Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários aos depoimentos prestados, ontem, na CPI dos Correios. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Comentários aos depoimentos prestados, ontem, na CPI dos Correios. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2005 - Página 22293
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • COMENTARIO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), DEPOIMENTO, EMPRESARIO, INTERMEDIARIO, LICITAÇÃO, SETOR PUBLICO, QUESTIONAMENTO, PARCERIA, EMPRESA MULTINACIONAL, IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, TRAFICO DE INFLUENCIA, GRUPO ECONOMICO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela Liderança do Governo. Sem revisão da oradora.) - Muito agradecida.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem tivemos um dia de atividades que eu diria foi quase uma semana porque iniciamos os trabalhos da CPMI dos Correios em torno das 8:30 horas e só nos retiramos daquela sala perto da meia-noite. Tivemos um único intervalo de meia hora já no anoitecer. E tivemos a oportunidade de ouvir três depoimentos que foram apelidados de depoimentos dos arapongas. Muitos Parlamentares, Senador Sibá Machado, buscaram, o tempo todo, desqualificar como perda de tempo, encheção de lingüiça, faz-de-conta, tentando insinuar ou mesmo dizer de forma muito clara que aqueles depoimentos não serviam para nada.

Os que acompanharam todo o depoimento puderam vislumbrar, confirmar algo que já vinha se delineando, desde outros depoimentos, documentos, declarações e reportagens, que temos uma situação, que a CPMI dos Correios começa a vislumbrar, que é algo muito grave e que ficou explícita ontem no terceiro depoimento, que é do tal Sr. Fortuna, alguém que trabalhou no Serviço Nacional de Informações e depois se organizou, articulou-se como um empresário, constituiu uma empresa que tem um patrimônio, segundo ele mesmo, de R$200 mil, se muito. E o trabalho dessa empresa de R$200 mil é fazer a intermediação de licitações públicas. E não é a primeira, porque nós já tínhamos ouvido uma outra que faz também esse tipo de trabalho, que é a do Arthur Wascheck e do Velasco, que foi quem promoveu a gravação, segundo as denúncias todas, nos Correios.

Tive a oportunidade ontem de fazer a pergunta ao tal do empresário Fortuna, que é uma pergunta “irrespondível”, é uma pergunta que não pode ter uma resposta lícita, legal e moral porque, nas licitações que a tal empresa do Sr. Fortuna intermediou, das quais participou e algumas que ganhou, são licitações às quais ele se associou a multinacionais, associou-se a uma Siemens, associou-se a uma Intermex, que detém 40% do mercado internacional do produto que ela oferece. A pergunta que fiz ao Sr. Fortuna, que ele não respondeu, porque ela é absolutamente irrespondível: por que uma empresinha de 200 contos, de 200 mil réis furados, precisa servir, por que ela serve a uma multinacional para participar de licitações na máquina pública brasileira? Por que uma multinacional do tipo da Intermex, da Siemens e da IBM precisa de empresa deste tipo, que, por coincidência, são empresas que têm no seu quadro ou arranjam pessoas, pagam pessoas para fazer serviços como filmagem, grampo, chantagem, achaque, ameaça, para escarafunchar dentro dos Ministérios, estabelecer relações promíscuas dentro da máquina pública?

Ficou muito claro, transparente, que existem três andares de corrupção neste nosso País e a CPMI dos Correios está buscando isso, está puxando esse novelo. Primeiro com esse tipo de empresa, que, envolvida com personalidades, com figuras que tiveram atuação durante um bom período nos órgãos de informação, inclusive durante o período das trevas da ditadura, que são experientes em fazer determinados tipos de procedimento, que esse tipo de empresa e de pessoas servem a interesses de médios e grandes grupos econômicos para, usando de todos os meios lícitos e ilícitos, poderem transitar, apropriar-se, intermediar e ganhar vantagens dentro da máquina pública nas licitações.

Esses três depoimentos de ontem que tivemos oportunidade de acompanhar, depois de quase 14 horas de trabalho ininterruptos, deixaram muito claro - por isso têm que ser levados em consideração de forma muito especial - que a estrutura da máquina pública brasileira permite que esse tipo de empresa, de procedimento, infelizmente aconteça, e, pelo que conseguimos perceber, há muito tempo.

Então, é por isso que os trabalhos da CPMI dos Correios têm sido exaustivos e todos nós temos que ter o compromisso efetivo de levá-los até as últimas conseqüências, desde a investigação do primeiro piso, ou seja, desse tipo de empresa que permite que determinadas modalidades de corrupção se viabilizem entre os grupos econômicos de médio e de grande porte, até os grandes interesses que podem estar por trás dessas disputas, como hoje com o depoimento do Sr. Marcos Valério. Obviamente já fizemos várias perguntas e vamos ter oportunidade de aprofundar as investigações para saber se interesses multinacionais não estão por trás de todas estas disputas e procedimentos ilegais.

Por isso, Sr. Presidente - e não vou ter oportunidade de conceder aparte ao Senador Sibá Machado, porque o meu tempo já está esgotado -, não poderia deixar de registrar o trabalho importante que a CPMI está realizando, ontem e hoje, e como sei que o Senador Maguito Vilela esteve nesta tribuna, gostaria de dizer sobre o procedimento corretíssimo que teve ontem na condução de quase 14 horas ininterruptas.

Muito obrigada.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2005 - Página 22293