Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do Partido dos Trabalhadores e de seus membros atingidos por denúncias de corrupção. Justificativas a requerimento de voto de pesar pelo falecimento, em Santa Catarina, do Professor e Sociólogo Jacó Anderle.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. HOMENAGEM.:
  • Defesa do Partido dos Trabalhadores e de seus membros atingidos por denúncias de corrupção. Justificativas a requerimento de voto de pesar pelo falecimento, em Santa Catarina, do Professor e Sociólogo Jacó Anderle.
Aparteantes
Fátima Cleide, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2005 - Página 22016
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. HOMENAGEM.
Indexação
  • DEFESA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DECLARAÇÃO, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, ANUNCIO, REUNIÃO, COMISSÃO EXECUTIVA, PAUTA, ELEIÇÃO, DIRETORIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • SOLIDARIEDADE, JOSE GENOINO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • NECESSIDADE, COMPROMISSO, CONTINUAÇÃO, PROJETO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, SIMULTANEIDADE, COMBATE, CORRUPÇÃO, APROVEITAMENTO, ESTABILIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, ANALISE, INDICE, MELHORIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, PROFESSOR, SOCIOLOGO, SECRETARIO DE ESTADO, EDUCAÇÃO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicio o meu pronunciamento, Senador Paulo Paim, não como Senadora, mas como petista, fundadora desse Partido, militante desde a primeira hora; um Partido que muito me orgulha por tudo que fez e construiu ao longo desses 25 anos de existência. E, como petista, declaro que todos nós, petistas - todos, a nação petista -, queremos investigação ampla, geral e irrestrita; queremos investigar tudo e todos, hoje e ontem, até porque a corrupção neste nosso País, infelizmente, é muito antiga. Há pessoas achando que ela é novidade, mas ela é muito antiga. Os esquemas estão montados, estão encruados. Eu diria até, como dona-de-casa, que está como sujeira em pano encardido: a corrupção está entranhada na máquina pública.

Por isso, precisamos investigar muito, profundamente, obter as provas, para que a Justiça possa punir. É por isso que, como petista, tenho, na CPI dos Correios, sempre dito que precisamos aprofundar as investigações. A lógica de que a cada manchete nova deve-se mudar o foco, mudar-se de assunto, não pode ser seguida. É preciso que seja assumido muito claramente um compromisso por parte de todos os membros da CPMI: que aprofundemos as investigações; que investiguemos mesmo; que obtenhamos as provas. Mudar todos os dias de assunto é lógica de quem não quer investigar; é lógica de quem quer, tão-somente, levantar insinuações, fazer ilações, lançar suspeitas, sem o compromisso de uma investigação rigorosa.

Como petista também, estou numa expectativa muito grande com relação à reunião da Executiva do nosso Partido amanhã. Que a nossa Executiva tome a melhor deliberação, para que o Partido possa ter compromisso com a investigação, possa dar andamento às investigações necessárias de qualquer membro da Executiva que esteja efetivamente envolvido em qualquer ato ilícito! Que tudo possa ser esclarecido!

Neste momento, o PT está em processo eleitoral interno, está em andamento o processo de eleições diretas no PT. Portanto, além da tarefa de dar andamento às investigações, procurar comprovar ou não o envolvimento em qualquer ato ilícito por algum membro do PT, a Executiva do Partido também tem a responsabilidade de conduzir o processo eleitoral. A reformulação total ou parcial da Executiva tem, obrigatoriamente, de dar conta das duas tarefas neste momento.

A propósito, eu não poderia deixar de dar aqui o meu testemunho e manifestar a minha solidariedade irrestrita ao Presidente do PT, José Genoíno. Faço-o por sua história, por sua biografia e por sua competência. Tenho certeza absoluta de que quem nos conduziu até agora nos conduziu de forma lícita, de forma limpa, de forma plena, de forma clara, dentro das regras que o PT sempre defendeu. Deixo, portanto, a minha solidariedade. Aliás, quero agradecer ao orador que me antecedeu pelas referências à biografia do Deputado José Genoíno, Presidente do PT.

Falarei agora como Senadora. A tarefa que temos de investigar, de punir, coloca-se numa outra lógica. Além da tarefa da investigação e da punição dos corruptos e dos corruptores que atuam na máquina pública brasileira, temos uma outra tarefa. Fazer as duas tarefas ao mesmo tempo não é algo simples, mas é absolutamente necessário para os que assumiram, como nós, responsabilidades junto à população que delegou ao Presidente Lula conduzir o País, que nos delegou a tarefa de, aqui no Senado da República, representar os nossos Estados.

O Senador Alberto Silva foi nesta mesma linha: está em jogo o crescimento deste País, a geração de empregos, de oportunidades de trabalho e renda, ou seja, precisamos investigar e punir, mas temos de manter o País crescendo, temos de gerar emprego e renda, temos de dar continuidade aos programas sociais que distribuem renda, como o Bolsa-Família, que já atende 6,5 milhões em todo o País e tem como objetivo chegar a 11 milhões de famílias até o final do mandato do Presidente Lula; às ações de saneamento e de habitação popular; à ampliação da rede pública de educação, como o projeto do Fundeb, ensino profissionalizante cujo decreto de expansão foi assinado na última sexta-feira; à questão da agricultura familiar: colocar e manter o homem no campo para que possa continuar gerando emprego e renda na área rural.

