Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Postura do PT diante das graves denúncias de corrupção envolvendo o Governo do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Postura do PT diante das graves denúncias de corrupção envolvendo o Governo do Presidente Lula. (como Líder)
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2005 - Página 21485
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, AUTORITARISMO, CONDUTA, FALTA, ARTICULAÇÃO, EMPENHO, GOVERNO, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • LEITURA, ENTREVISTA, BORIS CASOY, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, IMPRENSA, CRITICA, TENTATIVA, DIRIGENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPEDIMENTO, LIBERDADE DE IMPRENSA, AMEAÇA, CORTE, VERBA, PUBLICIDADE, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • DEFESA, NECESSIDADE, RESPOSTA, GOVERNO, GRAVIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu tenho alertado para o caráter de certa forma imaturo e inseguro do Governo e de seus articuladores ao reagirem, como reagem, às denúncias graves de corrupção, envolvendo o Governo do Presidente Lula da Silva. Mais tarde, lerão os registros na imprensa dos fatos correntes e perceberão, primeiramente, o peso do ridículo; em segundo lugar, a sensação que passam de sentimentos de culpa, de insegurança; em terceiro lugar, notarão que todo o esforço que têm despendido no que possam chamar de articulação - e articulação eu não vejo que seja parecido com ela o que fazem eles -, é defensivo, não compreendendo que um responsável e correto Deputado do Partido dos Trabalhadores, Deputado Paulo Delgado, em entrevista do último fim de semana ao jornal O Globo disse a única verdade irrecorrível e que, portanto, deve ser seguida pelo Governo e pelo PT. Paulo Delgado disse: “Só a verdade salva o Governo e salva o PT, mais nada.”

As tergiversações para quebrar o sigilo do Sr. Marcos Valério retrocedem ao período tal. Essa fixação quase que sexual no Presidente Fernando Henrique, é algo quase que sexual. Eu fico impressionado porque extrapola os limites da racionalidade.

Mas, muito bem, o que nós queremos é saber não quando investigam nem quem investigam, é saber que vão investigar, sim, as atividades do Sr. Valério neste Governo. A opinião pública está sedenta por notícias e por afirmações nesse campo.

E aí a pendência na Câmara, num processo desmoralizante da tal CPI para investigar o mensalão, tendo como primeiros signatários o Sr. Mabel e o Sr. Janene, acusados diretamente, colocados sob suspeição diretamente nesse processo, numa ingenuidade da Câmara - de setores da Câmara, não da Câmara como um todo -, imaginando que é possível controlar qualquer CPI. Se o Presidente da CPI for o Sr. Mabel e o Relator for o Sr. Janene, ainda assim a opinião pública vai exigir, vai cobrar e vai obter a explicação cabal de todas as denúncias ligadas a esse episódio vergonhoso que é o “mensalão”. E por trás dessa fragilidade, dessa falta de consciência e de competência, existe, Senador Heráclito Fortes, o autoritarismo.

Quero ler aqui um trecho de entrevista recente à revista Imprensa, concedida pelo notável jornalista Boris Casoy. E é de espantar, Senador Pedro Simon, o que ele diz!

Imprensa: Você sofreu muita pressão do Governo e do PT?

Boris: Muita... Mas muita mesmo... No começo da administração do PT, pressionaram a direção violentamente para me tirar da Record. Ameaçaram cortar a publicidade. A diretoria me deixou a par o tempo todo.

Imprensa: E isso acabou?

Boris: Acabou no dia 13 de fevereiro, quando aconteceu o caso Waldomiro [não houve nenhuma conversão do Governo à democracia; houve o caso Waldomiro, que reduziu um pouco o salto alto em que estavam montados os dirigentes deste Governo e deste Partido].

Imprensa: Por quê?

Boris: As razões da pressão eram as mais estúpidas possíveis. Eles me atacaram muito no caso do Banestado. E agora eu entendo porque... pelo menos eu suponho.

Fizeram uma grande pressão... Não sei se a diretoria vai gostar... Queriam que eu não cobrisse mais o caso Celso Daniel. E olha que eu cobria de maneira absolutamente neutra. Eu não podia ligar o Roberto Teixeira ao Lula. Nem dizer que era amigo do Lula.

Imprensa: Eles chegaram a te processar?

Boris: Não, porque não fiz acusação nenhuma. Eles, no começo do Governo, não suportavam, por exemplo, que nós puséssemos um debate do Congresso no ar, onde, ao invés de terminar com o PT, a discussão terminava com a Oposição, com o Virgílio [no caso, exatamente este seu colega]. Foram reclamações diárias. Diziam que eu era tucano.

“Eu não defendo o Lula ou fora Lula”, diz, com muita justeza, Boris Casoy.

Em outro trecho, o jornalista Boris Casoy estabelece um paralelo entre os Presidentes Collor, que não interferiu no trabalho dele; Sarney, que não interferiu no trabalho dele; Itamar, que não interferiu no trabalho dele e Fernando Henrique, que tampouco fez qualquer pedido nesse sentido. E se refere de maneira muito respeitosa ao Presidente que não tomou posse, Tancredo Neves, que também respeitava o direito de a imprensa cobrir e aceitava as críticas que se pudessem fazer a quem governa. Quem governa tem que ser, às vezes, até elogiado, para ter estímulo, para fazer, portanto, mais coisas boas a partir desse estímulo. E, quando erra o administrador, ele deve ser criticado, até para não repetir o erro, para não repetir o equívoco.

