Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação à Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de um plano de recuperação das estradas brasileiras.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA.:
  • Apresentação à Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de um plano de recuperação das estradas brasileiras.
Aparteantes
Augusto Botelho, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2005 - Página 21862
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, PEDRO SIMON, SENADOR, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENDIMENTO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO.
  • ANUNCIO, INSTALAÇÃO, GRUPO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ENTREGA, DOCUMENTO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), CRIAÇÃO, CAMARA DE GESTÃO, IMPLEMENTAÇÃO, RECUPERAÇÃO, RODOVIA, PAIS.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, RODOVIA, RESULTADO, SUPERIORIDADE, DESPESA, CAMINHÃO, AUMENTO, PREÇO, SOJA.
  • ELOGIO, POLITICA EXTERNA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PRODUTOR RURAL, PAIS, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • PREVISÃO, BENEFICIO, CRIAÇÃO, CAMARA DE GESTÃO.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabamos de ouvir aqui uma pregação. Não sei como classificaria o nosso companheiro que acabou de deixar a tribuna e que é meu companheiro de muitos anos. Estivemos aqui na outra Legislatura e assistimos a tudo que aconteceu. À época de Tancredo, éramos muito menos, talvez 45 ou 48. Sobravam lugares aqui.

Simon sempre foi aquele homem sofrido - nós o conhecemos, éramos vizinhos -, mas era sempre o Simon. Rendo as minhas homenagens a esse brasileiro que fala uma linguagem de peito aberto para o Brasil. E sigo na trilha de S. Exª, porque somos companheiros aqui, da mesma maneira.

Presidente Lula, ouça o que disse Simon. Ou permita-me, já que sou mais antigo e posso dizer: “Presidente Lula, é a hora e a vez! O Brasil está esperando”. Já disse aqui duas vezes: assuma o comando, Presidente! Nesta Casa e na outra Casa, Vossa Excelência tem apoio. O povo brasileiro, os 55 milhões que avalizaram a sua presença no Palácio do Planalto estão esperando. Pode até ser menos, mas estão esperando.

E o que podemos fazer aqui? Podemos ajudá-lo. A maioria de nós aqui presentes já teve a caneta de Governador na mão. Eu a tive por quatro vezes, duas como Governador, duas como Prefeito e ainda a segunda como Senador. Como Alvaro Dias também, fomos companheiros da outra vez. S. Exª era tão jovem, que quase não o reconheço agora, e está mais jovem ainda, com voz firme, posições firmes.

Mas o que queria dizer é que há remédio. O Brasil é viável, pelo amor Deus! Como não, com um povo desse, com um povo bom, que está sempre pronto para ajudar?! Mesmo desempregado, mesmo sofrendo, o povo é bom. Está esperando apenas que o comandante diga qual é o caminho. E o caminho seguramente não é aquele.

Simon disse uma verdade: agora, a seu lado, Sua Excelência colocou uma companheira. Eu a conheci pouco, mas, pela conversa que tive com a Ministra Dilma, senti que, do lado do Presidente Lula, há uma companheira, uma Ministra decidida, competente e capaz. Estou preparando um documento para levar a S. Exª, se Deus quiser. Estou combinando com a equipe do meu Partido para irmos lá, porque, afinal de contas, o discurso é bom. Mas, além do discurso, o que podemos oferecer para que você, Lula - permita-me, Presidente Lula -, toque este País para frente já?

Querem ver? A economia do País está pendurada nos pneumáticos de dois milhões de carretas. Preferimos, em vez da estrada de ferro, a rodovia. São milhares de quilômetros de estradas asfaltadas, mas o asfalto envelhece e, quando envelhece, quebra aos pedaços.

No Governo passado - e digo isso com toda a segurança, não quero fazer qualquer tipo de crítica -, propus o que propus também ao Governo Lula: um plano de recuperação das estradas. Sinto que, neste momento, o prejuízo que o povo está tendo por causa das estradas é tão grande ou maior que aquele advindo de juros e do pagamento da dívida, que, naturalmente, deveria ser revisto.

Outro dia, aqui, o Senador Mão Santa calculou - e eu até disse que S. Exª, que é médico, havia aprendido matemática - que pagamos R$500 mil por minuto de dívida. Pelo amor de Deus!

