Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca dos acontecimentos que estão ocorrendo no cenário político brasileiro.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações acerca dos acontecimentos que estão ocorrendo no cenário político brasileiro.
Aparteantes
Ana Júlia Carepa, Antonio Carlos Magalhães, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2005 - Página 20742
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, OPOSIÇÃO, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, SUSPEIÇÃO, INTERESSE, PREJUIZO, GOVERNO FEDERAL.
  • EXPECTATIVA, CONTRIBUIÇÃO, ORADOR, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • CRITICA, SERVIDOR, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), RECEBIMENTO, PROPINA, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, NOME, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO.
  • CONFIANÇA, INOCENCIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, PUNIÇÃO, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna para fazer uma reflexão tranqüila, devido a tantas defesas um pouco mais enfáticas que já tenho feito até o momento nesta Casa, daquilo que eu, sinceramente, acredito, do fundo do coração, com todos os ensinamentos que trago da minha família e do meu berço.

Até o presente momento, eu custava a acreditar que pudesse estar havendo no Brasil uma tentativa de se colocar o País numa derrocada. Porém, essa situação começa a incomodar-me.

Ouvi todos os depoimentos até agora. Participei de alguns pessoalmente e tomei conhecimento de outros pela imprensa escrita e televisionada. Começo a crer que há alguém cumprindo um grande e sujo serviço na política brasileira. Fiquei impressionado com o depoimento de ontem e com o que ocorreu hoje - e que ainda deve estar ocorrendo, mas que não tive mais paciência de ouvir.

Estou constrangido de participar de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, mas com vontade, de fato, de prestar a minha singela contribuição para a elucidação de inúmeros acontecimentos que tanto enojam a todos nós.

Sr. Presidente, parto do pressuposto de que uma pessoa que tem a inteligência de montar esquemas tão perfeitos de roubalheira precisa dispor de tempo para fazer isso, para arquitetar essas ações. Essa pessoa não pode, de uma hora para outra, revelar-se, por milagre, tão hábil para comandar tantos atos. Ouvi, pela imprensa, o caso do Amapá, em que o cidadão chegava ao ponto de ter uma senha do Siafi, que é secretíssima, a que somente poucos têm acesso. Entrava-se tranqüilamente no Siafi, inseriam-se várias Prefeituras no rol da adimplência no início da noite. Elas amanheciam adimplentes, apresentavam seus convênios aos institutos federais e, no fim do dia, eram devolvidas à inadimplência.

Não posso acreditar que uma pessoa tenha aprendido esse esquema em 24 horas, Sr. Presidente. Fiz esta pergunta ontem ao Sr. Maurício Marinho: há quantos anos ele trabalha nos Correios? Ele respondeu: “26 anos”. Em 26 anos, o Sr. Maurício Marinho chegou a ter a mesma impressão que está tendo no Governo Lula? Ele afirmou que o fato ocorreu somente agora. Nunca ele havia ouvido nada errado sobre os Correios até o início do ano de 2004. Eram santos, santíssimos da Trindade.

De uma hora para outra, o Sr. Maurício Marinho, cansado de trabalhar, depois de 14 horas diárias - como se ninguém aqui fizesse isso -, exaurido de seu dia, resolveu pegar R$3 mil não sei para quê.

Não pretendo tratar dessa questão, mas do fato. Fiz outra pergunta ao Sr. Maurício: se ele tem algo prático e concreto para trazer a esta CPI e que envolva qualquer pessoa. Não interessa quem seja, mas ele precisa dizer-nos se uma única vez ele viu alguém, em algum momento e em determinado lugar, fazendo algo errado. Infelizmente, a resposta foi “não”. Ele nunca viu. Ele suspeita, imagina e pensa.

Eu também penso muitas coisas. Eu sempre acho que o Flamengo deve ganhar do Vasco, mas nem sempre acontece. Sempre acho que o Flamengo deveria ganhar todos os campeonatos, mas não acontece. Eu acho muitas coisas, Presidente. Olha, eu estou impressionado. Hoje recusei-me ir à CPMI. Eu fiquei meditando a noite passada: será que eu estou vendo coisas? Não é possível o que está acontecendo! Uma pessoa no afã de sentar numa cadeira, abrir a boca e dizer que agora só escapou o Papa! Ontem colocou sob suspeição várias, mas várias, pessoas. O que aconteceu com Dr. Hummel, aquilo é intragável! O Procurador-Geral da República do Estado de Mato Grosso imagina que o Dr. Hummel é uma pessoa errada e decretou prisão. Destruiu uma vida e não tem nada. A Polícia Federal não encontrou um telefonema. E esse Maurício Marinho, que pegou R$3 mil, a única coisa prática que até agora ele trouxe à CPMI foi esses R$3 mil que ele pegou. Só. Não disse nada ontem, nada!

Como o Sr. Roberto Jefferson: seja homem! Venha a esta Casa e diga quem foi, aonde foi, com quem foi, quanto foi, diga isso! Não fique aqui chutando pro ar, tirando a tranqüilidade de pessoas. Seja homem! Honre as calças que veste e diga de público quem é! Se tiver alguém do PT, ninguém mais do que nós, nesta Casa, terá imediatamente a atitude de colocar para fora do Partido, de colocar à execração pública!

Fiquei ferido ontem e o que me impressiona é que o que ele disse ontem: “ah, eu suspeito que esse contrato...” “Esse contrato passa lá...” Chegou a citar até o Gushiken. E lembrou-se do Gushiken não sei por que cargas d’águas! Como é que funciona um processo de licitação na propaganda dos Correios? O Governo ordenou que qualquer propaganda do governo passasse pelo crivo do Ministério das Comunicações para que se desse organização a isso. Só que cada setor da iniciativa, da administração indireta, tinha que fazer de maneira própria. E ele se lembrou, não sei por que cargas d’água, de Gushiken. Isso é palhaçada, Sr. Presidente, isso é brincadeira, isso é molecagem! Molecagem da mais alta estirpe, ou da mais baixa, sei lá como queira!

