Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o depoimento do Sr. Maurício Marinho perante a CPI dos Correios. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre o depoimento do Sr. Maurício Marinho perante a CPI dos Correios. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2005 - Página 20586
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, POLEMICA, DEPOIMENTO, SERVIDOR, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, CORREIO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPUTAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, EXPLORAÇÃO, CRISE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, TENTATIVA, RETIRADA, ESTABILIDADE, GOVERNO.
  • CRITICA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, EFICACIA, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, APOIO, GOVERNO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador César Borges, ontem V. Exª estava, como eu também, na reunião de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, que, depois de muita discussão para colocar o bonde nos trilhos, para ordenar os trabalhos, para programar o trabalho de quinze dias, começou a ouvir ontem o Sr. Maurício Marinho, funcionário dos Correios. S. Sª foi visto numa gravação em fita de vídeo recebendo aquele macinho de dinheiro, com a pontinha dos dedos. S. Sª fez um pronunciamento ontem que foi todo desmentido hoje. Ontem ele disse que isso, aquilo e aquilo outro era a versão dele. Hoje, para surpresa de todos, em dado momento, pressionado pelos advogados, que perceberam que ele estava mentindo e ameaçavam abandonar a causa, diante da perspectiva do pior, o Sr. Maurício Marinho resolveu confessar a culpa e dizer que tudo que ele havia dito até aquele momento era mentira e que a verdade era a que ele passava a expor.

Eu gostaria de salientar esse fato, Senador Geraldo Mesquita, porque quem faz isso é porque está falando a verdade agora. Ele contou uma mentira para ser flagrado, para ser encostado no canto da parede e, depois de encostado no canto da parede, dizer: agora a verdade é essa e eu vou ter que abrir. A verdade é a que ele expôs e ainda está expondo.

Muito bem. Ontem, diante de tudo que ele expunha à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, o Presidente ia a Luziânia, fazia um pronunciamento para uma platéia favorável e, animado pelos aplausos, cometeu, na minha opinião, excessos imperdoáveis.

A televisão, à noite, noticiou à larga o teor do discurso de Sua Excelência o Presidente. Confesso a V. Exªs que fiquei pasmo com a audácia do Presidente. Depois da onda de denúncias, do acúmulo de fatos a investigar e esclarecer, Sua Excelência dizer o que disse é incrível, mas...

Abri os jornais de hoje e queria fazer comentários rápidos sobre o que está na imprensa de hoje, que transmite a percepção da opinião pública. O Estado de Minas diz: “LULA DESAFIA A OPOSIÇÃO”, que é o que ficou claro. Ele estava, de forma arrogante, desafiando a Oposição. Ele acusou a Oposição de explorar um caso no terceiro escalão para antecipar a campanha eleitoral de 2006. Gozado, terceiro escalão é o caso denunciado e Sua Excelência demite - porque foi demitido - o “primeiro-ministro” do Governo. O caso é do terceiro escalão, mas o demitido é o “primeiro-ministro”.

O Estado de S. Paulo traz na primeira página: “Secretária amplia denúncias sobre o mensalão”. Curiosamente o noticiário de uma das redes mais poderosas de televisão, durante oito minutos, colocou no ar a Secretária do Sr. Marcos Valério, que, igualmente, numa atitude curiosamente semelhante à atitude do Sr. Maurício Marinho, desdisse o que havia dito anteriormente e disse que estava desmentindo, desmentindo o desmentido porque havia desmentido por pressões e ameaças de morte, mas que agora, a cavaleiro, recolocava a verdade dos fatos. E a verdade dos fatos era a participação no esquema de dação de dinheiro de uma empresa que ganhava dinheiro nos Correios, em empresas públicas, dava dinheiro ao Sr. Delúbio, ao Sr. Sílvio Pereira e - quem sabe? -, ao ex-Ministro José Dirceu levar para aqueles que são os seus, politicamente. É isso que é terceiro escalão?

Diz o Correio Braziliense: “A crise piora, mas o que Lula vê é medo de reeleição”.

É curioso, Senador César Borges, o mundo pegando fogo e o Presidente falando em reeleição. Parece que Sua Excelência é - vou repetir - autista. Parece que só o Presidente não percebe que o País está impactado. E vem falar em reeleição! É tudo que não nos interessa neste momento, é tudo de que a opinião pública não quer falar neste momento. O que a opinião pública quer é a investigação da corrupção.

Diz, na contracapa, o Correio Braziliense: “LULA DESAFIA OPOSIÇÃO”. Em letras garrafais.

Para, em seguida, vir O Globo dizendo: “Ex-Secretária confirma malas de dinheiro”. Malas.

“Lula desafia Oposição e Congresso” E diz mais: “Ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para combater a corrupção”.

Senador Geraldo Mesquita, Senador Mão Santa, deixem-me fazer uma pergunta aqui a V. Exªs: vamos admitir que V. Exªs conheçam um chefe de departamento de uma empresa ou de uma empresa pública e chega um chefe de departamento semelhante...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador José Agripino, em um minuto o som será cortado.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já encerro, Sr. Presidente. Chega um chefe de departamento semelhante e diz: amigo velho, Fulano de tal do seu departamento está roubando. Denuncia: está roubando. O que V. Exªs fariam, Senadores Mão Santa e Geraldo Mesquita? Duas atitudes: ou investiga e bota para fora o ladrão, se não conviver com a improbidade; ou então não faz nada, deixa o tempo passar, ou por medo ou por conivência. Isso é o que está na cabeça do povo, que não entende. O Presidente da República, alertado por “a”, “b”, “c”, pelo Governador Marconi Perillo, por Roberto Jefferson e por não sei quantas pessoas de que havia o “mensalão”, só tomou providências depois que isso veio a público. Mas, enquanto não vem a público, não...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vou concluir em trinta segundos. A última: “Lula minimiza escândalo e joga a crise para o Congresso”. Só se joga a crise para o Congresso com a remessa de volta para cá do ex-Ministro José Dirceu, que realmente está de volta ao Congresso e está fazendo agora um pronunciamento.

Faço esses comentários para dizer o seguinte: estamos vivendo um momento de muita tensão, Senadora Heloísa Helena. Agora, eu, como V. Exª, estou seguro, não vou entrar hora alguma naquela do “Fora, Lula”. Hora nenhuma. Não me falem em impeachment, mas também não me falem em esconder investigação até porque o que traduz a vontade do povo é ir às últimas conseqüências nem que não fique pedra sobre pedra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2005 - Página 20586