Mas fico impressionado porque o jornalista Boris Casoy, do alto da sua responsabilidade, diz que foi pressionado, que quiseram a cabeça dele. Era o Partido dos Trabalhadores pedindo a cabeça de um jornalista independente e ameaçando cortar a verba de publicidade da TV Record, para que ela, portanto, se credenciasse; se o fizesse, cairia nas boas graças do Governo, se aderisse ao Governo de maneira servil. Ela não o fez e, portanto, merece esse registro positivo, quando manteve no ar um telejornalismo que é tradição, e tradição de respeito, de isenção e de seriedade.

Volto a dizer, Senador Pedro Simon, Sr. Presidente e prezado amigo Tião Viana, que o Governo tem contra ele o relógio, o cronômetro do tempo político. Ele não pode mais tergiversar, ele precisa responder cabalmente às denúncias duras de corrupção que sofre essa gestão.

Do ponto de vista do seu Partido, que é o mais importante Partido de sustentação, ele precisa enfrentar as denúncias cada vez mais pesadas que pairam sobre as cabeças de dirigentes, como na do Sr. Delúbio e na do Sr. Silvio Pereira, numa hora em que avultam os indícios e as constatações de financiamento desse “mensalão”.

Diz a Folha de S.Paulo que eram R$20 milhões os do Banco Rural, saques vultosíssimos, Senador Ramez Tebet, às vésperas de reuniões com dirigentes do PT. Já diz O Estado de S. Paulo que há mais R$20 milhões do Banco do Brasil. Então, são 40 milhões. Quarenta milhões é dinheiro para muito “mensalão”!

Portanto, o que a Nação cobra e espera são respostas, e não mais evasivas; respostas, e não mais atitudes ridículas, infantis, deprimentes, depreciativas, auto-depreciativas, de revanche. A Nação espera por respostas. Se o Governo não é capaz de dá-las, este Governo terá problemas cada vez maiores de governabilidade, terá cada vez maiores problemas para cumprir aquilo que todos esperamos que ele seja capaz de cumprir: o seu mandato constitucional, o seu mandato de quatro anos. Ninguém mais do que eu defende a legalidade neste País, mas é preciso que o Governo se credencie ao respeito da opinião pública e que saiba valorizar o seu mandato, que saiba valorizar este mandato construído por 53 milhões de eleitores.

Mentira não cabe mais. Deboche com o Diário Oficial não cabe mais. Desrespeito à opinião pública não cabe mais. Revanche cretina não cabe mais. O que cabe é apurar os fatos, e se tem, em qualquer quadrante, alguém usufruindo de dinheiro público, isso deve ser apontado à opinião pública, deve ser apontado à Justiça, e a punição deve desabar sobre a cabeça de todo e qualquer culpado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se puder...

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Agradeço ao nobre Senador Arthur Virgílio.

Infelizmente, o tempo está esgotado, Senador Heráclito, em função do risco de não aprovarmos a PEC paralela. Sei que V. Exª tem total solidariedade a essa matéria, mas temos muitos itens e queremos aproveitar ao máximo a presença dos Senadores.

Pela ordem, concedo a palavra a V. Exª.

 

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sr. Presidente, fui citado pelo Senador Arthur Virgílio em seu pronunciamento e invoco a V. Exª o art. 14 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª tem direito a se pronunciar de acordo com o art. 14 do Regimento.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Arthur Virgílio, com sua lucidez costumeira, invoca-me como testemunho em fatos que hoje toda a Nação vê estarrecida.

Virou prática do Governo mirar-se em exemplos ou em possíveis exemplos do Governo passado, mas a sociedade brasileira sabe que não é isso que está em questão. O que está em questão, Sr. Presidente, é exatamente a quebra de compromisso assumido em praça pública pelo atual Governo, de banir a corrupção no País. Se existia essa corrupção que eles tanto dizem que existia no passado, por que providências não foram tomadas no momento inicial da posse? Por que não se nomearam comissões de sindicância? Por que não se apuraram os fatos de maneira rápida e exemplar? Por que se encobriram, por exemplo, os fatos envolvendo o Sr. Waldomiro Diniz? Talvez, esse tenha sido um grande erro e um mau exemplo que o Governo deu.

Sr. Presidente, há pouco, repito, uma Senadora do PT, escalada que foi, citou o exemplo da empresa hoje envolvida em corrupção, uma empresa de publicidade que teria prestado serviços ao governo passado.

Senador Romeu Tuma, é de se perguntar, estarrecido: se o PT, bem informado, sabia de tudo isso, por que contratou essa empresa e transformou o seu executivo no homem de maior ligação entre o núcleo duro do Partido e os tentáculos da corrupção, que motivaram ou que causaram a constituição do mensalão nesta Casa?

Portanto, Sr. Presidente, fiz questão de usar o art. 14 do Regimento Interno apenas para reforçar o que disse o Senador Arthur Virgílio, tendo eu dividido com S. Exª algumas tarefas no Governo do Presidente Fernando Henrique - S. Exª como Líder e como Ministro; eu como Líder. Em momento algum, presenciamos, nem sequer de longe, mensalão ou qualquer indício de corrupção cujas providências não tivessem sido tomadas imediatamente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2005 - Página 21485