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite-me V. Exª um pequeno aparte?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Pois não.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Em relação às estradas das quais V. Exª está falando, neste ano, foi calculado pela Associação Geral dos Agricultores que só a perda em transporte de grãos foi de R$2,7 bilhões, mais do que o que foi investido, R$2,2 bilhões. V. Exª está coberto de razão e, como sempre, com muita lucidez, está abordando um tópico que é vital para a nossa vida, para vida do Brasil, que é o transporte rodoviário.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Meu Líder Ney Suassuna, vamos levar o documento à Ministra Dilma, e tenho certeza de que S. Exª o carimbará. Estou atualizando os números. Meu caro Líder Suassuna, sabe de quanto é hoje o desperdício de óleo diesel?

Vou repetir a todos os brasileiros e brasileiras - como diz o Senador Mão Santa - que estão nos ouvindo pela TV Senado: hoje 42 mil quilômetros de estradas federais estão semidestruídas. Fiz uma conferência com os consultores e transportadores de carga e chegamos à conclusão de que 10 mil já foram recuperadas com aquele programa de parceria, mas há ainda 30 mil esburacadas, arrebentadas, destruídas, e, por elas, têm de passar dois milhões de carretas rodoviárias carregando a riqueza exportável do Brasil.

É essa riqueza que gera os R$100 bilhões, que já dobrou a casa e que se deve ao Presidente Lula, seguramente, sim. Sua Excelência levou o nome do Brasil - já disse isso, e Sua Excelência se emocionou - por esses tapetes vermelhos, como diz Simon, à China, à Índia, à África. E já estamos, no mundo, como País emergente e capaz. Deve-se isso, seguramente, ao Presidente Lula.

Queremos ajudar Sua Excelência, para que o País retome o seu desenvolvimento. Que não seja pelo Fome Zero, que não seja pelo Bolsa-Família, mas que empreguemos todos os lavradores que estão precisando e apoiemos os que produzem! Os homens que estavam aqui não pediram mais nada do que um crédito para produzirem. Eles não vieram aqui pedir emprego. Tenho certeza de que a maneira como foi resolvida a questão ainda não é tudo, mas é uma parte.

Nós, do PMDB, e, tenho certeza, todos os nossos companheiros dos outros Partidos estamos prontos para ajudar o Presidente a tocar este País para frente. Temos fé em nosso País e em nosso povo, que nos elegeu, que nos colocou aqui.

Por isso, repito: o programa é simples. Vou repetir para que todo o povo do Brasil fique sabendo dos transportadores de carga. O Senador Ney Suassuna acabou de dizer que o prejuízo é de R$2,7 bilhões por causa dos buracos. Vou acrescentar ao tamanho do prejuízo. Vou repetir para os que entendem e para que aprendam os que não entendem. São dois milhões de carretas. Uma carreta de 50 toneladas segue acelerada, e o motorista está convencido de que está tudo bem. De repente, numa curva, há um buraco. Ele mete o pé no freio e tira o pé do acelerador. O motor joga óleo fora - quem está falando aqui conhece isso por dentro e por fora, calculei isso minuciosamente. Os motoristas das carretas freiam por causa do buraco e aceleram para começar a andar. Com isso, gastam 35% a mais do que deveriam gastar. E quanto é 35% de 14 bilhões de litros de óleo diesel gastos por ano? Calculem 30%, apenas para fazer as contas, e teremos de 4 a 5 bilhões de litros de óleo, importado pela Petrobras, jogados fora por causa dos buracos. Ora, se cinco bilhões de óleo diesel custam R$1,50, na bomba, passamos de R$6 bilhões gastos.

A Petrobras transfere isso para o povo, porque ela vende o óleo e não quer saber. Mas agora estamos sabendo que o óleo vai para a atmosfera. A Petrobras poderia perfeitamente ajudar o nosso programa. Qual é o programa, meu caro Suassuna? Vejam como é fácil: listamos 100 empresas de engenharia para reparar esses buracos e consertar as estradas. O plano é simples. É necessário um núcleo gestor, como foi feita a Câmara de Gestão, porque o Ministério dos Transportes, que conheço por dentro e por fora, não tem estrutura para reparar 30 mil quilômetros de estradas no tempo em que o País precisa. O prejuízo em grãos é de R$2 milhões, o prejuízo em óleo é de R$6 bilhões e, com o desgaste e o aumento do frete - 35% a mais no frete -, são R$7 bilhões a mais. O povo é quem paga, o Brasil é que paga, porque a nossa soja fica mais cara por causa do transporte. E o prejuízo do patrimônio nacional, das carretas, dos R$2 milhões? O patrimônio é de R$100 bilhões. Se acrescentarmos 15% de depreciação por causa dos buracos, já teremos R$15 bilhões de prejuízo do patrimônio brasileiro, das nossas carretas e dos nossos transportadores.

