pessoal do ex-Presidente.

Não conheço ninguém em sã consciência neste País que queira entrar no jogo dessa cortina de fumaça. Todos querem saber da extensão das responsabilidades desse Governo, praticadas agora, no âmbito do Congresso, por inspiração do Executivo; no Executivo, por inspiração de quem quer que seja, para que o Brasil não viva essa situação constrangedora de imaginar que há um saco de gatos e que, desse saco de gatos, fazem parte todos os Senadores, todos os Deputados, todos aqueles que optaram pela vida pública.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não posso aceitar, porque esse é o caminho mais rápido para termos uma visão fascista sobre a realidade brasileira.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Somente para colaborar com V. Exª, pois talvez tenha se esquecido. Outro banco fechado no Governo Fernando Henrique foi o da sua própria nora.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Banco Nacional. É verdade.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Banco Nacional.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu, se soubesse, não teria nem me aproximado do Presidente Fernando Henrique, que é péssimo amigo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Se isso é cortar na carne, não tem exemplo melhor do que esse.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, concluo dizendo que temos tudo para fazer um bom trabalho. O Governo não deve meter os pés pelas mãos. Amanhã sai a decisão sobre a tal CPI do Waldomiro, dos Bingos. Sai a decisão sobre o direito da Minoria de fazer CPIs, no Supremo Tribunal Federal. Não prejulgo o que vai julgar o Supremo, até porque a palavra do Supremo, para mim, é sempre a última mesmo.

Temos essa tal CPI do Mensalão. Por mim, faríamos somente uma investigação no âmbito dessa que está instalada, que, ao meu ver, não deve investigar somente os Correios, mas todas as denúncias que estão causando o tormento da sociedade e sendo examinadas caudalosamente pela imprensa investigativa deste País.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Mas algo deve ficar como advertência muito clara, Sr. Presidente: não tente o Presidente, o seu Partido ou quem quer que seja soltar a cortina de fumaça. Não vamos aceitar esse jogo de pega-ladrão de feira, em que aquele que está com a carteira diz que há alguém com a carteira em seu lugar. Não vamos aceitar o jogo de pega-ladrão de feira.

Queremos os fatos, a verdade. Não queremos mais do que a verdade. Não queremos a honra de nenhum inocente nem a isenção à liberdade de nenhum culpado. Queremos pura e simplesmente que o Brasil se passe a limpo e que possamos dizer que o Congresso tem espaço para a honra. Quanto ao Executivo, as pessoas que para lá se dirigirem devem trabalhar pelo País, com honradez, característica que, tenho certeza, é da maioria dos Parlamentares brasileiros e dos cidadãos da nossa Pátria.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2005 - Página 20446