            O Sr. Antonio carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Vou já conceder os apartes, mas desejo terminar o meu pronunciamento. Tenho cinco minutos, dá para ouvir os apartes. Três que me restam e mais dois de tolerância, que é o que a Casa tem feito.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Só vou explicar: são três minutos e mais dois de tolerância. A Srª Serys Slhessarenko pediu aqui que fosse rigoroso, então vou tentar sê-lo. Mas, se for necessário...

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Então, deixe-me ouvir os apartes logo.

Ouço a Senadora Ana Júlia, que pediu primeiro.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Senador Sibá, desejo dizer que agora a defesa mais fácil é o ataque. Alguém que veio aqui depor, que foi visto pegando R$3 mil, colocando no bolso, passa a atacar genericamente as pessoas. Mas o cidadão que está depondo agora, e estava lá na CPMI, está exatamente expondo para todo o Brasil que esquema que o Sr. Maurício Marinho passou a comandar.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Gerente de esquema é ele!

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Exatamente! Dizia que era o chefe, era o chefe, exatamente mais até do que o diretor. Isso é que está testemunhando lá o empresário, e disse, inclusive, o quanto protegia uma empresa que ganhava licitações, quando ia entregar o produto. Nem o laboratório dos Correios aceitava, porque não estava nas especificações, e essa empresa não era multada, essa empresa não era proibida de participar de outra licitação. É lógico que tudo isso vai ser apurado, mas ele está sendo colocado, ali, como chefe de quadrilha.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Agradeço a V. Exª. Ouço o Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Vou apartear V. Exª de pé, porque V. Exª está crescendo muito no PT. Hoje é a figura principal da liderança do PT. Temos visto isso aqui, nas comissões. Agora, V. Exª seria parceiro e daria um cheque em branco a Luiz Gushiken?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Daria, Sr. Senador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª vai ficar mal na vida.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Daria. Daria. A Gushiken e a todos os demais.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - A todos os demais?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - É. Do PT.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Pelo amor de Deus, não faça isso!

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Do PT, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Não faça isso.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Do PT. Faria. Um cheque do meu salário. E não posso dar mais cheque do que esse. Só o do salário.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - O Delúbio, em atenção a V. Exª, não vai aceitar, porque não quer prejudicar V. Exª.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Agradeço o aparte de V. Exª.

Tenho escutado, reiteradas vezes, a expressão “loteamento de cargos”. Quero lembrar aqui, Sr. Presidente, que qualquer pessoa que se elege, que qualquer partido político, ao ganhar uma eleição, o que faz, na República brasileira? Convida a força política que o ajudou a se eleger para montar a sua administração. Todos fazem isso. E o PT ganhou uma eleição, com o Presidente Lula, montou uma base política e convidou essa base política para ajudar na gestão. E pronto. Isso é prática normal, corriqueira e abençoada pela Constituição Federal. A diferença que temos de tratar aqui, Sr. Presidente, é se há ou não há ilicitudes, seja nos Correios ou em qualquer outro lugar. Mas o que vimos até agora, infelizmente, foi um festival de tentativas de colocar uma pecha numa das pessoas que têm tirado o sono de muitos...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...por não aceitarem jamais que um operário de baixa escolaridade tenha chegado ao mais alto posto desta Nação. E mais, tentaram por todos os motivos, achando que ele ia errar naquilo que seria o curso natural, por incompetência. Mostrou o Presidente que é um sucesso na sua administração, motivo de sucesso. Agora, estão querendo dizer que é desonesto. Não vão conseguir, porque, naquilo que vai ser apurado, e vamos apurar, vou me colocar agora, mais do que nunca, à disposição da apuração. Quero agora ir até o fim, mais do que qualquer um. Coloco-me nessa posição para que, naquilo que for possível, identifiquemos a corrupção, o tamanho dela, sua localização e seus reais responsáveis.

Gostaria muito de continuar o debate, mas estou dependendo do Presidente, que só me concedeu dois minutos.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Senador Sibá Machado, vou lhe conceder mais dois minutos se V. Exª permitir que apenas um dos oradores faça o aparte.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Como já ouvi o Senador Antonio Carlos, concedo o aparte ao Senador Mão Santa. Mas quero 30 segundos para a réplica.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O Sibá é o quarto Senador do Piauí. Nós o emprestamos ao Acre, mas o Piauí é mais forte. Sibá, União, a Igreja. Lembre-se de Cristo: “Em verdade, em verdade vos digo”. V. Exª disse que dá um cheque em branco para esse povo?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Para o Sr. Luiz Gushiken, sim, do meu salário.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Sibá Machado, V. Exª é do Piauí, do Município de União, inteligente. Nós o emprestamos para o Acre. Cedemos uma das melhores personalidades que temos. Mas sei que V. Exª é inteligente. V. Exª dá cheque em branco para essa gente? Porque V. Exª sabe que eles já têm tanto dinheiro guardado por aí que não precisam de mais.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - O cheque é da minha confiança. Não se trata de valor financeiro, porque acho que é impagável o valor da confiança que se tem nas pessoas. Vou continuar confiando nos meus companheiros. Tenho absoluta certeza da sua inocência e da seriedade dos seus trabalhos. E o Brasil tem orgulho de ter o Governo que elegeu por mais de 50 milhões de votos.

Sr. Presidente, vou apresentar minha inscrição como Líder para continuarmos o debate daqui a pouco.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2005 - Página 20742