Então, Srªs e Srs. Senadores, vamos apresentar ao Ministro dos Transportes um plano que crie a Câmera de Gestão. E não precisa vir aqui. Basta decretar - nossos juristas já estão estudando o assunto - estado de calamidade nas estradas. E, por haver calamidade, decreta-se a existência da Câmara de Gestão. O que é a Câmara de Gestão? É um núcleo de pessoas competentes e sérias com poderes, como um Governador, de determinar como fazer.

Já temos o preço base. Vamos apenas ajustá-lo. Em média, são R$200 mil por quilômetro, se se tirar o asfalto e a base e se fizer uma nova. Se se trocar só a base, são R$150 mil. Se se ajustar 20% para mais, isso não tem a menor importância. Vamos ver quanto é no total: R$200 mil por quilômetro para se consertar 30 mil quilômetros, R$6 bilhões em dois anos.

Cem empresas brasileiras de engenharia fazem isso. Fazem mesmo. Como? Vamos abrir licitações de três, de quatro, de seis vezes, de acordo com a estrutura burocrática do Ministério? Não. Vamos fazer aquilo que é legal: um leilão. Dividimos o País em lotes. O preço base é este. Chamamos as empresas de engenharia nacionais, homens sérios, competentes e capazes, e fazemos um acordo.

Isso é uma guerra, senhores! É a invasão da Normandia. No dia “D”, lá estava o homem Dwight Eisenhower. O que ele fez? Ele precisava de quê? Ele precisava de navios. Os alemães afundavam um navio por dia. Aí ele disse: “Precisamos construir dois navios por dia”. Afundavam um, mas havia outro para levar tudo aquilo que precisavam levar para a Grã-Bretanha para poder jogar os exércitos na Normandia. Alguém disse: “E o combustível, para quando invadirmos a Europa?” Dwight Eisenhower, do alto da sua competência, disse: “Chamem o homem que mais entende de combustível neste país”. “Quem é?” “É fulano de tal.” “Chamem ele aqui. Coloquem nele uma medalha ou lhe dêem uma patente de general.” “Como é que a gente leva o óleo para a Europa?” Ele disse: “Por baixo d’água. Levamos em tubos de borracha”. Naquele tempo, não havia o que tem hoje a Petrobras, que traz petróleo a 60 quilômetros. Lá, é muito menos. “Tubos de borracha: seis tubos. Vamos esperar. Quando os tanques invadirem a Normandia e tivermos cinco quilômetros de praia à nossa disposição, colocamos o combustível.”

O que foi isso? Foi um comando unificado. Agora, precisamos desse comando. Esse comando está na mão do Presidente, mais precisamente na mão da Ministra Dilma Rousseff. Creio nela e creio que ela vai adotar essa proposta. E, em 24 meses, meu caro Suassuna, o Brasil terá 30 mil quilômetros de estradas novas, feitas por homens competentes, o que vai gerar, de saída, dois milhões de empregos, porque começaremos isso no dia “D”, como na invasão da Normandia. No dia “D”, as empresas de engenharia brasileiras estarão em todos os Estados, cada uma com o seu pedaço, fazendo, em primeiro lugar, os troncos. Por exemplo, Cuiabá - Santarém: “É um grande eixo?” “É.” “Vamos para lá!” “Em direção ao Paraná, em direção ao Porto de Paranaguá, há um tronco?” “Vamos até ele!” “Onde mais?”

Isso tudo no mesmo dia, com 100 empresas de engenharia trabalhando, a um preço conhecido num leilão. O processo chama-se “contrato de adesão”.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Perdoe-me, vou encerrar, Sr. Presidente. É um contrato de adesão. Quem aderir assume o compromisso e assina um contrato. Fiz isso no Ceará. É legal. Fiz quando eletrifiquei o Estado do Ceará todo. Isso é legal. Vamos fazer isso.

Mais adiante, falarei sobre o biodiesel, mas, por hoje, fiquemos nas estradas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. Augusto Botelho (PDT - RR) - Vou fazer um aparte a V. Exª nos últimos 30 segundos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Está bem, Sr. Presidente?

O SR. Augusto Botelho (PDT - RR) - Só para dizer que, para nós, é um prazer ouvir a sabedoria de V. Exª e as soluções propostas pelo seu espírito de engenheiro. Soluções práticas. Já tenho visto V. Exª falar isso para o Presidente Lula há quase dois anos. Eu gostaria que o Presidente ouvisse V. Exª, porque estaríamos em outra situação econômica neste momento.

O SR. ALBERTO SILVA (PSDB - PI) - Ele agora vai ouvir, se Deus quiser! Lá está a Ministra Dilma.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2005 - Página 21862