Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Viagem de S.Exa. a São Paulo, onde constatou a indignação da população com os últimos acontecimentos políticos no país. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Viagem de S.Exa. a São Paulo, onde constatou a indignação da população com os últimos acontecimentos políticos no país. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2005 - Página 20467
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • COMENTARIO, OPINIÃO PUBLICA, REPUDIO, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, PAIS, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, MELHORIA, POLITICA NACIONAL.
  • COMPROMISSO, AUTONOMIA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, POPULAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na sexta-feira, no sábado e no domingo estive em São Paulo. Fui lá fazer um check-up, pois havia cinco anos que eu não investigava como andava o meu coração, os meus órgãos, a circulação, as carótidas. No sábado e no domingo, fiz esse check-up e constatei que está tudo bem.

Sr. Presidente, estando em São Paulo, tive a oportunidade de conversar com muita gente. Senador Mão Santa, quero dizer a V. Exª, que é médico, que conversei com muitos colegas seus, com muitos enfermeiros e com muitos auxiliares de enfermagem. Saindo do hospital, conversei também com o motorista de táxi. Depois de encerrado o check-up, no domingo, fui a um shopping. Ali, algumas pessoas reconheceram-me, abordaram-me e falaram uma coisa e outra. Deu para perceber o sentimento das classes “a”, “b”, “c” e “d”, em São Paulo, com relação ao momento político que estamos vivendo: a indignação.

Há um fato que muito me impressionou. Eu estava no shopping com um amigo, quando o dono de uma grande loja de artigos finos importados saiu de sua loja, partiu para o meu amigo e veio falar comigo. Ele teceu comentários sobre a minha atuação; perguntou-me o que eu achava dessa CPMI. Eu lhe respondi. E ele me disse: “Senador, o que me conforta é que vamos, depois dessa CPMI, ser um País melhor do que somos hoje, porque essa CPMI vai passar o País a limpo!”

Senador Mão Santa, ouvi bem o que esse cidadão falou. Ele está colocando nas suas mãos, nas minhas mãos, nas mãos de quem tem responsabilidade na Câmara e no Senado de investigar a corrupção denunciada de passar isso tudo a limpo. Ele está entregando a lisura das instituições a nós. Se falharmos, vamos todos pelo ralo.

Senador Heráclito Fortes, a observação daquele cidadão, para mim, diz tudo. Senador Delcídio Amaral, V. Exª, que é Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, ouça bem o que ouvi acerca do que está incomodando as pessoas. E, por falar em incomodar, li, em noticiário da Internet, uma manchete intitulada “Lula ataca. Tem gente incomodada”. Isso é verdade, e quem está incomodada é toda a sociedade brasileira. Mas está incomodada sabe com o quê? Não é com a questão dos Correios, mas com o que surgiu da denúncia dos Correios. É com a prática absolutamente reprovável, nojenta, de se comprar, com o dinheiro público, um partido político inteiro.

Defeitos e vícios no sistema político existem aqui, na França, nos Estados Unidos, em toda parte. Agora, comprar partido político inteiro com dinheiro público? É isso que está incomodando a sociedade brasileira. E foi referindo-se a isso que o cidadão dono da Loja Bonita me disse que esperava que o Brasil que resultasse dessa CPI fosse um Brasil melhor, porque, passada a crise e aplicados os remédios, seríamos um País mais limpo.

Agora, seremos mais limpos se formos fundo, se não nos intimidarmos diante de qualquer tipo de pressão. Eu não vou me intimidar. Mas não vou mesmo, porque quero voltar às ruas, como fui agora, e ser cumprimentado pelas pessoas. A responsabilidade dos que são Governo é igual à responsabilidade dos que são Oposição, porque as pessoas estão depositando nas nossas mãos de Oposição o direito de inquirir, de ir a fundo, de exigir que se rasguem as próprias carnes e que não fique pedra sobre pedra, mas que se investigue tudo.

Investigar tudo o que é? Primeiro de tudo, de quem foi a idéia?

Não é a questão dos Correios, é quem foi que criou essa idéia de comprar Parlamentar com dinheiro público. Quem foi que criou? Foi Roberto Jefferson, foi Maurício Marinho, foi Delúbio Soares ou foi o Ministro José Dirceu?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador José Agripino, V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não sei se posso, Senador Mão Santa.

Quem é que teve a idéia? Quem teve a idéia foi buscar o dinheiro em algum lugar. Onde? Nos Correios, no IRB, na Eletronuclear? Vamos investigar. Quem é que foi buscar esse dinheiro? Quem são os estafetas? É Marcos Valério? É Henrique Brandão?

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vamos investigar. E último, para onde foi o dinheiro? Para as mãos de que Deputados, de que Parlamentares? Quando chegarmos às respostas para esses quatro pontos, teremos dado uma resposta ao incômodo da sociedade brasileira, que está sabendo que aqueles R$30 mil do mensalão foram pagos com o dinheiro que ele recolhe de impostos e que está sendo gasto com o mensalão.

A indignação do cidadão tem que ser proporcional à nossa indignação.

Senador Mão Santa, concedo o aparte a V. Exª, com muito prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador José Agripino, eu e o País todo estamos atentamente ouvindo e aprendendo. V. Exª foi a São Paulo e falou com muito mérito, e eu quero falar como professor de biologia. Se fizéssemos o DNA do mensalão, tenho plena convicção de que o pai estava no núcleo duro.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Mão Santa, sabe o que me perguntaram na rua de São Paulo, no shopping? Se eu sabia se o Presidente Lula sabia do que estava acontecendo. Eu disse a ele que não sabia, Senador Romeu Tuma. Eu não estava habilitado a responder àquela pergunta. Aí o cidadão me disse: “Mas ele não disse” - referindo-se a José Dirceu - “que tinha uma fidelidade canina ao Presidente, que tudo o que ele fazia o Presidente sabia?” Eu disse: “Quem disse isso foi José Dirceu”. Mas quem disse que José Dirceu é o culpado e é o dono da idéia?

O que está na cabeça das pessoas é até onde vai a cadeia de responsabilidades. Em jogo está a credibilidade do próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

Em questão está a credibilidade do próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem o direito de dizer: “Lula parte para o ataque”, “ninguém tem mais autoridade ética do que eu para combater a corrupção”, “ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu”, diz Lula. “Muitos já estão com medo da reeleição”, diz Lula. “A Oposição tem pressa em relação a 2006”, diz o Presidente. Ninguém está falando de reeleição. Estamos falando de corrupção, de passar a limpo a corrupção.

Para encerrar, Sr. Presidente, só temos um caminho: fazer uma seqüência lógica. O que temos de fazer antes da reunião da CPMI? Uma seqüência lógica de convocações. Vem aí o Sr. Maurício Marinho. Certo. Vamos chamar, em seguida, aqueles dos Correios que estão diretamente citados. Em seguida, chamaremos o Deputado Roberto Jefferson, porque ele tem um grande volume de informações para nos dar, para, aí, envolver ou não Delúbio Soares, Marcos Valério, IRB, Petrobras, Eletronorte, Sílvio Pereira, quem quer que seja, para que o Presidente possa bater no peito e dizer: “Eu tenho autoridade para falar em padrão ético”. Senão, não tem. Porque queremos passar este País a limpo, porque temos responsabilidade para com os cidadãos com quem conversei nas ruas de São Paulo, é por isso que queremos um entendimento em torno de investigações que não entediem a platéia e nem signifiquem bucha de canhão para iludir a opinião pública.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2005 - Página 20467