Para nós é muito importante dar conta dessas duas tarefas, Senador Paulo Paim. Temos de investigar, punir, combater, eliminar a corrupção, mas não podemos deixar este País, novamente, entrar em recessão, novamente sofrer um recuo, porque foi muito difícil pôr este País novamente para crescer. Não foi qualquer coisa o sacrifício que fizemos em 2003 para que, em 2004, tivéssemos a retomada do crescimento e, agora em 2005, a sua continuidade - talvez um pouco aquém do que crescemos em 2004, mas ainda na lógica do crescimento.

As revistas desta semana ressaltam que a turbulência política não abalou a estabilidade econômica. A revista Veja apresenta, inclusive, o paradoxo brasileiro: a despeito das inúmeras denúncias, a despeito da turbulência política, permanece estável a economia.

Outras revistas vão nessa mesma linha, como a ISTOÉ: “Apesar de tudo, economia vai bem”. Outra revista estampa: “Bancos querem emprestar mais”. Ou seja, com uma turbulência como essa, os bancos estão ofertando mais crédito na área da habitação, na área de investimentos na moradia.

Poderíamos folhear várias outras revistas para ver que, de fato, essa tem sido a lógica, ou seja, a economia tem conseguido se manter apartada da crise política; a estabilidade econômica instalada pelo Governo Lula deu fundamentos para que a economia se mantivesse estável.

E mais do que estabilidade: no último mês, batemos, mais uma vez, o recorde de exportações, foram US$10 bilhões num único mês. Isso nunca tinha acontecido na história do Brasil. E o superávit comercial de US$4 bilhões num único mês também nunca tinha sido atingido.

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ideli Salvatti, permite-me um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Já vou lhe conceder um aparte, Senadora Fátima Cleide. E, depois, eu o concederei ao Senador Paulo Paim.

O mais importante é que essa lógica da exportação, esses recordes estão vinculados, majoritariamente, a produtos industrializados e semimanufaturados, o que significa que estão sendo gerados mais empregos e mais renda no Brasil.

Ouço a Senadora Fátima Cleide e, em seguida, o Senador Paulo Paim.

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Ideli Salvatti, como petista, gostaria de parabenizá-la por seu pronunciamento. E, como petista, também devo dizer, neste plenário do Senado Federal, que me orgulho em continuar ostentando a estrela do meu Partido. Não fosse o Partido dos Trabalhadores, pessoas como eu, como V. Exª, como o Senador Paulo Paim, que somos lideranças sindicais, membros da classe trabalhadora de verdade, de fato, nunca teríamos tido a condição de chegar aqui. Por isso, digo que ostento orgulhosamente a estrela do meu Partido e continuo com muito orgulho de ser petista, porque ser petista é mais do que ter um símbolo ostentado no peito: é a confiança no projeto que hoje tentam destruir. Tentam destruí-lo, Senadora Ideli Salvatti, mas, tenho certeza, não conseguirão. V. Exª aborda com muita propriedade os reais motivos dessa luta toda para tirar das mãos do PT a bandeira da ética. A revista Carta Capital também, na semana passada, trazia dados muito interessantes. Nem no primeiro nem no segundo governo do PSDB, do Presidente Fernando Henrique, conseguiram atingir índices tão importantes como os alcançados no Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Então, mais uma vez, só quero parabenizá-la e dizer que não baixaremos a cabeça. É importante, sim, apurar, e estaremos apurando como petistas, como Senadores da República, em qualquer uma das comissões em que nos for delegada essa tarefa. Também quero aqui, junto com V. Exª, externar a minha solidariedade ao Presidente do meu Partido, José Genoíno. Meus parabéns, Senadora Ideli Salvatti!

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Obrigada, Senadora Fátima Cleide.

Concedo o aparte ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Ideli Salvatti, V. Exª efetivamente não poderia ter outra postura na tribuna a não ser a que tem neste momento. Em primeiro lugar, V. Exª defende a investigação, doa a quem doer, no combate à corrupção, conforme inclusive tem dito claramente para o País o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Presidente tem dito, diariamente, que é a favor de que se façam todas as investigações, no âmbito da Polícia Federal, do Ministério Público e das CPIs. V. Exª reafirma a situação da economia, que tem um quadro positivo. Eu lembraria somente este dado: são três milhões de novos empregos com carteira assinada, se pegarmos somente os últimos dois anos. V. Exª faz uma análise tranqüila e afirmativa da política econômica e, ao mesmo tempo, registra toda a sua solidariedade ao nosso ex-Deputado Federal e Presidente do Partido José Genoíno. Alguns Parlamentares conviveram com o Sr. José Genoíno aqui nesta Casa durante décadas, e eu o conheci aqui no dia-a-dia em 1986, ainda na Assembléia Nacional Constituinte. Era um Parlamentar brilhante, respeitadíssimo por todo o Congresso Nacional, pela Situação e pela Oposição, na época. Era um mediador, um negociador, um interlocutor da sociedade aqui na Casa. Por isso, junto com V. Exª, quero registrar o meu apoio ao nosso ex-Deputado Federal, ex-Líder da Bancada na Câmara, o nosso José Genoíno. Também não acredito que ele tenha participado de nenhuma das denúncias levantadas até o momento. Tenho plena confiança nele. E, assim como V. Exª, na reunião da Executiva amanhã, sei que medidas firmes serão tomadas por parte do Partido dos Trabalhadores, como a reforma - que endosso - que o Presidente Lula está a anunciar que fará, com um critério: quem for candidato deverá deixar o Governo, o que não é nenhum demérito ou dúvida levantada sobre alguém, se é mais ou menos competente. Trata-se simplesmente de não se fazer outra reforma em abril. Sua Excelência faria a reforma neste momento. Alguns dizem: “Quem sair agora já estará no alvo se for candidato a Governador”. Não necessariamente. Não precisa dizer o cargo a que vai concorrer. Quem for candidato a Deputado Estadual, Federal, Senador, Governador e, se quiser, até a Presidente da República deixará o Governo neste momento. Creio ser um critério correto, adequado, que abrange, inclusive, presidentes de estatais sem nenhum problema, não se levantando suspeita sobre ninguém. Vou mais além e quero ter a liberdade de colocar para V. Exª: não me surpreenderei se o nosso Partido, amanhã, na reunião da Executiva Nacional, encaminhar até mesmo um debate em que, em vez de protelar as eleições, reafirme que rapidamente haverá eleições, em todo o País, para os Estados e também no âmbito nacional. E os 900 delegados petistas apresentarão, enfim, sua posição, seu voto, que, tenho certeza, será muito equilibrado e tranqüilo. Parabéns a V. Exª!

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Paulo Paim.

O SR. PRESIDENTE (Alberto Silva. PMDB - PI) - Lembro à Srª Senadora Ideli Salvatti que seu tempo está esgotado. Darei mais dois minutos para que possa concluir o seu pronunciamento.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Para concluirmos a investigação, tudo e todos, hoje e ontem, com profundidade e provas, deveremos ter a capacidade de manter este País crescendo e gerando empregos. Isso é possível porque os atos do Governo Lula nos deram essas condições. Fizemos uma mudança profunda no perfil da dívida brasileira. A nossa dívida, hoje, está profundamente menos dolarizada, menos dependente das oscilações da moeda americana. Temos toda uma situação de perfil da dívida, de prazo de pagamento... Só para termos uma idéia, a dívida externa, em 2002, era o dobro das exportações. Hoje, não chega a um terço. É menos do que um terço das exportações, não chega a 27%. A relação da dívida com o Produto Interno Bruto, que mede a nossa capacidade, caiu significativamente. Quando o Presidente Lula entrou, representava 60% da dívida.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - V. Exª ainda não me deu os dois minutos. Dê-me mais um bocadinho!

Para nós, foram essas as modificações.

Senador Alberto Silva, trouxe um gráfico com o qual muita gente não sabe trabalhar, não conhecendo seu significado. É o gráfico das transações correntes. A conta de bens e de serviços do nosso País, aquilo que trabalhamos: fretes, turismo, exportações, importação, como é que foi isso nos últimos anos. É muito importante vermos que, desde 1994, que corresponde ao dado que tenho no gráfico, essa conta de transações correntes sempre foi negativa. Ou seja, sempre saía mais dinheiro, sempre saíam mais dólares do que entravam em nosso País.

Essa curva só mudou, Senador Alberto Silva, exatamente com a entrada do Presidente Lula. A partir de 2003, em 2004 e, agora, 2005, vamos ter saldo positivo, ou seja, vai ficar mais dinheiro no Brasil do que vai sair. Chegamos a ter um prejuízo em relação ao que entrava e o que saía, entre os dois Governos do Fernando Henrique, de US$33 bilhões negativos. Ou seja, estávamos exportando dinheiro em vez de internarmos recursos internacionais. E é por conta desse tipo de embasamento econômico, dessa modificação dos dados econômicos que o Governo Lula teve capacidade política de fazer que hoje toda onda, toda turbulência política não afeta a economia.

Por isso, temos que ter esse compromisso. Nosso compromisso tem que ser este: de investigação, com o rigor que as denúncias exigem, a tudo e a todos, hoje e ontem, mas também com o compromisso de fazer este País continuar a crescer, a gerar emprego - como o Senador Paim disse, quase três milhões de empregos com carteira assinada, quatro vezes mais do que nos oito anos do Governo Fernando Henrique. Essa é a nossa responsabilidade, e, se jogarmos fora essa retomada de crescimento, todos esses empregos e oportunidades e os programas sociais, o Brasil, os brasileiros e brasileiras não vão perdoar.

Por isso, reafirmo nosso compromisso com a investigação, mas também nosso compromisso com a manutenção do crescimento e geração de emprego em todo o País.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2005 - Página 22016